25/08/2015 - 6ª - CPI do Futebol - 2015

Horário

Texto com revisão

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O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Havendo número regimental, declaro aberta a 6ª Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito, criada pelo Requerimento nº 616, de 2015, com a finalidade de investigar a situação do futebol brasileiro.
Conforme convocação, a presente reunião destina-se à realização de audiência pública com os seguintes convidados, ambos jornalistas: Sr. Lucio Jose Mello Mattos de Castro e Sr. Rodrigo Matos.
Peço à Secretaria que imediatamente conduza e acomode à mesa os nossos convidados. (Pausa.)
Informo a todos que esta audiência pública será realizada em caráter interativo, com a possibilidade de participação popular. Por isso, as pessoas que tiverem interesse em participar com comentários ou perguntas podem fazê-lo por meio do Portal e-Cidadania e no endereço www.senado.leg.br/e-cidadania e no Alô Senado, através do número 0800-612211.
Para organizar os nossos trabalhos, esclareço que, após a exposição inicial dos convidados, a palavra será concedida às Senadoras e aos Senadores na ordem de inscrição. Terão preferência para o uso da palavra, na seguinte ordem, o Relator, o Presidente, os membros e os não membros.
Antes de passar a palavra aos jornalistas, primeiramente agradeço aos dois pela presença. Tenho bastante consciência, como ex-esportista profissional, esportista ainda em atividade e Presidente desta Comissão, de que a presença dos senhores aqui terá grande importância e grande relevância para os nossos trabalhos. Nós, aqui, temos bastante consciência de que não aguentamos mais o que vem acontecendo no nosso futebol mundial e, especificamente, no futebol brasileiro nos últimos anos.
O objetivo maior desta CPI, estou sempre falando e vou repetir, é moralizarmos o futebol, porque é dessa forma que vamos conseguir, de novo, mediante ação fora do campo, grandes conquistas dentro de campo.
Agradeço a presença do Deputado Federal, ex-Presidente do Corinthians, Andres Sanchez. Seja bem-vindo, com certeza, sua participação aqui terá grande relevância.
Concedo inicialmente a palavra ao Sr. Lucio Jose Mello Mattos de Castro para sua exposição, que terá dez a quinze minutos.
Por favor, com a palavra.
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - Agradeço muito pelo convite. É uma honra, Romário, estar aqui.
Eu tive o prazer de contar, em um documentário - eu ainda trabalhava na TV Globo - a história do Romário: "Romário, uma história brasileira". Conheci bem de perto a vida daquele garoto da Vila da Penha, do Jacarezinho, que fez muito com os pés pelo futebol brasileiro. Agora, tenho uma esperança profunda no que ele pode fazer com as mãos e com a cabeça. E por isso estou aqui.
Redigi um brevíssimo texto porque muitas coisas que vou falar são matérias lá de trás, algumas coisas técnicas que a memória poderia trair. Portanto, vou ler, mas é brevíssimo. Vou pedir, em algum momento, para ilustrar com documentos; e, depois, há alguns documentos aqui que eu vou deixar para esta Comissão, passando ao Senador Romário.
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Sr. Presidente, Srs. Senadores, agradeço o convite, que muito me honra. Estou aqui por duas coisas fundamentais em minha vida e identidade: ser repórter e ser brasileiro.
Estive neste Congresso, recentemente, falando do escândalo na Confederação Brasileira de Vôlei, que segue sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Espero estar aqui - e me convido, desde já - para falar sobre tudo que é esporte e não é futebol neste País: um ralo inesgotável para o dinheiro público. Por ora, vamos nos ater ao futebol.
Na última vez que olhamos, o placar, estava 7 a 1. Muita coisa aconteceu depois desse vexame que feriu de morte um dos aspectos mais caros a tudo pelo que nos reconhecemos como brasileiros. Um 7 a 1 não nasce da noite para o dia, não se faz em 90 minutos. Quem fala em acidente do jogo ou não sabe de nada, ou sabe demais. Foram precisos anos de descalabro, malversação, desprezo pela opinião pública e por todas as instituições de uma nação para que chegássemos a tamanha vergonha. O mais inacreditável é saber que os atores disso tudo ainda estão em cena, ainda estão aí. Portanto, é difícil saber quanto está esse jogo. Enquanto toda essa estrutura putrefata estiver em vigor, estarão saindo gols da Alemanha.
Farei uma brevíssima viagem por apenas algumas reportagens, que fiz ao longo desses anos, que passeiam por esse descalabro, lembrando que, como jornalistas, não julgamos, não concluímos, apresentamos fatos. Todos os documentos aqui citados são públicos e foram apresentados ao contraditório, sem contestação da validade.
Vou inverter a cronologia, começando por alguns mais recentes, e viajando no tempo até outros mais distantes, mas cujas permanências subsistem.
Vi e fiquei extremamente esperançoso com o caráter desta CPI pela quebra dos sigilos de Marco Polo Del Nero.
Pela sofisticação de eventos de tal natureza, a experiência nos mostra que é preciso ir além, cercar as adjacências, identificar eventuais vasos intercomunicantes de cada um dos personagens em questão. Repito: sem que isso signifique qualquer conclusão. Apenas é preciso ter a precisão dos cirurgiões quando se deparam com uma área contaminada: investigam todo o entorno do tecido ruim, a capilaridade por onde esses vasos se alimentam e são alimentados.
No último 2 de junho, apresentei reportagem onde mostrava a empresa aberta por Marco Polo Del Nero Filho nos Estados Unidos.
Vamos mostrar o documento 1, por favor.
Como sabemos, ter uma empresa no exterior não é crime, desde que declarada à nossa Receita Federal, o que não consegui confirmar então. Alguém há de dizer, e com razão, que o fato de ser filho apenas não autoriza tal lupa sobre um cidadão, mas atento apenas para duas facetas que me chamaram a atenção na execução da reportagem: a data de abertura da empresa e a natureza da mesma, com suas conexões.
Sobre a data.
A Finview Real Estate foi aberta em outubro de 2014, em Orlando, Flórida. A Procuradoria dos Estados Unidos afirma que José Maria Marin esteve naquele país em abril do mesmo ano para a coletiva de lançamento da Copa América 2016, prevista para os Estados Unidos. Foi exatamente nessa viagem, de acordo com as denúncias e o relatório da mesma Procuradora, que Marin acertou propina de dois milhões anuais pelos direitos de transmissão da Copa do Brasil, valor dividido entre dois cartolas brasileiros cujos nomes não são fornecidos, mas que seriam um dos coconspiradores, com pagamentos já realizados no Itaú de Nova York e no HSBC de Londres - sempre de acordo com as entidades americanas.
Já os direitos pela Copa América, tema do encontro de acordo com o FBI, renderam propina de US$110 milhões, sendo que US$40 milhões já foram pagos, e o restante a ser pago em parcelas no exterior.
Recordando, pouco depois, a empresa do filho de Del Nero é aberta nos Estados Unidos, com uma característica peculiar: a empresa do filho de Del Nero tem um braço no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas.
Ainda que as datas se aproximem, até aqui não se pode afirmar - nem se afirmou - que Del Nero Filho tenha algo a ver com os negócios do pai ou de algum coconspirador, mas existe um elo entre as empresas do filho e os negócios do pai: o endereço constante nos documentos americanos é do escritório de advocacia do pai, em São Paulo, que mantém sociedade com o Deputado Vicente Cândido, do Partido dos Trabalhadores - Marco Polo Del Nero e Vicente Cândido, Advogados Associados.
Registre-se que a reportagem tentou ouvir os envolvidos sem sucesso.
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Não é só o endereço comercial que une pais e filhos nos negócios. A participação dos filhos nos negócios ligados à CBF faz parte do modus operandi Marco Polo del Nero. O outro filho, Marcus Vinicius Del Nero, é Diretor de Arte da Mowa Sports.
