Discurso no Senado Federal

RESPOSTA AO PRONUNCIAMENTO DO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, FEITO NO EXPEDIENTE DA SESSÃO DE HOJE, REPUDIANDO COLOCAÇÕES DESAIROSAS A SUA PESSOA E AO SENADO FEDERAL FEITAS PELO ORADOR, EM ENTREVISTA CONCEDIDAS AO JORNALISTA JO SOARES.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • RESPOSTA AO PRONUNCIAMENTO DO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, FEITO NO EXPEDIENTE DA SESSÃO DE HOJE, REPUDIANDO COLOCAÇÕES DESAIROSAS A SUA PESSOA E AO SENADO FEDERAL FEITAS PELO ORADOR, EM ENTREVISTA CONCEDIDAS AO JORNALISTA JO SOARES.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Hugo Napoleão, Jader Barbalho, José Eduardo Dutra, Roberto Freire, Sérgio Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/1997 - Página 10991
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • RESPOSTA, ACUSAÇÃO, CARATER PESSOAL, AUTORIA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, REFERENCIA, ENTREVISTA, ORADOR, PROGRAMA, EMISSORA, TELEVISÃO, FALTA, MORAL, SENADO, OPINIÃO PUBLICA, CRITICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, diz um provérbio chinês que "o homem sofre, e sofrer faz o homem pensar; pensar torna o homem culto; ser culto ajuda o homem a viver."

Realmente, tenho sofrido muito. Nesses meus 40 anos de vida pública, praticamente vivi no campo da oposição. Sofri muito, refleti muito e acredito, Sr. Presidente, que se há algo que a minha consciência me diz que não faz parte da minha personalidade são os atributos aqui feitos pelo ilustre Presidente.

Olha, é só ir ao Rio Grande do Sul e perguntar sobre os defeitos do Pedro Simon. São muitos. Adversários? Também são muitos. Mas o Pedro Simon ser antiético? Mas quando em minha vida realizei um pronunciamento ou uma ação antiética? Ter inveja, ciúme doentio? Pelo amor de Deus! Sou uma pessoa simples, modesta, pobre e de classe média baixa; Deus me deu mais do que eu merecia. Mas vou publicar, neste ano, no meu 40º ano de formatura, o meu discurso de formando, para mostrar que as minhas idéias foram sempre, ao longo do tempo, as minhas idéias.

Desejar aparecer? Não sei; acho que não. Sou um homem simples e continuarei, a vida inteira, sendo um homem simples. Mas sou um homem de idéias; sou um homem de princípios; sou um homem que norteio a minha ação; sou um homem que tenho líderes, que me apaixono pelas pessoas, mas que, quando tenho que divergir, divirjo. Apaixonado pelo Dr. Ulysses, quando foi para dizer que não era a vez dele, eu disse: "Não é a sua vez, Dr. Ulysses!"

Madrugadas adentro, quando durante dois anos morou na minha casa Teotonio Vilela - já não mais Senador, mas vivo e lutando -, longas eram as nossas caminhadas e as nossas discussões. Quando insuflado pelo PCdoB, que queria lançá-lo candidato à Presidência da República, pediu que eu o fizesse, e eu disse: "Teotonio, você é mais do que candidato; você é um herói, um mártir. No momento em que você aceitar essa proposta do PCdoB, e percorrer o Brasil de muletas e com quatro cânceres, você se transformará em um mero candidato em busca de voto."

Divergir, divergi sempre! Mas, as minhas idéias são as minhas idéias!

Olhem, meus irmãos, o Senado está convocado e eu estou no banco dos réus, porque atingi a honra desta Casa, porque atingi a moral, a dignidade, a ética do Senado! Mas logo eu, Pedro Simon, há 40 anos lutando por democracia; eu, Pedro Simon, 40 anos lutando pela normalidade da vida democrática; lutando, quando este Congresso era fechado pelas tropas militares, quando os Parlamentares eram cassados, quando o povo não podia eleger - mas nomeava-se Presidente, e o Dr. Ulysses, anticandidato, saía pelo Brasil e dizia aos cães que lhe eram lançados lá na Bahia, em Salvador: "Respeitem o Presidente da Oposição!"

Esta Casa já foi ultrajada há muito! Esta Casa já foi muito espezinhada. E, nesta hora, peguem a minha vida simples, mas honesta, e verão quantas e quantas vezes o Deputado Pedro Simon ou o Senador Pedro Simon bateu e gritou em defesa do Congresso, da democracia e da liberdade!

Mas, com tudo que aconteceu ao longo da vida, com as pesquisas dizendo que a entidade a que 90% do povo têm mais repulsa é o Congresso Nacional, quem vem para o banco dos réus é o Pedro Simon! É o Pedro Simon! Mas será que é por aí?

Primeiro, eu pediria desculpas ao ilustre Presidente Antonio Carlos. Realmente, é verdade e tem razão o Senador Suplicy quando diz que me referi ao "filho" do Senador. Eu deveria ter dito "o ilustre e brilhante Deputado Luís Eduardo Magalhães", por quem sempre tive o maior respeito e em quem eu sempre reconheci a maior competência e tive, inclusive, as melhores considerações - ele para comigo e eu para com ele.

Está certo. Cometi um exagero, querendo somar, querendo mostrar a força dos Magalhães, o Antonio Carlos e seu filho Deputado. Peço desculpas por isso ao Senador Antonio Carlos e seu filho, o ilustre Deputado Luís Eduardo Magalhães, que tem vida própria, não há dúvida nenhuma. Isso eu reconheço.

Afora isso, vamos divergir. Ciúme, inveja, ódio, nunca tive. Se V. Exªs forem lá no Rio Grande do Sul, eu os desafio a encontrar, na História Política do Brasil, um político como eu que, em 20 anos liderando a Oposição, trouxe tanta gente para a vida pública, como Brossard, que estava na Oposição e veio ser candidato do nosso Partido ao Senado da República; como Guazelli, que estava do lado de lá; como Jobim, que da OAB se transformou em Deputado Federal; como Britto, que era Deputado Federal... Dizer que não gosto do Britto? O Britto é meu irmão. O Britto foi Governador porque eu não quis ser, pois eu disse que não o seria em hipótese alguma. E brigaram. Foi uma convenção em que Britto e Mendes Ribeiro, dois Deputados amigos meus, disputaram. E Mendes Ribeiro saiu do Partido porque apoiei Britto, porque não fui candidato.

Ciúme do Britto? Pelo amor de Deus! Estou aqui, claro, a lutar pelo meu Estado! Mas luto diferente!

Nobre Senador, apresentei um projeto de lei para que não privatizem o Banco Meridional. É um absurdo privatizá-lo! E, ao mesmo tempo, o Presidente da República diz que Uruguai, Argentina, Brasil e Paraguai vão criar um banco regional de desenvolvimento para o Mercosul. Então, transformem o Banco Meridional nesse banco, e a quota que o Brasil tem que dar seja o Banco Meridional. O projeto está aí. Entreguei-o ao Presidente.

Mas não tenho condições de levar o Rio Grande atrás de mim. Não tenho condições de chegar ao Banco Central - até porque não tenho dossiê algum contra quem quer que seja. É por incompetência minha? Deve ser. É falta de luta de qualquer jeito? Foi dito aqui: use de malícia! Talvez eu não a tenha.

