Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE.

Autor
Junia Marise (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MG)
Nome completo: Júnia Marise Azeredo Coutinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE.
Aparteantes
Benedita da Silva, Edison Lobão, Esperidião Amin, Sebastião Bala Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 13/12/1997 - Página 28085
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, BELO HORIZONTE (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se observarmos a história das cidades, veremos que, desde o primeiro instante, cada uma traz suas próprias marcas e sinais característicos daquele que será o seu destino.

Há aquelas que nascem como simples referência geográfica ou local de pouso entre dois pontos de uma longa viagem. Incapazes de despertar afetos duradouros, podem sobreviver por séculos, mas não se firmam no coração dos seres humanos.

Outras, antes mesmo que superem o estatuto de aldeia ou vila, já se revelam o berço de uma nova civilização, laboratório onde irão se forjar culturas e saberes. Atraem o que existe de melhor no seu tempo, ganham identidade inimitável e, despertando simultaneamente amor e civismo, penetram na alma de todos os que tiveram o privilégio de conhecê-las.

Algumas rejuvenescem a cada geração, como se idéias, emoções e sentimentos brotassem de fonte inesgotável e viessem semear nelas a inquietude criadora que faz surgir o novo.

Há aquelas que só ganham importância no País e no mundo, porque ali se concentram o poder e as riquezas materiais. E outras que exercem sólida liderança intelectual, política e moral, unicamente pelas virtudes e méritos do seu povo.

Há cidades solares, que se revelam e se entregam ao primeiro contato, ao primeiro abraço. Nelas, tudo é diurno, visível, sem mistérios. E existem as que se ocultam, lunares e noturnas. Nestas, a superfície permanece calma e imóvel, enquanto se agitam nas profundezas novos sons, imagens, palavras e idéias.

A cidade de Minas, Belo Horizonte, que o engenheiro Aarão Reis traçou na prancheta com a racionalidade cartesiana própria do seu tempo, surpreendeu seus próprios criadores.

Pretendia-se que fosse cidade burocrática, administrativa, tão sensata e racional quanto os projetos dos fundadores. Cresceria de forma controlada, até os limites de uma bem desenhada avenida do Contorno.

Símbolo da nascente republicana, teria forma democrática, mas tão previsível quanto a alternância no poder das tradicionais famílias políticas mineiras.

Entretanto, as melhores criações nascidas do espírito humano são exatamente aquelas que mais causam surpresa e espanto. Aos que insistem em impor ritmos, caminhos, limites e receitas de vida aos seres humanos, elas dão lições de humildade. E, violando todas as normas e regras, desabrocham de forma selvagem e incontrolável.

Cedo, bem cedo, Belo Horizonte foi assim.

O contingente humano que ela atraiu iria desprezar não só as réguas de cálculo do engenheiro, mas a própria concepção de uma República feita para pertencer apenas às classes dominantes.

A cidade nasceu dividida por um marco geográfico - a avenida do Contorno -, que constituía autêntica barreira social e política, isolando o poder da massa dos cidadãos.

De um lado, a elite republicana, que reivindicava a exclusividade e o privilégio de conduzir - ao seu modo - os destinos do Estado e do País. Do outro, a grande massa anônima dos trabalhadores, remunerados para construir uma cidade que não seria deles.

O poder, comprando a força de trabalho dos operários, imaginava estar adquirindo também consciências e liberdade. Foi seu primeiro grande erro.

Antes mesmo que as elites elaborassem uma visão do futuro, os trabalhadores na construção já se mobilizavam para explorar o potencial de crescimento e liberdade que havia naquele vale. Além da Avenida do Contorno, nessa primeira periferia da cidade, a alma de Belo Horizonte começava a nascer.

Enquanto as poderosas famílias de Ouro Preto recusavam-se até mesmo a tomar posse de terrenos concedidos graciosamente pelo Estado, por não acreditarem no futuro da nova capital, os humildes trabalhadores na construção investiam nela toda a sua esperança e energia.

Eram trabalhadores - operários, artesãos e artistas - vindos de todas as partes do Brasil e do mundo. Muitos trocaram a vida pacata de sua cidade natal no interior de Minas pelo formigueiro criativo da Serra do Curral. Outros deixaram a conturbada Europa, optando pelos riscos de abraçar uma pátria desconhecida.

