Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DE CRIAÇÃO DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ.

Autor
Leomar Quintanilha (PPB - Partido Progressista Brasileiro/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DE CRIAÇÃO DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2000 - Página 10709
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, FUNDAÇÃO INSTITUTO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ), ELOGIO, ATUAÇÃO, BENEFICIO, SAUDE PUBLICA, PESQUISA CIENTIFICA E TECNOLOGICA, COMBATE, DOENÇA TRANSMISSIVEL.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB - TO) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é com enorme satisfação que nos aliamos nesta data para comemorar o centenário da Fundação Oswaldo Cruz, instituição que honra a todos nós brasileiros, a primeira em ciência e tecnologia em saúde em toda a América Latina.  

Falar de Manguinhos – como é carinhosamente chamada – é tarefa complexa, porque sua história traduz as contradições do desenvolvimento da pesquisa científica no Brasil.  

Um fato específico – diz-nos a história – ensejou o nascimento do então Instituto Oswaldo Cruz: a chegada da peste bubônica ao Brasil pelo porto de Santos em 1899.  

Ao implementar medidas a fim de conter a peste e socorrer suas vítimas, o governo se deparou com a dificuldade de obter o soro que apenas o Instituto Pasteur de Paris fabricava em quantidade insuficiente para a demanda mundial.  

A solução encontrada na época pelo governo paulista e pela Prefeitura do Distrito Federal foi a criação de estabelecimentos produtores de soros e vacinas.  

A partir de 1902, sob a direção integral de Oswaldo Cruz, o Instituto iniciou imediatamente a diversificação de sua pauta industrial e de seus objetos de pesquisa.  

Suas ações representaram um avanço na instrumentalização da microbiologia em prol da saúde pública, motivado pela necessidade da importação de técnicos e de conhecimentos prontos para debelar uma crise sanitária em centros urbanos vinculados à importação de imigrantes, manufaturados e capitais, bem como à exportação de café e de outras matérias-primas.  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, felizmente, estes objetivos estreitos – vistos apenas sob a ótica econômica – foram combatidos incessantemente pelos técnicos do Instituto. A prova de seu êxito se espelha na durabilidade de Manguinhos e no perfil que hoje ostenta.  

As transformações dos objetivos de Manguinhos estão relacionadas ao saneamento do Rio de Janeiro, tarefa que foi designada a Oswaldo Cruz. Este, em 1903, submeteu um projeto ao Congresso Nacional de reforma dos serviços sanitários, que incluía a transformação do Instituto em um centro de estudos sobre as doenças infecciosas tropicais, envolvendo a preparação de soros, vacinas, fermentos industriais e o ensino da bacteriologia, à semelhança do Instituto Pasteur de Paris. Esse projeto foi vetado.  

Este trecho da história da Fundação põe em relevo as contradições que citei no início de meu pronunciamento sobre os rumos da ciência e da tecnologia em nosso País.  

Neste contexto, nunca é demais repetir que a economia agroexportadora e a hegemonia política e cultural das elites podem explicar a penúria, o desprestígio, o isolamento e a descontinuidade que solaparam os investimentos de todos os que se dedicaram à pesquisa científica no Brasil.  

Curiosamente, são esses mesmos cientistas que atendem os interesses desenvolvimentistas, na medida em que obtêm as condições materiais que propiciam a elaboração de pesquisas originais e as fazem circular entre as instituições médicas nacionais e estrangeiras.  

Voltando à história, encontramos que, face à indiferença das autoridades da época, Oswaldo Cruz proporcionou as condições para que Manguinhos rapidamente ultrapassasse sua conformação original, buscando sobras de recursos financeiros, e tornando bem clara sua posição contrária à visão imediatista e limitada que as elites governantes tinham do papel da ciência no desenvolvimento e na modernização do Brasil.  

Para sobrepujar as demandas históricas que ensejaram a sua concepção, assim como as crises freqüentes que ameaçavam suas conquistas, como perda de autonomia, corte de recursos humanos e financeiros, cassação de direitos políticos e aposentadoria compulsória de renomados pesquisadores, Manguinhos teve que se valer da combinação de vários elementos:  

- a dedicação integral e quase que devota de seus pesquisadores, frutificando em novas e constantes descobertas, projetando o nome de seus autores, da instituição e do Brasil internacionalmente;  

- o papel de seus dirigentes, que conceberam e implementaram estratégias institucionais que nem sempre coadunaram com os objetivos, as prioridades e os interesses dos governantes.  

No limiar do Século XXI, nos deparamos com uma Fiocruz que tem como missão gerar, absorver e difundir conhecimentos científicos e tecnológicos em saúde pelo desenvolvimento integrado de atividades de pesquisa e ensino. Suas descobertas são consideradas como contribuições importantes à ciência em nível mundial.  

Na comemoração deste centenário – coisa rara no Brasil para uma instituição da natureza da Fiocruz – gostaríamos de destacar seus feitos, mas também assinalar o enorme esforço de todo o seu corpo técnico e de dirigentes para realizá-los.  

Cumpre deixar registrado o reconhecimento do Senado Federal pelo trabalho do atual presidente, Dr. Eloi Garcia Nunes, na condução dos novos rumos da Fundação. Com desafios cada vez maiores ditados pela velocidade imprevisível das descobertas científicas, e pela necessidade de articular sua atuação com variáveis éticas, políticas, econômicas e sociais, sua tarefa dificilmente pode ser dimensionada por aqueles que não convivem de perto com a rotina da Instituição.  

A todo o corpo funcional da Fiocruz, seus técnicos e pesquisadores, na pessoa de seu Presidente, o Dr. Eloi Garcia Nunes, as nossas melhores homenagens.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2000 - Página 10709