Discurso no Senado Federal

VIABILIDADE DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO CENTRO-OESTE.

Autor
Carlos Bezerra (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MT)
Nome completo: Carlos Gomes Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • VIABILIDADE DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO CENTRO-OESTE.
Aparteantes
Júlio Campos, Levy Dias, Lúdio Coelho, Mauro Miranda, Ramez Tebet, Valmir Campelo.
Publicação
Publicação no DCN2 de 29/06/1995 - Página 11204
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, JOSE ROBERTO ARRUDA, SENADOR, ENRIQUE IGLESIAS, PRESIDENTE, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), OBJETIVO, CAPTAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, FINANCIAMENTO, PROGRAMA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, REGIÃO CENTRO OESTE.
  • COMENTARIO, VONTADE, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, URGENCIA, ASSINATURA, CONTRATO, CONVENIO, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), VIABILIDADE, REALIZAÇÃO, PROJETO, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO CENTRO OESTE.

O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB-MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a nossa Região Centro-Oeste é rica, mas sem estrutura. Essa falta de estrutura se dá não somente por falta de apoio do Governo Federal, mas também pela incompetência das lideranças do Centro-Oeste em se unir e lutar pelos problemas da Região, que são comuns: problemas de estrada, de energia, de comunicação.

Começamos um trabalho aqui, no Congresso Nacional, com a Bancada Federal e com os Governadores. Já realizamos duas outras reuniões aqui, em Brasília; reuniões ricas em debates e propostas. Depois da última reunião, continuamos trabalhando, eu e o Senador José Roberto Arruda, que ficou incumbido de averiguar, em nome desse grupo do Centro-Oeste, meios de captação de recursos para apoiar os projetos que o Presidente da República admite assumir em favor do Centro-Oeste.

No domingo passado, o Presidente da República convidou o Senador José Roberto Arruda para um jantar. Nesse evento, esteve presente o Presidente do BID, o Sr. Enrique Iglesias, que está visitando o Brasil.

Esse jantar foi histórico para nós, do Centro-Oeste. O Senador José Roberto Arruda fez uma exposição das nossas idéias; o Presidente, segundo noticia a imprensa, afirmou que, depois das reformas, esse é o programa que Sua Excelência deseja realizar, qual seja, o de deslocar o eixo de desenvolvimento do País para a Região Centro-Oeste como forma de viabilizar o nosso País, de tirá-lo da crise. O Presidente do BID dispôs-se a financiar toda a estrutura do Projeto.

Ainda há mais: o Presidente pediu urgência, afirmando que gostaria de assinar esse convênio no início de setembro, quando estaria visitando Cuiabá, em relação àquela proposta de deslocar o Governo Federal para o interior do Brasil. O Presidente acenou também com a possibilidade de apressar essa negociação, para termos, no início de setembro, a assinatura desse contrato.

Portanto, o trabalho em favor do Centro-Oeste está tendo resultado positivo. A nossa unidade está sendo costurada dia a dia. Estamos argumentando, principalmente junto aos Governadores do Centro-Oeste, que S. Exªs são peças fundamentais nessa estrutura, que precisam ter a consciência da grandiosidade desse projeto.

Ainda ontem, pela manhã, afirmei o meu posicionamento a um desses Governadores por telefone. S. Exª foi ao BID, atrás de recursos, nos Estados Unidos. Disse-lhe: "Esses projetos, cujos recursos V. Exª está indo procurar, em nome do seu Estado, nos Estados Unidos, podem estar incluídos nesse grande programa nacional, que é do Governo Federal, para a nossa região, a mais abandonada do Brasil".

O Sr. Júlio Campos - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. CARLOS BEZERRA - Concedo um aparte ao nobre Senador Júlio Campos.

