Discurso no Senado Federal

COMENTANDO A VIOLENCIA DAS TORCIDAS ORGANIZADAS NO JOGO DE JUNIORS ENTRE O SÃO PAULO E O PALMEIRAS. SUGERINDO MEDIDAS PARA QUE NÃO SE REPITAM ATOS DAQUELA NATUREZA. SOLIDARIZANDO-SE COM A INICIATIVA DO SENADOR JOSE EDUARDO DUTRA DE APRESENTAÇÃO DE REQUERIMENTO SOLICITANDO A CRIAÇÃO DE COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO, DESTINADA A APURAR AS PROCESSOS DE INTERVENÇÃO DO BANCO CENTRAL EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. BANCOS.:
  • COMENTANDO A VIOLENCIA DAS TORCIDAS ORGANIZADAS NO JOGO DE JUNIORS ENTRE O SÃO PAULO E O PALMEIRAS. SUGERINDO MEDIDAS PARA QUE NÃO SE REPITAM ATOS DAQUELA NATUREZA. SOLIDARIZANDO-SE COM A INICIATIVA DO SENADOR JOSE EDUARDO DUTRA DE APRESENTAÇÃO DE REQUERIMENTO SOLICITANDO A CRIAÇÃO DE COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO, DESTINADA A APURAR AS PROCESSOS DE INTERVENÇÃO DO BANCO CENTRAL EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.
Aparteantes
Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DCN2 de 23/08/1995 - Página 14266
Assunto
Outros > ESPORTE. BANCOS.
Indexação
  • REITERAÇÃO, SOLICITAÇÃO, VALMIR CAMPELO, SENADOR, EDSON ARANTES DO NASCIMENTO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO EXTRAORDINARIO, ESPORTE, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, COMBATE, VIOLENCIA, ESTADIO, FUTEBOL, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • COMENTARIO, ENTREGA, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, REQUERIMENTO, AUTORIA, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), SOLICITAÇÃO, FORMAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, FORMA, PROCEDIMENTO, INTERVENÇÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), BANCO PARTICULAR, ESTADO DA BAHIA (BA), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, gostaria de refletir também sobre o episódio de violência que caracterizou o encontro das torcidas do São Paulo e do Palmeiras, no Estádio Municipal do Pacaembu, por ocasião da disputa entre aqueles dois clubes pela Taça Juniores.

O Senador Valmir Campelo já abordou esse assunto, mostrando a sua preocupação, inclusive fazendo um apelo, que reitero, ao Ministro Extraordinário do Esporte, Edson Arantes do Nascimento, Pelé, para que reflita com a Nação sobre a melhor maneira de impedirmos a transformação do espetáculo mais importante da tradição do povo brasileiro, o futebol, em violência.

Vamos pensar em alguns dos fatores: o que terá levado as torcidas uniformizadas a estabelecerem um verdadeiro duelo? Por que razão esse duelo passou daquilo que é da tradição das torcidas, a música, o incentivo, o grito do gol, eventuais palavras, muitas vezes agressivas, que são ditas, torcendo por seus jogadores e por seu time? Após o jogo, na hora em que justamente uma das torcidas estava comemorando a vitória, a outra adentrou o campo, pegando paus, pedras, canos, enfim, o material de construção que ali estava como entulho, pois o estádio estava em reforma, transformando esse material em armas para bater nos adversários.

Ora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que estado de espírito terá levado jovens a essa batalha? O ingresso naquele dia era gratuito. Obviamente, esse fato possibilitou a presença no estádio de pessoas que muitas vezes têm maiores dificuldades financeiras, pois eram jovens com rendimentos relativamente baixos aqueles que acabaram se envolvendo naquela batalha.

Que fator terá estimulado essa violência? Não será o caso de todos nós pensarmos em maneiras de estimular as torcidas a terem gestos de confraternização ou outras formas de disputa, na torcida por seus times, que não seja a da provocação, a da violência?

Hoje, qualquer pai ou avô tem preocupação com seus filhos ou netos quando estes, aos 10, 14, 16 ou 17 anos, querem ir aos estádios, porque agora é grande a probabilidade de ocorrerem atos de vandalismo e de violência. Não é a primeira vez que são registrados atos dessa natureza.

O que aconteceu nesse domingo foi algo extraordinário e não é à-toa que as principais emissoras de televisão, como a CNN, transmitiram as bárbaras cenas, praticamente de guerra, para todo o mundo.

É possível mesmo que o clima suscitado pelos meios de comunicação em torno da volta do campeão mundial de boxe, Mike Tyson, tenha propiciado um clima ainda de maior desafio ao duelo, à disputa física entre as pessoas.

É possível, por outro lado, que a ação da imprensa, ora usando, com respeito aos jogadores, determinados termos, como, por exemplo, "animal", ora incitando ainda mais as torcidas para a prática de atos que podem resvalar para a violência, acabem por contribuir para que se estabeleça, na realidade, a violência.

É preciso não transformar as torcidas uniformizadas em verdadeiras gangues selvagens, em quadrilhas, como infelizmente está ocorrendo.

Temos tido notícias de que, muitas vezes, para se ingressar nessas torcidas organizadas, é preciso até passar por testes, tais como apanhar de parte da torcida. Então, o jovem que quer ingressar tem que passar por um teste e apanhar de seus futuros companheiros. Depois, caso haja alguma cena de violência no estádio, aquele que não socorreu o seu companheiro acaba, na volta, apanhando; aquele que apanhou de outros acaba também apanhando. São coisas que não poderiam caracterizar organizações como essas.

