Discurso no Senado Federal

AFIRMAÇÕES DO PRESIDENTE DA REPUBLICA, NA FRANÇA, SOBRE OS ALTOS JUROS PRATICADOS NO BRASIL.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • AFIRMAÇÕES DO PRESIDENTE DA REPUBLICA, NA FRANÇA, SOBRE OS ALTOS JUROS PRATICADOS NO BRASIL.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/1996 - Página 9219
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SUPERIORIDADE, JUROS, BRASIL, EXPECTATIVA, ALTERAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
  • ANALISE, EFEITO, AUMENTO, JUROS, DESEMPREGO, FALENCIA, INADIMPLENCIA, FALTA, COMPETIÇÃO INDUSTRIAL, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ASIA, SETOR, INDUSTRIA TEXTIL, CALÇADO, AGRICULTURA.
  • EXPECTATIVA, GESTÃO, ANTONIO KANDIR, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO (MPO).

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está nas manchetes de hoje a afirmação do Presidente da República de que os juros são escorchantes. Uma feliz e bem-vinda autocrítica do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que, afinal, é o chefe da equipe econômica. Proferida em Paris, onde falava com empresários brasileiros, a frase soa como perspectiva de mudança de rumos, no momento exato em que o Professor e Deputado Antônio Kandir tem seu nome anunciado como novo Ministro do Planejamento. É a convicção vinda do alto, de quem decide e pode mudar.

A sociedade brasileira inteira conhece os efeitos dos juros altos. Pequenos, médios e grandes empresários choram as concordatas, as falências e o fechamento de empresas. Na agricultura, os efeitos foram devastadores. Na área social, a inadimplência em todos os setores levou aos níveis alarmantes o desemprego de hoje. Todos pagaram e estão pagando caro por uma política restritiva de crédito, que é feita em nome da contenção do consumo e que levaria à volta do descontrole inflacionário.

Quem não reza pela cartilha do monetarismo, porém, pensa diferente. Acredita que, com crédito fácil e juros baixos, serão menores os custos finais das mercadorias e maiores as possibilidades de produção em grande escala, para impedir o desabastecimento que teria origem na oferta reprimida e na demanda aquecida. É o que fazem os países asiáticos - como muito bem lembrou o Senador Ney Suassuna -, que reduzem dramaticamente os custos por meio da produção em grande escala. E é assim que as suas mercadorias chegam aqui, com custos de venda abaixo dos nossos custos de produção, promovendo uma concorrência predatória, que vem vitimando as áreas têxtil, calçadista e outros setores, e, no meu Estado, a agricultura. Pode parecer um raciocínio simplista, mas é o raciocínio da lógica, que não tem prevalecido nas teorias monetárias mais ortodoxas.

Se for uma promessa de reencontro com a lucidez, a frase do Presidente é de uma beleza extraordinária para os ouvidos de todos os brasileiros. Quantos milhares de microempresários poderão voltar ao mercado do crédito, abrir empregos e alimentar novas esperanças? Quantos milhões de brasileiros que estão hoje nas mãos dos agiotas poderão dar seu grito de liberdade e reorganizar a sua vida? Quando o Presidente da República fala, é legítimo esperar que haja uma relação de causa e efeito. Presidente da República, quando fala, não brinca com as palavras e não faz o jogo do faz-de-conta.

Por todos os motivos, creio que o Deputado Antonio Kandir é outra boa promessa. Burocrata de origem, mas político por opção, teve tempo, no Congresso, para reorientar as suas teorias segundo valores sociais que só o corpo-a-corpo com o povo é capaz de ensinar. Podia até estar no lugar e no momento errados, mas sabe-se dele que, no Governo Collor, batalhou pelo mesmo conjunto de reformas que hoje estão na pauta das prioridades do País e do Congresso.

Se esses fatos das últimas horas podem significar a inauguração de tempos menos traumáticos e mais coerentes com a realidade de um país sedento de justiça social, cabe a nós, como representantes do povo, saudar com entusiasmo o que é aparente, mas pressionar para que tais expectativas sejam reais. Espero que o Brasil possa abreviar as núpcias entre a frase saudável do Presidente e as expectativas trazidas pelo novo Ministro que chega.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/1996 - Página 9219