Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DO TEATRO AMAZONAS. LANÇAMENTO DO QUARTO VOLUME DA OBRA DO PROFESSOR MARIO IPIRANGA MONTEIRO.

Autor
Bernardo Cabral (S/PARTIDO - Sem Partido/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DO TEATRO AMAZONAS. LANÇAMENTO DO QUARTO VOLUME DA OBRA DO PROFESSOR MARIO IPIRANGA MONTEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 02/03/1996 - Página 3356
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, TEATRO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), APRESENTAÇÃO, JOSE CARRERAS, CANTOR, LANÇAMENTO, LIVRO, PESQUISA, AUTORIA, MARIO IPIRANGA MONTEIRO, HISTORIADOR.
  • APOIO, DISCURSO, ADEMIR ANDRADE, SENADOR, DESCUMPRIMENTO, COMPROMISSO, GOVERNO, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. BERNARDO CABRAL ( -AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não usarei todo o tempo de que disponho, porque haverá um desdobramento deste meu pronunciamento. Todavia, como amazonense, não posso deixar de registrar que, no dia 27 último, os portões do Teatro Amazonas foram reabertos para as comemorações do seu centenário.

Quem conhece Manaus e imagina um teatro daqueles, inaugurado há 100 anos, há de se permitir o raciocínio de que só o milagre da borracha seria capaz dessa obra, uma vez que - não tenho dúvida em afirmar - aquele é um dos cinco teatros mais belos do mundo - conheço alguns por essa vastidão imensa e posso dar o meu testemunho.

À noite, ali se apresentou o tenor José Carreras. Em magistral e inesquecível desempenho, mostrou como é possível, em tempos de cultura, reviver os dias de glória do Teatro Amazonas.

Estavam presentes ao ato o Senhor Presidente da República e esposa, o governador do Estado e esposa, prefeito municipal e esposa e a alta sociedade amazonense, além de políticos que ali comparecemos, para assistir, além do espetáculo, ao lançamento oficial, feito pelo Presidente dos Correios e Telégrafos, do selo comemorativo dos 100 anos de existência do teatro.

Há uma obra sobre o Teatro, infelizmente desconhecida pela maioria dos brasileiros, em três volumes, de autoria do maior historiador amazonense vivo, hoje com 87 anos de idade: o Professor Catedrático Mário Ipiranga Monteiro. Ele fez imensa pesquisa sobre o Teatro, durante trinta anos, no Arquivo Público, na Biblioteca Pública do Estado, em jornais, relatórios de governadores e em contratos, e agora vai lançar o quarto volume sobre suas reformas e recuperações, o que é lamentável porque é preciso desmitificar muitas lendas que existem em torno do Teatro Amazonas.

O que pretendo fazer, depois que me chegaram às mãos pesquisas - a maior é a do Professor Mário Ipiranga Monteiro com suas 25 obras publicadas, vertidas para os idiomas alemão, espanhol, italiano, inglês e francês - é mostrar como era a comunidade de Manaus em 1870, qual era a situação econômica da Província do Amazonas, qual foi o primeiro local escolhido para a construção do Teatro Amazonas, quais os contratos firmados, como foi assentada a pedra fundamental. Posteriormente, na segunda fase republicana, a partir de 1892; a seguir, 1893; depois uma história, como diz o Professor Mário Ipiranga, que parece até estória, sobre o plano original do Teatro Amazonas: as rosáceas, as ferragens, as mobílias, a cobertura, as lendas, o estucamento, o lajedo, os mosaicos, a acústica, os muros do terraço, as decorações e pinturas, e, por fim, desfazer a célebre história de que ali estiveram cantando Caruso, o que não é verdade, e tantas outras expressões internacionais da época.

A idéia do registro hoje é no sentido de mostrar que quando o Amazonas contribuía, na época da borracha, com 51% do orçamento da Nação, portanto, era o trem principal, os demais Estados eram vagões, e que depois se inverte essa circunstância, mostrando que aquela presença do Teatro era uma espécie de entrevista marcada com a posteridade. Cem anos depois, a posteridade é hoje, é agora, a demonstrar que é preciso que o Governo Federal volte os olhos para a Região, aí não só amazônica, mas da Amazônia.

Ainda há pouco, o Senador Ademir Andrade dizia da sua estupefação por não estarem sendo cumpridos religiosamente os compromissos assumidos pelo Governo Federal com a nossa área. Eu digo mais: é preciso que a Região Norte, e aí incluo o Nordeste também e, por que não dizer, o Centro-Oeste, não sejamos tratados como enteados da Nação. O Teatro Amazonas hoje é um marco para demonstrar ao Brasil que ali se desfraldou uma bandeira ao sabor de todas as intempéries, quando a febre amarela, que matava nessa época, era transportada do Sul para lá, tantas vezes até da Europa, através dos artistas que iam para lá e que faziam a chamada boemia, o traço marcante da sua passagem por aquela cidade.

Refiro-me a esse fato para dizer que aquele marco, quando acenava para o futuro, fazia a confirmação de que é preciso ir buscar no passado o ponto de partida para o futuro; e se esse futuro é hoje, é bom que se diga que estamos sendo invadidos mais uma vez pelas partes lindeiras que cobrem a Região, que está cada vez mais desértica, queira ou não queira, sofrendo como sempre as investidas daqueles que querem fazer poesia e literatura, sem nunca terem posto os pés ali.

A Região, ao completar o seu maior marco de cultura e de trabalho, que é o Teatro Amazonas, fará com que eu volte a esta Tribuna na semana que vem, já pedindo a V. Exª, que honra a Presidência desta sessão nesta manhã, Senadora Emilia Fernandes, que garanta a minha inscrição para a semana vindoura, a fim de que eu possa voltar a essa matéria.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/03/1996 - Página 3356