Nobre Senador Antonio Carlos Magalhães, em primeiro lugar, quero agradecer a V. Exª pelo seu pronunciamento. Os adjetivos fazem parte de V. Exª. Até penso que, lá no fundo, V. Exª sabe que não tenho nada disso, inveja, ciúme... Fui um Governador que não morou no Palácio, que não distribuiu fotografia. No meu governo, não houve a fotografia do Governador. Decidi não colocá-la para que depois não a tirassem, porque via fotografias de ex-governadores nos cantos, e ninguém sabia o que fazer com elas.

Fui Ministro no Governo Sarney e liderei um movimento, com os outros Ministros, para não irmos para as residências oficiais, até que o Governo Sarney coordenasse aquilo que era um absurdo antigamente: as chamadas mordomias. O cidadão ia para a casa do Ministro, onde havia um leque aberto do que poderia gastar.

Nunca entrei num avião oficial como Ministro da Agricultura; nunca entrei em "jatinho" nem como Governador. Tenho o meu estilo de ser. Defendo a mudança do Senado; realmente defendo. Fui anticandidato a Presidente, porque quem publica a plataforma que publiquei - posso ser o que sou Senador, mas não sou tão burro assim -, dizendo que o Senado tem de trabalhar o mês seguido, que as diárias têm de ser justificadas, que as viagens têm de ser votadas aqui no plenário não está interessado...

Nunca viajei por uma razão muito simples: enquanto o Plenário não me autorizar, convite de Presidente eu agradeço, mas não aceito.

Agora, convém passarmos à parte final. Na verdade, Sr. Antonio Carlos Magalhães, o que eu disse no programa? O que venho dizendo. Tenho respeito pelo PFL, tenho. Penso que a sua elite é uma equipe de Primeiro Mundo. V. Exª, Senador Antonio Carlos Magalhães, seu filho, Luís Eduardo Magalhães, ilustre Líder do Governo na Câmara, o Vice-Presidente da República, Marco Maciel, por quem tenho o maior carinho - considero-o um homem de bem, um homem correto, sempre disse isso; como Líder do Governo Collor teve a maior correção, pois esperou que lhe apresentassem os argumentos, e, quando eles não vieram, disse: "Largo a Liderança" -, o Deputado Inocêncio Oliveira e o ex-Deputado Jorge Bornhausen formam um quinteto para quem tiro o chapéu.

O que eu disse, Senador, é que esse quinteto - e V. Exª não pode nem se ofender nem ficar bravo -, hoje, está fazendo a cabeça do Presidente da República. Isso eu digo e repito aqui, pois é o que penso. Disse lá e digo novamente aqui: quanto tempo faz que o Sr. Fernando Henrique Cardoso não fala com Mário Covas sobre política nacional? Fala apenas sobre o Banespa, sobre as crises da polícia e tudo o mais que se refere a São Paulo. Quanto tempo faz que o Sr. Fernando Henrique Cardoso não fala sobre política nacional com o Sr. Pimenta da Veiga ou com o Sr. João Gilberto Lucas Coelho no Rio Grande do Sul? Ou com o Sr. Euclides Scalco, o grande idealizador do PSDB? Quanto tempo faz? Esse é o PSDB.

Insistiram demais para que eu entrasse no PSDB, Sr. Antonio Carlos, quando eu era Governador do Rio Grande do Sul: "Você tem que entrar, Simon. O seu lugar é no PSDB. O PMDB vai tornar-se um Centrão: não vai ter cheiro, não vai ter cor; é incolor. Você viu o que aconteceu na Constituinte, você viu aquela votação do Centrão? É nisso que vai-se transformar o PMDB. Temos de ir para o Partido da Social Democracia Brasileira".

Onde está essa socialdemocracia? Onde está esse PSDB? Essa é a pergunta que estou fazendo.

Fazer aliança com o PFL, tudo bem! Quero dizer com toda a clareza que não tenho nada contra o PFL, a não ser admiração. Agora, reconheço que o PFL é constituído das pessoas que se acostumaram no poder, das pessoas que estão integradas ao poder.

É preciso ler, como eu li, o livro do Sr. Antonio Carlos Magalhães. No seu livro, S. Exª mostra a capacidade de sedução que tem. Começa dizendo: "Era um jovem Deputado Federal..."

Era muito mais experiente e competente do que V. Exª, Senador Sarney, porque V. Exª estava lá também como Deputado federal da UDN, mas ele, jovem, foi lá e marcou uma audiência com Juscelino Kubitschek. Está no seu livro. Ele foi para a audiência e esperou mais de duas horas, e Juscelino não apareceu. V. Exª, Senador Sarney, ou qualquer outro, teria ido embora, mas ele ficou ali. Quando apareceu Juscelino, ele se levantou e disse: "Isso é coisa que se faça? Deixar-me esperando?" Da conversa, o Sr. Antonio Carlos Magalhães saiu com o telefone direto do Presidente, e sabemos que muita gente que conviveu com Juscelino durante trinta anos nunca obteve esse telefone. 

Dali em diante, esse foi seu modo de agir. Esta é a sua atividade e é a atividade do PFL: estar no poder. Integrou o Movimento de 1964, ficou no poder no Movimento de 1964. O Sr. Antonio Carlos foi Prefeito de Salvador, foi duas vezes Governador nomeado da Bahia, depois foi aclamado com uma consagradora votação e foi eleito Governador da Bahia naquele período.

O que quero dizer é que nós, na primeira vez, erramos, fracassamos: ganhou o Collor; foi um desastre para a Nação. Na segunda vez, pensamos que Fernando Henrique era o homem da mudança, o homem da transformação. Está certo que o mundo também mudou. Está certo que já não existe a União Soviética, não existe mais o Leste Europeu, não existe mais o Muro de Berlim, nem o comunismo. Mas daí a esquecer os programas sociais, o solidarismo da pessoa humana, as questões inerentes ao homem, que é o outro lado também da obra do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, não é possível!

Quando vim a esta tribuna e disse que não votava no Quércia porque o meu estilo, a minha ética impedia-me de votar nele, e abri o meu voto para o Sr. Fernando Henrique Cardoso, foi porque pensei que a hora tinha chegado para nós. Ninguém tinha uma biografia melhor do que Fernando Henrique: cassado, expurgado, exilado, havia saído da Universidade e andado pelo exterior, homem de cultura extraordinária, de competência enorme, homem de uma vida digna, honesta, decente, irreparável, irretorquível; um homem que não era apenas um economista que se baseava nos números frios que são alterados a qualquer momento, mas um sociólogo que via o homem na sua integralidade como alma, como corpo, como sentimento, e pregava a transformação dessa sociedade. O momento era esse! O momento era esse! E ele teve sorte. Ele assumiu o Governo num momento muito bom. Ninguém, na História do Brasil, assumiu o Governo numa situação de maior otimismo, de maior chance, de maior possibilidade de começar correndo 100% do que Fernando Henrique. Isso porque o Governo Itamar lhe preparou o terreno. Tranqüilizaram-se os espíritos. Apesar da cassação do Presidente Fernando Collor, não houve caça às bruxas. O Itamar governou praticamente com a integralidade.

V. Exª diz que tenho ciúme e mágoa. Não sei, mas penso que V. Exª não perdoará jamais o Itamar por aquilo que ele fez naquela ocasião. Itamar chamou V. Exª, que disse que ia levar o dossiê da corrupção da Bahia. Lá, estava toda a imprensa esperando, e V. Exª esperando que a imprensa saísse. E aí ele disse: "Vamos começar?" E V. Exª perguntou: "Com a imprensa aí?"