O Sr. Júlio Campos - Senador Carlos Bezerra, V. Exª aborda um assunto de real importância para a nossa Região, o Centro-Oeste. Neste momento, quero dar o testemunho da sua luta como Parlamentar desde o início da sua chegada nesta Casa, em fevereiro. V. Exª falava na unidade da nossa Região, para termos força política a fim de reivindicar ao Presidente da República, ao Governo Federal, um programa especial de desenvolvimento para o Centro-Oeste. V. Exª, há poucos dias, realizou com sucesso, nesta Casa, com a participação de Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, de Goiás, de Rondônia, do Acre, do Tocantins e do Distrito Federal, o primeiro encontro de Governadores e da Bancada Parlamentar da Região, conseguindo com isso viabilizar o início de um programa especial, coroando esse encontro com a nossa visita, de toda a bancada e dos Governadores, ao Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Na oportunidade, arrancou de Sua Excelência, de público, discurso feito perante os Congressistas, os Governadores e também a imprensa brasileira. Transmitida pela Voz do Brasil, V. Exª assumiu o compromisso de viabilizar um programa de desenvolvimento para o Centro-Oeste. Esse programa, através do eminente Senador, aliado incondicional de V. Exª nessa luta, José Roberto Arruda, já começa a dar os primeiros passos para a sua realização em nível nacional e com recursos internacionais, com o apoio do BID, do BIRD e de outros organismos que podem ajudar o Brasil a fazer o grande desenvolvimento da nossa Região. Esse foi o grande sonho do ex-Presidente Getúlio Vargas e, em outra etapa, do ex-Presidente Juscelino Kubitschek. Vamos agora torcer e rezar para que o Presidente Fernando Henrique seja o terceiro homem a realizar o grande programa de desenvolvimento para o Centro-Oeste. V. Exª está de parabéns, pelo seu trabalho e pelo seu pronunciamento.

O SR. CARLOS BEZERRA - Agradeço o aparte de V. Exª, que muito tem ajudado esse trabalho.

Veja, Senador Júlio Campos, bastou uma unidade incipiente - porque considero a unidade do Centro-Oeste ainda incipiente - para que se quisesse iniciar um trabalho sério nesse sentido. Todos têm que adquirir essa consciência, muitos políticos ainda não a adquiriram.

Tenho conversado diariamente com Governadores e Parlamentares e verifico que essa consciência está-se estratificando. Bastou um início para que colhêssemos resultados importantes. Por exemplo, o Presidente já vestiu a nossa camisa, já autorizou negociações de suma importância para a nossa região. Isso será a redenção do Centro-Oeste e do Brasil.

Hoje, pela manhã, visitei uma outra grande pessoa, o Dr. Paulo Romano, que conhece bem essa área dos programas bilaterais. Fiz com ele uma avaliação do problema, fui pedir a sua ajuda, idéias para a nossa luta. E ele se prontificou a auxiliar-nos.

Conclusão: o Brasil deixa de fazer muita coisa por incompetência, por falta de projetos sérios, bem arrumados, por falta de capacidade de negociação. Queremos evitar tudo isso nesse programa do Centro-Oeste; queremos que ele seja o melhor programa de desenvolvimento de toda a História do Brasil.

O Sr. Ramez Tebet - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. CARLOS BEZERRA - Pois não, nobre Senador.

O Sr. Ramez Tebet - Senador Carlos Bezerra, para mim, não é novidade nenhuma esse entusiasmo de V. Exª pela nossa Região. Eu me recordo de que, quando era Superintendente da extinta SUDECO, V. Exª governava Mato Grosso. E, já àquela época, V. Exª tinha a noção que tem hoje. Parece-me que, governando Mato Grosso, V. Exª olhava para todo o Centro-Oeste: prestigiava a Superintendência, falava no Centro-Oeste, brigava por uma política de desenvolvimento para a nossa Região. Cumprimento-o. V. Exª, há poucos instantes, se referiu a um Governador que negociou com o Banco Internacional; referiu-se naturalmente ao Governador Wilson Barbosa Martins. E a situação no Estado é realmente grave. O Governador tem, por diversas maneiras, buscado recursos. A agricultura não está dando resposta à receita do Estado. Os preços estão aviltados, e a economia dos nossos Estados tem por sustentação a agropecuária. Há dificuldade até para pagamento de funcionários. Sou um entusiasta de V. Exª, assim como o são os Senadores Lúdio Coelho e Levy Dias. V. Exª, além de falar conosco, está falando diretamente com o nosso Governador, que tem autoridade para tal, porque realmente está à frente desse movimento, porque quer que nele todos estejamos engajados. E estamos engajados na luta iniciada por V. Exª, nessa luta que atingiu os Estados tradicionalmente do Centro-Oeste e agregou para o nosso lado os Estados que fazem parte de uma outra região do País, pelo menos geograficamente. Refiro-me ao Acre e ao Estado de Rondônia que estão unidos conosco, e ao Estado de Tocantins, que está realmente no Centro-Oeste inclusive para os fins que objetivamos. Faço outra lembrança - V. Exª deve recordar-se, pois era Governador: demonstramos unidade nesta Casa. Eu não estava no Congresso Nacional nessa ocasião - estava na SUDECO, mas perambulava pelos corredores do Senado e Câmara dos Deputados. Nessa ocasião, unimo-nos ao Norte e Nordeste e obtivemos o quê? Obtivemos os fundos do desenvolvimento para Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Essa união, pela qual V. Exª tanto batalha e luta, por certo vai atingir o objetivo colimado por todos nós: obter o desenvolvimento de uma região que pode dar o que ainda não deu, talvez pela falta de unidade política, pela falta da visão dos homens públicos que não tiveram a perspectiva de Getúlio Vargas, citada aqui pelo Senador Júlio Campos, e de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Mas temos esperança e convicção, segundo o que a Bancada e eu ouvimos e segundo o que V. Exª tem nos transmitido, de que o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, já está totalmente imbuído do propósito de fazer com que a Região tenha realmente um plano de desenvolvimento. Havendo esse plano, por certo vamos avançar; e o Centro-Oeste avançando, todo o Brasil avançará.

