Discurso no Senado Federal

DECEPÇÃO COM A DECISÃO DO SENADO FEDERAL, ONTEM, DE NÃO APROVAR A CPI DO SISTEMA FINANCEIRO.

Autor
Osmar Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.:
  • DECEPÇÃO COM A DECISÃO DO SENADO FEDERAL, ONTEM, DE NÃO APROVAR A CPI DO SISTEMA FINANCEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/1996 - Página 4813
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.
Indexação
  • PROTESTO, INCONSTITUCIONALIDADE, DECISÃO, SENADO, NEGAÇÃO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS, PREJUIZO, DEMOCRACIA.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, SENADO, CONDICIONAMENTO, LOBBY, EXECUTIVO.
  • COMENTARIO, POSSIBILIDADE, VENDA, BANCO DO BRASIL, PREJUIZO, AGRICULTURA, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PAIS.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB-PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, outro dia li no dicionário a palavra "tesão" e gostaria que V. Exª me respondesse: é anti-regimental essa palavra?

O SR. PRESIDENTE (Júlio Campos) - O dicionário...

O SR. OSMAR DIAS - Porque perdi o tesão de falar. Estou horrorizado, a verdade é essa.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, assisti no Senado Federal a um teatro. Sou novo aqui, como sou novo no Legislativo. Sempre fui do Executivo, mas cheguei neste Senado acreditando que aqui pudéssemos discutir assuntos de interesse nacional, e que pudéssemos decidir em favor do interesse nacional. Ontem, o Senado decidiu contra os interesses nacionais e, sobretudo, pisou na Constituição que aprovou em 1988.

A minha decepção de ontem cresceu hoje. Não sei se estou num salão de beleza, no Senado, numa Delegacia de Polícia ou se estou no Velho Oeste.

Eu gostaria, Sr. Presidente, de saber se é possível fazermos uma reforma no Regimento para impedir que se perca tanto tempo no Senado Federal com discussões que poderiam ser feitas, por exemplo, numa Câmara de Vereadores ou numa Assembléia Legislativa.

Isso porque, enquanto se discute se se viajou ou não de avião, se se pagou ou não a conta do hospital, se o filho estuda ou deixa de estudar, vejo no jornal: "Governo poderá vender o Banco do Brasil".

Somei, então: R$6 bilhões para os usineiros, mais R$7 bilhões para securitização das dívidas dos agricultores, mais R$24 bilhões para o Banco Nacional, Banco Econômico e Banespa, mais R$8 bilhões para o Banco do Brasil, e obtive um resultado de R$45 bilhões.

O Senado Federal - vou usar outro termo que não sei se é regimental... Não vou usar. V. Exª me olhou e não vou usar - tem dado uma abertura enorme para que isso aconteça, porque tem aprovado tudo. O Senado Federal tem sido complacente com todos os desejos vindos através de medida provisória, de projetos de lei, enfim, de iniciativas do Poder Executivo. O que vem passa.

Se querem investigar se há corrupção - e há! - no sistema financeiro, é proibido.

O desejo das minorias, os direitos das minorias foram torpedeados ontem e a Constituição desobedecida. Isso, no Senado, tem sido comum.

Enquanto R$45 bilhões estão sendo colocados - e serão tirados não sei de onde -, não discutimos esses assuntos importantes e perdemos muito tempo discutindo coisas menores.

Estou decepcionado, Sr. Presidente.

Eu iria falar sobre o Banco do Brasil, sobre os R$8 bilhões que o Governo vai colocar naquele Banco e sobre essa manchete do Jornal do Brasil de hoje, de que o Governo poderá vendê-lo.

Iria fazer uma análise, e V. Exª, ligado que é ao setor da agricultura, sabe da importância desse Banco continuar sendo público, mas um banco público bem administrado para que possa atender de forma correta e adequada o desenvolvimento nacional, principalmente do campo e da agroindústria.

Vender o Banco do Brasil - parece-me - é vender um pedacinho da nossa agricultura, porque isso vai custar caro nos próximos anos.

Sr. Presidente, pretendia fazer uma análise das conseqüências disso, mas creio que este momento não é o mais oportuno, mesmo porque vamos continuar com a sessão sendo utilizada para discutir assuntos de Roraima.

Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/1996 - Página 4813