Não foi assim?

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - V. Exª está mentindo outra vez.

O SR. PEDRO SIMON - Então, como é que foi? Eu lhe dou o aparte. Faço questão de dar-lhe o aparte.

A versão é do Itamar.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Sua versão tem de ser a daquele de que V. Exª era Líder no Senado, daquele que V. Exª representava, que é, no caso, tão mentiroso quanto o orador.

Não é hábito do Sr. Itamar Franco falar a verdade, até quando diz que é o autor do Plano Real.

O SR. PEDRO SIMON - Quem é o autor do Plano Real, Senador?

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - O Sr. Fernando Henrique Cardoso.

O SR. PEDRO SIMON - Mas ele nem assinou o Plano Real.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - É o Sr. Fernando Henrique Cardoso.

O SR. PEDRO SIMON - Quem assinou o Plano Real foram os Srs. Itamar Franco e o Sr. Ricupero.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Fez o Plano Real com sua equipe, a despeito de todo o trabalho contrário do Presidente da República. Mas não é isso o que estamos discutindo.

O SR. PEDRO SIMON - Foi V. Exª que falou.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - O que nós estamos discutindo é que V. Exª não está dizendo a verdade. Levei um dossiê, apresentei provas, foi tudo provado no Tribunal de Contas, e não houve sequer uma providência do Governo corrupto de Itamar Franco.

O SR. PEDRO SIMON - O que digo a V. Exª é que não perdoou Itamar Franco por ele fazer tudo na frente da imprensa. V. Exª, realmente, foi a única pessoa de que tenho conhecimento - não sei por que, se V. Exª não quis ou o Presidente Itamar não quis - que não teve uma aproximação com o Governo Itamar Franco. Isso é verdade! O motivo, não sei.

O Plano estava pronto. Fernando Henrique havia passado pelo Itamaraty e pelo Ministério da Fazenda. A equipe que Sua Excelência levou, como Presidente da República, era sua equipe como Ministro da Fazenda de Itamar Franco, e o Presidente do Banco Central era Pedro Malan.

Fiquei na esperança e continuo na esperança. Se querem me perguntar o que penso, direi com a maior sinceridade: o Governo Fernando Henrique Cardoso tem, hoje, um comando que se chama "comando do PFL". Quero que as pessoas que cito me mostrem... E o aparte de V. Exª, Senador Hugo Napoleão, deve ser sobre isso. V. Exª tem mágoas: "O Simon não me citou e citou o Inocêncio". Talvez se tivesse sido citado, V. Exª não teria gostado. Mas V. Exª também merece ser citado. Quero dizer de coração que merece.

O Deputado Luís Eduardo Magalhães, na qualidade de ex-Presidente da Câmara dos Deputados, teve a competência de conduzir, vitoriosamente, a proposta da reeleição. Foi ele que conduziu, foi ele que fez. Grande vitória! Depois, o seu pai, o ilustre Presidente do Senado Federal, Senador Antonio Carlos Magalhães, presidiu, também com muita competência, a sessão e obteve a vitória aqui. Nós, da Oposição, erramos quando não pedimos a palavra no momento certo; mas, na verdade, entendeu-se o porquê daquela pressa em se votar a matéria: era para promulgar ontem mesmo a matéria. Ontem a matéria foi votada e promulgada. Nunca o Senado foi tão eficiente. Desafio que me digam quando, na votação de uma emenda constitucional, o Senado foi tão eficiente e tão rápido. E olha que essa questão é inédita. Essa matéria foi rejeitada nas Constituintes de 1891, de 1934, de 1946 e de 1988; nesta última, com os votos contrários de Fernando Henrique, Mário Covas e de todo o PSDB. A proposta da reeleição também foi rejeitada por José Serra e Mário Covas na Revisão Constitucional de 1993.

Reunido o Governo para discutir a posição com relação à reeleição - naquela oportunidade, eu era Líder do Governo -, ao ser indagado, Itamar respondeu que era contra, porque não era da nossa tradição, e o pior que podia acontecer era aprovarmos a reeleição. O Ministro da Fazenda não disse sequer uma palavra em contrário; o Ministro da Fazenda não disse que o Governo deveria ser a favor. O que se sentiu ali na reunião é que o Ministro da Fazenda também era contra. O Governo Itamar Franco foi contra a reeleição, que não passou por poucos votos. Se tivesse passado e se Itamar Franco quisesse ser candidato, teria saído candidato.

Que mudança foi essa de ali ser contra e agora ser a favor?

O Sr. Hugo Napoleão - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não.

O Sr. Hugo Napoleão - Senador Pedro Simon, ao contrário do que pensa V. Exª, a mim só causou orgulho o fato de V. Exª haver citado cinco dos meus melhores amigos, companheiros e correligionários.

O SR. PEDRO SIMON - Errei. Devia ter citado também V. Exª.

O Sr. Hugo Napoleão - Absolutamente; não há razão para isso, pois deles sou admirador.

O SR. PEDRO SIMON - Faço mea-culpa. Peço desculpas a V. Exª.

O Sr. Hugo Napoleão - V. Exª vive fazendo mea culpa; essa é uma característica permanente de V. Exª. V. Exª diz uma coisa e depois se desdiz, dizendo que não queria dizer.

O SR. PEDRO SIMON - Pior são os que nunca fazem. O inferno está cheio de gente que nunca fez. Quem faz repetidas vezes ainda tem chance de se salvar; quem não faz nunca, não sei.

O Sr. Hugo Napoleão - V. Exª está lidando com alguém que vai fazer 23 anos que chegou a este Parlamento, que chegou ao Congresso Nacional. V. Exª vive dizendo que o PFL é um partido que só gosta do governo, que só vive no governo. Quero dizer duas coisas a V. Exª: primeiro, V. Exª está falando com alguém que foi advogado de preso político durante a Revolução de 1964.

O SR. PEDRO SIMON - Muito bem!

O Sr. Hugo Napoleão - Sim. Claro que muito bem! Evidentemente, V. Exª não poderia dizer o contrário. Afinal de contas, conheci o lado da adversidade.

O SR. PEDRO SIMON - Muito bem!

O Sr. Hugo Napoleão - Os advogados, para poderem conversar, não podiam fazê-lo nem por telefone nem nos escritórios, por causa da censura, do grampo e dos microfones. Para trocar idéias, iam conversar nas ruas. Orgulho-me muito disso.

O SR. PEDRO SIMON - Muito bem!

O Sr. Hugo Napoleão - E me orgulho, também, de ter votado a extinção do AI-5, que V. Exª não votou. Eu votei. Votei, nesta Casa, a extinção do AI-5, a redução das penas de Segurança Nacional até a sua extinção...

O SR. PEDRO SIMON - Muito bem!

O Sr. Hugo Napoleão - E tudo que trouxe o País em matéria de liberalismo.

O SR. PEDRO SIMON - Muito bem!

O Sr. Hugo Napoleão - Enfrentou o PFL adversidades? Sim.

O SR. PEDRO SIMON - Muito bem! Se não fossem pessoas como V. Exª ... da ditadura estariam até agora.

