Discurso no Senado Federal

PREOCUPAÇÕES PELAS IMPLICAÇÕES DO CHAMADO 'BUG DO MILENIO', PARA DIVERSOS SETORES DA ECONOMIA BRASILEIRA.

Autor
Leomar Quintanilha (PPB - Partido Progressista Brasileiro/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • PREOCUPAÇÕES PELAS IMPLICAÇÕES DO CHAMADO 'BUG DO MILENIO', PARA DIVERSOS SETORES DA ECONOMIA BRASILEIRA.
Publicação
Publicação no DSF de 03/03/1999 - Página 4094
Assunto
Outros > POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • REITERAÇÃO, APREENSÃO, PROBLEMA, NECESSIDADE, AJUSTE, PROGRAMA, COMPUTADOR, ALTERAÇÃO, DATA, ANO, RISCOS, PREJUIZO, ATIVIDADE, UTILIZAÇÃO, INFORMATICA, ESPECIFICAÇÃO, ATRASO, SETOR PUBLICO.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB-TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr.. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço a deferência à nobre Presidente e informo ao Senador Carlos Patrocínio, que traz a esta Casa, neste fim de tarde, assunto da maior relevância, que justamente, para colaborar com o tempo, não fiz o aparte, mas espero poder comentar sobre o tema levantado por V. Exª em uma outra oportunidade.  

Srª Presidente, nobre integrante da bancada desta valorosa região Norte deste nosso imenso e querido Brasil, Senadora Marluce Pinto, meus nobres Pares, quero apenas fazer mais um registro. Existe uma preocupação que não é só minha, mas também desta Casa, que eu trouxe a este Plenário exatamente no dia 20 de julho de 1997. Lembro-me de que fiz aqui uma peroração a respeito de um assunto do qual tomei conhecimento em leitura de noticiosos estrangeiros. Um jornal dos Estados Unidos dava a notícia do grande problema que não só o Brasil enfrentaria, mas o mundo como um todo, e o técnico que dava a notícia àquela época, três anos atrás, antes da minha afirmação, já dizia que o púbico que o ouvia era cético, não acreditava, e ele, em razão disso, estava pregando no deserto.  

No dia 20 de julho de 1997, quando trouxe o assunto a esta Casa, tenho certeza de que muitos daqueles que me ouviram também não deram crédito à dimensão do problema que estava sendo discutido e já apontado por alguns segmentos da imprensa nacional. Trata-se do bug do milênio, Srª Presidente, esse problema que ressalta a inadequação dos programas utilizados em nossos computadores para receber o terceiro milênio para o ingresso no ano 2000.  

Parecia ser um problema de fácil solução e, com o avanço acelerado da ciência e da tecnologia, com as descobertas constantes das inovações tecnológicas e dos programas de computação, imaginava-se que, de um momento para outro, alguma mente privilegiada descobriria uma fórmula que resolvesse o problema do bug do milênio. Isso não é possível. E não sou eu, que tenho parcos e limitados conhecimentos sobre informática, quem afirma, mas, sim, os detentores dos conhecimentos mais profundos e mais amplos dessa ciência e dessa tecnologia que hoje domina todo o universo. Todos, do mais importante ao mais humilde cidadão deste planeta, têm a sua vida regulada ou registrada num programa de computador.  

É justamente pela multiplicidade de línguas, pela multiplicidade de lógica dos diversos programas utilizados, desde a criação da informática até agora, que é impossível criar-se uma ferramenta que possa, por si só, solucionar esse problema.  

Srª Presidente, esse problema terá de ser resolvido de forma artesanal, elencando situação por situação, linha por linha dos diversos programas hoje utilizados. Revelei essa preocupação aqui e fiz com que ela chegasse principalmente ao setor público, que mais me causa preocupa, já que a iniciativa privada é mais ágil nas suas reações, nas suas providências e não tem a dependência que o setor público tem, por exemplo, de orçamento. O setor público, para gastar no ano em curso, precisa ter recursos orçamentados e aprovados no ano anterior. Além disso, estamos correndo contra o tempo. É preciso que haja recursos e tempo suficientes. E tempo, Srª Presidente, é o tipo de recurso extremamente valioso, que uma vez gasto ou desperdiçado não é possível ser recuperado.  