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG) -Ouço V. Exª com muito prazer, Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - Eminente Senadora Júnia Marise, V. Exª canta as excelências e as glórias de Belo Horizonte, capital do seu Estado, símbolo das liberdades. Belo Horizonte, realmente, participa da modernidade deste País. Uma cidade com 100 anos, um século apenas, já se projetou às dimensões a que ela chegou. Cumprimento Minas Gerais, cumprimento Belo Horizonte por intermédio de V. Exª, que, nesta manhã, nos encanta com o seu discurso sobre esta grande capital.

A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG) - Agradeço o aparte de V. Exª e incorporo-o ao meu pronunciamento.

Trata-se do carinho e admiração do Senador do Maranhão, e certamente do seu povo, à capital do meu Estado, que comemora hoje 100 anos de fundação.

Por isso, em meu nome e em nome do povo de Belo Horizonte, agradeço a V. Exª, incorporando o seu aparte, com muita alegria, e que, certamente, fará parte da história de nossa cidade.

A Srª Benedita da Silva (Bloco/PT-RJ) - Senadora Júnia Marise, permite-me V. Exª um aparte?

A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG) - Concedo o aparte à nobre colega, Senadora Benedita da Silva.

A Srª Benedita da Silva (Bloco/PT-RJ) - Nobre Senadora Júnia Marise, estou acompanhando a ilustração poética de V. Exª. Gostaria de parabenizá-la, porque sei dos seus sentimentos, que manifesta em seu pronunciamento, como mineira, como brejeira que é, e como uma mulher incansável em defesa de Minas Gerais. Tenho raízes nesse Estado e também na cidade centenária. Quero lhe dizer também que essa ilustração poética faz parte das mudanças que aconteceram em Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais e no Brasil. Mas Belô, para os íntimos - poderia assim dizer -, não perdeu a sua característica brejeira, o seu interior ficou preservado. Contudo, foram várias as lutas - e sabemos que marcantes - na vida de todo o povo mineiro. Belo Horizonte, como diz V. Exª neste momento, palco de tradições e de políticas, que não só comoveram o Estado, mas também o País. E digo até, Senadora Júnia Marise, que, politicamente, essa cidade começou a sofrer uma mudança no momento em que receberam V. Exª como candidata para disputar as eleições, mudando um pouco sua característica machista, e sabemos que Belo Horizonte é uma cidade feminina. A cidade de Belô é uma cidade de tradição. É uma cidade onde as mulheres têm se colocado; é o seu berço natural. Essa cidade merece, nesses 100 anos, todo o nosso carinho e afeto. Faço-o por intermédio de V. Exª, dizendo que é muito bom quando podemos completar 100 anos de compromissos, 100 anos de idade. Belo Horizonte começa a mudar, tenho certeza; começou a mudar com Patrus Ananias, está mudando também com Célio de Castro e, quem sabe, mudará muito mais quando V. Exª for a governadora do Estado de Minas Gerais ou, quem sabe, a prefeita da cidade de Belo Horizonte.

A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG) - Agradeço o aparte generoso da Senadora Benedita da Silva, que, com a sua delicadeza e o seu sentimento de cidadania, traçou aqui também a sua solidariedade à população da nossa querida Belo Horizonte, que hoje comemora os seus 100 anos de fundação.

Belo Horizonte também tem por V. Exª respeito, admiração e carinho, acima de tudo, pelas suas posições sempre coerentes, firmes, defendidas aqui no Senado Federal.

Incorporo, também, ao mesmo tempo, o aparte de V. Exª a este pronunciamento, que vamos deixar amanhã no baú que será aberto só daqui a 100 anos, mas no qual se encontrarão todos os momentos decisivos deste instante em que Belo Horizonte comemora os seus cem anos de fundação. O aparte de V. Exª estará incorporado para que a história, no futuro, possa reconhecer também todos aqueles que, neste momento, se solidalizaram com a nossa querida cidade.

           Muitos trocaram a vida pacata de sua cidade natal, no interior de Minas, pelo formigueiro criativo da Serra do Curral. Outros deixaram a conturbada Europa, optando pelos riscos de abraçar uma pátria desconhecida. Todos se misturaram e se fundiram, finalmente, ao pé da Serra do Curral, com a disposição férrea dos pioneiros, que as velhas elites já não tinham. Tanto europeus quanto brasileiros vinham de terras onde o mando político sempre pertenceu aos grandes proprietários, aos eternos senhores da vida. E Belo Horizonte, que ainda construía seus próprios valores, representava uma oportunidade de se criar uma sociedade aberta, democrática e livre.