O Sr. Hugo Napoleão - Quero dizer a V. Exª que não faça um julgamento errado.

O SR. PEDRO SIMON - Não estou fazendo julgamento nenhum.

O Sr. Hugo Napoleão - Está fazendo. Está V. Exª prejulgando.

O SR. PEDRO SIMON - Quem sou eu para julgar alguém?

O Sr. Hugo Napoleão - Nós já passamos por adversidades muito grandes, até mesmo na formação do nosso partido. Fomos oposição? Sim. Aqui estamos sentados, porque atravessamos um período de turbulências.

O SR. PEDRO SIMON - Oposição a quem?

O Sr. Hugo Napoleão - Ora, V. Exª não conhece a história de como foi fundada a Frente Liberal contra o Governo Figueiredo? Contra o governo autoritário? Ah, não sabia! Não sabia!

O SR. PEDRO SIMON - Ali era a Frente Liberal. Não era PFL ainda.

O Sr. Hugo Napoleão - Mas é a mesma coisa! Éramos nós. Eu estava lá. Então, a Frente Liberal é uma coisa e o PFL é outra? Absolutamente. É a mesma. Então, eu poderia dizer, o que não vou dizer: que o Partido de V. Exª, que agora colocou um P, era um antes e agora é outro, quando eu não acho. Creio que continua sendo o mesmo partido, cheio de lutas, cheio de idéias, cheio de coerências.

O SR. PEDRO SIMON - Mas perdemos gente importante como Fernando Henrique, como Mário Covas.

O Sr. Hugo Napoleão - V. Exª tem que aprender a viver e conviver democraticamente. Já mencionei fatos do meu passado, quero dizer da minha formação liberal de um partido do qual me orgulho e, não obstante não ter sido citado por V. Exª - V. Exª se arrependa ou não -, eu concordo com V. Exª na admiração aos cinco grandes nomes do meu Partido.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado.

O Sr. José Eduardo Dutra - V. Exª me concede um aparte?

O Sr. Ademir Andrade - Senador Pedro Simon, gostaria de um aparte de V. Exª.

O Sr. Jader Barbalho - Eu também.

O SR. PEDRO SIMON - Peço a V. Exªs um momento.

Vamos esclarecer um fato: não tenho nada contra o PFL. O PFL é um grande Partido. É brilhante, tem competência. Mas o PFL não é o PSDB. Não me consta que o PSDB tenha saído do PMDB para fundar o PSDB na socialdemocracia para que os líderes deste Governo sejam o Sr. Antonio Carlos Magalhães e o ilustre ex-Presidente da Câmara dos Deputados, porque esses homens defendiam o governo anterior, e não me parece que o Governo Fernando Henrique deveria ser a continuidade do governo anterior.

O líder do PSDB deveria ser Euclides Scalco, Pimenta da Veiga, pessoas que lutaram para criar o PSDB. O PFL deveria ser o aliado. Mas entre ser aliado e dar a linha norte existe diferença. Isto, me perdoe, tenho o direito de dizer. Posso até estar errado, mas proibir-me o direito de dizer o que penso? Pelo amor de Deus! Repito: votei em Fernando Henrique Cardoso não só não me esquecendo o que Sua Excelência escreveu, mas também convivendo dois anos e meio no Governo Itamar com as idéias que ele pensava e debatia.

Quando o filho de André Franco Montoro, Presidente do BNDES, encarregado da privatização da Vale do Rio Doce à época, veio falar nesse assunto, Itamar Franco foi até grosseiro. Andrezinho quis respondê-lo, com razão. Fernando Henrique disse-lhe: "Pára, Andrezinho. Itamar Franco já deu a nossa orientação. Nós somos contra." Ele poderia ter dito: espere aí, Itamar, eu também sou a favor da privatização. Itamar Franco diz hoje que, se soubesse que Fernando Henrique era a favor da privatização da Vale e da reeleição, teria pensado duas vezes antes de apoiá-lo.

Eu votei no Sr. Fernando Henrique, baseado em suas idéias. O Fernando Henrique em que eu votei não era o homem que criou um plano para banco, como fez no caso do Bamerindus e do Banco Nacional. Sua Excelência poderia ter empregado esse dinheiro para salvar a agricultura. E com que rapidez agiu: editou uma medida provisória numa madrugada de sexta para sábado.

Essa não é a social democracia que eu conheço, esse não é o Fernando Henrique. Para fazer isso, tenho certeza de que não ouviu o Mário Covas, não ouviu Scalco, não ouviu João Gilberto.

O SR. JADER BARBALHO - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Dois minutos apenas, Senador Jader Barbalho.

Nós criamos a CPI do impeachment. Muita gente não queria. Foi difícil. Se o Senador Esperidião Amin não tivesse aceito a minha sugestão de colocar José Paulo Bisol na vaga do PDS, a CPI não teria saído, pois o seu voto foi decisivo naquele momento. Se Benito Gama não tivesse se rebelado e exercido a Presidência de maneira segura, tudo teria se alterado. Faço justiça a V. Exª, Senador Antonio Carlos Magalhães, pois ficou até o fim solidário com o Sr. Fernando Collor. Ao seu filho e Deputado Luís Eduardo Magalhães também faço justiça, porque votou contra a concessão da Câmara dos Deputados para processar por impeachment o Sr. Fernando Collor, apesar de Benito Gama, Presidente da Comissão, ter orientado e dado o seu voto a favor. Aprovado o impeachment e tendo assumido o Presidente Itamar Franco, nós nos reunimos. Posteriormente, apareceu um dossiê monstruoso com os anões do Orçamento. Itamar Franco e muitos outros nos procuraram, dizendo: não vamos fazer isso agora. Já saímos daquela CPI com tantos problemas. Vamos trabalhar e andar para a frente!

Como vamos impedir que essas coisas aconteçam? Como vamos impedir que isso seja apurado? Era um governo de transição, um governo que não tinha voto popular, um governo com um vice eleito junto com o Collor, e concordou. Eu era Líder do Governo e ninguém foi procurado para retirar a assinatura. Pelo contrário, mantivemos as assinaturas e constituímos a CPI. Prejudicou o Governo e o Congresso Nacional parou para discutir a CPI dos anões do Orçamento.

O Sr. Ademir Andrade - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Quando tudo terminou, fui ao Presidente Itamar, por iniciativa minha. O Sr. Itamar criou uma comissão de investigação, composta de pessoas indicadas organismos representativos da sociedade - a OAB, CNBB, ABI, Federação das Indústrias. As denúncias de qualquer corrupção que surgiam no Governo Itamar eram apuradas. Quarenta e sete processos foram feitos.

O Ministro Romildo Canhim inclusive publicou um livro branco. Alguns dias antes de deixar o Governo, o Sr. Itamar Franco entregou os dossiês para o Sr. Fernando Henrique Cardoso, dizendo: essas coisas ilícitas foram apuradas no meu Governo.

O Sr. Fernando Henrique Cardoso extinguiu a comissão de investigação. No decreto de extinção, disse que mandou esses 47 processos para o Ministério da Justiça. O Ministério da Justiça me responde que nunca recebeu, que está lá no Ministério da Administração. Onde está, não sei!

Fui ao Presidente da República e lhe disse: "Fernando Henrique, você foi muito mal aconselhado. É um absurdo você não ter uma comissão! É claro que você não vai ficar com os caras do Itamar; indique os caras da sua confiança. Botar caras que não têm cargo no Governo para ficar aqui e fazer a fiscalização interna no seu Governo é a melhor coisa que pode haver, Fernando Henrique!"

