Discurso no Senado Federal

ALERTANDO PARA A GRAVE CRISE DA AGRICULTURA BRASILEIRA.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • ALERTANDO PARA A GRAVE CRISE DA AGRICULTURA BRASILEIRA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 30/08/1995 - Página 14818
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • COMENTARIO, DOCUMENTO, ENCAMINHAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUTORIA, CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUARIA DO BRASIL (CNA), ATENÇÃO, POSSIBILIDADE, REDUÇÃO, PRODUÇÃO AGRICOLA, PRODUÇÃO, VENDA, FERTILIZANTE, CONSUMO, CALCARIO, RESULTADO, SOLICITAÇÃO, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, EXCESSO, TAXAS, JUROS, LIMITAÇÃO, CONCESSÃO, CREDITO AGRICOLA, INEXISTENCIA, PROTEÇÃO, PREÇO, PRODUTO AGRICOLA, PAIS.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Congresso não pode ser acusado de omissão diante da crise da agricultura. O Governo Federal tem sido alertado insistentemente sobre o empobrecimento rural e sobre a necessidade de medidas de emergência. Tenho sido uma das muitas vozes que têm se levantado em defesa do agricultor. E o próprio Presidente Fernando Henrique Cardoso já reconheceu publicamente os sacrifícios impostos à agricultura para servir de âncora ao Plano Real. Mas, apesar de tudo isso, nada, ou quase nada aconteceu até agora que pudesse devolver a confiança aos homens que vivem da terra. Os juros continuam altos, os créditos são limitados, não existe proteção para os preços, e os documentos de reivindicação do setor continuam sem resposta.

Eu mesmo já alertei desta tribuna, em seguidos pronunciamentos, para os riscos de queda da produção agrícola na próxima safra. Trata-se de um jogo de ilusões inconseqüente e irresponsável. Há mais de um ano os preços baixos dos alimentos vêm subsidiando a estabilidade econômica. Os preços de comercialização foram mantidos em baixa, mas os custos de produção nunca estiveram tão altos. O resultado disso é a quebradeira, a inadimplência, o desemprego no campo, e, mais grave, a impossibilidade de plantar. Os pequenos e médios produtores rurais fizeram movimentos pacíficos para chamar a atenção do governo, mas não foram ouvidos.

Agora, parece que a realidade dos fatos está definitivamente montada para mostrar que a crise é realmente grave, e que as autoridades econômicas terão que assumir suas responsabilidades perante a Nação. Um documento curto, objetivo e eloqüente, encaminhado pela Confederação Nacional da Agricultura ao Presidente da República no último dia 23, mostra que o País poderá viver um quadro crítico de desabastecimento no próximo ano.

Mais uma vez, infelizmente, o barato vai sair caro, e quem vai pagar é a sociedade, com o mais feroz de todos os impostos, que é a inflação. A falência da agricultura, que poderia ser evitada, será cobrada de todos. No fim, pagaremos por uma promissória que não emitimos. Isso já aconteceu no governo Collor, e o país teve que queimar divisas e importar, mas a lição não foi absorvida.

Para chegar ao seu documento, a que deu o título de "Alerta sobre as conseqüências da redução da produção agrícola", a Confederação Nacional da Agricultura reuniu em Brasília as associações nacionais dos produtores de adubos, de calcário e de sementes, procurando reunir dados oficiais sobre a demanda desses insumos no primeiro semestre. As informações recolhidas são preocupantes. De abril a junho deste ano, a comercialização de fertilizantes sofreu uma retração de 38,5 por cento em relação ao mesmo período de 1984. A oferta de sementes melhoradas caiu 20 por cento no confronto entre o primeiro semestre de 95 e o mesmo período do ano anterior. A queda no consumo de calcário foi ainda maior, com 50 por cento no confronto entre os dois períodos. Na área de defensivos agrícolas, a redução de consumo foi de 26 por cento. Segundo a CNA, não há expectativa de reversão deste quadro sombrio no segundo semestre.

O diagnóstico, assinado pelo Dr. Antonio de Salvo, presidente da CNA e encaminhado ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, traz a seguinte afirmação:

"A queda no uso de insumos modernos é indicador seguro de que a produtividade da próxima safra será irremediavelmente menor, o que significa uma redução na produção. A diminuição da área plantada, notória em determinadas regiões, agravará a situação. O exemplo do trigo, que sofreu uma redução de 33,3 por cento na área plantada, nesta safra de inverno, aponta para um futuro de perdas e de desabastecimento. Trata-se de um parâmetro real e incontestável para a dimensionamento do problema agrícola brasileiro.

Diante deste quadro, reiteramos a necessidade de urgente implementação das soluções apontadas em documento, encaminhado a Vossa Excelência, em 21.07.95, pela coordenação do movimento "Não Posso Plantar".

Finalmente, as lideranças rurais sentem-se no dever de, perante a sociedade brasileira, responsabilizar as autoridades governamentais pelas conseqüências sociais e econômicas da produção primária brasileira, que resultará do não atendimento das reivindicações mínimas necessárias à continuidade da atividade produtiva".

São advertências baseadas em fatos concretos, traduzidas em linguagem civilizada e respeitosa, sem adjetivações, mas de grande firmeza de conteúdo. Acho que elas devem merecer uma pronta resposta do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 30/08/1995 - Página 14818