Discurso durante a 93ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DE MARCIA KUBITSCHEK, EX-DEPUTADA FEDERAL E EX VICE-GOVERNADORA DO DISTRITO FEDERAL.

Autor
Hugo Napoleão (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Hugo Napoleão do Rego Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DE MARCIA KUBITSCHEK, EX-DEPUTADA FEDERAL E EX VICE-GOVERNADORA DO DISTRITO FEDERAL.
Aparteantes
Edison Lobão.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2000 - Página 16273
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARCIA KUBITSCHEK, EX-DEPUTADO, EX VICE GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, POLITICA, PAIS, VALORIZAÇÃO, PATRIOTISMO.

            O SR. HUGO NAPOLEÃO (PFL - PI. Para encaminhar a votação.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, é com profundo pesar que assumo a tribuna, na tarde de hoje, na sessão do Senado Federal, para externar a minha saudade, o meu respeito, a minha reverência, à memória de Márcia Kubitschek, minha amiga, posso dizer, desde a infância, no Estado do Rio de Janeiro, na antiga Capital da República, onde seu pai, o saudoso ex-Presidente Juscelino Kubitschek, residia, no Palácio das Laranjeiras, como Presidente da República.

As ligações de família eram grandes. Márcia e Maristela fazem parte do meu patrimônio afetivo. Tive a felicidade de participar de uma série de encontros, no curso de toda a minha vida, com a Márcia, que era, na sua essência, aquela pessoa meiga, que era, por assim dizer, alguém que carregava consigo mesma uma postura de afeto, de altruísmo, de bem-querer, de simplicidade e de encantamento.

Márcia a todos envolvia, sem jamais ser arrogante, sem jamais ser petulante, sem jamais ser ousada. Amando o Brasil como amava, a ele serviu em diversas oportunidades. Fui seu colega, deputada federal constituinte por ocasião da elaboração da nossa Carta. E se houve com perfeição, com denodo, com seriedade, com sentimento de brasilidade. Nunca lhe faltou aquele espírito mineiro, tão característico àquela gente, de amor à liberdade, de amor à democracia, de respeito às tradições e de reverência às nossas instituições. Jamais.

Márcia Kubitschek, em verdade, foi e continuará a ser um grande exemplo. Vice-Governadora do Distrito Federal, indubitável e indiscutivelmente, serviu à capital da República e ao País. Foi governadora interina por diversas oportunidades no governo anterior do atual Governador Joaquim Roriz. Sempre com aquele encantamento, sempre com aquele estilo afável e amável. Também foi Vice-Presidente da Embratur, cargo em que se encontrava, nomeada pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.

           Guardo, portanto, com saudades os melhores sentimentos de encontros em muitas oportunidades. Ao seu esposo, José Carlos Barroso, que foi meu colega no Colégio Padre Antônio Vieira, no Rio de Janeiro, envio o meu abraço. A suas filhas, sobretudo a Ana Christina, filha da Márcia com meu amigo, Baldomero Barbará Neto, hoje casada com um deputado federal do meu Partido, Paulo Octávio, e as suas duas outras filhas, Júlia e Alejandra, enfim, à Maristela, ao Rodrigo Lopes, seu cunhado, a todos envio os meus sentimentos.

Sr. Presidente, estive ontem no velório. Fui com o meu querido pai, Aluízio Napoleão, levar o abraço da nossa família à de Márcia e fazer, evidentemente, as nossas preces, que renovo desta tribuna, para esta mulher exemplar, que, em sendo suave, sabia ser firme e decidida, que, em sendo meiga, sabia ser, quando necessário, altamente positiva e afirmativa, e que tinha uma cultura humanística ímpar. Márcia era capaz, na juventude, eu me lembro bem, de ler um livro por dia, dos grandes clássicos nacionais e internacionais. Altamente preparada, sempre competente, ela era de uma doçura incomparável.

Sr. Presidente, é com profundo pesar, com muito sentimento que assomo à tribuna na tarde de hoje, para encaminhar esse requerimento de minha autoria de profundo pesar pelo falecimento de Márcia Kubitschek, assim como do encaminhamento, para os Governos do Distrito Federal e do Estado de Minas Gerais, da necessária e merecida homenagem do Senado. Portanto, a Anna Christina, Júlia e Alejandra, a todos os seus familiares, aqui fica, em meu nome pessoal, em nome de minha família e em nome da minha Bancada do Partido da Frente Liberal, e sei que é um pensamento uníssono e unânime desta Casa, a nossa reverência, o nosso respeito e a nossa saudade.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) - A Mesa concorda que V. Exª o aparteie.

O SR. HUGO NAPOLEÃO (PFL - PI) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Hugo Napoleão, desejo associar-me a V. Exª nas homenagens que pretende prestar à memória de Márcia Kubitschek. Se V. Exª me permite, honrando-me com isto, eu gostaria de assinar também o requerimento com o qual V. Exª solicita uma sessão para homenagear a memória de Márcia Kubitschek.