Sua Excelência me deu total razão. Aliás, geralmente o Presidente dá razão para quem lhe fala. Mas não criou a comissão.

Apresentei um projeto de lei para criar a Comissão de Assuntos Econômicos, que foi aprovado; e o Presidente Sarney ajudou e foi aprovado por unanimidade. Está lá nas gavetas da Câmara dos Deputados e de lá não sai.

Assumiu o Senhor Fernando Henrique com a maior tranqüilidade. Houve um momento na CPI dos anões do Orçamento em que começou a aparecer tanta coisa, que a imprensa passou a cobrar que não déssemos mais prazo. Tivemos que decidir. deram-nos 30 dias e mais nada. Então, tivemos que fazer uma opção: olharmos os Parlamentares, olharmos os corruptores. Eu assumo a responsabilidade, porque o culpado fui eu. Vamos punir os Parlamentares e colocar como primeiro item da CPI que imediatamente vamos criar a CPI dos Corruptores, porque, se punirmos os Parlamentares, vamos ter autoridade moral para punir os corruptores. Eleito o Presidente, com a maior tranqüilidade colhi as assinaturas.

O SR. ROBERTO FREIRE - Senador, permita-me ilustrar apenas esse ponto, como Líder do Governo na Câmara.

O SR. PEDRO SIMON - Mas quando é que eu ia pensar que o Senhor Fernando Henrique Cardoso ia mandar retirar as assinaturas do PSDB e do PFL de um documento que criava uma CPI para apurar a corrupção que já existia e que já estava provada? Esse não é o Fernando Henrique em quem votei.

O Sr. Roberto Freire - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Roberto Freire - Gostaria de fazer apenas uma ilustração, Senador Pedro Simon, como Líder do Governo Itamar na Câmara. Quando surgiu a possibilidade de estar envolvido Ministro de Estado, a Liderança da Câmara, inclusive, solicitou o afastamento dos Ministros, que, se não ficasse nada comprovado, poderiam voltar. Isso ocorreu no Governo Itamar.

O SR. PEDRO SIMON - Isso ocorreu no Governo Itamar com relação ao Hargreaves. Denunciaram o Ministro do Planejamento, que era íntimo amigo de Itamar, o Stepanenko, que havia convidado o Senhor Fernando Henrique Cardoso para a inauguração de uma hidroelétrica em Mato Grosso. O Sr. Itamar demitiu o Ministro porque estava fazendo proselitismo eleitoral.

O Sr. Jader Barbalho - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Desculpe-me, Sr. Presidente, são muitos os erros de português, mas, nessa correria, não tenho o brilhantismo de V. Exª.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Já teve alguns.

O SR. PEDRO SIMON - Concedo o aparte a V. Exª, Senador Jader Barbalho.

O Sr. Jader Barbalho - Senador Pedro Simon, em primeiro lugar, desejo manifestar a solidariedade da Liderança do PMDB ao direito que V. Exª está a exercer de responder ao discurso do Senador Antonio Carlos Magalhães. Disse ainda há pouco que discordava de algumas considerações que V. Exª havia feito no programa e continuo a discordar. É do estilo de V. Exª entusiasmar-se com o seu discurso. Uma das considerações dizia respeito ao Presidente da República, quando V. Exª disse que "quem manda no Presidente da República é o Senador Antonio Carlos Magalhães".Isto não é uma verdade; é uma invenção da imprensa. A imprensa é culpada do fato de publicar todos os dias que quem manda no Presidente da República é o Senador Antonio Carlos Magalhães. Isto não é uma verdade. V. Exª cometeu uma profunda injustiça para com o Presidente da República. Não vi, no programa em que esteve, V. Exª ser descortês ou cometer, em relação ao Senador Antonio Carlos Magalhães, alguma agressão; muito pelo contrário, V. Exª proclamou o poder do Senador Antonio Carlos Magalhães e de algumas Lideranças do PFL. Se alguém pode sentir-se injustiçado neste momento é o Presidente da República, porque, segundo V. Exª, quem manda na cabeça do Presidente da República é o Senador Antonio Carlos Magalhães. V. Exª, ao contrário, fez esse tipo de consideração que reputo injusta e profundamente exagerada. Considero o Senador Antonio Carlos Magalhães um dos homens mais importantes desta República, e o é à custa da sua carreira, do seu talento. Agora, que o Senador Antonio Carlos Magalhães seja o dono da cabeça do Presidente da República, V. Exª me perdoe, não é verdade; trata-se de uma invenção da imprensa. Inclusive, um dia, li que a sigla do Presidente não seria mais FHC, mas FHM, quer dizer, é mais uma injustiça da imprensa; não há fundamento. V. Exª, portanto, cometeu exageros ao defender as teses que defendeu. E desejo registrar que considero que o Senador Antonio Carlos Magalhães, com muito entusiasmo, com muita coragem pessoal, defende suas idéias e o tem feito no plenário do Senado. Como Senador, o Senador Antonio Carlos Magalhães já se envolveu em vários episódios aqui, que não precisamos relembrar, porque são públicos. Mas S. Exª, perdoe-me o Presidente da Casa, há de ter cuidado para, como Presidente da Casa, não se envolver em episódios que nós, Senadores mais simples, até podemos correr o risco de nos envolver, no calor de nossas discussões. Foram duas injustiças: a injustiça de V. Exª em dizer que quem manda na cabeça do Presidente é o Senador Antonio Carlos Magalhães e uma injustiça do Presidente Antonio Carlos Magalhães, descer da Presidência do Senado, onde S. Exª é o nosso Presidente, onde S. Exª é o símbolo desta Instituição, para tecer considerações pessoais e fazer juízos que chegam ao terreno pessoal em relação à intervenção de V. Exª no programa do jornalista Jô Soares. Foram duas injustiças: injustiça de V. Exª com o Presidente; injustiça do Presidente Antonio Carlos Magalhães com S. Exª mesmo, por ter descido da cadeira de Presidente para se submeter a esta discussão aqui conosco. São as considerações que desejava fazer nesta oportunidade.

O SR. PEDRO SIMON - Agradeço ao nobre Líder. Quero defender o Senador Antonio Carlos. Discordo de V. Exª. Acho que é o estilo de S. Exª. Ninguém pode violentar sua maneira de ser. Usou uma adjetivação que no fundo S. Exª sabe que não corresponde: dizer que sou covarde. Sei lá, mas fez uma análise. Estou até emocionado com a defesa que o Sr. Antonio Carlos fez do Senado Federal. Penso que esse é o fato mais importante. Perdoe-me, nobre Líder, mas V. Exª não se deu conta. Hoje estamos vivendo um momento histórico. Hoje, o Senador Antonio Carlos está mostrando o Senado ao Brasil. Com o Pedro Simon, que é o Pedro Simon, que S. Exª acha que não é grande coisa, fez isso, imagine se partir de alguém, aquele arreganho de fujimorização ou o diabo com relação ao Senado. S. Exª vai estar na primeira linha na defesa do Senado.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Tem V. Exª a palavra.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Realmente, em defesa do Senado, na Presidência, eleito contra o voto do Senador Jader Barbalho, o que aliás me dá muita autoridade, acho que V. Exª foi injusto em não citar o Senador Jader Barbalho pela grande influência que tem com o Presidente Fernando Henrique...