Entender a teia de negócios e relações da CBF no presente passa obrigatoriamente pela Mowa Sports. Além do Diretor de Artes, Marcus Vinicius Del Nero, a prestadora de serviços da CBF abriga entre seus executivos Rafael Carion Fernandes, genro de Wagner Abrahão, que dispensa maiores apresentações e já está convocado para esta CPI.
Como sócio da Mowa, consta ainda Gregorio Marin Junior, que, a despeito do sobrenome comum, nada tem a ver com o hóspede do Estado suíço José Maria, mas nem por isso é pagão. Seu pai, Gregorio Marin Preciado, marido de uma prima de José Serra, é um dos grandes personagens das privatizações brasileiras nos anos 90, peça importante do xadrez do banqueiro Daniel Dantas na vitória da telefonia espanhola, cuja marca viria a ser patrocinadora da Seleção Brasileira, pois é esta Mowa Sports, umbilical e visceralmente ligada aos nomes que detêm o poder na CBF, que está por trás da CBF TV, projeto que virou a menina dos olhos da entidade nos últimos anos, um personagem fundamental nessa teia de parceiros entre agentes de viagem, agências de marketing e consultorias, empresas que exploram a imagem e jogos da entidade e tantas outras que, assim como a Mowa, vendem serviços difíceis de serem mensurados por venderem mercadorias cujos preços não são mensuráveis como bananas e laranjas.
O status CBF TV, a terceirizada da Mowa, valeu a construção de estúdios na sede da entidade e construiu boa parte na Barra da Tijuca, considerados suntuosos por quem conhece. Vale lembrar que o mesmo prédio foi alvo de reportagem de Sérgio Rangel na Folha de S.Paulo, mostrando superfaturamento.
Durante a Copa de 2014, duas dúzias de terceirizados da Mowa CBF TV circulavam na Granja Comary. Os jornalistas têm limites em seu trabalho que os senhores não tem. Eu, por exemplo, tenho imensa curiosidade em saber qual é o volume de pagamentos da CBF para a CBF TV, leia-se Mowa.
Coloque o documento 2, por pavor.
Isso aí era o que eles chamaram mesmo de a orquestra Mowa na Comary. E isso eram 24 pessoas dentro de uma concentração da Seleção Brasileira. Eu me lembro, e aqui eu não posso falar, de jogador com quem eu tenho algum conhecimento, telefonando, falando que em alguns locais de intimidade deles entravam várias pessoas, cinegrafistas da CBF TV para fazer imagem. Enfim, isso aí foi dentro de um ambiente de preparação para a Copa do Mundo. A CBF teve a equipe da CBF TV com 24 pessoas.
Também como curiosidade, lembro-me de quando, repetidamente, lamentei, em programas ao vivo, do clima na Granja Comary, que nada lembrava um time em concentração para a Copa do Mundo. Lembro-me de que um desses, sempre pronto a se prestarem como serviçal, afirmou que só eu estaria incomodado com aquele clima. Senhor da razão, o tempo mostrou que as duas dúzias de terceirizados da Mowa circulando, os helicópteros que desciam e os patrocinadores que adentravam a granja não fizeram bem. Tem seu preço tanta cobiça.
Pulo para outra reportagem. É nesse ambiente turvo que eu gostaria de ter ao menos o sentimento de que tudo acaba das quatro linhas para dentro. Lamentavelmente, em se tratando de uma carvoaria em que poucos cruzam e permanecem impolutos, não colabora em nada que um gerente de futebol escolhido por Marin e Del Nero tenha sido agente de futebol e tirado tal vestimenta apenas no dia de sua apresentação. Tampouco colabora que um treinador tenha negado sua ação como agente de futebol ao ser abordado por mim, via assessoria da CBF, como mostro na reportagem de 24 de julho de 2014.
Com documentos públicos em mão, mostrei a remuneração recebida por Dunga pela participação na transação do jogador Ederson, agora camisa 10 do Flamengo. Mas, em 14 de janeiro de 2004, vendido pelo RS Futebol para o grupo de empresário Image Promotion Company (IPC). Como não era treinador, não haveria problema nenhum nos 407 mil recebidos pelo capitão do tetra por comissão referente à compra de 75% do passe de Ederson. No entanto, ele preferiu afirmar que não tinha recebido. Embora não se tenha razão a omissão, ainda assim, haveria problema. Dois anos depois de receber a comissão pelos 75% do passe, em 8 de maio de 2006, foi o próprio Dunga que pagou 575 mil pelos 25% restantes, já não mais na figura do intermediário, mas sim como responsável pelo pagamento dessa fatia de 25%
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Documento 3, por favor.
Documento 3: A, B e C. Está ali. A gente tem as notas de pagamento da intermediação, notas públicas, pelo passe do Ederson, para o Dunga.
Dunga afirma que não foi... Eu conto aqui, depois, que, dos 75% que ele ganhou na intermediação, foi o próprio Dunga que pagou 575 mil pelos 25% restantes, já não mais na figura de intermediário, mas sim como responsável pelo pagamento dessa fatia de 25%.
Documento 4.
É o 4, não é?
São os US$575 mil. Dunga afirma que não foi na condição de comprador de 25%, mas sim como um empréstimo ao grupo IPC. Também, novamente não se pode afirmar que Dunga não fala a verdade. No dia seguinte à reportagem, seu advogado publicou nota com 28 páginas para desmentir a reportagem. Só não respondeu uma única pergunta, a única pendente da reportagem: se Dunga emprestou US$575 mil para pagar os 25%, é razoável que apresente recibo do pagamento que recebeu depois pelo empréstimo, o que é absolutamente crível, mas por não apresentar é legítimo também poder se levantar a possibilidade de o treinador ter sido mesmo dono de 25% de tal passe depois de ganhar comissão pelos outros 75%.
Nesse ambiente em que já perdemos a conta da goleada é tudo de que não precisamos. Há algo mais fantástico nessa história. Depois de todo esse enredo, as transações que envolvem o nome de Dunga e seus pares. Valendo-se de procuração já sem validade para representar o RS Futebol, Juarez Rosa da Silva transfere crédito de €700 mil relativos a Ederson para o minúsculo clube Atlético de Las Piedras, Uruguai, e mais 55% sobre futura transação, em caso de saída do jogador do Nice para terceiro. A transação de venda envolvendo Juarez Rosa, Mauro Paglioni, empresário do futebol e agente FIFA pelo lado uruguaio e o IPC, está registrada no Cartório de Notas de Las Piedras.
Documento 5.
Ederson, como se sabe, nunca foi visto atuando pelo glorioso clube de Las Piedras. E quem é Juarez Rosa? Homem de confiança de Dunga, Secretário-Geral do Instituto Dunga, que esteve presente no encontro de Dunga com Marin e Del Nero que selou a volta do técnico na atual passagem. Uma transação misteriosa, obedece a todos os padrões de transações atípicas, é o que parece. Essa transação do braço direito de Dunga no Uruguai foi realizada em 26 de julho de 2007, quando Dunga já era treinador da Seleção Brasileira.
Encaminhando-me para o fim, recuo até outro personagem-chave desse enredo digno de Coppola em sua mais famosa criação sem o talento de Al Pacino. Estamos falando de Ricardo Terra Teixeira. Em uma reportagem de 2009, tive a oportunidade de apresentar um personagem até então jamais citado,...
(Soa a campainha.)
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - ... que me parece fundamental - estou encerrando - para farejar por onde passou tanto dinheiro, uma óbvia inquietação que me perseguia até então. Não há esquema movimentando tanto dinheiro e as mágicas que se fazem necessárias para sumir e aparecer, sumir de novo e assim ir-se lavando, sem um operador, como vemos amplamente por aí.
