Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO NA ULTIMA QUARTA-FEIRA, DIA 26 DE JULHO, DO EX-SENADOR MARIO MAIA.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO NA ULTIMA QUARTA-FEIRA, DIA 26 DE JULHO, DO EX-SENADOR MARIO MAIA.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2000 - Página 15472
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARIO MAIA, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, MEDICO, ESTADO DO ACRE (AC).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ORADOR, PUBLICAÇÃO, JORNAL, A GAZETA, ESTADO DO ACRE (AC), HOMENAGEM POSTUMA, MARIO MAIA, EX SENADOR.

            O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, a alegria do reencontro, após o recesso constitucional de julho, cede ante a dor de uma das mais lastimáveis perdas sofridas pela democracia e pelo povo brasileiro, particularmente os acreanos, nos últimos tempos: a morte do ex-Deputado Federal e ex-Senador Mário Maia, legítima expressão das nossas melhores tradições de dedicação às causas da cidadania.

A coragem e a determinação do ex-colega, em sua passagem pela vida pública, foram muito além dos debates parlamentares e das articulações político-partidárias. Ele, na realidade, foi um sacerdote dedicado à cura das mazelas sociais, médicas e sanitárias dos acreanos e de todos os brasileiros.

            O polemista brilhante e irrequieto, que brilhava em debates e campanhas eleitorais, era apenas o lado mais ostensivo de um caráter moldado no nacionalismo, no mais profundo civismo, na mais forte ligação atávica com a Amazônia, onde nasceu e à qual dedicou decidido empenho. Sim, porque Mário Maia jamais esqueceu suas sólidas raízes - cravadas nas barrancas do rio Acre, espalhadas por todo o generoso solo do nosso Estado e que, ultrapassando as fronteiras regionais, cobriam toda a Nação.

Confesso a V. Exas que minha intenção era fazer este encaminhamento de improviso, colhendo as fartas e gratas lembranças que nossos trinta e tantos anos de convívio enriqueceram e tornaram radiosas. Mas, confesso, também, o temor de, traído pela emoção, não conseguir dizer o que a nacionalidade, através de seus Representantes nesta Casa, precisa saber sobre a obra, a vida e a passagem marcante de Mário Maia pela vida do País.

Todos os que o conhecemos, neste plenário e nas suas diversas atividades políticas e profissionais, sabemos que a medicina era, na realidade, a vocação maior, a destinação suprema, o apelo vital da existência terrena de Mário Maia.

Ouso, até mesmo, afirmar que ele agia como médico, como cirurgião consagrado e corajoso, quando propunha alternativas para tornar menos árduas as jornadas do povo brasileiro, mais precisamente dos amazônidas.

Aos 75 anos de idade, Mário Maia sempre foi assíduo aos plantões nos hospitais do Acre, sem respeitar limites ou obstáculos, na sagrada missão de curar, amenizar dores e salvar vidas. É emblemático o fato de que sua morte praticamente ocorreu numa enfermaria infantil, na Fundação Hospitalar do Estado do Acre, quando cobria a escala de uma colega, impedida, por problemas de saúde, de assumir o posto.

Os limites regimentais de tempo, para encaminhar esta votação, impedem-me de aprofundar as lembranças do nosso convívio pessoal e político, bem como da grandiosa trajetória parlamentar do saudoso homem público acreano. Gostaria, apenas, que fosse inserido, anexo a este pronunciamento, o artigo de minha autoria, publicado na edição de domingo último do jornal A Gazeta, de Rio Branco, em que comentei aspectos da carreira e da vida do “Gafanhoto”, um dos apelidos que mais lhe agradavam.

Mário Maia também se sentia gratificado quando era chamado de “Velho Guerreiro” - e isso foi lembrado, com a habitual sensibilidade, na festejada coluna “Gazetinhas”, deste sábado, de A Gazeta. Comentando o fato de que o consagrado médico - mesmo ficando longe da amada família - estava mergulhado nas práticas hospitalares, em seu Acre, disse o colunista Sílvio Martinello:

“Como a vida tem lá seus desígnios! O ex-Senador Mário Maia fez o autêntico papel de Velho Guerreiro, como ele mesmo gostava de ser chamado: veio morrer em sua terra, como faziam os velhos guerreiros da antigüidade”.

Concluo, Sr. Presidente, Srs. Senadores, falando não do político brilhante, do consagrado médico, do apóstolo da saúde e da democracia. São faces que todos já conhecemos e reverenciamos, principalmente os que, como eu, tiveram o privilégio de conviver com Mário Maia, em suas mais de quatro décadas dedicadas à causa do povo acreano.

Quero encerrar este encaminhamento com a leitura de um soneto da lavra do saudoso ex-Companheiro, o qual transforma em palavras a dor e a mágoa que assaltam cada verdadeiro amazônida quando vê a queda das grandes árvores que caracterizam nossa Região.

“O Pranto do Seringueiro:

Não me derrube, seu moço, a seringueira...

O seu leite, me serve de sustento.

Já estou velho, mas desde o nascimento

Que esta árvore é minha companheira...

Olhe, é irmã daquela castanheira

Cuja copa procura o firmamento...

Ela também me dá o alimento

Que mata a fome da família inteira...

Ao dizer isto, emudeceu num canto

Com a tristeza que uma saudade encerra.

Foi tanto a dor e o sentimento tanto,

Quando feriu o tronco, a motosserra,

Que o seringueiro sucumbiu num pranto

Tão orvalhado, que inundou a Terra.”

Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, conto com a sabedoria e o espírito justiceiro que caracterizam V. Exas, para que o sentimento de pesar da Nação brasileira e, em particular, desta Casa, seja transmitido ao povo do Acre e à família enlutada pela morte do ex-Deputado e ex-Senador Mário Maia, na forma do requerimento ora submetido à consideração do Plenário.

E reitero à Presidência o pedido para que seja publicado no Diário do Senado Federal, como parte integrante deste encaminhamento de votação, o artigo de minha autoria “A Morte do ´Gafanhoto´ - Tributo a Mário Maia”, publicado na edição de domingo último do jornal A Gazeta, do Acre.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2000 - Página 15472