O SR. PEDRO SIMON - Não é o que S. Exª conta para nós.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - ...sobretudo no Pará...

O SR. PEDRO SIMON - Então, S. Exª não contou isso na reunião da Bancada.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - ...onde o correligionário do Presidente Fernando Henrique, Almir Gabriel, sofre bastante com a grande influência do Senador Jader Barbalho. E ninguém pode me dar lição de temperamento como acaba de fazer, neste plenário, o Senador Jader Barbalho, exigindo - a palavra que S. Exª disse - do Presidente da Mesa que cumpra determinada coisa. Não se pode dizer "exijo". Esta não é a palavra própria. Ademais, não podendo agredir ninguém, agrediu a própria mesa, esmurrando-a com essa coragem do seu temperamento, com essa força física que lhe é própria. De modo que V. Exª foi justo. S. Exª é muito forte com o Senador Fernando Henrique Cardoso e mais ainda com o Presidente da República. S. Exª já era forte com o Senador, hoje é fortíssimo com o Presidente da República. É muito mais forte do que eu. Posso garantir isso.

O Sr. Jader Barbalho - Senador Pedro Simon, permita-me. Certo, eu bati na mesa. Não bati nem tentei bater no rosto de companheiro nenhum aqui. Não tentei bater no rosto de nenhum companheiro aqui. Não tenho a força do Sr. Antonio Carlos Magalhães. Se tivesse a força de S. Exª, sim.

O SR. PEDRO SIMON - A nós V. Exª se queixa....

O Sr. Jader Barbalho - Aliás, ninguém tem a força de S. Exª. O que S. Exª fez no caso do Econômico, da marcha batida até o Palácio do Planalto, de escolher o Excel. Não tenho a força, absolutamente, do Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Não fiz contra o banco do meu Estado.

O Sr. Jader Barbalho - Também não o fiz. Nem sou sócio nem fui sócio do Sr. Ângelo Calmon de Sá.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Há um orador na tribuna. Tenho que garantir a palavra ao Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON - Sr. Presidente, quem está se defendendo sou eu. O réu sou eu. Quem quiser que escolha outro dia e outra oportunidade, porque esta não. Assim não dá.

O Sr. Ademir Andrade - Mas tem gente solidária com V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON - Quero apenas dizer o seguinte: pelo amor de Deus, nunca imaginava que o Fernando Henrique - permita que lhe trate assim - não ia aceitar uma CPI para buscar os corruptores. Nunca passou pela minha cabeça, juro pelos meus filhos, nunca passou pela minha cabeça que alguém do PSDB, que dizia o que dizia do Quércia, ia mandar os Deputados e Senadores do PSDB e do PFL retirarem suas assinaturas de uma CPI dos corruptores. Também não entendi. Não entendi o Sivam, que queríamos convocar uma CPI e aí inventaram uma supercomissão, que ficou uma comissãozinha desse tamanhozinho assim, que se falava, não sei, que o Senador do Amazonas ia ter que abrir as contas, e ele terminou saindo como herói.

O Sr. Bernardo Cabral - Diga o nome do Senador.

O SR. PEDRO SIMON - Não é V. Exª, ele mora em São Paulo.

É verdade que ele terminou saindo do PMDB. E a sua saída do PMDB foi decisiva para perdermos a maioria, que nos dava o direito à Presidência. Isso também é verdade.

Sr. Presidente, quero apenas dizer que também não esperava aquele negócio do Sivam. Não esperava. Mas, olha, Senador Sarney, não sei se V. Exª ouviu meu primeiro pronunciamento, quando fiz muitas referências elogiosas a V. Exª. Falei contra o Senador vitalício, é verdade. Mas falei em tese. Citei Figueiredo, Itamar, V. Exª, Fernando Henrique, porque achei que era muito ex-Presidente aqui para, num período só, atrapalhar o Presidente. Disse o que vou dizer agora. V. Exª é um grande injustiçado pela história. Sou testemunha de que V. Exª queria cinco anos com parlamentarismo. O Congresso Nacional, cujo Líder era o Sr. Mário Covas e o Sr. Fernando Henrique era o mais apaixonado defensor, queria tirar dois anos de V. Exª; dar-lhe quatro anos apenas. V. Exª concordava com cinco anos e parlamentarismo. O Dr. Ulysses Guimarães, conversando com V. Exª, concordou e saiu em busca do entendimento, que não se realizou.

Até hoje falam no "é dando que se recebe", porque V. Exª deu concessões de televisão para ganhar um ano. Isso é mentira, pois V. Exª tinha seis anos e deles abriu mão.

Imaginem se, àquela época, passaria pela minha cabeça que agora haveria compra e venda de votos, ou que o Senhor Fernando Henrique Cardoso, diante das declarações divulgadas sobre o Governador Amazonino Mendes e alguns Parlamentares, fosse impedir a instauração de uma CPI para apurar as acusações e que fosse mandar a emenda da reeleição a jato aqui, para que esquecêssemos da CPI.

Gostaria de dizer, Sr. Presidente, que respeito o PFL, e muito.

O Sr. Júlio Campos - Tem que respeitar.

O SR. PEDRO SIMON - Mas volto a lhe dizer, meu nobre Líder - e creio que V. Exª não pode discordar - que V. Exª, o ex-Presidente José Sarney, o Ministro Iris Rezende e o Sr. Michel Temer, a força que têm junto ao Presidente é muito pequena. Agora, V. Exª pode discordar: quem está ditando o norte da caminhada é o Sr. Antonio Carlos Magalhães e o Sr. Luís Eduardo Magalhães. O Marco Maciel, não, porque S. Exª está..

O Sr. Jader Barbalho - Mais uma vez V. Exª está sendo injusto com o Presidente.

O SR. PEDRO SIMON - Não estou dizendo que S. Exªs estão mandando, mas que estão apontando o norte. Querem um exemplo?

Não sei se a imprensa vai tocar neste assunto. Durante todo o tempo, o Presidente Fernando Henrique dizia: "Quero que se aprove a reeleição. Estou pedindo que se aprove a reeleição! Não estou dizendo que vou ser candidato. Posso vir a ser, mas não estou dizendo que vou ser! Se vier a ser candidato, posso ganhar ou perder!".

O Senador Antonio Carlos Magalhães promulgou a emenda. Qual era o caminho natural? O Senador Antonio Carlos Magalhães, o Presidente da Câmara e suas Lideranças irem à presença do Presidente Fernando Henrique e dizerem: "Aprovada a reeleição, Senhor Presidente, estamos fazendo um apelo para que Vossa Excelência aceite ser candidato!"

V. Exªs podem ler todos os jornais de hoje. Aprovada a reeleição, a imprensa cercou o Presidente Antonio Carlos Magalhães, que fez o que tinha que fazer: "Está aprovada a emenda da reeleição; iniciou o ano eleitoral, a campanha começou, o Senhor Fernando Henrique é candidato a Presidente e o candidato a Vice-Presidente é do PFL. A campanha começou."

S. Exª está certo, pois deu rumo ao processo. Eu até poderia perguntar: será que o Presidente Fernando Henrique aceitou ser candidato? Parece que sim, porque Sua Excelência silenciou.