           O romancista e teatrólogo Avelino Fósculo acompanhou de perto e compreendeu com total nitidez o sonho e a utopia desses primeiros moradores da capital, assim como registrou a formação das contradições sociais que iriam desaguar nos agudos confrontos do nosso tempo.

           Outros povos têm sabido narrar suas epopéias de conquista. Outras cidades, surgidas do nada, registraram em dezenas de livros e filmes os momentos mais dramáticos da sua construção. Belo Horizonte, nascida ontem, ainda espera por aqueles que irão retratar, com engenho e arte, os seus momentos inaugurais. A obra monumental de Abílio Barreto, as pesquisas realizadas por outros historiadores e os flagrantes deixados por alguns poetas e escritores demarcam esse território no qual os artistas de amanhã poderão escavar as emoções de ontem e com elas restaurar toda a coragem e entusiasmo de um povo que assume tarefa de tamanha grandeza.

           Além disso, não há como diminuir a estatura e a determinação dos homens públicos, que ousaram empreender aquela obra gigantesca. Ainda que fosse parte das antigas estruturas de poder em Minas, eles tiveram a ousadia de desafiar a feroz resistência de uma classe que não podia compreender o futuro. Assim mesmo, os bacharéis, banqueiros, grandes comerciantes, engenheiros, doutores e técnicos, acabaram se rendendo à realidade e transportaram para a nova capital os velhos hábitos, costumes e gostos artísticos.

           De certa forma, abandonaram Ouro Preto, mas não se desligavam do passado. Ainda se deliciavam com as poesias, as músicas e as danças do século XIX, enquanto nas pensões de estudantes formava-se a geração que iria redescobrir a América e desafiar as convenções culturais e políticas que haviam prevalecido.

           Nos anos 20 os jovens, os jovens Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Milton Campos, Alphonsus de Guimarães, Pedro Aleixo, Juscelino Kubistchek de Oliveira, José Maria de Alkmin e tantos outros formavam um heterogêneo bando de estudantes de Medicina, Direito, Farmácia e Engenharia. Alguns deles eram descendentes diretos dos primeiros mineradores empobrecidos pela exaustão das minas. Outros, filhos e netos de imigrantes, buscavam na nova capital o Eldorado que seus avós não haviam encontrado. No futuro, cada um tomaria o seu próprio caminho, escolheria seu próprio destino, iria se confrontar com os demais nas acirradas lutas políticas. Mas, naqueles anos iniciais, estavam juntos e amavam sua cidade, porque sentiam que ela seria aquilo que eles mesmos fossem e escolhessem ser. Uns abraçaram a poesia, e para sempre. Outros, também poetas e escritores, só encontraram bem mais tarde a sua forma privilegiada de expressão. E a maioria, por vocação e imposição histórica, escolheu a política.

           A primeira geração de intelectuais formada na nova capital já seria marcada pelo inconformismo, seja diante dos limites da métrica e da rima, quanto do perfil conservador delineado através das ações governamentais. Esses jovens traduziam a mesma inquietação das classes trabalhadoras e dos bairros periféricos, embora não conhecessem a realidade e os dramas de uma população que crescia às margens da capital em formação.

           Nos anos 30, quando a revolução liberal incendiou o País, lá estavam alguns deles, prontos para assumir, em Minas e em Belo Horizonte, as idéias reformistas e modernizantes que encontraram sua melhor síntese na figura extraordinária de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Como Prefeito de Belo Horizonte, JK antecipou o estilo político e administrativo que iria lapidar, de forma ainda mais perfeita, no Governo do Estado e, finalmente, na Presidência da República.

           O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT-AP) - V. Exª me permite um aparte?

           A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG) - Ouço com prazer o aparte do nobre Senador Sebastião Rocha.

