Discurso no Senado Federal

DESCREDITO DE S.EXA. COM A MATERIA PUBLICADA NO JORNAL FOLHA DE S.PAULO, EDIÇÃO DE DOMINGO ULTIMO, INTITULADA:'FHC TEM LISTA PARA PUNIR TRAIDORES'.

Autor
Osmar Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.:
  • DESCREDITO DE S.EXA. COM A MATERIA PUBLICADA NO JORNAL FOLHA DE S.PAULO, EDIÇÃO DE DOMINGO ULTIMO, INTITULADA:'FHC TEM LISTA PARA PUNIR TRAIDORES'.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/1996 - Página 3894
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.
Indexação
  • CRITICA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONVOCAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB-PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fui surpreendido no sábado pela manhã por uma notícia publicada na Folha de S.Paulo com a seguinte manchete:

      "FHC tem lista para punir "traidores"

      Fernando Henrique Cardoso decidiu punir parlamentares aliados que classifica de "traidores", por terem votado contra o Governo.

      Deputados Paulo Heslander (PTB-MG) e Vicente Cascione (PTB-SP) perderão cargos em estatais. Osmar Dias (PR) e Jefferson Péres (AM) serão convidados a sair do PSDB.

      FHC disse também que fará tudo para prejudicar, na eleição municipal, os tucanos que ajudaram a derrubar a reforma da Previdência."

Na pág. 5, no item 4 de uma matéria que se refere àquela manchete, está escrito o seguinte:

      Os Senadores tucanos Osmar Dias (PSDB-PR) e Jefferson Péres (PSDB-AM) serão convidados a deixar o Partido. Fernando Henrique mandou dizer a eles que devem procurar imediatamente outra legenda. Do contrário, terão sua ação política asfixiada pelo Planalto. Ambos assinaram o documento de convocação da CPI dos Bancos.

Sr. Presidente, quero colocar à Casa meu descrédito em relação à posição que o jornal disse ter sido assumida pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, porque acredito - e nada até agora me fez pensar diferente - que Sua Excelência é um homem que defende a democracia, e essa posição é extremamente contraditória ao discurso socialdemocrata do Governo Federal e do próprio Presidente da República. Não acredito na matéria porque Sua Excelência, quando me convidou para ingressar no PSDB, o fez pessoalmente em seu gabinete. Se agora fosse me convidar para deixar o Partido, com certeza tomaria a mesma providência, ou seja, o Presidente Fernando Henrique me convidaria para deixar o PSDB pessoalmente e não pela imprensa. Se o fez, desconheço nosso Presidente.

Outro ponto é que no dia em que assinei a ficha do PSDB, deixei claro no meu pronunciamento que não estava assinando um contrato com a dependência, estava assinando uma ficha, mas manteria minha independência, minha liberdade de expressão de voto e de ação. Foi assim que ingressei no PSDB.

Outra coisa que me faz não acreditar que essa tenha sido uma posição assumida pelo Presidente da República é que sempre me disseram que o PSDB é o Partido do Presidente da República. Entendo que o Presidente Fernando Henrique Cardoso pertence ao PSDB e não que o PSDB pertence ao Presidente. O PSDB não tem dono. Nem o Presidente é dono do PSDB. Se essa posição foi assumida, parece-me que o PSDB tem dono, e se o tem não é um partido que possa ter na sua denominação a palavra "democracia".

Por outro lado, Sr. Presidente, não entendo por que tanto alvoroço em relação a uma CPI que pretende mostrar a opinião pública onde foi colocado tanto dinheiro ganho pelos bancos nas últimas décadas. Decorrido apenas um ano de Plano Real, os bancos já se julgam no direito de serem financiados pelo poder público. O dinheiro do depósito compulsório poderia estar financiando o desenvolvimento do País, a agricultura, a agroindústria, a indústria, a geração de empregos, e não financiando algumas famílias que, ao longo dos anos, fizeram seu patrimônio pessoal crescer, acima até do patrimônio dos próprios bancos. Conheço banqueiros, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cujo patrimônio é maior do que o do próprio banco. Tal patrimônio, parece-me, não está sendo usado agora para cobrir os rombos, aliás. rombos mal explicados, como aqueles que a imprensa divulgou nos últimos dias em relação ao Banco Nacional.

O que me surpreende é que parte da imprensa dá a entender que aqueles que assinaram o requerimento da CPI assim agiram para atender a seus interesses pessoais ou políticos. Assinei o requerimento porque tenho convicção de que o País não pode continuar ignorando tudo o que, ao longo de décadas, foi feito pelos bancos e banqueiros que sempre foram inimigos do setor produtivo.

Está em jogo 15% do Produto Interno Bruto, e nós precisamos saber se esses 15% do PIB existem para financiar o desenvolvimento nacional ou para financiar o enriquecimento, muitas vezes ilícito, de algumas famílias de brasileiros que deixaram de ser patriotas há muito tempo, desde o dia em que colocaram o primeiro centavo em outro país, para fugir, inclusive, da tributação do Governo Federal.

Não entendo por que tanto alvoroço e por que possa ser chamado, mesmo que entre aspas, de traidor. Eu não traí a minha consciência. Não traí nenhum cidadão brasileiro, porque todos os 150 milhões de brasileiros se tivessem a oportunidade teriam assinado o requerimento para instauração dessa CPI. Assinei porque quero, como os 150 milhões de brasileiros, ver onde foi parar tanto dinheiro que os banqueiros ganharam nos últimos anos. Por negar-me a socorrer bancos e a saciar a ganância dos banqueiros, não posso ser chamado pela imprensa nacional de traidor.

Quero uma explicação, Sr. Presidente. Se não for verdade a notícia divulgada pela imprensa, o Governo deve desmenti-la também pela imprensa. Se quer que eu saia do PSDB, o Presidente da República deve convidar-me para ir ao seu gabinete, como o fez no dia em que me convidou para ingressar nesse Partido, e dizer-me isso pessoalmente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/1996 - Página 3894