O SR. CARLOS BEZERRA - Agradeço a V. Exª pelo aparte, Senador Ramez Tebet. V. Exª tem sido uma peça fundamental nesse processo de unidade; V. Exª tem porte de estadista.

Graças ao nosso trabalho - de V. Exª, meu e de outros - o Centro-Oeste está conseguindo mudar sua postura, está conseguindo fazer política mais racionalmente, está conseguindo pensar grande. O mal do Centro-Oeste era o varejinho de cada Estado, um de costas para o outro. A questão do Centro-Oeste não se refere apenas a essa região; refere-se à integração latino-americana.

V. Exª sabe que a integração passa pelo Centro-Oeste, passa pelo seu Mato Grosso do Sul, passa pelo meu Mato Grosso. Esse plano de desenvolvimento vai afetar, além das fronteiras do Brasil, a América Latina como um todo, que se deseja agregar a nós. O MERCOSUL já é uma realidade. O Brasil só vai ser viável economicamente porque a economia cada vez é mais globalizada.

Hoje não temos condições de competir. O Centro-Oeste hoje é o grande pólo produtor de grãos do País, o grande pólo da produção agrícola. O Brasil precisa aumentar a sua produção imediatamente, porque, se o poder aquisitivo do povo melhorar, como esperamos, o povo não terá alimentos para consumir. Segundo estudos da FAO, precisamos de cem milhões de toneladas só para alimentar os brasileiros; produzimos 80 milhões e exportamos 40% disso. Ora, o Brasil precisa dobrar a sua produção, precisa ir para os 150 milhões de toneladas imediatamente. E onde é que o Brasil vai conseguir fazer isso de forma rápida? No Centro-Oeste. Como o Brasil vai conseguir baratear custos de produção? Via Centro-Oeste, melhorando-lhe as condições de transporte, que afetam gravemente a economia.

Hoje usamos o frete rodoviário em estradas esburacadas e acabadas. Temos o frete mais caro do mundo. Precisamos das ferrovias, precisamos das hidrovias. Hoje ainda, descobrimos um achado: uma verba para a Hidrovia Araguaia-Tocantins. Deflagramos já o processo de negociação com políticos do Pará; já falei com o Governador Maguito Vilela, de Goiás; com o Governador Siqueira Campos e com o Governador Dante de Oliveira, para nos reunirmos, porque o recurso já está aqui no Brasil e pode ser usado na hidrovia. Já começamos articulação política nesse sentido e vamos conseguir viabilizar logo essa grande hidrovia.

O Sr. Levy Dias - Senador Carlos Bezerra, V. Exª me concede um aparte?

O SR. CARLOS BEZERRA - Ouço o Senador Levy Dias, com prazer.

