Discurso no Senado Federal

CULTURA ALGODOEIRA DO NORDESTE - PRAGA DO BICUDO.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • CULTURA ALGODOEIRA DO NORDESTE - PRAGA DO BICUDO.
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/1996 - Página 7516
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, LAVOURA, ALGODÃO, REGIÃO NORDESTE, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DA PARAIBA (PB), OCORRENCIA, PRAGA, AUTORIZAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, IMPORTAÇÃO, PRODUTO AGRICOLA, SUBSIDIOS, PREJUIZO, REGIÃO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIVULGAÇÃO, CULTIVO, PRODUÇÃO, ALGODÃO, COR, ESTADO DA PARAIBA (PB).

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Nordeste é uma Região de clima instável, todos nós sabemos. Pela exigüidade das chuvas, a maior produção nossa, principalmente no Estado da Paraíba, sempre foi o algodão, que sobrevive bem com pouca chuva.

No entanto, para nosso desespero, a nossa economia foi praticamente dizimada pelo bicudo. Esse besouro, que estraga a flor e a fibra, praticamente zerou a produção dos Estados nordestinos, principalmente a Paraíba, em relação ao algodão.

O algodão é para nós uma cultura de salvação, seja pela fibra, seja pela caroço, que serve para alimentação do gado e para extração do óleo - consumo humano. E, como acabei de dizer, sobrevive muito bem à seca.

Há uns seis anos, a nossa produção tornou-se insignificante. Começamos, então, a lutar contra o bicudo e encontramos na biotécnica uma solução: passamos a cultivar sementes mais resistentes e com ciclo de vida mais rápido do que o ciclo do bicudo. Mas, lamentavelmente, no ano de 1995, no momento em que começou a crescer a produção, foi permitida a importação de algodão subsidiado, o que terminou por quebrar aqueles que tomaram empréstimo bancário.

Mas esse horizonte, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está mudando. No Caderno de Agricultura da Folha de S. Paulo há uma matéria alvissareira, nos seguintes termos:

      "Paraíba já produz o algodão colorido

      O Brasil já está produzindo algodão colorido desde o pé, no interior da Paraíba. Por enquanto, ele nasce com três cores - marrom, creme e verde. No futuro, haverá azul, vermelho, amarelo e cáqui.

      As novas variedades estão sendo desenvolvidas por pesquisadores do CNPA (Centro Nacional de Pesquisa do Algodão), da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

      A produção se dá em laboratórios de Campina Grande (130 km a oeste de João Pessoa) e plantações de Patos (300 km a oeste de João Pessoa).

      As pesquisas começaram há oito anos, a partir do melhoramento genético de espécies nativas de algodão marrom, encontradas na flora natural do Nordeste.

      A variedade de cor verde foi implantada dos EUA - que, junto com o Chile, produz algodão colorido.

      No ano passado, os pesquisadores iniciaram o trabalho de análise das fibras para melhorar o rendimento. A partir daí, estão estudando como aumentar a produtividade e diminuir o ciclo de produção.

      A idéia é produzir algodão superprecoce, que renda até 3 t por hectare (ha), com 45% de aproveitamento de fibras. Quer dizer, em cada 100 Kg de algodão extrai-se 45 Kg para a produção.

      Os primeiros resultados das pesquisas apresentam produtividades variáveis que oscilam de 294 a 1.246 Kg por ha. A previsão é de que as três variedades coloridas estejam sendo produzidas comercialmente dentro de dois anos.

      A principal vantagem do algodão natural colorido é a dispensa dos corantes artificiais usados no tingimento de tecidos. Segundo os pesquisadores, os corantes usados na indústria têxtil são cancerígenos e poluem o meio ambiente.

      A indústria têxtil contesta. Segundo Andrew Macdonald, coordenador do comitê do algodão da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), não há provas científicas de que os corantes sejam cancerígenos.

      Macdonald admite que o processo de tingimento pode ser poluente. "Mas a maioria das empresas têxteis trata a água resultante do tingimento, eliminando o risco de poluição de rios e afluentes", diz."

A verdade, Sr. Presidente e Srs. Senadores, é que, com a descoberta desse algodão colorido, os produtores terão uma renda 70% maior, pois a cor não desbota com o tempo, já que está dentro da própria célula do algodão.

Essa é uma nota que nos agrada muito, porque, com certeza, trará a revitalização de uma economia que, por séculos e séculos, foi o esteio da economia paraibana. Sentimo-nos muito felizes, porque apenas três países no mundo estão produzindo o algodão colorido: Estados Unidos, Egito e, agora, o Brasil. Com toda a certeza teremos, daqui para frente, uma nova saída para uma economia que estava praticamente estagnada.

Eu queria, principalmente, saudar a Embrapa e também pedir ao Governo Federal todo o apoio à produção desse algodão, que é biologicamente mais forte e economicamente mais rentável. Representa, portanto, uma grande esperança para uma população que já tem experiência no cultivo, mas que ainda não tinha como enfrentar uma praga - a praga do "bicudo" - que dizimou as nossas plantações.

Essa é uma notícia alvissareira que esperamos, nos próximos dois anos, possa ser consolidada através de números na economia do nosso Nordeste.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/1996 - Página 7516