Foi seguindo essa inquietação que me apeguei a uma intuição que a profissão me ensinou desde Bernstein e Woodward, a de: siga o dinheiro. E a outra que aprendi mesmo pela vida: siga sempre uma ex-mulher - aqui, sem nenhuma conotação sexista, por favor. Assim, cheguei a um nome fundamental nisso tudo: Cláudio Honigman. Mostrei quem era o sócio de Sandro Rosell e o oculto Ricardo Teixeira.
Documento 6, por favor.
Aqui, a gente tem uma foto que depois eu consegui com uma ex-mulher, que é al mare: Cláudio Honigman - este aqui, de frente -, Ricardo Teixeira e Sandro Rosell, que não aparece na foto porque é o autor, e suas respectivas mulheres. Eles estão al mare, no Blue Harem, um iate que alugavam sempre, por €100 mil a semana, para passar férias na Europa. Esses três, depois a gente consegue mostrar numa reportagem. Depois, o Rodrigo Mattos, o Sérgio Rangel, todos aprofundaram muito mais ainda e conseguiram. com documentos, e também o pessoal da Record, mostrar que eram sócios, e aí já não mais um sócio oculto.
E aí eu falo sobre esse operador.
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O homem considerado uma águia do mercado financeiro, que encantou Ricardo Teixeira, poder deter a mágica de externar, sumir e aparecer com o dinheiro - Cláudio Honigman - encantou tanto, que, no fatídico dia de novembro de 2008, dia de Brasil x Portugal, consta que, enquanto era esperado pelos amigos Teixeira e Rosell aqui nesta Brasília, fez duas reservas de avião, para Paris e Nova York, e sumiu no mundo, levando alguns segredos dos dois - e, pelo que consta, levando muito mais, o operador do dinheiro de Teixeira. Fiz uma reportagem, então, que se chamava "Cem anos de perdão".
Fiquei alguns anos sem ouvir falar de Honigman, ainda que tenha tentado contato para, quem sabe, ter o prazer de ver uma caixa-preta se abrir. Voltei a ver seu nome da maneira que menos esperava e mais casual, na tarde de 21 de agosto de 2013, por caminhos tortos, ao me deparar com a agenda da então Ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann, recebendo quem constava como presidente do Banco Mizuho do Brasil. Ao falar com o banco, surpreendi-me com a negativa do mesmo, um veemente desmentido sobre Honigman ocupar tal cargo. Publiquei a reportagem, apenas dando conta do estranhamento de a Ministra receber tal pessoa e de ele não ser quem a agenda dizia ser, um mistério que só fui entender por esses dias, ao ver Honigman, o operador de Ricardo Teixeira, o amigo íntimo, no olho do furacão da Lava Jato. O ex-parceiro de Ricardo Teixeira era também parceiro de Alberto Youssef.
Resumo desta ópera toda: cavando bem, esta CPI pode parar bem longe, o buraco não tem fim e seus vasos intercomunicantes, suas ramificações, seus caminhos podem levar a potes de ouro imensos, ligados a personagens bem conhecidos e outros jamais imaginados. É o que nós, brasileiros, esperamos de V. Exªs. Talvez seja a última esperança para resgatar o orgulho ferido de uma das faces mais significativas da nossa cultura, traço de afirmação de nossa identidade, projeção de nossas vidas e elaboração de nossos símbolos.
Despeço-me aqui com o perdão da rima pobre: vejo vocês em 16.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito obrigado, Lucio, pelas palavras.
Antes de passar a palavra ao outro convidado, jornalista Rodrigo Matos, gostaria de passar a palavra para o nosso Relator, Senador Romero Jucá.
O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco Maioria/PMDB - RR) - Eu queria, saudando a todos, registrar que nós vamos aguardar o depoimento do jornalista Rodrigo Matos, analisar a documentação para que efetivamente possam se fazer os levantamentos necessários e a checagem necessária. Os depoimentos são importantes, levantam questões importantes, que precisam ser averiguadas.
Deixo para me pronunciar no final dos depoimentos, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito bem, Senador.
Sr. Rodrigo Matos, passo a palavra ao senhor. O senhor dispõe de 15 minutos.
O SR. RODRIGO MATOS - Boa tarde!
Agradeço o convite ao Senador Romário, Senador Romero Jucá e todos os presentes.
Vou tentar aqui colocar as coisas que aprendi em 15 anos fazendo reportagens relacionadas à CBF. Vou tentar tratar mais dos casos recentes. Acho que o objetivo aqui é trazer o máximo de informação para que os senhores tenham perguntas a serem respondidas; mais do que acusar alguém, acho que é levantar perguntas pertinentes que venham ser respondidas pela CPI, já que ela é que é o órgão investigador aqui.
Primeiro, acho que seria legal a gente entender como funciona o dinheiro da CBF, de onde vem. A CBF, ano passado, teve 519 milhões de renda, e, se a gente pegar, 350 milhões desse dinheiro vieram de patrocínio de empresas. Esse é o grosso da receita da CBF, 70% dela. Qualquer investigação que seja feita em relação à CBF tem que ser feita em cima desses contratos de patrocínio que são a maior fonte de renda. Como esses contratos funcionam? Como são fechados? Não existe concorrência, eles são, muitas vezes, trazidos por empresa. O diretor de marketing atual da CBF já nos informou que são quatro ou cinco empresas que captam os patrocínios, e esses contratos têm sempre comissões, que são pagas em contratos à parte, conexos, contratos aditivos feitos com os contratos de patrocínio.
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Quanto que é pago por essas comissões e quanto que a CBF paga por esse serviço de intermediação? A gente não sabe. O que a gente sabe é que... Eu já fiz uma matéria mostrando que, na gestão de Marin e Marco Polo del Nero, quer dizer, na gestão de Marin - o Marco Polo del Nero diz que não tinha nenhuma relação com ela, mas ele era vice-presidente -, essas comissões subiram e estavam girando em torno de 15% a 20%, dependendo do contrato. E, anteriormente, na época de Ricardo Teixeira, essas comissões giravam entre 4% a 10%, dependendo do contrato.
A gente pediu para a CBF abrir esses dados, mas eles disseram que não abririam. Hoje, no balanço da CBF, que é o documento financeiro principal deles, há uma transparência muito menor do que a que existia na gestão anterior, que já não era grande. Se olharmos hoje em dia, se pegarmos o balanço das receitas, vemos que não há especificado aqui o quanto se recebe de cada patrocinador, o que era feito até 2011, justamente até a gestão de Ricardo Teixeira.
A gente sabe que os principais patrocinadores pagam algo como R$30 milhões, contratos como o do Itaú, da Vivo e tal. O da Nike é maior do que isso, é em torno de R$60 milhões, dependendo do ano, porque os pagamentos não são regulares. Mas, hoje em dia, a gente não sabe isso e nem como são pagas essas comissões de intermediação. A gente pode, no máximo, fazer pergunta.
Vemos nas despesas da CBF - aí é a saída do dinheiro - R$80 milhões pagos a serviços de terceiros. Qualquer dirigente de clube, por exemplo, que faz uma gestão, tem muitos contratos de serviços de terceiros, porque paga jogadores com contratos de direito de imagem. Mas, se pegarmos um clube com alta folha salarial, veremos que o serviço de terceiros vai chegar a R$30 milhões, a R$35 milhões. A CBF, que não paga nenhum jogador, tem um serviço de terceiros de R$80 milhões.
Quem recebe esse dinheiro? Essa é uma pergunta que fica. Para onde vai?
Há outro item nas contas da CBF que é de despesas administrativas, o que não é explicado e que já está em R$76 milhões de gastos. Também fica a pergunta: que despesas são essas? Porque não é pessoal, que está em outro item.
Então, seria muito interessante entender o mecanismo, ou seja, abrir essa caixa-preta do que são os contratos de patrocínio da CBF. Obter os contratos de comissões, que são feitos sempre aditivos aos contratos principais. A informação que a gente tem é de que esses contratos são feitos hoje em dia pela própria CBF. Então, ela é que pagaria as comissões. A CBF teria que informar para a gente se é exatamente assim.