O Sr. Levy Dias - Senador Carlos Bezerra, venho sendo quase que uma voz solitária ao dizer nesta Casa que dinheiro existe: depende é da prioridade que se dá a ele. Lembro-me de que, na última vez em que falei sobre esse assunto, citei o caso do programa de publicidade do último ano do Governo Itamar Franco, em que foram gastos US$270 milhões, quantia suficiente para tirar das favelas de todo o Brasil dezenas de milhares de famílias. Fala-se que o Governo Federal gastará neste ano, com publicidade e divulgação, cerca de US$400 milhões, através de todas as entidades estatais - Banco do Brasil, TELEBRÁS, etc. Ora, assistimos, em reunião que fizemos para debater as questões do Centro-Oeste, a um governador pedindo, pelo amor de Deus, US$2 milhões. Vamos gastar, este ano, US$400 milhões com publicidade. Trata-se, portanto, de uma questão de prioridade. Quatrocentos milhões tirariam das favelas 200 mil famílias. Os sete Estados que V. Exª conseguiu, com dedicação, com trabalho, com paciência, colocar em uma mesma sala são os que produzem alimento. Tenho também um temor, Senador Carlos Bezerra: os nosso Governadores ainda não pararam para atinar o que significa essa união. Dentre 21 Senadores, dentre mais de 60 Deputados Federais, não vi nenhum colocar restrições de ordem política para consolidar o trabalho da Região Centro-Oeste. Cumprimento V. Exª pelo seu pronunciamento. Repito e vou fazê-lo permanentemente: dinheiro existe, depende da prioridade que o Governo der ao seu destino.

O SR. CARLOS BEZERRA - Agradeço o aparte de V. Exª.

O Sr. Valmir Campelo - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Carlos Bezerra?

O SR. CARLOS BEZERRA - Com prazer, ouço o aparte do nobre Senador Valmir Campelo.

O Sr. Valmir Campelo - Agradeço a V. Exª, nobre Senador Carlos Bezerra. Eu não poderia deixar de manifestar a minha admiração pelo trabalho que V. Exª vem encetando para a união desses Estados da Região Centro-Oeste. Estamos acompanhando o trabalho, a coordenação, a inteligência de V. Exª, que foi ajudado muito pelo meu colega de Bancada, o nobre Senador José Roberto Arruda. Quero, nesta oportunidade, dizer que o movimento que V. Exª está coordenando é suprapartidário, não tem cor partidária, uma vez que todos, independentemente do Partido a que pertencemos, estamos associados a V. Exª no sentido de levar as sugestões, como quando estivemos em audiência pública com o Presidente da República, e o plano que temos para a Região Centro-Oeste. Nobre Senador Carlos Bezerra, V. Exª bem sabe que Brasília não foi fundada apenas para ser a capital administrativa do nosso País. Brasília funciona também como pólo irradiador do desenvolvimento para as Regiões Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Sul, enfim, para os rincões do nosso País. Neste instante, V. Exª situa não só Brasília, mas todos os Estados do Centro-Oeste neste contexto de desenvolvimento. Temos grandes mananciais de água, terras abundantes e férteis, inclusive temos dinheiro, como diz o nobre Senador Levy Dias; dinheiro existe, o que falta é vontade política para ser desenvolvido, aqui na Região Centro-Oeste, um programa que faça crescer o nosso País e que possa, acima de tudo, fixar suas comunidades nessa Região despovoada, que é o Centro-Oeste, levando a tecnologia, plantando e desenvolvendo esta Região. V. Exª está de parabéns. Quero dizer a V. Exª que conte conosco, não só com os Parlamentares do Distrito Federal, mas também com os de toda Região Centro-Oeste. V. Exª levanta um tema pelo qual, aliás, já vem se batendo desde longa data, desde quando ocupou o cargo de Governador de Mato Grosso. Tenho absoluta certeza de que chegaremos lá, porque a sensibilidade do Presidente da República fará prevalecer não a vontade de V. Exª, mas a vontade de grande parte da população deste País.

O SR. CARLOS BEZERRA - Agradeço o aparte de V. Exª e aproveito a oportunidade para solicitar-lhe, já que V. Exª representa o Distrito Federal nesta Casa, para que faça um apelo ao Governador do Distrito Federal no sentido de uma maior participação, pois S. Exª não compareceu à primeira reunião. Então, fui ao gabinete de S. Exª, juntamente com o Senador José Roberto Arruda, mostrando-lhe que os problemas do Distrito Federal não serão resolvidos apenas no Distrito Federal. Se não for em conjunto, não se resolverão. Inclusive colocamos essa questão do entorno e outras mais. S. Exª ficou entusiasmado, compareceu à outra reunião, fez um discurso rápido e saiu, não tendo, portanto, participado dos debates. Era importante que o Governador de Brasília fortificasse essa luta. Gostaria que tanto V. Exª como os demais Senadores pelo Distrito Federal ampliassem esse debate aqui em Brasília, porque Brasília tem uma força política muito grande no contexto do Centro-Oeste. Gostaríamos de ver uma participação mais efetiva de Brasília, principalmente do seu Governador, pois S. Exª é o líder. Teremos êxito nessas questões se os governadores assumirem o comando. Caso isso não ocorra, será impossível tocar esse projeto para frente.