O Sr. José Eduardo Dutra - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Concedo o aparte a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador José Eduardo Dutra, antes de V. Exª proferir o seu aparte, quero informar ao Senador Pedro Simon que o seu tempo já está esgotado há mais de um minuto. V. Exª já falou por mais de 50 minutos.

O SR. PEDRO SIMON - Sr. Presidente, peço um pouquinho de tolerância.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - A Mesa terá essa tolerância.

O Sr. José Eduardo Dutra - Senador Pedro Simon, V. Exª concedeu uma entrevista no programa Jô Soares, onde emitiu opiniões políticas, com as quais podemos ou não concordar. V. Exª concedeu a entrevista graças a essa coisa maravilhosa que existe hoje, que é a liberdade de imprensa, a democracia; graças ao fato de que hoje não vivemos outros tempos de que possivelmente alguns tenham saudade. Todavia, é sintomático que este debate se dê exatamente agora, no dia seguinte após a votação da emenda da reeleição. Quando apontávamos, muitas vezes, a preocupação com relação a essa matéria, alertávamos para o fato de que poderia acontecer a disputa de um homem contra o Estado. E nós estamos no debate de hoje comentando ou discutindo opiniões emitidas por V. Exª - opiniões políticas -, que, a meu ver, não podem ser encaradas como ofensivas à Instituição, de maneira alguma. Não concordo, de forma alguma, que pessoas, por mais poderosas que sejam, pretendam incorporar à Instituição e procurar passar a imagem de que quando são criticadas, a Instituição é ofendida. O que V. Exª disse em relação à Instituição? Que o Senado aprova tudo o que o Governo quer. Ora, isso é uma acusação ou uma constatação? Eu mesmo estou cansado de dizer isso aqui no plenário. Vários outros Srs. Senadores, em quase todas as matérias que votamos, têm dito o mesmo. Portanto, V. Exª fez uma constatação. V. Exª foi chamado de covarde, aético, de mentiroso e acusado de ter um ciúme doentio. Creio que V. Exª pode até se dar por satisfeito, porque não foi chamado, fora do microfone, de outros adjetivos, que, aliás, não constam dos Anais.

(O Presidente faz soar a campainha)

Não estou falando nada, Sr. Presidente. Não estou infringindo...

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Estou pedindo a V. Exª que se atenha aos dois minutos que lhe foram concedidos para o aparte. O tempo do orador está esgotado.

O Sr. José Eduardo Dutra - Vou concluir, Sr. Presidente. V. Exª foi chamado por outros adjetivos, não no microfone, mas foram percebidos por todos aqueles que têm acesso a TV Senado e publicados nas páginas dos jornais. Sinceramente, estranhei o aparte do Líder do PFL, Senador Hugo Napoleão, quem considero uma pessoa de extrema civilidade...

O SR. PEDRO SIMON - Eu também.

O Sr. José Eduardo Dutra -...quando S. Exª disse que V. Exª tinha irrompido em uma quebra da civilidade. Ora, civilidade?! Foi isso que fez com que a imagem do Senado ficasse diminuída perante a opinião pública? Tantas outras coisas têm feito a imagem do Senado ficar diminuída perante a opinião pública: a forma de condução dos trabalhos, o "carão" muitas vezes dado em Senadores - que alguns aceitam, outros não -, as cenas de pugilato ocorridas neste plenário e transmitidas via Embratel para todo o Brasil...

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador José Eduardo...

O Sr. José Eduardo Dutra - Já vou concluir, Sr. Presidente. Isso, sim, a meu ver, serve para diminuir a imagem da Instituição Senado perante a opinião pública. Tem V. Exª a minha solidariedade.

O SR. PEDRO SIMON - Agradeço a V. Exª

O Sr. Sérgio Machado - Senador Pedro Simon, peço um aparte a V. Exª. Percebo que o nobre Senador ignora seus companheiros e que não tem Líder. Gostaria que V. Exª pelo menos me desse um aparte.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Cumpro o dever de comunicar ao Líder do PSDB que vale também para V. Exª a advertência que fiz com relação ao tempo do orador.

O SR. PEDRO SIMON - Fico muito feliz em dar um aparte ao brilhante, nobre, competente Líder do PSDB.

O Sr. Sérgio Machado - Senador Pedro Simon, nós do PSDB, nós que trabalhamos tanto nesta Casa lamentamos muito ouvir de V. Exª que não existe o Partido.

O SR. PEDRO SIMON - Eu disse que o Partido de V. Exª não existe?

O Sr. Sérgio Machado - Disse. V. Exª lamentou afirmar que o PSDB não existe e que deveria ter um Líder, que gostamos muito ...

O SR. PEDRO SIMON - Fui muito claro. Disse que não houve Líder do PSDB como Covas, como Pimenta, como Scalco...

O Sr. Sérgio Machado - V. Exª me concedeu o aparte, portanto, me escute. Fique calmo.

O SR. PEDRO SIMON - Claro.

O Sr. Sérgio Machado - V. Exª ignorou os nossos 14 companheiros ao dizer que o PSDB não existe. Nossos companheiros Scalco e Pimenta honram o Partido. E eu gostaria que V.Exª respeitasse o nosso Partido. O nosso Partido merece respeito. O PSDB foi à luta, o PSDB quer mudar este País. E eu, como Líder, exijo respeito ao PSDB nesta Casa. Exijo que V. Exª considere os 14 companheiros que temos nesta Casa. O PSDB existe, existirá e terá sempre voz.

O SR. PEDRO SIMON - Ótimo. Brilhante pronunciamento.

O Sr. Sérgio Machado - Conheço a ironia de V. Exª. Não faça ironia comigo. A democracia depende da vontade da maioria. O que é isso? No Brasil estamos invertendo tudo. Há uma inversão de a minoria ter de mandar...

O SR. PEDRO SIMON - Foi o que ouvi por muito tempo da Arena, que tinha a maioria.

O Sr. Sergio Machado - Não. Eu sei que V. Exª não respeita a maioria.

O SR. PEDRO SIMON - É verdade! O Dr. Fernando Henrique berrava todo o tempo: essa é a maioria da Arena! Estamos voltando ao mesmo discurso.

O Sr. Sergio Machado - Senador Pedro Simon, V. Exª não respeita os Senadores que foram eleitos, como V. Exª, pelo povo de seus Estados. Cada um foi eleito para representar a sua Unidade Federativa. V. Exª gera dúvidas, como se alguém desta Casa tivesse sido comprado. Quero que diga o nome de um Senador que tenha sido vendido na votação. É preciso respeitar os seus companheiros!

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador Sergio Machado, por favor, conclua o seu aparte.

O SR. PEDRO SIMON - Agradeço o aparte de V. Exª.

O Sr. Sergio Machado - Todos nós trabalhamos...

O SR. PEDRO SIMON - Agradeço o aparte de V. Exª. Quero dizer que tenho o maior carinho pelo PSDB. Entendo a manifestação de V. Exª contra mim. Ótimo! V. Exª faz muito bem. Mas, Presidente Fernando Henrique, ouça o seu Líder. São 14 brilhantes e competentes Senadores. São outros 100 Deputados Federais... Ouça-os também, Sr. Presidente. Chame o Mário Covas. Chame o seu Líder desta Casa, Sr. Presidente. O que o nobre Senador Jader Barbalho está a dizer é o que sai nos jornais todos os dias! Ou não é? Eles dizem que o Presidente se reúne permanentemente com as Lideranças do PFL. Isso sai todo dia! É só o que se vê! Mas, de repente, todo o mundo vem só para cima de mim? A imprensa denuncia todo dia! Ela própria diz que não se nomeia quem não se pode demitir. É uma regra que o Sr. Antonio Carlos Magalhães sabe mil vezes melhor que eu: não se nomeia quem não se pode demitir!