Anteriormente, boa parte dos contratos do Ricardo Teixeira eram feitos com a empresa, pagando o comissionamento. Então, acho que seria muito importante que a gente soubesse... Da gestão Marin para cá, dos 14 atuais contratos de patrocínio da CBF, 10 foram renovados ou são novos. Então, quer dizer, quase tudo que há hoje de receita foi feito por esta atual gestão, embora ainda haja coisas feitas pela gestão anterior. Eu acho que esse é o ponto principal de análise, de que se deve buscar maior transparência, dentro das contas da CBF.
Fora isso, outra operação que chama atenção nessa gestão Marin é a compra da sede da CBF, a compra foi feita por R$70 milhões. Inicialmente, era em outro terreno, na Zona Oeste. Agora, acabou sendo comprado um prédio inteiro, como incorporação, ali atrás do Barra Shopping. E a Folha de S.Paulo já fez uma matéria muito pertinente, mostrando que existiam vários intermediários no negócio. Ou seja, quatro ou cinco empresas compraram essa sala antes e, depois, revenderam para a CBF.
Teoricamente, a valorização que aconteceu, de R$31 milhões, seria porque os imóveis da Barra valorizaram nesse período de 2008 a 2012. Mas, num negócio com tantos intermediários, seria muito importante abrir o que existe de cada um desses intermediários. Quando saiu a matéria da Folha, eu conversei com alguns dos donos das empresas, as alegações deles são de que o dinheiro ganho era relativo à valorização imobiliária da Barra da Tijuca. Mas eu acho que ainda não é um negócio explicado. Embora a CBF tenha trazido algumas documentações para demonstrar que os 70 milhões estavam dentro do valor de mercado, eu acho que é um negócio não explicado, assim como a obra posterior feita na sede, que também a gente, até hoje, não sabe o custo dela.
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Fora esses dois pontos, que acho que são os principais, acho que há outros pontos a se observar.
Também fiz uma matéria ainda, na época, no final da gestão de Ricardo Teixeira, já no início da de Marin, sobre a questão da Copa do Mundo; os pacotes de hospitalidade da Copa do Mundo.
Como é que funcionam os pacotes de hospitalidade da Copa? Uma empresa chamada Match, que ganhou uma concorrência da FIFA, repassa esses contratos de hospitalidade para empresas do país da Copa. Aqui quem ganhou a concorrência foi uma empresa chamada Top Service, que pertence ao Grupo Águia, que já foi falado aqui - o Grupo Águia é o grupo do Wagner Abrahão, que a CPI já quebrou o seu sigilo bancário -, e a outra empresa que ganhou foi a Traffic, que é a empresa que está envolvida justamente na investigação feita pelo FBI e cujo dono admitiu pagar propinas a dirigentes do futebol mundial, inclusive do Brasil.
Essa empresa, quando eles ganharam a concorrência, a FIFA disse que houve uma concorrência, porém, alguns anos antes, um dos donos dessa Top Service, Cláudio Abrahão vendeu um apartamento para o antigo Presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que era então Presidente do Comitê Organizador da Copa, então, vendeu um apartamento, uma cobertura na Barra por R$700 mil. A cobertura, pelo valor de escritura, valeria R$2 milhões e, pelo valor de mercado, alguns corretores falam em até R$4 milhões. Agora, essa é uma operação, então, de como esse tipo de negócio privado do anterior presidente do Comitê Organizador influencia nas decisões que você toma posteriormente para essa empresa ganhar o contrato de pacote de hospitalidade da Copa do Mundo, assim como vários outros contratos da CBF, como já foi demonstrado aqui: contrato de agência de viagem, intermediação no contrato da TAM, como mostrado por outros jornalistas. Enfim, esses negócios privados de imóvel, que também voltaram a acontecer na gestão de Marin e de Marco Polo Del Nero, quando Del Nero também comprou um apartamento do mesmo Wagner Abrahão, na mesma Barra da Tijuca, com um valor que aparentemente era o valor de mercado. Mas, assim, por quê? Há uma relação ou não há uma relação? Essa é mais uma pergunta que a CPI pode responder investigando as contas tanto das pessoas físicas quanto das pessoas jurídicas que estavam envolvidas nessa negociação.
Mais uma questão que acho importante ser levantada, que tem muita conexão com a investigação feita pelo FBI, é que, um pouco antes de Ricardo Teixeira sair da CBF, no final de 2011, houve uma briga com a Traffic - que, repetindo, é a empresa do José Hawilla, que admitiu o pagamento de propina -, e a gente mostrou que, no final de 2011, a CBF tentou tirar o contrato, na Copa do Brasil, da Traffic, que iria até 2014, queria substituir pela Klefer, que é a empresa do Sr. Kleber Leite, ex-Presidente do Flamengo, que também está sendo investigado pelo FBI, como a gente vê em algumas operações da Polícia Federal.
Ele fez um processo judicial, extrajudicial, com uma notificação, com alegações de que a Traffic tinha descumprido termos do contrato com a CBF para poder tentar tirar esse contrato da Copa do Brasil, que é o contrato... Para entenderem: enquanto no campeonato brasileiro a gente tem uma negociação dos próprios clubes diretamente com a TV Globo, que hoje é a detentora dos direitos, na Copa do Brasil esse contrato é feito pela CBF e os clubes simplesmente recebem cotas pela sua participação, dependendo: se vão mais para frente, recebem mais dinheiro; se são eliminados mais cedo, recebem menos.
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Então, esse dinheiro, em última análise, que a gente viu na investigação americana que houve pagamento de propinas para obtenção desse contrato da copa do Brasil, em última análise, ele está sendo retirado dos clubes do futebol brasileiro, não é só da CBF. Porque você poderia ter contratos, se fosse uma concorrência honesta, uma concorrência aberta, transparente, e não é o que mostra hoje a investigação, você teria uma possibilidade de obtenção de contratos muito mais volumosos, como acontece no campeonato brasileiro.
Então, essa briga entre a Traffic e a CBF é outro ponto de atenção, porque mostra... Depois, na própria investigação do FBI, você tem uma discussão que é entre um conspirador, que é identificado, que claramente, pelas investigações, é o Sr. Kleber Leite e outro, o Presidente da Traffic, José Hawilla, que, segundo a investigação, eles estão discutindo o pagamento de propina para dirigentes da CBF por esse contrato da Copa do Brasil. A briga da Traffic com o Ricardo Teixeira, no final de 2011, é importante para entender esse processo, se houve mesmo pagamento de vantagens para os dirigentes da CBF e se foram pagas por essas duas empresas: a Traffic e a Klefer, que essa é investigada, a outra é ré confessa.
Inicialmente eu acho que era isso.
Vou levantar o último ponto, que é a questão das aeronaves da CBF.
A CBF parece ter uma certa obsessão por aviões e helicópteros. Já incluiu em um contrato de patrocínio que uma empresa - era a Marfrig na época - pagaria um patrocínio com aviões. Já houve um outro contrato de patrocínio da TAM que também envolvia aviões. A gente sabe que hoje eles têm, pelo balanço, 60 milhões em aeronaves. E eu acho que a grande questão é: qual é o uso, para o futebol brasileiro, dessas aeronaves que a CBF detém, que representam um custo considerável? Porque a gente sabe que o time nacional não viaja com os jatinhos da CBF. Não cabe. São aviões maiores fornecidos pelo patrocinador. Então, quem está usando essas aeronaves da CBF e com que fim? É para fim efetivamente de negócios? Justifica a CBF manter aeronaves caras para poder simplesmente transportar dirigentes? Eu acho que é outra pergunta pertinente que a CPI poderia responder em relação às contas da CBF.
Bom, inicialmente era isso que eu tinha para expor. Estou aberto a responder a quaisquer questionamentos. Espero que a gente saia daqui com o máximo de coisas que possam ajudar na investigação da CPI.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito bem, Rodrigo. Muito obrigado pela exposição.