Vejo que estamos a pouco menos de 300 dias para o ingresso do terceiro milênio, e uma situação caótica pode tomar conta das diversas instituições brasileiras, senão das diversas instituições mundiais que não estiverem atentas a esse problema, que não estiverem adotando as providências necessárias à recuperação e à adequação dos seus programas ao ingresso do terceiro milênio.  

Se o problema não fosse tão grave, os americanos, de há muito tempo, não estariam preocupados, despendendo recursos valiosíssimos, um volume de dinheiro enorme, e ainda alertando para a perda de um percentual superior a 5% do seu PIB com os gastos para a recuperação dos programas existentes e em uso no seu território.  

Se não fosse preocupante, a Rússia, que está enfrentando uma situação delicadíssima da sua Economia, não teria recorrido aos americanos urgentemente, sob a alegação de que não tem nem dinheiro nem tempo para solucionar o problema. Problema de gravidade tal que, além de promover um caos nos registros e nos controles que aquele país tem, pode, inclusive, acontecer de um míssil ser disparado desordenadamente, por descontrole do computador. Com essa preocupação, os russos recorreram aos americanos, que, imediatamente, procuraram dar um socorro, ficando no seu território para procurar solucionar esse problema.  

Recordo-me de que os problemas que já levantava em 1997 estão atualizadíssimos. Dizia que o tema é preocupante, especialmente no setor público, que, sabidamente, possui um sistema operacional complexo, burocrático, dependendo de dotação orçamentária e submetido a legislações rígidas, como a Lei de Licitações.  

Informações nos dão conta de que, na esfera federal, o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado tem recomendado a cada órgão rearranjar o seu Orçamento e priorizar o ajuste, até porque não há outro jeito, uma vez que o Orçamento da União de 1998 não contemplou recursos para a correção do bug do milênio. O de 1999 considerou os referidos recursos com as dificuldades financeiras que o País está atravessando. Não sei se os recursos serão suficientes para atender a essas necessidades. O tempo é escasso: pouco mais de um ano e meio — dizia eu naquela —, pouco menos de 300 dias — afirmo hoje.  

A oferta de mão-de-obra torna-se cada vez menor. Não é qualquer leigo que entra num programa de computador e sabe consertá-lo, principalmente em razão das lógicas e das linguagens inicialmente usadas que muitos técnicos hoje formados, conhecedores profundos da informática, não conhecem. É preciso que se busquem técnicos antigos. Desde o ano passado, os Estados Unidos estavam no território brasileiro recrutando técnicos para atender à demanda crescente do seu mercado.  

Além de mão-de-obra específica e qualificada, a cada dia que passa, quando o problema se avizinha, o custo também aumenta. A imprensa já alardeia o risco de o Governo perder a corrida contra o bug. Segundo especialista do setor, o Brasil está atrasado nos preparativos para enfrentar o terceiro milênio, o que pode afetar seriamente a competitividade da indústria nacional, tanto na disputa pelo mercado interno quanto nas exportações.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vislumbrando um quadro de verdadeiro caos em menos de 300 dias, desejo utilizar-me da condição de Parlamentar, para, uma vez mais, conclamar a atenção de todos para a necessidade de nos unirmos na solução do bug do milênio. As autoridades governamentais brasileiras, nas três esferas de governo dirige um apelo para que se conscientizem da gravidade do problema que está a exigir solução célere. Deve-se garantir nos orçamentos públicos os recursos indispensáveis a serem aplicados nos ajustes dos computadores. Fiz esse apelo no ano passado, Srª Presidente.  

Ontem, um colega nosso, o nobre Senador Jefferson Péres, sensibilizado com a gravidade do problema, também registrou a sua preocupação nesta Casa, e acaba de me informar que a Comissão de Assuntos Econômicos determinou a realização de audiências públicas para discutir o problema. Veja, Srª Presidente, o quanto estamos atrasados nessa questão. Não devíamos estar discutindo esse problema, e sim operacionalizando a sua solução. Isso está acontecendo de forma muito tímida. Tenho conhecimento de que alguns órgãos públicos e instituições públicas, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, o próprio serviço de informática do Senado Federal estão adotando as providências necessárias à solução desse problema, mas ainda as considero muito tímidas. Por essa razão alerto esta Casa e às autoridades brasileiras para a emergência da situação e a necessidade urgente de se tomar as providências necessárias para que o Brasil possa, sem dificultar mais as suas ações, resolver o problema do terceiro milênio.  

Muito obrigado, Srª Presidente.  

 

IV>


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/03/1999 - Página 4094