Fala da Presidência durante a 163ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a celebrar o aniversário de 500 anos da Reforma Protestante.

Autor
José Medeiros (PODE - Podemos/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a celebrar o aniversário de 500 anos da Reforma Protestante.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2017 - Página 10
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, CELEBRAÇÃO, REFORMA, IGREJA EVANGELICA, COMENTARIO, HISTORIA, RELIGIÃO, MARTINHO LUTERO.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Obrigado pelas palavras, Pastor Dalcido. (Palmas.)

    Registramos a presença da Senadora Ana Amélia, que será a próxima a usar da palavra.

    Houve um período na história do protestantismo em que a influência do Renascimento e do Iluminismo resultou na volta da razão como elemento fundamental para a definição, compreensão e vivência da verdade.

    O Renascimento sugeria um novo posicionamento do homem diante de si mesmo e do mundo. Nesse período acontece a retomada das ideias clássicas. Agora há criações artísticas, literárias e científicas. O homem estuda a natureza e quer imitá-la. Surgem os teatros e o retrato do cotidiano. Tudo isso leva o homem a pensar mais e refletir mais sobre a cultura, teatro, etc. Também temos o Iluminismo, que foi um movimento político, cultural e filosófico.

    No Iluminismo, temos os autores que defendiam a lógica e o raciocínio como base no conhecimento da natureza, do progresso e da compreensão entre os homens – Voltaire, Rousseau, Diderot... Para os tais, o conhecimento e a educação eram ideais para a melhoria da sociedade. Daí esse período histórico ter ficado conhecido como Século das Luzes.

    Esses movimentos influenciaram o protestantismo, de sorte que houve a libertação da ignorância, do medo que havia na época, e houve uma abertura para a fé racional, que foi trabalhada pelo entendimento das Escrituras Sagradas.

    Na Alemanha aparece o grande pensador e estudioso das Escrituras Martinho Lutero. Ele nasceu em Eisleben, na Saxônia – o meu alemão está um pouco enferrujado –, em 1483 d.C. John Foxe relata que, numa idade já madura, foi enviado para a universidade, primeiro a Magdeburgo e depois a Erfurt.

    Na Universidade de Erfurt, havia um ancião do convento dos agostinianos com quem Lutero, que também era um frade agostiniano, conversava sobre vários assuntos, especialmente sobre a remissão dos pecados. O padre ancião revelou a Lutero esse artigo de fé, explicando que o mandamento expresso de Deus é que todos os homens devem acreditar, sobretudo, que seus pecados são perdoados em Cristo. E acrescentava que essa interpretação era confirmada por São Bernardo: "Este é o testemunho que o Espírito Santo dá ao teu coração dizendo: Teus pecados estão perdoados. Esta é, na verdade, a opinião do apóstolo: o homem é graciosamente justificado pela fé."

    Com essas palavras no coração, Lutero continuou seus estudos e foi se aprofundando nas Escrituras Sagradas.

    Nessa mesma época, um certo Staupitius, homem famoso que prestara sua ajuda para promover a construção de uma universidade em Wittenberg, após considerar o espírito e a aptidão de Lutero, o chamou de Erfurt para colocá-lo em sua universidade. O convite aconteceu no ano de 1508. Isso aconteceu quando Lutero tinha 26 anos de idade.

    Ele traz a Bíblia para o povo, e, com a descoberta da imprensa – Gutemberg –, o alemão teve acesso às Escrituras Sagradas.

    Lutero seguiu as indicações de Staupitz e se dedicou completamente ao estudo da Bíblia. Ele começou, ensinando acerca dos Salmos, em 1513. E, em 1517, também ensinou as epístolas de Romanos e Gálatas.

    Lutero teve um rompimento com a igreja romana e passou a ter um entendimento de Deus e do relacionamento de Deus com a humanidade.

    Os estudos dos Salmos lhe deram os primeiros vislumbres da esperança de que uma resposta poderia ser encontrada sobre o pecado e a justiça – também sobre a graça divina.

    Exatamente como os exegetas de seu tempo, ele interpretou os Salmos cristologicamente. Neles, Cristo falou e Se fez manifesto.

    Lutero, ao aprender mais sobre as Escrituras, ficou indignado com os sermões blasfemos de sua época e, decidido a preservar com ardor a verdadeira religião, publicou certas proposições referentes às indulgências e afixou-as no templo contíguo ao Castelo de Wittenberg, na manhã seguinte à da Festa de Todos os Santos, em 31 de outubro de 1517 – portanto, há 500 anos.

    Tudo demonstrava o quanto sua vida correspondia às suas convicções. Claro estava que suas palavras não eram palavras vazias, mas provinham do fundo da sua alma. Sua santidade de vida muito seduzia os corações dos seus ouvintes.

    Durante todo esse tempo Lutero nada alterou nas cerimônias religiosas e observava meticulosamente as regras, como os seus confrades.

    Não tratava de questões dúbias. A todos ensinava apenas uma doutrina como sendo a mais importante, expondo e esclarecendo a questão do arrependimento, da remissão dos pecados, da fé, do verdadeiro conforto a ser buscado na cruz de Cristo. Todos se beneficiavam do bom sabor dessa doce doutrina, e os eruditos sentiam grande prazer ao contemplar Jesus Cristo, os profetas e os apóstolos, deixando as trevas e surgindo em plena luz.

    Com essa Reforma Protestante, Lutero usou demais as Escrituras e realmente provocou uma revolução na vida de muitas pessoas, sendo um instrumento precioso nas mãos de Deus.