Passo agora a palavra ao Relator, para fazer as suas perguntas, Romero Jucá.
O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco Maioria/PMDB - RR) - Sr. Presidente, eu gostaria que pudessem ser encaminhados os documentos que foram apresentados, inclusive os da exposição. E vou aguardar o debate dos demais membros da CPI, porque, na verdade, o que nós tivemos aqui foi levantamento de questões, não é? Como eu não tenho ainda os dados necessários para fazer qualquer tipo de cruzamento ou qualquer tipo de avaliação, em tese, eu estou ouvindo aqui posições importantes, matérias, levantamentos feitos, mas pretendo analisar a documentação. Por isso é que pedi documentações da CBF, para que a gente possa, efetivamente, fazer um cruzamento e tratar das questões: quais são as questões relativas efetivamente à sociedade brasileira, a questões públicas, a questões inerentes ao objetivo da CPI e o que são efetivamente relações comerciais entre empresas que, em tese, poderão ser analisadas na ótica da Receita Federal, do pagamento de impostos ou algumas outras questões.
Portanto, agradeço a colaboração dos dois jornalistas; solicito que me seja remetido o material e, posteriormente, daremos seguimento a essas questões, com os levantamentos e cruzamentos das informações que nós vamos receber.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito bem, Senador.
Passo a palavra ao Senador Roberto Rocha.
O SR. ROBERTO ROCHA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - MA) - Sr. Presidente, Sr. Relator, cumprimento meus companheiros Senadores, Deputados, e agradeço a presença dos jornalistas.
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Quero corroborar com o que disse aqui o nosso Relator. Acho que foram apresentados documentos importantes e que necessitam ser investigados pela nossa Comissão.
Quero apenas, aproveitando a oportunidade da presença dos senhores, fazer objetivamente duas perguntas, uma para cada um.
Em setembro de 2011, Lúcio Castro, em artigo publicado na revista ESPN, V. Sª faz referência a um jogo amistoso realizado entre Brasil e Portugal, no ano de 2008. Segundo o artigo, o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, seria o sócio oculto da empresa Brasil 100% Marketing, parceira comercial da CBF e uma das promotoras daquele jogo.
A reportagem cita que houve uma série de transferências dos direitos do amistoso, envolvendo empresas com a própria Brasil 100% Marketing, a Ailanto Marketing e a ISE, Internacional Sports Events. Gostaria que V. Sª detalhasse esse episódio, fazendo referência aos sócios dessas empresas e suas relações com o Sr. Ricardo Teixeira.
Ao jornalista Rodrigo Matos. No início do mês passado, V. Sª escreveu um artigo comentando o possível não comparecimento de Marco Polo del Nero à reunião que elegeria o Presidente da FIFA, ausência que se confirmou dias depois. A gente já sabe que quando o ex-presidente da CBF foi preso, na Suíça, Marco Polo del Nero imediatamente saiu e veio embora.
O que a gente deseja saber é se, efetivamente, essa ausência - que de todo o modo prejudica o futebol brasileiro, em uma reunião extremamente importante com a FIFA - do Sr. Marco Polo Del Nero foi em função do temor dessas investigações que estão sendo feitas pelo FBI? Se, de fato, o que V. Sª escreveu leva a essa conclusão?
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Eu vou pedir aos convidados, antes de responderem, vamos fazer primeiro as perguntas, depois eles respondem tudo.
Por favor, Senador Donizeti.
O SR. DONIZETI NOGUEIRA (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Na verdade, eu não tenho bem perguntas, eu tenho uma observação. Do que eu consegui ouvir aqui, Presidente, Relator e convidados, até me faz querer depois a transcrição das falas, para que eu possa analisá-las, porque eu acho que foram colocados pontos muito importantes que, ao serem analisados, pode fazer com que a gente tome alguma medida, no sentido de encaminhar.
Portanto, eu gostaria de ter a transcrição, para que eu possa analisar o que foi dito aqui, e se cabe alguma medida, do ponto de vista da iniciativa da Comissão ou do próprio Parlamentar que ora está falando. Então, eu precisaria ter esse material para eu analisar. Eu acho que foram pontuações sérias, que têm consistência e que a gente precisa analisar para ver que medida cabe tomar.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito obrigado, Senador.
Passo a palavra ao Senador Zeze Perrella.
O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Senhores, eu acho que tanto o jornalista Lucio Mattos como o Rodrigo Matos foram bem explícitos aí. Acho que não há muita pergunta a se fazer. Eu acho que, neste momento, eu sugeriria, Senador Romário, que V. Exª disponibilizasse, assim como o Relator Romero, a todos os membros da CPI, essa documentação, para que a gente possa também analisá-la em casa - eu acho que esses dados são extremamente importantes -, para que a gente possa, realmente, passar a limpo o futebol brasileiro.
O Rodrigo Matos estava comentando, não sei se foi o Lucio ou o Rodrigo, sobre o dinheiro da Copa do Brasil. Eu sempre briguei por esse absurdo. Nós não temos acesso, Senador Romário, como Presidente do Clube que fui, sequer a esses contratos. Recebi uma cota irrisória, ridícula, para participar da Copa do Brasil. Para se ter uma ideia, nós recebemos menos da Copa do Brasil do que do campeonato mineiro, a nossa cota de participação. E a CBF é quem negociava esses valores. Obviamente, devem ser valores bastante expressivos.
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Para se ter uma ideia, o Campeonato Brasileiro da Série A foi vendido; a Globo pagou alguma coisa perto de R$1 bilhão, somando todos os clubes, os contratos, sem contar a NET e essas coisas, somente de direito de transmissão. Então, por quanto foi vendida a Copa do Brasil? A CBF não informa sequer para os clubes. O direito de imagem da Copa do Brasil é deles. Paga-se uma cota ridícula e o resto do dinheiro...
Como é que uma Confederação de Futebol, que recebe mais de 500 milhões por ano...? Aquilo ali você tocaria com 10% daquelas pessoas que lá estão. Porque, na verdade, a CBF é um cartório para registrar jogadores, não é? Nada mais do que isso, e cuidar de Seleção esporadicamente; o mínimo.
Qualquer clube de futebol da Primeira Divisão tem necessidade de ter mais funcionários para se tocar do que a própria CBF. Não pagam salário de jogador. Inclusive a lei prevê que tem que pagar, mas nunca pagaram. Para você receber tem que brigar, e muito. E se ficar brigando demais, acabam não convocando os jogadores do seu clube.
Então, é realmente uma coisa impressionante esses números. Eu não sabia que o faturamento da CBF chegava a 540 milhões. Com 30 milhões por ano, se faz as despesas com tranquilidade. E aonde vai o resto dessa grana? Essa eu acho que é a pergunta que não quer calar.
E nós podemos exigir da CBF, inclusive, Presidente Romário, sugiro a V. Exª, que eles nos mande esse balanço detalhado, para que, aqui, possamos estudá-lo junto a uma pessoa especializada em contabilidade para que possamos destrinchá-lo. Porque, o quanto se gasta em cada coisa, não está explícito, segundo o jornalista Rodrigo Matos. Não é isso, Rodrigo?
O SR. RODRIGO MATOS - É, Senador. O balanço deles público, no site deles, tem muito poucas informações. Ele é muito sucinto. Estou com ele aqui, mas é um documento que não explica detalhadamente como são feitas as despesas. São descrições genéricas.
O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Na verdade, os clubes têm medo de retaliação, sabe, Rodrigo? Estou dizendo, porque eu sei como é que esse pessoal trabalha. O clube, às vezes, tem medo de exigir uma coisa dessas e ficar marcado, enfim, ser perseguido.
