Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR ONOFRE QUINAN.

Autor
Humberto Lucena (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Humberto Coutinho de Lucena
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR ONOFRE QUINAN.
Publicação
Publicação no DSF de 15/01/1998 - Página 598
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ONOFRE QUINAN, SENADOR, ESTADO DE GOIAS (GO).

O SR. HUMBERTO LUCENA (PMDB-PB. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, não poderia deixar de me associar, de viva voz, às homenagens póstumas que o Senado presta, neste instante, ao inesquecível Senador Onofre Quinan.

Conheci-o quando eu era ainda Deputado Federal, nas minhas andanças por Goiás em defesa do então Partido Social Democrático e, mais adiante, em favor do Movimento Democrático Brasileiro. Senti, logo no primeiro aperto de mão, que estava diante de um homem de bem, vitorioso na sua vida privada. Como bem acentuou o Senador Nabor Júnior, Onofre Quinan era realmente um empresário plenamente vitorioso. Proprietário e Diretor-Presidente da Onogás, a sua principal empresa, atuou não apenas em Goiás, mas em todo o Brasil.

Estive em Anápolis, sua terra natal, para participar de uma campanha em favor da candidatura de Henrique Santillo à Prefeitura. Já se sentia, na época, a força popular dos Santillos, principalmente em Anápolis; de Iris Rezende em todo o Goiás e em todo o Centro-Oeste; e o respeito e a consideração que a população de Anápolis e do Estado de Goiás tinham por Onofre Quinan.

Ao referir-me à sua condição de empresário e de político, lembro-me, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, de um episódio que vivenciei ao lado do então Ministro João Agripino Filho, que fora Governador do meu Estado e que me acompanhou, em 1964, numa viagem, a convite do Departamento de Estado, aos Estados Unidos da América do Norte.

Ali, na programação elaborada, tivemos, João Agripino Filho e eu, o prazer de sermos convidados por um professor de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia para jantar em sua casa. Foi-nos buscar no hotel. No caminho, parou em um supermercado, perguntou o que queríamos jantar, naquele estilo prático americano. Deixamo-lo à vontade, e afinal chegamos à sua casa.

Enquanto a minha mulher acompanhava a sua esposa nos labores domésticos para preparar o jantar, ficamos os três, o professor norte-americano, João Agripino Filho e eu, trocando algumas idéias sobre a América Latina, particularmente sobre o Brasil. Nesse momento, o professor perguntou qual o setor empresarial a que pertencíamos. Dissemos então que éramos simples advogados, aliás afastados da lides forenses, uma vez que, no Brasil, particularmente no Nordeste, fazer política é uma atividade tão absorvente, que não nos permite advogar - atividade também absorvente por natureza. Ficou surpreendido com a resposta e disse-nos que lá, nos Estados Unidos da América, isso era inteiramente impossível, porque o custo das campanhas é tão alto que só os homens de dinheiro, só os milionários - e por que não dizer - os bilionários podem concorrer e ganhar os pleitos para o Senado e a Câmara.

Disse-nos ele: “Eu, que sou professor de Ciências Políticas na Universidade da Califórnia, não teria nem sequer condição de ser assessor de um senador ou de um deputado”. Falou ainda que lá, nos Estados Unidos, de um modo geral, quase que exclusivamente cada senador e deputado é vinculado a um grupo econômico determinado, que financia sua eleição, de tal sorte que os Parlamentares são muito mais representantes de segmentos econômicos do que do povo norte-americano.

Ficamos a refletir depois, eu e João Agripino Filho, sobre isso. O que seria de nós, aqui no Brasil, se um dia isso viesse a acontecer? No entanto, sabe-se que o nosso estilo de vida é diferente. Temos uma formação latina, que nos dá outra condição para a vida pública, para a democracia. Mas quando conto essa história, faço-o, Sr. Presidente, para salientar que Onofre Quinan foi um empresário vitorioso. Era um homem abastado, um homem que lidava com inúmeros problemas de natureza econômica ou financeira, mas não misturava suas atividades. Nunca se soube de qualquer atividade sua, no Senado ou no Congresso Nacional, que colocasse os interesses do empresário acima dos interesses do Senador. Pelo contrário, o que devo salientar na sua personalidade de homem público é justamente o fato de que S. Exª nunca se valeu da sua condição de político para tirar vantagens como empresário. E era de tal sorte a sua vocação, sobretudo voltada para a sua terra Goiás e mais ainda para Anápolis que trouxe do recesso do seu lar também para atividades parlamentares, a sua esposa, a Deputada Lydia Quinan, que vai sucedê-lo na política de Goiás.

Com estas palavras, estou prestando assim minha homenagem à memória de um homem público que timbrava pela simplicidade. A sua maneira de ser era aquela. Era um homem tranquilo. Era um homem manso. Era um homem de temperamento fraterno, mas era sobretudo um homem voluntarioso e de grande espírito público. Por isso, fez tanto por Goiás e pelo Brasil.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/01/1998 - Página 598