Quero ver algum dia o Senhor Fernando Henrique Cardoso demitir o Líder do Governo na Câmara dos Deputados. É o que a imprensa está dizendo. Alguém tem dúvida nesse sentido?! (Pausa) Alguém tem dúvida nesse sentido?! (Pausa) Isso me magoa! Não a presença do PFL no Governo... Magoa, meu Líder, é não ver V. Exª na posição de destaque...

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador Pedro Simon, por favor...

O SR. PEDRO SIMON - Agora vou encerrar, Sr. Presidente.

O que também magoa é não ver as idéias do PSDB na posição de destaque; é não ver a competência do Fernando Henrique de buscar das cinzas como o trabalhismo ressurgiu na Inglaterra e o socialismo na França, mas sob outros moldes. É verdade!

Mas tenho de rir da charge do Delfim. O Delfim, quem diria, é... o Fernando Henrique... mandou correndo buscar os livros que não foram queimados para ele reler, porque parece que o socialismo está voltando. Ora...

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador Pedro Simon, V. Exª já ultrapassou dez minutos do tempo que lhe foi destinado.

O SR. PEDRO SIMON - Sr. Presidente, V. Exª está um pouco magoado comigo.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Muito pelo contrário, Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON - O Sr. Antonio Carlos Magalhães falou durante o tempo que quis.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - O Senador Antonio Carlos Magalhães falou durante exatamente 29 minutos.

O SR. PEDRO SIMON - Acho que estamos vivendo um momento histórico. Se dependesse de mim, o Senador Antonio Carlos voltaria à tribuna, e eu gostaria de falar também, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Se o Regimento me permitisse, seria um prazer ouvi-lo.

O SR. PEDRO SIMON - Senador Antonio Carlos, V. Exª se equivocou. Não falei que o Senhor Fernando Henrique Cardoso falou em usar baioneta. Falei que estava lá e, de repente, vi o Senhor Fernando Henrique dizer: assim como está tão errado usar invasão de terra, invasão de supermercado, como querer utilizar baionetas. Só que essas são mais fortes. Essa expressão ele não deveria ter dito, na minha opinião. O Fernando Henrique deveria dar uma aula para os líderes de invasão.

O Sr. João Pedro Stédile foi tremendamente infeliz. Tremendamente infeliz. E o Senhor Fernando Henrique poderia dar uma aula para ele, mas não falar "baioneta". Confesso: eu o vi falando em baioneta e vi V. Exª ao lado dele... Eu me assustei! Peço perdão, mas me assustei.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - Do lado.

O SR. PEDRO SIMON - Eu não fico nem atrás, Senador. V. Exª sempre está na frente. V. Exª tem a visão. Estávamos aqui discutindo na minha casa, na casa do Marco Maciel - V. Exª sabe - a aliança democrática e V. Exª já estava à frente, já era Ministro das Comunicações do Governo de Tancredo Neves, sem passar por nós nem pela Frente Liberal. V. Exª é muito competente. E eu o respeito. Não fico nem do lado, nem atrás... Sou uma pessoa exageradamente simples, mas sou o que sou.

Com relação ao referendo, o que eu sempre disse é que eu queria um pronunciamento do Presidente, uma carta de Sua Excelência dizendo que aceitava o referendo.

Por amor de Deus, pelo menos nos meus quarenta anos de vida pública, eu não saber que uma emenda constitucional... Eu queria, e ainda peço hoje. Amanhã sairá um artigo meu dizendo: "Que bacana, Sr. Presidente - e digo aqui da tribuna - que bacana, Presidente Fernando Henrique Cardoso se Vossa Excelência, amanhã, que já passou, que já encerrou, que todo mundo diz 'já está reeleito, não se fala mais em nada, chamar o Líder do Governo no Câmara dos Deputados, o brilhante e extraordinário Deputado Luís Eduardo Magalhães, e disser a ele para encabeçar uma emenda defendendo o referendo. Eu quero o referendo." Ainda é possível.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador Pedro Simon, V. Exª sabe muito bem com que prazer esta Casa e eu, pessoalmente, ouvimos V. Exª. Entretanto, V. Exª está na tribuna há exatamente 63 minutos.

O SR. PEDRO SIMON - Vou encerrar meu pronunciamento, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Agradeço a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON - Quero dizer que agradeço a tolerância dos companheiros.

Não foi deboche, meu nobre Líder do PFL. Eu, quando erro, reconheço meu erro e não penso que isso seja vergonha.

Nobre Senador Antonio Carlos, quando eu era Líder da Oposição, quando a Arena nomeava os Governadores, tínhamos a maioria, cassavam os nossos Deputados para eleger o Governador do Rio Grande do Sul, e eu era Líder de uma Oposição. O meu lema era o seguinte: o que é bom para o Rio Grande do Sul é bom para o PMDB.

Fui Presidente da Comissão como Líder da Oposição, que levou o terceiro pólo petroquímico para o Rio Grande do Sul. Eu era Líder da Oposição quando se levou a Aços Finos Piratini S.A. para o Rio Grande do Sul. Fui ao Sr. Delfim, Ministro todo-poderoso da época, defendi, bati e lutei pelo meu Estado. É que o Rio Grande era diferente.

Diz V. Exª, Senador Antonio Carlos, que estou derrotado no Rio Grande. Pode ser.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES - O Lula é quem falou.

O SR. PEDRO SIMON - Mas o Lula me telefonou hoje com muito carinho, dizendo que, com emoção, agradecia as referências que fiz a ele no programa.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador Pedro Simon, o tempo de V. Exª está esgotado.

O SR. PEDRO SIMON - Senador Antonio Carlos, permita-me dizer: eu não guardo mágoa; em primeiro lugar, penso que a pessoa, para ser atingida, é porque tem inveja. Se eu pensasse que tenho inveja, se eu pensasse que sou um hipócrita, se eu pensasse que sou imoral, estaria muito ofendido com o que V. Exª disse, mas, como sei que V. Exª é o que é, não levo a mal.

Vou citar um nome que V. Exª não vai gostar. Uma vez, estávamos em uma reunião com o Presidente da República José Sarney - e vou falar na sua presença -, quando tive uma discussão com o Waldir Pires e com o Renato Archer. Lembra-se, Presidente? Eu disse que não existia ninguém mais competente para ir aos lugares e para realizar algo do que o Senador do Rio Grande do Sul Carlos Chiarelli, que tinha sido uma competência total. Estávamos fazendo a aliança democrática - e isso o Senador Sarney sabe - e, de repente, estávamos estudando trazer o Rio Grande do Sul para o nosso lado, mas este Estado saiu na frente e perdemos o Marchezan e Jair Soares, perdemos todos.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador Pedro Simon, V. Exª já encerrou três vezes. Solicito a V. Exª que encerre o seu pronunciamento pela quarta vez.

O SR. PEDRO SIMON - Realmente, não quero tirar nem o sono nem a tranqüilidade do Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/1997 - Página 10991