Para se ter uma ideia, a gente já tinha noção do tamanho desse buraco. Há uns 15 anos, fui procurado por um empresário, se não me engano, argentino ou uruguaio, dizendo assim: "Olha, nós fizemos uma proposta para comprar a Copa Libertadores por US$150 milhões". Esse empresário disse-me que havia feito a proposta para a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL). E, para a minha surpresa, depois, foi anunciado que ela fora vendida por US$50 milhões, quer dizer, eles perderam US$100 milhões, não é?
O SR. RODRIGO MATOS - Senador, se V. Exª olhar a investigação do FBI, ela inclui a Libertadores, não é? Houve pagamento de propinas aos dirigentes da CONMEBOL pelos contratos da Libertadores. É o que está demonstrado ali.
O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - E os clubes, na verdade, são as grandes vítimas de todas as mazelas. Para se ter uma ideia, eu saí do Cruzeiro há dois anos e meio. Em meu último contrato lá com a CONMEBOL de direitos de televisão, eles pagavam - direito, não; tipo a Copa do Brasil: eles pagam o que querem para a gente -, o Cruzeiro recebia US$100 mil por jogo, no qual ele fosse... (Falha na gravação.)
Tem que fazer dois jogos. Agora, menos da metade do que a gente recebia também do campeonato mineiro. E, incrível, os clubes não se juntam para brigar. Na época, eu procurei o Presidente do Flamengo, o Presidente do Palmeiras e falei: "Poxa, não vamos disputar a Libertadores. Vamos dizer que não vamos disputar. Não se vai fazer futebol sem o Brasil, sem os clubes brasileiros". Mas ninguém nunca se animou peitar. E a gente... Os clubes são realmente explorados, explorados tanto pela CBF como pela Confederação Sul-Americana de Futebol. Infelizmente é uma realidade.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito bem, Senador. Esses documentos que V. Exª acabou de dizer que gostaria de pedir para a CBF, V. Exª pode requerê-los através de requerimento na próxima reunião, requerimento que será colocado em votação.
Vou devolver a palavra ao Senador Roberto Rocha.
O SR. ROBERTO ROCHA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - MA) - Sr. Presidente, tendo em vista as poucas perguntas que foram feitas, eu quero fazer mais uma ao jornalista Rodrigo Matos.
Em seu blogue, V. Sª você relata uma disputa judicial em torno de um contrato assinado entre a CBF e a Marfrig. Esse contrato, que foi assinado em 2010, teria o valor total de US$160 milhões. Segundo noticiado no blogue, o contrato teria uma cláusula que incluiria o fornecimento, pela Marfrig, de um avião e um helicóptero no valor de US$24 milhões.
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Posteriormente, o contrato foi rescindido, o patrocinador foi trocado, e o caso foi parar na Justiça. Como sempre, uma negociação nebulosa, na qual é preciso saber se os impostos foram pagos, se houve o pagamento de propinas.
A pergunta é se V. Sª teve acesso a esse contrato; se poderia fornecê-lo a esta CPI e se existe algum indício, na visão de V. Sª, de irregularidade nesse acordo.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Senador Humberto Costa, V. Exª quer fazer alguma pergunta? (Pausa.)
Muito obrigado pela participação.
O Deputado Federal Andres Sanchez quer fazer alguma pergunta aos convidados?
O SR. ANDRES SANCHEZ (PT - SP) - Primeiro, eu quero agradecer pelo convite ao Presidente Romário, e cumprimentar o Relator, Senador Romero Jucá, a todos os Senadores presentes e os convidados.
Eu quero explicar direito que a CBF não tem nada a ver... A Klefer não tem nada a ver com a televisão Copa do Brasil. A Klefer, o contrato com a CBF é: patrocínios de estáticas e patrocínios ambulantes dos jogos da Copa do Brasil. Televisão é outro sistema, não é incluso nisso.
A CONMEBOL, como foi dito aqui, paga realmente o que é uma vergonha para os clubes brasileiros. Tanto é que eu estou numa campanha aí para o Brasil não jogar. Hoje ela paga US$210 mil por mando de jogo, e você tem que dar 10% da renda bruta para a CONMEBOL, e mais 5% para a Federação, e mais não sei o que lá de fundo perdido de estádio. E quando você vai jogar o jogo fora, você paga 100% da viagem. Então é isso.
E do FBI, não é que esteja fazendo na Copa do Brasil. Existem indícios de que, na televisão, foi envolvido o Marin nisso. Mas a investigação é 100% em cima da CONMEBOL. E o cara que você falou aí era o cara do Uruguai, o Paco, o casal que ofereceu dinheiro para a televisão, da CONMEBOL.
Então, os clubes brasileiros, realmente - faço aqui a minha mea culpa - têm que ter vergonha na cara e mudar essa coisa da Libertadores.
Agora, pergunta eu não tenho. Parabéns pelos documentos que você trouxe, porque realmente é isto: falar e trazer documentos. O Lucio está de parabéns.
Espero que a Comissão, com o Presidente Romário e com o Jucá, vá para frente aí.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Obrigado.
Antes de vocês responderem às perguntas, eu vou fazer as minhas. Primeiro para você, Lúcio.
Em uma matéria de sua autoria, há referência à abertura de uma empresa em nome de Marco Polo Del Nero Filho, nos Estados Unidos e nas Ilhas Virgens Britânicas, cujo endereço oficial é o escritório de advocacia do pai. Em que medida tal informação se associa com os movimentos dos cartolas brasileiros nos Estados Unidos? Esta é a pergunta que eu tenho para V. Sª.
E para o Rodrigo: No seu blog, V. Sª cita os detalhes de acordo de delação premiada feito pelo Sr. José Hawilla, dono da empresa Traffic, com a justiça americana. A reportagem cita que, nesse acordo, José Hawilla admite ter pagado propina a dirigentes da CONMEBOL e da CBF e se comprometeu a devolver US$150 milhões como ressarcimento.
Além do Sr. José Maria Marin, que está preso na Suíça, quem mais recebeu propina? V. Sª possui documentos que possam comprovar essa denúncia? Pode fornecê-los a esta CPI?
Estas são as duas perguntas. Podemos começar com o jornalista Lucio de Castro, para responder às perguntas feitas.
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - Em primeiro lugar, eu queria pedir desculpas e fazer a ressalva de uma falha lamentável minha na primeira fala, quando citei o Romário, por hábito, ainda, como Deputado. Eu, como morador e amante do Rio de Janeiro, não poderia cometer esse erro. Senador Romário, por favor, representando a minha cidade, com seis milhões de votos.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Está perdoado. (Risos.)
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - Então, peço desculpas e faço esta ressalva desse erro lamentável de minha parte.
Feita a ressalva, antes até de entrar nas respostas, eu queria também lembrar que eu acho que o fundamental dessas nossas exposições aqui, tanto a minha como a do Rodrigo - eu acho que a gente tem em mente, até pela experiência do trabalho e por tudo que a gente faz -, uma questão fundamental: tentamos trazer aqui a esta CPI um nome.
A experiência nos mostra que alguns contratos em si... Você vai olhar um contrato numa relação entre uma entidade e um patrocinador, seja uma confederação, seja... Esse contrato em si, provavelmente não tem nada de irregular. É nas intermediárias, nas agências de marketing, nessas adjacências onde se encontram as irregularidades. Sempre.
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Então, assim, a gente tentou, me parece, e talvez seja o mais proveitoso, e eu acho que indicar alguns caminhos e isso certamente, por experiência, parece-me que será bem proveitoso se forem buscar... A gente tentou trazer alguns nomes dessas pessoas, dessas intermediárias, desses CNPJs, que podem, que são esses adjacentes. É nesses contratos, é nesses caminhos, é nesses vasos, que eu chamo de vasos intercomunicantes, por onde se processam os desvios, por onde vão os bilhões. Quer dizer, a análise em si de um contrato entre uma entidade e um patrocinador, certamente, dificilmente irá trazer alguma coisa de relevante. É encontrando esses intermediários, agências de marketing, de viagem ou... A gente trouxe alguns nomes novos aqui. E essa eu acho que é a grande intenção. E acho que pode ser um caminho seguro desses depoimentos de hoje.