Vejo nos jornais que estão pensando, até mesmo, em proibir as torcidas uniformizadas. Não acredito que seja esta a melhor maneira. Como proibir que as pessoas, por exemplo, venham a vestir a camisa do seu clube favorito na hora de ingressar no estádio, justamente quando o seu time vai disputar uma partida de tão grande significado?

Seria importante que houvesse, da parte dos responsáveis pelos clubes, dos responsáveis por essas torcidas e dos responsáveis pelo Ministério de Esportes - o próprio Pelé tem uma responsabilidade no diálogo sobre esse assunto - uma reflexão sobre a questão.

Tamanho é o impacto, tamanha é a preocupação que em cada lar se fala a respeito. Pude sentir isso porque, desde que aconteceu esse episódio na cidade de São Paulo, a todo momento, as rádios, as televisões estão comentando o assunto. São os pais e as mães que estão dando entrevistas. São aqueles que dizem: "Puxa, mas eu gosto tanto de ir ao estádio de futebol!"

Aqui, falo eu, pois uma das coisas que mais tenho prazer na vida é de ir a um estádio de futebol, ir com os meus filhos e torcer pelo meu time ou ver a seleção brasileira. Existe coisa mais importante para a cultura, para a tradição brasileira do que assistir um espetáculo como o de futebol, seja no Pacaembu, seja no Morumbi, seja no Maracanã, ou em qualquer das cidades brasileiras?

O Sr. Ney Suassuna - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY - Com muita honra, Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna - Senador, esse é um tema extremamente importante, principalmente no País do futebol. Particularmente, não sou muito chegado a futebol, mas tenho filhos que gostam muito. Cada vez que eles vão ao estádio fica uma preocupação se vão voltar. Creio que uma parcela grande de culpa é a falta do exemplo das autoridades, como bem diz V. Exª, principalmente das autoridades esportivas, os responsáveis pelos times. Mas uma outra grande parcela é a conivência das autoridades policias, que permitem, primeiro, que os torcedores ingressem com objetos que possam servir para espancar os outros. Mas o que é pior, Senador, é que a punição praticamente não existe. É essa falta de punição e essa injustiça permanente no País, em todos os campos, que terminam por repercutir inclusive nas nossas torcidas, criando problemas dessa ordem. Parabenizo V. Exª por estar abordando um tema tão importante como esse, no país do futebol, que tem dado ao mundo tantos exemplos de arte nesse esporte, mas hoje está dando maus exemplos, como o que ocorreu domingo.

O SR. EDUARDO SUPLICY - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Ney Suassuna. É preciso que haja uma punição verdadeira para aqueles que realizaram esses atos de vandalismo. É preciso que os órgãos da Justiça realizem os procedimentos necessários, os órgãos policiais realizem os inquéritos, mas é preciso que todos - os locutores de rádio e de televisão, os pais, a Federação Paulista de Futebol, a Confederação Brasileira de Futebol, as Secretarias Estadual e Municipal de Esportes, o Ministério Extraordinário dos Esportes -dialoguem sobre as medidas que poderemos tomar.

A Inglaterra e a Itália já têm experiência sobre como proceder diante de atos de violência que vêm caracterizando a prática do futebol. Precisamos também pensar como resolver os nossos problemas sem o uso da violência, sem o uso da arma. Foram utilizados paus e pedras naquele jogo e, a qualquer momento, também podem ser utilizadas armas de fogo, canivetes, facas; porém, mesmo paus e pedras, nas mãos de pessoas enfurecidas, significam armas de extraordinária violência; tanto que, infelizmente, encontra-se no Hospital das Clínicas, em estado de coma, um jovem são-paulino de 16 anos, Márcio Gasparin da Silva, que poderia ser qualquer dos jovens brasileiros.

Assim, Sr. Presidente, venho conclamar a todos no sentido de se criar um estado de espírito e promoverem-se ações que possibilitem, sobretudo, a juventude brasileira ir aos estádios de futebol com outra mente - claro, torcendo por seus times. Quem sabe poderão ser tomadas iniciativas até mesmo de confraternização entre torcidas, como, em São Paulo, por exemplo, entre as torcidas do São Paulo, do Corínthians, do Palmeiras, do Santos, da Portuguesa de Desportos e de todos os demais times; quem sabe poderão as torcidas realizar eventos esportivos; quem sabe possam trocar as camisas: por exemplo, a torcida do São Paulo realizar uma partida com a camisa da torcida do Palmeiras. Vamos sugerir que essas torcidas compitam, em termos de quem faz a melhor música, quem leva a melhor escola de samba ou a melhor banda para o estádio. Vamos transformar o encontro das grandes torcidas em eventos culturais saudáveis, e não permitir acontecimentos que venham a preocupar, cada vez mais, a família brasileira.

Sr. Presidente, neste instante, nós, as Lideranças do Partido dos Trabalhadores no Senado e na Câmara, juntamente com o Senador José Eduardo Dutra e o Deputado Milton Temer, iremos entregar ao Presidente José Sarney requerimento sobre a formação de Comissão Parlamentar de Inquérito relativamente às formas pelas quais as autoridades monetárias estão realizando as intervenções no BANESPA, no BANERJ, no Banco Econômico e demais instituições financeiras. Foi muito importante que mais de um terço de Deputados Federais e de Senadores assinassem este requerimento de formação da CPI, o qual será entregue, neste momento, ao Presidente José Sarney.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 23/08/1995 - Página 14266