O Sr. Lúdio Coelho - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. CARLOS BEZERRA - Ouço V. Exª.

O Sr. Lúdio Coelho - Felicito V. Exª pela condução desse assunto. Transmiti ao Governador do meu Estado, Dr. Wilson Barbosa Martins, por solicitação de V. Exª, o assunto tratado na reunião realizada com o Presidente da República e com o Presidente do BID. Mais uma vez, quero transmitir o que afirmei na primeira reunião do Centro-Oeste, ou seja, da importância de estabelecermos, cuidadosamente, uma ordem de importância às coisas a serem realizadas nesse programa. A Nação está trabalhando com uma enorme falta de recursos. Estou confiante em que o grupo de Senadores, liderados por V. Exª e seguido pelos Senadores Valmir Campelo, Júlio Campos, Levy Dias, José Roberto Arruda, Ramez Tebet e pelos demais representantes do Centro-Oeste, terá competência para estabelecer uma ordem de importância às coisas a serem feitas. Essa ordem é muito importante, pois estabelece as prioridades para que apliquemos, cuidadosamente, os recursos que recebermos nos projetos que contribuirão para o desenvolvimento do Centro-Oeste. Estou atento à navegação do rio Araguaia, compromisso já assumido pelo Senhor Presidente da República, e à navegação através do rio Cuiabá, de Cáceres a Cuiabá e de Corumbá ao Oceano Atlântico. Tenho para mim que, saindo esses financiamentos internacionais para esse programa, haveremos de prestar um grande serviço ao Brasil, principalmente à agricultura do Centro-Oeste. Muito obrigado.

O SR. CARLOS BEZERRA - Nobre Senador Lúdio Coelho, o que queremos é uma solução desenvolvimentista para o País, pois ele só sairá da crise com desenvolvimento - com recessão e juros altos vamos nos afundar. E esse desenvolvimento, inevitavelmente, passa pela nossa Região. É o caminho que o Brasil tem de imediato e mais barato, porque cada R$1,00 investido no Centro-Oeste dará um rápido retorno para o País como um todo. Todo investimento na nossa Região tem reversibilidade ótima e rápida.

O Sr. Mauro Miranda - Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. CARLOS BEZERRA - Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Mauro Miranda - Senador Carlos Bezerra, V. Exª, hoje, externa o pensamento de todos os Senadores de Goiás, creio, de todas as aspirações do Estado de Goiás, que está tão bem integrado na Região Centro-Oeste. A liderança que V. Exª está formando em torno desse grande projeto terá total respaldo do Governador Maguito Vilela, de todos os Senadores, e creio que de toda a Bancada e, por unanimidade, de todos os partidos políticos. Temos que "costurar" essa unidade para que o Centro-Oeste possa tornar-se essa região-solução. Citaram aqui Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Quero aqui externar que o Presidente Sarney, quando na Presidência da República, especialmente para o meu Estado de Goiás, foi um Presidente que olhou atentamente para o desenvolvimento da Região. Digo a V. Exª que estaremos juntos nessa caminhada. Se até agora o Governo Federal não mostrou quais serão os grandes programas após a luta pelo Real, nós, do Centro-Oeste - e V. Exª lidera, neste momento, e está avançando, dando um passo à frente, provocando o Governo Federal -, temos vários projetos, a longo prazo, para essa Região tão rica. Muito obrigado.

O SR. CARLOS BEZERRA - Quero aqui afirmar a disposição do Governador Maguito Vilela na condução desse programa, Não conhecia bem S. Exª, passei a conviver com S. Exª há pouco tempo. Mas S. Exª me surpreende como executivo e como homem de visão ampla. Hoje é um dos Governadores que mais lutam e se entusiasmam em prol dessa proposta, com a consciência da importância da unidade. Hoje, ainda pela manhã, conversamos por telefone e, mais uma vez, pude constatar que V. Exªs que representam o Estado de Goiás estão de parabéns pelo Governador que têm. O Estado de Goiás vai ganhar muito com o seu trabalho executivo, com a visão que S. Exª tem com relação aos aspectos não só de Goiás, mas de toda a nossa região.