Eu falo, por exemplo, aqui cito, sem poder afirmar, mas eu cito uma outra entidade, uma outra instituição, cito a CBF TV. Nesses intermediários que a gente vai encontrar um volume que deve ser checado e confrontado o tamanho dessa despesa e desse investimento e, realmente, o gasto dele. É por aí que se processam os desvios. E, geralmente, por experiência, a gente mostra isso.
Eu cito o exemplo aqui da reportagem que eu fiz na Confederação Brasileira de Vôlei, onde eu cito, onde eu mostro um monte, alguns desses intermediários, agências de marketing etc. E aprofundada, a partir das minhas reportagens, pelo Ministério Público, Polícia Federal etc., etc., e Coaf também, elas vão encontrar, não só nessa, como nos outros, um caminho muito claro: uma entidade paga para uma agência dessas por uma intermediação e, logo depois, você vai ver uma retirada dessas agências etc., uma retirada brutal em espécie, em dinheiro, movimentações absolutamente atípicas de dinheiro.
Então, assim, é nesse caminho que eu acho um porto seguro para que esta CPI caminhe e encontre muitas irregularidades, sempre transitando por essas agências de marketing, por intermediários. Você tem um depósito, o caminho inexoravelmente sempre passa por aí. Você tem um depósito numa entidade para um desses intermediários e, logo no momento seguinte, uma movimentação atípica de dinheiro, uma retirada grande, geralmente em espécie. É sempre um caminho seguro. E a gente acha que talvez um dos méritos hoje desta nossa exposição é tentar apresentar alguns nomes para vocês.
Quanto às questões, Senador Romário, depois, aqui, ele fala da associação, da eventual associação da reportagem que eu fiz, e apresentei o documento aqui, da empresa aberta pelo filho do Marco Polo Del Nero nos Estados Unidos. Como eu disse, eu apresento o documento aqui, e vou deixar aqui para o Senador Romário, a abertura dessa empresa. Não posso afirmar nada, mas é uma coincidência muito grande. Parece-me que ela é feita logo depois que o FBI e a promotoria americana mostram que foram pagas propinas ali no mês de abril, depois fala, depois, em alguns outros momentos, em 2014, e logo depois é aberta uma empresa na Flórida, com subsidiária nas Ilhas Virgens. Lembrando que as Ilhas Virgens sempre foram paraíso fiscal por onde ocorriam os pagamentos de propina da ISL. Quer dizer, é um caminho muito conhecido já pelo mundo do futebol.
Então, assim, não posso afirmar, mas acho que é um caminho seguro a ser percorrido e vale a pena ser visto. A abertura dessa empresa logo depois. Lembrando que é em nome do filho do Marco Polo Del Nero, mas o endereço que consta na Flórida é o endereço do escritório de advocacia de Marco Polo Del Nero e Vicente Cândido.
A outra questão...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - Hein? Em São Paulo. Mas a empresa da Flórida, como a gente projetou o documento ali, consta o endereço do Brasil, que é desses dois.
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Agora, a pergunta aqui, sobre o amistoso de Brasília, Brasil e Portugal, faz algum tempo já essa reportagem - alguma coisa, eu vou precisar de uma cola aqui, mas está à mão -, é um momento em que eu tive, como eu disse em minha fala, em que pude apresentar esse operador, esse homem do mercado financeiro, o Claudio Honigman, consegui mostrar depois que, na empresa que Claudio Honigman e Sandro Rosell tinham em sociedade, havia um sócio oculto - e ele se confirma como sócio depois -, que era o Ricardo Teixeira.
Em primeiro lugar, o detentor dos direitos desses amistosos é a ISE, parte do conglomerado Dahall Al Baraka Group, do xeque saudita Saleh Kamel, que adquiriu, por R$26 milhões, os direitos de 24 jogos da Seleção Brasileira, entre 2007 e dezembro de 2011.
Essa empresa repassa para a Bonus Sports Marketing, a BSM, que recebe desta ISE, do xeque árabe, os direitos desses amistosos. Na época, a gente vai ver quem é um dos sócios dessa empresa que recebe esses direitos por esse amistoso: Sandro Rosell.
E depois, com relação a esses amistosos, o que a gente vai ver? É que Sandro Rosell repassa para Sandro Rosell novamente os direitos desses amistosos, para a Ailanto Marketing. E aí há uma curiosidade, que essa empresa, a Ailanto Marketing, foi constituída em 2008 e tem Sandro Rosell como sócio. Ou seja, ele passa da Bonus Sports Marketing para Ailanto, que é dele também. Essa empresa vai receber R$9 milhões do Governo do Distrito Federal para organizar esse evento.
Como curiosidade, a gente vai ver, depois, na Brasil 100% Marketing, que Claudio Honigman não consta mais como sócio. Ele sai da sociedade e fica Sandro Rosell.
Segundo a figura, já citada, da ex-mulher de Claudio Honigman, com quem me encontrei, a razão para ele não constar mais da sociedade da Brasil 100% Marketing - depois, oficialmente, ele é tirado para abrir uma nova empresa - é porque Claudio Honigman é judeu e poderia ter problemas nas relações com os árabes, que exploravam os amistosos da CBF. Então, ele é retirado oficialmente da sociedade que se constitui.
Então, o caminho desses amistosos foi mais ou menos por estas empresas: sai da ISE, vai para a Bonus Sports Marketing e, depois, vai para a Ailanto.
Vale lembrar que - perdão, Andres - a gente está falando, pela primeira vez, do erro que... A gente está falando de dinheiro público.
O SR. ANDRES SANCHEZ (PT - SP) - Posso, Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Deputado Andres.
O SR. ANDRES SANCHEZ (PT - SP) - Você confundiu um pouco aí.
Foi aberta essa empresa, foi feito tudo isso para um jogo. Porque era a ISE que tinha os direitos dos amistosos da Seleção de 2007 a 2009, que eram 27 jogos. Depois, se prorrogou o contrato por mais 10 anos. Não poderia ser feito esse jogo no Brasil ou em qualquer lugar do mundo sem a ISE estar por dentro, e quem operava os jogos era... Como é que se chamava a empresa?
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - A Bonus.
O SR. ANDRES SANCHEZ (PT - SP) - É isso aí.
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - Mas foi exatamente o que eu falei.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Agradecemos a presença do Senador Tasso Jereissati.
Respondeu? (Pausa.)
O SR. ROBERTO ROCHA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - MA) - Presidente, eu só queria saber se eles têm conhecimento de, além dessa ocasião em que o Governo do Distrito Federal passou R$9 milhões para a CBF, outro momento em que a CBF recebeu dinheiro público?
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - Parece-me que depois, mas eu não posso afirmar... Mas eu me lembro de uma reportagem - o Rodrigo pode talvez falar - que citava alguma coisa depois, em categoria de base, recente. Parece-me que aí há alguma coisa de dinheiro público para categoria de base.
Lembrando que - eu ainda estou num momento de exame detalhado, e virá matéria depois, mas eu posso adiantar - existem outras coisas que a CBF, claramente... Lamento muito que não tenha passado a questão de a CBF poder ser fiscalizada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Mas existem coisas, por exemplo, no exterior, gastos indiretos muito grandes. O Itamaraty, por exemplo, como qualquer brasileiro, está sempre à disposição da CBF e, por várias vezes, tem gastos com a CBF no exterior.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito obrigado, Lucio de Castro.
Passo a palavra, agora, para responder as perguntas, ao nosso jornalista Rodrigo.
O SR. RODRIGO MATOS - Vou começar lá detrás, com o Senador Roberto Rocha.