    Sabemos que Martinho Lutero foi levado a julgamento por causa das novas verdades que estava ensinando. E, ao ser questionado acerca dos livros escritos pelas autoridades, através do Presidente da Casa, chamado John Eckius, ele respondeu com moderação e humildade, mas com disposição corajosa e firmeza cristã. Ele disse:

Considerando que Sua Soberana Majestade e Vossas Reverências exigem uma resposta clara, digo e professo, com toda a resolução possível, sem dubiedade ou sofisticação, que, se eu não for convencido por testemunhos das Escrituras (pois não creio em nenhum Papa, nem em seus Concílios Gerais, que muitas vezes erraram e se contradisseram), minha consciência está tão amarrada e presa a essas Escrituras e à Palavra de Deus, que eu não quero nem posso revogar coisa alguma, considerando que não é nem piedoso nem legítimo agir de qualquer forma contra a minha consciência. Esta é a minha posição definitiva. Nada mais tenho a dizer. Deus tenha compaixão de mim!

    Os príncipes consultaram-se entre si sobre essa resposta de Lutero. Depois de examiná-la com cuidado, o Presidente insistiu, dizendo: "Sua Majestade exige que o senhor responda simplesmente sim ou não, dizendo se pretende defender toda a sua obra como sendo cristã ou não."

    Então, Lutero, virando-se para o Imperador e os nobres, implorou que não o compelissem ou forçassem a agir contra a sua consciência, confirmada pelas Santas Escrituras, sem que seus adversários apresentassem argumentos claros, no sentido oposto. Ele disse algo absolutamente profundo sobre a Bíblia Sagrada: "Estou amarrado pelas Escrituras."

    Vemos, na vida de Lutero, que as Escrituras fizeram efeito profundo. E hoje colhemos muito da vida e obra de Lutero, através da seriedade da Bíblia.

    Por outro lado, em Genebra, aparece João Calvino, que traz uma compreensão e interpretação preciosas sobre as Escrituras. Ele escreve o comentário da Bíblia toda, com exceção de Apocalipse. E escreve um Tratado da Religião Cristã.

    Então, a espiritualidade no fim da idade Média é racional e envolvida com o conhecimento das Escrituras. Neste período, a ênfase não era na música, nem na liturgia e, sim, na Palavra.

    Calvino teve a responsabilidade de dar à Teologia Reformada sua forma característica. Embora o curso exterior dos primeiros anos de Calvino sejam afirmados com certo grau de precisão, os dados acerca do seu desenvolvimento intelectual e religioso são muito raros. Calvino entrou em contato com o Humanismo desde muito cedo, pois na sua juventude ele foi amigo do médico do rei, William Cop, que, por sua vez, estava em contato próximo com Erasmo. É significativo, entretanto, que, quando dois de seus professores de Direito, Pierre de l'Estoile e Andréa Alciati, se tornaram envolvidos em uma amarga controvérsia, Calvino tomou o lado de l'Estoile, o conservador, contra o humanista Alciati.

    Calvino começou em Genebra sua carreira como um líder da Reforma.

    Foi nessa condição, despertado por novos problemas e questões, que ele continuou a desenvolver as Institutas, até que a obra alcançou a sua forma final em 1559.

    É possível seguir o desenvolvimento da teologia de Calvino e as questões que foram levantadas por várias controvérsias, simplesmente seguindo o crescimento das Institutas, tanto na estrutura quanto no tamanho e no conteúdo, enquanto a obra passava por edições sucessivas.

    Calvino difundiu o pensamento reformado olhando sempre para as Escrituras. E ensina, através do Livro I das Institutas, que

o verdadeiro conhecimento de nós mesmos, onde nós descobrimos nossa própria miséria e insuficiência, também nos faz compreender que nós precisamos buscar o conhecimento de Deus. Mas, desde que em nossa condição presente nós somos muito propensos para nos autoenganarmos, alegando que somos o que não somos, e obscurecendo nossas enfermidades, o lugar apropriado para a verdadeira sabedoria começar é com o conhecimento de Deus.

    Calvino se torna um grande teólogo e um estudioso profundo das Escrituras, provocando uma mudança profunda na sua época quanto à visão das Escrituras Sagradas na vida das pessoas.

    O fato é que o protestantismo trouxe para nós uma espiritualidade, de certa forma, alicerçada na razão. Para esse tipo de momento, conhecer a Deus significava conhecer racionalmente a revelação bíblica sobre Deus. Claro que, naquele tempo, o mais importante era isso mesmo. O importante era libertar o povo da ignorância do ensinamento da Igreja na época. E com isso, trazer o homem para a verdade.

    E a verdade é que, hoje, precisamos dar uma boa dose de injeção no conhecimento da Palavra de Deus. Precisamos de conhecimento das Escrituras, como foi na vida de Lutero e Calvino. Eles influenciaram a Igreja e a sociedade com os ensinamentos das Sagradas Escrituras.

    Mesmo com todos os defeitos da igreja, temos a Palavra como centro de tudo. Temos a Palavra de Deus como a regra de fé e prática. Ela traz direção para todos os processos da vida, seja na moral, na ética ou na espiritualidade. Ela é a nossa fonte de vida para a jornada diária, como diz o texto de Romanos, capítulo 10, versículo 8: "A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé que pregamos."

    Isso aqui foi um texto do Maurício Melo de Meneses, Presidente dos Gideões Internacionais e membro da Igreja Presbiteriana do Brasil.

    E com a palavra, agora, a Senadora pelo Rio Grande do Sul, Senadora Ana Amélia Lemos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2017 - Página 10