Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre o decálogo de D.Geraldo Magela Agnelo, presidente da CNBB.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Reflexões sobre o decálogo de D.Geraldo Magela Agnelo, presidente da CNBB.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2006 - Página 7777
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, PRESIDENTE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), COMENTARIO, HISTORIA, ELOGIO, ATUAÇÃO, IGREJA CATOLICA, LUTA, JUSTIÇA SOCIAL.
  • APRESENTAÇÃO, RELAÇÃO, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), CERIMONIA, LANÇAMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE.

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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ALVARO DIAS NA SESSÃO DO DIA 8 DE MARÇO, DE 2006, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pelo profundo respeito que devoto a Dom Geraldo Majella, Presidente da CNBB, venho à tribuna com um discurso escrito, denominado “O Decálogo de Dom Geraldo”.

            A competente jornalista Dora Kramer fez o alerta: “Em seguida à Igreja, virão outros aliados tradicionais do PT no mesmo diapasão de cobrança de resultados. Trata-se de uma ilusão vã o Governo imaginar que poderá tratar a tudo e a todos o tempo inteiro na base da propaganda e do palavrório inconseqüente”.

            Referia-se à manifestação da CNBB no lançamento da Campanha da Fraternidade de 2006, quando o Brasil foi considerado um “paraíso financeiro”. A Igreja, com a sua sabedoria milenar, ao assumir de frente uma angústia que invade o cotidiano da família brasileira, cumpre nesse mundo temporal, pelas suas autorizadas vozes a condenação de um modelo de poder que exclui o direito divino de viver com dignidade.

Apóstolo da fé e da verdade cristã, o Arcebispo Primaz do Brasil, D. Geraldo Majella Agnelo, igualmente Presidente da CNBB, ecoou o grito de angústia num verdadeiro decálogo em nome da sociedade brasileira. É um testemunho de grande valor histórico e que não pode ficar adstrito a uma instantaneidade do registro em páginas de jornais. Não se trata de uma manifestação política ou eleitoral. É o cristalino espírito de fraternidade e humanismo militante de um servidor da fé.

Conheço D. Geraldo Majella há décadas. Primeiro, na titularidade do bispado de Toledo, no Oeste do Paraná. Depois, ao assumir em Londrina o seu Arcebispado. Governador do Estado, pude testemunhar a sua inquestionável e férrea vocação de servir ao próximo, sempre buscando a construção de uma sociedade generosa e justa. Nunca se omitiu quando se fazia importante a sua mediação para superar conflitos.

Autêntico diplomata da fé, logo é convocado pelo Papa João Paulo II, para assumir em Roma, a Congregação da Liturgia da Fé, a quem dentre outras responsabilidades, administrava a vocação sacerdotal e as fundamentações teológicas dos sacerdotes em todo o mundo onde se faz presente a Igreja Católica. Em função de despachos semanais com o Papa João Paulo II, torna-se um grande conselheiro daquele Pontífice.

No Vaticano, pela sua autoridade, carisma e grande sabedoria, teve o seu nome apontado por vários órgãos da imprensa internacional na lista dos prováveis sucessores do Papa. A sua volta ao Brasil vem com a elevação à condição de Cardeal, passando a integrar o colégio supremo da Igreja.

Nomeado Arcebispo Primaz do Brasil, D. Geraldo Majella Agnelo assume em Salvador a histórica primeira diocese da Igreja criada nos primórdios do Brasil-Colônia. Na Bahia, a sua atuação de guardião dos fundamentos da fé vem sendo notável. Terra de todos os santos, onde o sincretismo religioso é uma referência importante na convivência humana, consolidou uma relação harmoniosa de respeito com diferentes crenças.

Respeitado e admirado pelo povo baiano, D. Geraldo é presença e voz acatada na permanente pregação dos valores humanos, onde a justiça social é uma essência da fé.

Presidente da CNBB, interpreta com firmeza as resoluções emanadas dos encontros de Itaici que conjuga o dever supremo do cristão: a fé no mundo extratemporal, não exclui a luta por dignidade e justiça no mundo temporal. Ainda agora, proferiu o grito que está preso na garganta daqueles que sempre têm a sua voz abafada.

A Igreja tem nos 10 Mandamentos bíblicos um dos seus fundamentos. Ao retratar a atual realidade brasileira e o desempenho do Governo Lula, D. Geraldo Majella proferiu conceitos realistas que poderiam ser classificados como decálogo da incompetência. Eis o “Decálogo de D. Geraldo” sobre o Governo Federal, ao lançar a Campanha da Fraternidade na Bahia:

1 - “Esse Governo gosta de fazer comparações com outras administrações. Mas não existe na história um Governo tão submisso às condições impostas pelos credores do que esse Governo”.

2 - “Eu ainda não vi um banco quebrar no Governo Lula. Pelo contrário, os banqueiros estão lucrando cada vez mais. Nenhum banco foi à falência”.

3 - “Os indicadores nacionais ou internacionais mostram que um terço da população brasileira vive abaixo da linha de pobreza. É isso que nos preocupa. Aí eu pergunto: Tem trabalho? Tem educação?”

4 - “Nós estamos dizendo sempre: escuta, é urgente, tem miséria, tem fome, tem desemprego no Brasil”.

5 - “É preciso mudar a política econômica para privilegiar os mais pobres, os mais necessitados, os mais sofredores”.

6 - “O Bolsa-Família é assistencialismo, não é promoção humana. Em alguns casos, o programa estimula as pessoas a não fazerem nada em troca de R$60, R$90 por mês. O que a CNBB quer é trabalho e educação para todos”.

7 - “O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem a visão do povo. O povo quer trabalho, o povo quer educação, e não campanhas carnavalescas”.

8 - “Já está provado que a corrupção existe. Agora, protelar prazos para não punir os culpados é inaceitável. A gente vê que os acusados conseguem muitos habeas-corpus, outros não vão aos depoimentos. Isto não dá para aceitar”.

            9 - “Queremos que os governantes se preocupem e não queiram a desgraça de ninguém, pois as pessoas têm direito a uma vida digna e justa, que cada um participe, não seja um partícipe, não seja um parasita e receba dinheiro para não fazer nada”.

10 - “Queremos contribuir para melhorar o Brasil e vamos seguir com o nosso objetivo. Vamos distribuir um livro que vai ajudar na formação dos eleitores, com as nossas recomendações para todas as comunidades”.

Sr. Presidente, é um decálogo destinado a profundas reflexões, não apenas no mundo cristão, mas em parcelas expressivas dos homens, mulheres e jovens de boa vontade, sobretudo. A palavra de D. Geraldo Majella, ao condenar a perenização da miséria, expressa enorme esperança e fé na capacidade do povo brasileiro em reagir contra os fariseus que prometeram mudanças e um mundo melhor. Infelizmente, não era verdade. *

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2006 - Página 7777