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Bom, primeiro, exatamente esta última questão que o senhor colocou em relação ao dinheiro público, o único que eu me lembro é que esse dinheiro não foi dado diretamente à CBF, foi às empresas organizadores, mas foi o único caso de amistoso que teve esse volume de dinheiro público, que é aquele de Portugal, que foi inclusive investigado aqui pelo Ministério Público do Distrito Federal.
Voltando a sua pergunta, lá atrás, se o Presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, teria o temor de sair do País, por conta da investigação do FBI. O que eu posso dizer? Não posso entrar na cabeça do presidente da CBF para saber se ele tem um temor ou não, mas, assim, a alegação atual deles é que eles se mantêm aqui para acompanhar os trabalhos da CPI do Futebol, e até agora ele não precisou ser convocado. Então, ele está, há dois, três meses com a alegação de que tem que cuidar da CPI do Futebol e de outras questões do Brasil. Nunca havia faltado a nenhuma sessão da FIFA, e era uma sessão muito importante, porque nesse dia seria a eleição do Presidente Joseph Blatter, e foi a primeira vez que faltou. E, na sequência, não acompanhou a Seleção ao Chile para a Copa América - na sequência não, concomitante -, e não esteve em uma reunião da CONMEBOL, na Rússia, na qual estavam, inclusive, ameaçando excluí-lo.
Recentemente ele foi perguntado sobre o assunto, e ele disse que não possui impedimento para sair do País, mas ele não saiu do País, até agora.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Só para corroborar com a sua colocação, em relação ao Presidente da CBF, o Marco Polo Del Nero, ele pode ficar tranquilo, viajar sem problema, porque a gente espera ele voltar para ser convidado aqui.
Pode continuar.
O SR. RODRIGO MATOS - Enfim, agora ele colocou que, na próxima reunião, ele vai decidir se vai ou não. Os países em que ele deixou de ir, ao Chile, no amistoso da Seleção, e à Suíça, têm tratado de extradição com os Estados Unidos.
Quanto à sua segunda pergunta, em relação ao contrato da Marfrig. O contrato tornou-se público por conta do processo judicial que corre, no qual a CBF está processando a Marfrig. Sim, eu tenho a posse do contrato. Ele está em meio digital, mas posso repassar para a CPI sem problema.
Quanto á possibilidade de irregularidade. No processo em que constam as informações não há nenhuma informação que possa nos indicar isso, mas como ressaltou o Lucio anteriormente, a questão nunca é no contrato principal, mas nos contratos paralelos de comissão. Esse não consta no processo. Então, a gente não tem como saber se houve um pagamento de intermediação por esse valor. O que a gente consegue saber, dentro do contrato, é essa questão do pagamento por aeronave, que a CBF receberia por aeronave e outras questões da relação contratual deles, mas é impossível, não há indícios dentro do processo de que existam irregularidades.
Quanto à pergunta do Senador Romário, em relação às denúncias do José Hawilla ao Departamento de Justiça, à Justiça americana, todas as afirmações feitas são baseadas na própria investigação do Departamento de Justiça Americano. Essas informações são públicas e constam do site do Departamento de Justiça Americano, é só publicá-las.
E quanto a essa questão de se outros dirigentes receberam propinas, o que é relatado lá é o seguinte: são dois casos relacionados ao Brasil. Um é esse que a gente já tratou aqui da questão do contrato da Copa do Brasil e nesse é dito que dois conspiradores levaram também propina, segundo as acusações feitas por José Hawilla, dono da Traffic. Esses dois seriam... Um é descrito como alto cargo na CBF, alto cargo na FIFA e alto cargo na CONMEBOL. E o outro com as mesmas descrições, só que sendo atual. Quem se encaixam nestas descrições seria o ex-Presidente Ricardo Teixeira e o atual, Marco Polo Del Nero, mas o nome deles não consta da investigação.
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O que consta ali é que, e como é a acusação do próprio Hawilla, de que ele teria pago para a obtenção desses contratos da Copa do Brasil.
O Deputado Andres levantou a questão de que não seriam contratos de TV. Até está-me falhando a memória. Eu tenho aqui um documento, que vou deixar aqui, em relação à briga... Com certeza era de placa de publicidade, direito de marketing... E eu precisaria conferir o de TV. Realmente fiquei um pouco em dúvida quando o senhor falou.
Bom, é isso.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito obrigado pela resposta.
Volto a palavra agora ao Senador Romero Jucá.
O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco Maioria/PMDB - RR) - Sr. Presidente, eu considero importantes os dois pronunciamentos. Eu gostaria de renovar o pedido de que todo o material pudesse ser entregue à Comissão, e que pudesse ser distribuído aos senhores membros da Comissão. Nós iremos analisá-los e fazer o cruzamento necessário, pedir informações complementares, para que possa ilustrar a investigação que estamos fazendo.
Portanto, considero relevante os depoimentos, mas me reservo o direito de fazer o cotejamento com dados e análise dos contratos para poder emitir uma posição mais abalizada.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Muito bem, Senador.
Eu gostaria de colocar em votação as atas da 4ª e da 5ª Reuniões, solicitando a dispensa de sua leitura e aprovação das mesmas.
Os Senadores que as aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Estão aprovadas.
Agradecendo a presença dos dois jornalistas, com certeza a presença dos senhores aqui é de grande importância, de grande relevância, assim sendo, eu gostaria de perguntá-los, mais uma vez, se os senhores têm alguma coisa mais a dizer ou se têm algum documento para posse desta CPI.
Eu tenho certeza de que com essas informações obtidas aqui por meio dos senhores nesta Comissão, vamos continuar dando seguimento e um andamento bem positivo em relação a esses trabalhos.
Muito obrigado aos senhores pela presença.
Gostariam de fazer alguma colocação final?
O SR. LUCIO JOSE MELLO MATTOS DE CASTRO - Agradecemos muito pelo convite, Presidente.
Quero dizer que todos os documentos apresentados ali estão ficando, na íntegra, aqui.
O SR. RODRIGO MATOS - Só mais uma observação sobre o que o Senador Zeze Perrella levantou. Quanto ao Contrato da Copa do Brasil, o valor que consta é de R$55 milhões que consta desse contrato relacionado à Klefer. E, pelas informações de advogados e da Justiça americana, os clubes brasileiros poderiam ser parte, porque esses 151 milhões que o Sr. José Hawilla pagou como reparação, quer dizer, já pagou US$25 milhões, mas vai pagar 151, são, na verdade, reparações a pessoas que sofreram danos por conta desse pagamento de propina. Os clubes brasileiros poderiam ser parte nessa questão. Bastaria ir aos Estados Unidos, entrar como parte e requisitar que uma fatia do dinheiro seja devolvida para ele.
O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Isso por si só já é preocupante, Rodrigo, porque 55 milhões por uma Copa do Brasil inteira para dividir por todos os clubes? Só o contrato do Cruzeiro são 60 milhões, e eles fazem quatro ou cinco jogos por ano na TV aberta e mais uns 20, de pay per view. O Cruzeiro recebe hoje algo em torno de 80 milhões. Toda competição por 55 milhões é uma brincadeira de mau gosto!
O SR. RODRIGO MATOS - Por aí percebemos o dano que pode causar para o futebol se houver uma negociação à parte...
O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Ou os clubes estão recebendo muito ou tem coisa errada aí.
O SR. PRESIDENTE (Romário. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Bem, nada mais havendo a tratar, agradeço a presença de todos e convidamos para a próxima reunião, a ser realizada nesta quinta-feira, 27 de agosto de 2015, às 10h15min.
Nesta reunião, ouviremos os jornalista Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni Mazi e Luiz Carlos Urbano Azenha, autores do livro O Lado Sujo do Futebol, e apreciaremos também alguns requerimentos.
Muito obrigado.
Declaro encerrada a presente reunião.
(Iniciada às 14 horas e 08 minutos, a reunião é encerrada às 15 horas e 21 minutos.)
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(Em execução.)