Discurso no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO DE S.EXA. COM A CHEGADA AO ACRE DA VIOLENCIA DESPROPOSITADA E CRIMINOSA, VOLTADA CONTRA OS DESVALIDOS, EXEMPLIFICADA NA TRAGEDIA QUE QUASE MATOU, NA CIDADE DE RIO BRANCO, A MENDIGA MARIA RITA GOMES.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • PREOCUPAÇÃO DE S.EXA. COM A CHEGADA AO ACRE DA VIOLENCIA DESPROPOSITADA E CRIMINOSA, VOLTADA CONTRA OS DESVALIDOS, EXEMPLIFICADA NA TRAGEDIA QUE QUASE MATOU, NA CIDADE DE RIO BRANCO, A MENDIGA MARIA RITA GOMES.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/1997 - Página 8755
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, CRIME, VITIMA, MENDIGO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO ACRE (AC), ESTADO DO PIAUI (PI), APREENSÃO, EXPANSÃO, VIOLENCIA.
  • CRITICA, IMPUNIDADE, CRIME, AUTORIA, CLASSE SOCIAL, PRIVILEGIO.

O SR. NABOR JÚNIOR - (PMDB-AC. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou tomando conhecimento neste momento, através da página do jornal A Gazeta na Internet, da tragédia que quase matou na cidade de Rio Branco a mendiga Maria Rita Gomes, de 36 anos.

Segundo o vibrante jornal de Sílvio Martinello, "três rapazes que estavam em um Gol verde e que seriam moradores do Conjunto Habitasa, tocaram fogo na mendiga (...) que dormia numa cama de papelão, improvisada nas imediações do Mercado Novo, na Cadeia Velha".

A sinopse da matéria informa, ainda, que a vítima sofreu queimaduras nas nádegas e foi hospitalizada. E acrescenta que a violência insana que a atingiu foi além do fogo, pois "os rapazes jogaram uma bomba caseira em cima de Maria Rita".

O registro, é importante repetir, está no resumo das matérias de hoje de A Gazeta, o mais importante veículo de imprensa acreana, que é franqueado aos assinantes da rede mundial de computadores e ao qual temos acesso, no Senado, através do Prodasen. Vou esperar a chegada do jornal, hoje à noite, para ver os termos exatos e os detalhes da ocorrência, mas, desde já, manifesto minha profunda preocupação com a chegada ao Acre desse tipo de violência despropositada e criminosamente voltada contra os desvalidos.

Ainda está recente em nosso conhecimento o massacre perpetrado por cinco jovens, cinco filhos da elite do Distrito Federal, que causou a morte do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos. O sofrimento que o fato trouxe à consciência nacional tem uma contrapartida perigosíssima, que é o incentivo à prática de atos semelhantes por outras pessoas desprovidas de equilíbrio e bom-senso.

O jornal O Globo de hoje, Srª Presidente, Srs. Senadores, também traz uma notícia de um caso ocorrido em Teresina, no Piauí, que vitimou o lavador de carros Edilson Teles de Meneses, de 17 anos. "Ele foi atacado por dois homens quando dormia num banco de praça. Um deles jogou álcool nas pernas de Edilson, que teve queimaduras de terceiro grau.

A onda de violência que vem atingindo o Acre, aliás, é deveras preocupante e carente de uma ação firme por parte das autoridades. Na mesma sinopse transmitida pela Internet, a Gazeta dá destaque a um novo caso de estupro. Como sempre, o criminoso é pessoa conhecida e age na certeza da impunidade.

Esta é a grande tragédia, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores: a impunidade.

O virtual consenso no caso da morte do índio pataxó aponta para a desconfiança da sociedade quanto à punição dos criminosos. E essa insegurança tem os motivos habituais: só quem vai para a cadeia é o pobre, é o desvalido, é o membro das comunidades étnicas e sociais menos favorecidas.

A imprensa informa os casos que acontecem, diz como foi, acrescenta os detalhes e busca novos enfoques; trabalha com a notícia e desenvolve as investigações em torno dela. Só que aparecem apenas os crimes e os criminosos, porque punição, se existe e quando existe, é quase sempre assunto menos alardeado. Justamente porque talvez seja raro um crime praticado por membros da elite ser apurado até o fim.

Querer que a imprensa não noticie é atentar contra a razão de ser desse instrumento da democracia moderna. Acreditar que o problema deixará de existir se não for noticiado equivale a quebrar o termômetro para tentar espantar a febre do paciente.

Mas a imprensa precisa acompanhar esses atos tenebrosos até a última instância. E a última instância, inegavelmente, tem de ser a punição rigorosa e intransigente de seus responsáveis.

O problema da violência despropositada atinge a todos nós, neste Brasil que se aproxima do terceiro milênio. É o reflexo do clima social vivido em todo o Planeta, mostrado diariamente pelos noticiários e explorado pelos filmes que nos bombardeiam em nossos lares.

Está provado que todo ato como esse que matou o índio, em Brasília, inspira e incentiva quem já possui tendências deletérias.

Mas está igualmente provado que apenas a polícia preventiva e eficaz pode evitar a deflagração de tais crimes hediondos, covardes e que envergonham a toda a nacionalidade. E a ação policial só poderá ser eficaz se houver a convicção dos cidadãos de que os agentes da lei procederão com firmeza e critério e a Justiça saberá julgar com isenção e objetividade os delinqüentes, sejam quais forem os ramos de sua árvore genealógica.

É o que todos esperamos e desejamos, Srª Presidente e Srs. Senadores.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/1997 - Página 8755