O Sr. Sebastião Rocha (Bloco/PDT-AP) - Nobre Senadora Júnia Marise, o discurso de V. Exª representa um cântico de louvor a Belo Horizonte. Quero, nesta oportunidade, congratular-me com V. Exª, com o Senador Francelino Pereira e com a Senadora Regina Assumpção, que representam Minas Gerais no Senado da República. Conheço Belo Horizonte e a considero como uma das mais bonitas e agradáveis do nosso País. Acertou, certamente, quem decidiu transferir a capital de Minas Gerais para aquela belíssima região. Belo Horizonte simboliza, certamente, o espírito democrático, a vocação, a liberdade do povo mineiro. O seu discurso também traduz a devoção, a afeição, o carinho e o compromisso de V. Exª com seu Estado e com seu povo. Então, em meu nome e em nome do povo do Amapá, quero congratular-me com V. Exª e dizer que Belo Horizonte e Minas Gerais sempre irão significar para o Brasil o sentido mais amplo da liberdade, da luta pelos direitos humanos, pelos direitos da Pátria, por um país cada vez mais soberano e, certamente também, por um caminho mais profícuo e mais proveitoso para todo o povo brasileiro. Parabéns a V. Exª! Parabéns a Belo Horizonte! Parabéns ao povo mineiro! Muito obrigado, Senadora.

A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG) - Agradeço esse comovido aparte do nobre Senador Sebastião Rocha, Líder da Bancada do Partido Democrático Trabalhista, PDT, nesta Casa. Certamente hoje, a população de Belo Horizonte, que está com os olhos postos na TV Senado, tendo em vista a homenagem que esta Casa presta à centenária Belo Horizonte, está também comovida com a solidariedade e os cumprimentos externados por V. Exª a cada um dos 2,5 milhões moradores da nossa cidade. O aparte de V. Exª também se incorpora a este pronunciamento; e o fazemos com especial alegria, para que as gerações futuras possam, quem sabe daqui a cem anos, ao abrir o baú centenário de Belo Horizonte, ver nele aqueles que, nesta Casa do Congresso Nacional, tiveram o seu momento de civismo, de solidariedade, de carinho e de apreço à nossa Cidade.

Muito obrigada a V. Exª em nome de toda a população de Belo Horizonte.

O Sr. Esperidião Amin (PPB-SC) - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senadora Júnia Marise?

A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG) - Ouço V. Exª, com muito prazer, nobre Senador Esperidião Amin.

O Sr. Esperidião Amin (PPB-SC) - Senadora Júnia Marise, na ocasião de seu pronunciamento, desejo congratular-me com a Bancada de Minas Gerais no Senado, bem como com a Bancada dos mineiros, ou seja, dos outros nascidos em Minas Gerais que fazem parte do quadro de Senadores, no momento do transcurso do Centenário de Belo Horizonte, que evoca especialmente os anseios de liberdade que têm animado a saga do povo mineiro e a história política de Minas Gerais. Desejo me associar ao júbilo de todos os mineiros que V. Exª com eloqüência aqui externa e manifesta. Peço que registre este sentimento de congratulação e de partilha do orgulho legítimo que V. Exª e seus pares sentem como brasileiros. Todos nós, brasileiros, nos orgulhamos pelo Centenário de Belo Horizonte e pelas lições da história política de Minas Gerais. Peço que V. Exª considere esta minha manifestação também como uma manifestação do Partido que integro, o Partido Progressista Brasileiro.

A SRª JÚNIA MARISE (Bloco/PDT-MG) - Agradeço a V. Exª, nobre Senador Esperidião Amin, uma das lideranças expressivas nesta Casa, não só em seu Estado, Santa Catarina, mas em termos de Brasil, o registro que faz, em seu nome e em nome do PPB, da manifestação de apreço, carinho e cumprimentos à nossa centenária Belo Horizonte. As palavras de V. Exª certamente provocam emoção em todos nós belo-horizontinos, meus conterrâneos que hoje comemoram, entre alegrias e preocupações, mas acima de tudo com o entusiasmo que sempre norteou o cenário, o perfil e o comportamento da nossa população.

Senador Esperidião Amin, incorporo o aparte de V. Exª com muita alegria e agradeço em nome do povo de Belo Horizonte a V. Exª e ao seu partido a solidariedade, neste dia de grande alegria pelas comemorações do nosso centenário.

Como Prefeito de Belo Horizonte, JK antecipou o estilo político e administrativo que iria lapidar de forma ainda mais perfeita no Governo de Estado e, finalmente, na Presidência da República.