Quero, ainda, Srs. Senadores, dizer que esse trabalho que estamos realizando tem também o objetivo de fortificar a integração latino-americana. E quero fazer justiça ao Presidente Sarney: dos últimos presidentes da República, S. Exª foi o que teve a melhor visão com relação à questão da integração latino-americana.

Pude acompanhar S. Exª em uma viagem a La Paz, Bolívia, quando conversamos muito a respeito da integração. O Presidente Sarney fez o que pôde e o que não pôde para fortificar essa integração latino-americana. E deixou marcas indeléveis. Por exemplo, hoje, no Mato Grosso - o Brasil não sabe disto -, temos uma estrada que nos liga até o Oceano Pacífico - a única que existe. De Cuiabá se vai à Arica, no Chile, e se vai ao Porto de Ilo e ao Porto do Callao, no Peru, de carro. Nessa rodovia trafegam, hoje, quase trezentas carretas por dia. Mato Grosso exporta carne para o Peru, nessa região andina, por essa estrada. Estrada que foi resultado de um acordo firmado pelo Presidente Sarney e o Presidente Paz Estenssoro, com a minha presença em La Paz.

Além disso, o Governo de Mato Grosso, apoiado, à época, pelo Governo do Presidente José Sarney, tomou algumas medidas para fortalecer a integração, levando energia para a área fronteiriça com a Bolívia, com recursos do Governo Federal e apoio do Governo Estadual.

A nossa ligação e integração com a Bolívia melhorou muito, graças ao apoio e à visão do então Presidente José Sarney, que desejo reconhecer neste instante.

Hoje, a questão do Centro-Oeste, como está, é inadiável para o Brasil. Ressaltava aqui a necessidade de aumentarmos nossa produção de alimentos. Não queremos qualquer recurso paternalista para o Centro-Oeste. Os projetos que estamos imaginando são auto-sustentados e darão resposta imediata, tocados pela iniciativa privada, por cooperativas, do modo mais competente possível. A iniciativa privada, inclusive, pode investir muito na infra-estrutura do Centro-Oeste. O meu Estado, Mato Grosso, tem hoje um dos maiores recursos hídricos do Brasil para geração de energia; poderia estar mandando energia para o Sul do País e para o Estado de Goiás. No entanto, importamos quase toda a energia que consumimos, porque há muitos anos não geramos mais qualquer energia, não construímos mais nenhuma usina, tendo enormes recursos para isso.

Brevemente estará sendo inaugurada a primeira grande usina em Mato Grosso, a Juba I, construída pelo Grupo Itamarati, do empresário Olacyr de Moraes. E outros grupos construirão outras usinas.

Além disso, temos a questão do gás boliviano, outro projeto que não precisa de recurso - o Senador Ramez Tebet sabe disso - pois existe o capital americano: uma empresa quer construir as usinas e o gasoduto. Porém, a nossa burocracia tem emperrado, dificultado isso. O Brasil não precisa investir um tostão nessas obras, pois há quem o faça.

Por exemplo, existe a proposta da construção de uma usina movida a gás em São Romão, para abastecer Mato Grosso, a custo zero para o Brasil e para Mato Grosso. Essa energia seria colocada e vendida para centrais elétricas daquele Estado.

Apenas é preciso ter-se um formulador competente, e é isso que estamos propondo ao Presidente; que esse seja um programa especial, que tenha um coordenador com carta branca do Presidente para ir aos Ministérios, aos órgãos do Governo Federal, para movimentar as coisas.

O SR. PRESIDENTE (José Sarney) - Senador Carlos Bezerra, infelizmente, o seu tempo está esgotado.

O SR. CARLOS BEZERRA - Desculpe-me, Sr. Presidente.

Encerrando o meu discurso, quero aqui já convidar todos os políticos de todos os partidos para estarem presentes quando da visita do Presidente Fernando Henrique a Cuiabá. Será um marco histórico para o Centro-Oeste e para o Brasil.

Portanto, conto com a presença de todos em Cuiabá, na grande festa que faremos da arrancada pelo Centro-Oeste.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 29/06/1995 - Página 11204