Discurso no Senado Federal

DIA INTERNACIONAL CONTRA O ABUSO DE DROGAS E O TRAFICO ILICITO, QUE TRANSCORRE HOJE.

Autor
Romeu Tuma (PSL - Partido Social Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DROGA.:
  • DIA INTERNACIONAL CONTRA O ABUSO DE DROGAS E O TRAFICO ILICITO, QUE TRANSCORRE HOJE.
Publicação
Publicação no DSF de 27/06/1996 - Página 10867
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DROGA.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, COMBATE, ABUSO, DROGA, TRAFICO, COMENTARIO, EXPERIENCIA, ORADOR, POLICIA FEDERAL, OPOSIÇÃO, TRAFICANTE, DIMENSÃO, VALOR, MOVIMENTAÇÃO, DOLAR, TRAFICO INTERNACIONAL, DADOS, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).
  • OPOSIÇÃO, RETIRADA, CARACTERIZAÇÃO, CRIME, UTILIZAÇÃO, DROGA.

O SR. ROMEU TUMA (PLS-SP.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, em primeiro lugar quero cumprimentar sua Excelência o Presidente José Sarney pela iniciativa da realização de ato referente a esta data no recinto do Senado.

Infelizmente, a Organização das Nações Unidas teve que instituir este triste dia, para que todos os anos, em todo o mundo, sejamos chamados à atenção com relação ao gravíssimo problema do abuso de drogas e ao seu tráfico.

Hoje, Dia Internacional contra o Abuso de Drogas e o Tráfico Ilícito, mais uma vez, somos chamados a despertar nossas consciências, não apenas como membros de uma sociedade, mas, principalmente, por sermos legítimos representantes políticos de consideráveis parcelas dessa mesma sociedade. E o despertar dessa consciência é no sentido de que há muito a ser feito e não há mais tempo para ser perdido.

Feliz, na verdade, será o dia em que se possa comemorar o encerramento do programa das Nações para o controle internacional das drogas, por haver este se tornado desnecessário. Essa esperança me mantém, após quatro décadas como policial, ainda na linha de frente desta árdua e desigual narcoguerra. Aliás, com o fim da “Guerra Fria” e a ofensiva do crime organizado a partir do Leste, o narcotráfico adquiriu, ao lado do tráfico de armas e do terrorismo, o “status” de ameaça a todas as nações, pois, com a “lavagem de dinheiro” corroendo os sistemas financeiros nacionais e com os bilhões de dólares destinados à corrupção, não deixa mais nenhum país à margem dos seus destrutivos tentáculos.

Neste momento, Senhoras e Senhores Senadores, eu não poderia descrever casos e pormenorizar trágicos episódios por mim vivenciados ao longo de toda uma carreira, inclusive como Vice-Presidente da INTERPOL, sob pena de ser tomado por forte emoção. São experiências das quais não se esquece: vi seres humanos que, vitimados pelas drogas e explorados pelos traficantes, se transfiguraram, se transformaram, por dentro e por fora, em seres sub-humanos, muitos em fase terminal, outros em pobres e assustadores animais!

Adiantaria ficar aqui exibindo fotos inimagináveis? Relatando miseráveis histórias reais? Mostrando dados estatísticos cruéis? Revelando criminosos, locais de produção de drogas e suas rotas de distribuição? É preciso tudo isso para tentar convencer a quem? Não basta o que já vem sendo noticiado todos os dias?

A própria ONU prova que o narcotráfico internacional movimenta quase 35 milhões de reais por hora! Isso mesmo, Senhoras e Senhores, por hora! Inclusive hoje, Dia Internacional Contra o Abuso de Drogas e o Tráfico Ilícito, o narcotráfico movimentará mais de 833 milhões de reais. Por ano, são mais de 300 bilhões de reais - ou de dólares, se isso ajudar a ficar mais grave a realidade. E quanto custariam para cada país os estragos - pessoal e social - que esse narcotráfico acaba causando? Ninguém, jamais, irá conseguir nos apresentar essa conta!

Nem os países mais liberais com as chamadas drogas leves escapam do crime organizado e do narcotráfico. A Holanda, lamentavelmente, é um exemplo.. A Prefeitura da capital holandesa acaba de aprovar medidas severas contra a venda de maconha e de bebidas alcoólicas nos seus famosos “cafés”. Segundo o próprio prefeito, a medida tem por objetivo reduzir os incidentes criminais entre os jovens da cidade. E o que aconteceu? A Polícia holandesa conseguiu desmontar um plano onde traficantes de drogas iriam explodir uma bomba para assassinar os promotores que estão lutando para acabar com o submundo das drogas em Amsterdã!

Diante deste plenário e de toda a minha longa e sofrida experiência no assunto, hoje, neste dia especial, confesso que três perguntas voltam a incomodar-me profundamente. A primeira é a seguinte: será que as pessoas - até alguma de boa fé, acredito - que propõem a descriminalização das drogas, numa primeira etapa, e a sua legalização, numa segunda etapa, não se sensibilizam com a realidade dos fatos? Realidade esta que nada tem a ver com a “ilha da fantasia” que elas imaginam. Até onde teremos que chegar para que essas pessoas percebam os riscos irreversíveis de suas propostas? Assumirão elas suas responsabilidades perante os resultados dessas propostas?

A segunda pergunta, que me incomoda, é o que fazer e com quem fazer, aqui no Brasil, para que se consiga neutralizar a ação do narcotráfico? A própria ONU informa que o governo dos Estados Unidos da América do Norte vem investindo algo em torno de 70 bilhões de dólares por ano, Senhoras e Senhores Senadores. E isso, lá! E ainda querem descriminalizar e legalizar as drogas por aqui! Quanto teremos que investir de nosso PIB para esse confronto? Alguém pode nos dar essa informação?

Encerrando, faço a terceira e última pergunta: existem dados reais, comprovados, sobre quantas pessoas morrem anualmente por ingestão ou por abuso de drogas? Alguém sabe quantas pessoas são assassinadas, vítimas de drogados que tentam o roubo ou simplesmente sucumbem sob a sanha daqueles que estão sob o efeito de alguma droga? Quantas famílias são atingidas dramaticamente pela ação deletéria dos narcotraficantes? Alguém tem esses dados? Os que desejam descriminalizar ou legalizar as drogas no Brasil poderiam nos dar alguma informação confiável a respeito? Não, minhas Senhoras e meus Senhores, ninguém. Nem a INTERPOL e nem a ONU.

No início deste pronunciamento, afirmei que feliz seria o dia em que não mais se registrasse o evento ao qual alude esta data, mas sim aquele consagrado ao fim do programa das Nações Unidas para o controle internacional das drogas. Permitam-me, apesar da minha vivência com esse terrível problema e com as tentativas de descriminalização e de legalização das drogas, sonhar com esse dia. Estou certo de que minha esperança não é vazia, porque tenho fé em Deus e acredito na Sua criação. Acredito no ser humano, em cada um de nós que hoje, nesta data e em todo o mundo, está reunido por uma nobre causa e pelo nosso próximo.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/06/1996 - Página 10867