Três aspectos principais caracterizavam o seu estilo. Por um lado, energia, firmeza e autoridade para modernizar a burocracia, vencer as resistências e realizar o sonho de transformar a capital de Minas em “Cidade Jardim”.

As cidades só se eternizam quando deixam de ser apenas pedra, aço e concreto para se tornarem moradia e matéria-prima de uma arte original e transformadora. JK foi o responsável pela decisão de atrair a Belo Horizonte artistas que criaram, numa cidade ainda considerada provincial, um dos pólos culturais mais importantes do País. Consciente de que nenhuma arte retrataria com tanto vigor a evolução de Belo Horizonte quanto a arquitetura religiosa e civil, incorporou o jovem Niemeyer ao seu staff de inteligência e criatividade.

Assim, a arquitetura - que fora nossa primeira afirmação concreta de um sentimento nacional, ainda nos tempos da Colônia - iria erguer agora um monumento à modernidade. Belo Horizonte tornou-se, então, uma expressão do novo Brasil, com as obras de Niemeyer e as contribuições de Burle Marx e Ceschiatti. O mesmo JK trouxe Guignard, que, com sua visão inovadora da arte e seu trabalho de mestre, passou a formar várias gerações de artistas plásticos.

Enquanto isso, seduzidos pelo encanto de Juscelino, outros artistas desembarcavam na cidade, trazendo novas concepções no campo da música e da dança. Simultaneamente, em cumplicidade com outro grande realizador, Israel Pinheiro, Juscelino abria uma larga avenida para implantação da primeira cidade industrial do Brasil. Nascia, nesses primeiros embates, a parceria vitoriosa que tornaria realidade - décadas depois - esta utopia nacional chamada Brasília.

Penso que foi também nessa época que a verdadeira Belo Horizonte definiu seu jeito de ser, como se JK empurrasse a cidade rumo ao seu destino de metrópole, capaz de sintetizar e expressar o espírito de Minas. Mais uma vez, como no tempo da construção, mineiros e brasileiros de todas as regiões escolhiam Belo Horizonte e faziam dela sua opção de vida pelo resto do futuro.

A cidade crescia de forma acelerada, os bairros se multiplicavam, os novos limites urbanos tornavam rapidamente anacrônicos todos os cálculos, e, assim, já se anunciava a dimensão metropolitana que, em breve, ela iria assumir.

É preocupante observar hoje que o crescimento de nossa centenária cidade lhe trouxe os desafios de uma grande metrópole. Crianças sem lar e sem família se multiplicam pela cidade, freqüentando em tempo integral a única escola que lhes abriu as portas: a escola da criminalidade.

A obra de Niemeyer, que virou cartão postal de Belo Horizonte e inspirou os mais renomados poetas mineiros, pede nesse instante solidariedade e apoio. A Lagoa da Pampulha, com sua represa e áreas verdes, magnetizada pelo sol nascente, ergue-se como símbolo do triunfo e da capacidade da gente mineira.

Nasci e cresci num desse bairros da periferia de Belo Horizonte. Filha de educadores e marcada pelas profundas transformações que já se desenhavam na vida econômica, social, cultural e política.

Primeiro como jornalista e, mais tarde, como militante da esquerda política, não poderia ser outro o meu caminho senão o de uma sólida aliança com os excluídos, herdeiros daqueles que deram seu suor para erguer palácios e mansões.

Com sentimento de solidariedade e o senso de justiça que as classes trabalhadores costumavam cultivar, acima de tudo, movia-me desde esse tempo a determinação de derrubar as barreiras sociais que condenavam a maioria do povo a uma existência de segunda classe.

O primeiro mandato de vereadora, pela Oposição, iria formalizar esse compromisso de juventude com a cidade e com o seu povo, compromisso ao qual mantenho ainda hoje, neste Senado, a mais estrita fidelidade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, afinal, servir Belo Horizonte é servir Minas e os mineiros, que tanto se orgulham da sua capital.

Hoje, reunidos para comemorar o primeiro centenário de nossa capital, este rápido memorial histórico da cidade nos leva a uma inevitável reflexão sobre o futuro.

Se tivesse esse poder, faria desta data um momento inesquecível, marcado para sempre na memória de Minas e do Brasil.