O SR. HUGO NAPOLEÃO (PFL - PI) - Com prazer, Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Essa senhora militou na vida pública brasileira com grande sucesso. V. Exª traçou, mais ou menos, o perfil e o currículo que informa as atividades políticas que ela exerceu. Mas devo dizer que ela sempre revelou ser bem dotada de vocação política, que era aliás uma herança do pai, o Presidente Juscelino Kubitschek. Era uma figura realmente encantadora. Era quase impossível conhecer Márcia e dela não gostar a partir já daquele momento. Portanto, guardo dela uma lembrança muito intensa de tudo quanto de positivo que existia nela: além da vocação política, as fortes tinturas intelectuais que ela exibia. Uma conversa social com Márcia era um encanto, por tudo quanto ela sabia transmitir, sem nenhuma afetação, apenas as palavras e as informações brotavam da própria gênesis dos conhecimentos dela. V. Exª tem, portanto, minha solidariedade, e estendo à família de Márcia, a todos os seus familiares, os meus sentimentos e os da minha família. Muito obrigado.

O SR. HUGO NAPOLEÃO (PFL - PI) - Recolho agradecido, Senador Edison Lobão, o aparte de V. Exª, que profere palavras sempre precisas.

Quero também aduzir que recolhi do Correio Braziliense de hoje, na matéria intitulada “Adeus, Márcia”, uma frase muito bonita dita por seu marido, José Carlos Barroso. S. Sª disse: “ Quem não gosta de Márcia, não gosta de ninguém. Serei um eterno apaixonado pela mulher mais maravilhosa que já conheci.” Observem a essência das palavras do viúvo!

Ao início de meu pronunciamento, falei sobre ligações de família. Embora sejamos homens públicos, vivemos em uma Casa que é uma verdadeira família. Gostaria, então, de explicitar quais são esses laços. Meu finado avô, ex-Deputado Federal pelo Estado do Piauí, Hugo Napoleão, ainda no Palácio Tiradentes no Rio de Janeiro, foi colega do ex-Presidente Juscelino Kubitschek na Constituinte de 34. Meu pai, diplomata de carreira, foi chefe do Cerimonial da Presidência da República no Governo do ex-Presidente Juscelino Kubitschek. Sou amigo da família e já tive, lamentavelmente, que acompanhar o ex-Presidente não em seu ápice, em seu apogeu - não diria que em seu perigeu porque um homem como Juscelino Kubitschek não tem perigeu, um homem de sua envergadura só tem alvorada, como acabou denominando o próprio Palácio da Presidência da República.

Na fase mais triste de sua vida, durante o Ato Institucional nº 5, no Rio de Janeiro, fui seu advogado perante a Comissão-Geral de Investigações do Ministério da Justiça, órgão de exceção criado à época para investigar os políticos cassados. E por falar em cassação, ele mesmo me disse um dia: “O cassado parece mais estar em um leprosário: ninguém quer chegar perto. Eu mesmo, cheguei a consultá-lo uma vez, Sr. Presidente, se deveria entrar na política, e ele me disse: fui deputado federal, prefeito de Belo Horizonte, Governador de Minas, Presidente da República, depois comi o pão que o diabo amassou, mas se eu tivesse que recomeçar - sabendo que iria passar por tudo novamente, por todas as provações - recomeçaria. Vá para o seu Piauí, candidate-se”. Foi a gota que faltava para a minha definição de entrar na vida pública.

            Na noite fatídica, o 13 de dezembro de 1968, fui com seu genro, Rodrigo Lopes, casado com Maristela, imediatamente ao Forte de São Gonçalo, no Estado do Rio de Janeiro, onde o ex-presidente se encontrava preso, e declinei ao oficial do dia a minha situação de seu advogado. Não me deixaram vê-lo. Era assim naqueles tempos, Sr. Presidente, advogado não tinha o direito de ver o prisioneiro político. E V. Exª bem sabe, Presidente Nabor Júnior, porque vem do MDB e de escaladas e de momentos difíceis que passamos. Deus sabe o que era advogar, muitas vezes como o telefone podia estar censurado e havia microfones nos escritórios dos advogados, precisávamos caminhar pela praça Paris ou pelo Parque de Santana, pela Praça da República conversando e olhando para os lados com medo de sermos efetivamente seguidos, embora no exercício da nossa nobre profissão. Não nos deixaram entrar. Apenas o Dr. Aloísio Sales podia vê-lo, pois era seu médico, até que o Presidente sofreu um problema na perna, foi operado, hospitalizado e teve que ir em prisão domiciliar para sua residência, onde acorreram, lembro-me bem, dois advogados: Heráclito da Fontoura Sobral Pinto e Evaristo de Morais Filho, ambos falecidos, e foi um coronel do Exército para assistir à conversa do Presidente Juscelino Kubitschek com seus advogados.

Há outras histórias que quero guardar, porquanto sou advogado e naturalmente tenho sigilo de algumas questões profissionais que não quero ainda revelar. Muita coisa a revelar ainda haveria se eu quisesse, mas não é o caso. Estamos falando da Márcia, do seu querido e saudoso pai, de D. Sarah Kubitschek, que era outra pessoa encantadora, fundadora das pioneiras sociais no nosso País. Era uma senhora valorosa, dedicada, excelente esposa e mãe, enfim, dos seus queridos e saudosos pais, cuja memória também reverencio neste momento.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao encaminhar este requerimento de minha autoria, gostaria de transmitir efetivamente as grandes saudades que todos nós e que eu, pessoalmente, tenho de Márcia Kubitschek.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2000 - Página 16273