Se tivesse esse poder, retribuiria a Belo Horizonte e ao seu povo, neste centenário, toda a felicidade que sinto por ser filha de uma terra que me deu tudo aquilo que tenho de melhor.

Se tivesse esse poder, devolveria a Belo Horizonte a paz perdida durante esse crescimento desordenado que a cidade passa a viver.

Seria essa a minha oferenda a Belo Horizonte e ao seu povo, como presente de centenário, se tivesse esse poder.

Em nome dos trabalhadores, das mulheres, dos jovens, dos poetas, dos jornalistas, dos músicos, dos médicos e dos urbanistas, enfim, de todos que um dia escolheram Belo Horizonte como sua Pátria, como sua terra natal, oferecendo um pouco de sua alma à cidade, compartilhando da imensa alegria de viver, morar e trabalhar entre as montanhas que formam o cenário da arquitetura do Criador, renovamos, neste instante, o pacto de confiança no futuro, de solidariedade permanente e amor à nossa cidade.

Nunca mais seremos Curral Del Rey ou Cidade de Minas.

Nunca mais seremos aquela pequena comunidade que, hoje, só existe na memória.

Mas um dia, com a força de nossa cidadania, a garra do nosso povo, poderemos vencer nossos desafios, devolver a dignidade às populações carentes e reacender a esperança e o sorriso nos corações das nossas crianças abandonadas.

Por tudo isso, quero homenagear, desta tribuna do Senado Federal, a capital dos mineiros, onde, no limiar de minha carreira política, fui a Vereadora mais votada.

Ao congratular-me com os meus conterrâneos, com o Prefeito Célio de Castro, emociona-me sentir que a nossa querida Belo Horizonte chega de maneira tão jovial, tão cheia de esperança e, a um só tempo, tão pujante e pacífica, ao centenário de sua fundação.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo ainda registrar que hoje, daqui a pouco, estará em nossa cidade o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Ontem, em telefonema que dirigi a Sua Excelência, transmiti-lhe os votos de boas-vindas à centenária Belo Horizonte. Disse da satisfação dos mineiros e dos belo-horizontinos em receber do Presidente da República o carinho que mostrou ao aceitar o convite da nossa cidade para comparecer a um dos atos festivos. Tive oportunidade de manifestar tudo isto, ontem, no início da noite, ao Presidente da República.

Sr. Presidente, desejo também registrar que estarei levando uma manifestação do Presidente desta Casa, Senador Antonio Carlos Magalhães, que entregarei pessoalmente, ao Prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro. O Senador Antonio Carlos Magalhães envia congratulações ao povo de Belo Horizonte, em nome do Senado Federal, manifestação que é significativa e representa, acima de tudo, o sinal de apreço, de carinho, a emoção e os cumprimentos de todos os Senadores ao povo de Belo Horizonte.

E é em nome dos 2 milhões e 500 mil habitantes da minha cidade, da terra que me viu nascer e que me fez vereadora mais votada, deputada estadual e deputada federal mais votada de Minas Gerais, a primeira mulher a ocupar as funções de vice-governadora de Estado e também a primeira mulher Senadora da República, representando Minas Gerais, que agradeço essas manifestações.

Com as emoções deste instante em que o Senado Federal dedica a Hora do Expediente desta sessão deliberativa a homenagear a nossa centenária Belo Horizonte, quero dizer, Sr. Presidente, Srª e Srs. Senadores, que não se completam cem anos todos os dias. E os nossos corações, os nossos olhos e as nossas atenções estão todas hoje voltadas para a capital dos mineiros, de que toda Minas Gerais se orgulha, por sua pujança, pelo trabalho e, acima de tudo, pelo permanente exercício da democracia e da liberdade, que já se incorporaram no coração de todos os mineiros.

Muito obrigada a V. Exª , Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo. Obrigada também ao Presidente desta Casa, Senador Antonio Carlos Magalhães, e a cada um dos Senadores e Senadoras que, neste momento, se incorporam ao sentimento de todos os mineiros e, certamente, de todos os brasileiros.

Que Belo Horizonte, neste seu centenário, reafirme a sua posição e o seu pacto de liberdade, de democracia e de construção do futuro do nosso País.

Era o que eu tinha a dizer. (Muito bem!)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/12/1997 - Página 28085