Discurso durante a 40ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

APELO AO FIM DA PARALISAÇÃO DO SENADO FEDERAL EM VIRTUDE DAS DENUNCIAS QUE ENVOLVEM DIARIAMENTE A CASA.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • APELO AO FIM DA PARALISAÇÃO DO SENADO FEDERAL EM VIRTUDE DAS DENUNCIAS QUE ENVOLVEM DIARIAMENTE A CASA.
Publicação
Publicação no DSF de 25/04/2001 - Página 7124
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, URGENCIA, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, VIOLAÇÃO, VOTAÇÃO, APARELHO ELETRONICO, NECESSIDADE, RETOMADA, TRABALHO, COMPETENCIA, SENADO.
  • ANALISE, CRISE, SENADO, PREJUIZO, CAMPANHA ELEITORAL, SENADOR.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na Grécia antiga, muitos filósofos diziam que a política era a mais nobre das profissões. No Brasil de hoje, quando se fala em político, imediatamente todos torcem a cara, todos olham com uma espécie de nojo daqueles que vivem de política profissional.

Essa era uma visão dos vários setores da classe política até um dia desses, e o Senado estava fora dessa visão tão dura que a população tem dos políticos profissionais. Mas de um tempo desse para cá, o Senado também foi inserido, de modo doloroso e violento, nessas querelas, nesses problemas que geram a todos nós tanto constrangimento e vergonha.

Nesta semana, Sr. Presidente Srªs e Srs. Senadores, fui ao meu Estado natal, voltei ao Rio de Janeiro, participei de várias solenidades, e não houve lugar onde eu não fosse interpelado, com palavras duras em muitas vezes, sobre a pouca vergonha, a pouca importância dos problemas que estão sendo discutidos. Enfim, toda essa paralisia em que nós nos metemos.

A crise não é do País. E isso está patente em todos esses lugares que eu passei e da forma como as pessoas me interpelaram. A crise é do Senado da República. É uma crise localizada. É uma crise de atritos internos, que está nos levando, Sr. Presidente, Srs. Senadores, a uma imagem muito ruim. É uma crise localizada do Senado e não da República. E nós temos obrigação de resolvê-la no mais curto espaço de tempo possível, sob pena de isso se transmitir em forma de paralisia à instituição, ao Congresso e, de repente, termos reflexo até na nossa economia.

Quem não conhece a pujança da economia brasileira e vê falar nessa crise toda que estamos vivendo internamente aqui - a cada hora tomamos um susto, a cada hora a credibilidade diminui - é capaz de pensar que o Brasil todo está nesse mesmo tom, nessa mesma sintonia, nesse mesmo problema. Não é verdade.

A crise é nossa, do Senado da República, e cabe a nós, Senadores, com os instrumentos que temos, encontrar a solução mais rápida possível.

Tenho andado louco de angústia, Sr. Presidente. Se alguém está se divertindo aqui, posso lhe garantir de que não é este Senador. Não vim aqui para isso. Eu vim aqui para trabalhar pelo meu Estado e pelo meu País.

Cuidei da minha vida particular. Quando achei que podia tirar tempo para oferecer ao meu País, eu o fiz. Enfrentei várias eleições e estou no segundo mandato, mas eu me constranjo em ver que, a cada dia, quando pensamos que vamos falar de problemas importantes, na verdade, abordamos querelas internas de menor importância. Quebraram regras, mas não é isso que resolverá os problemas do Brasil. Temos de voltar a nossa consciência, o nosso interesse, a nossa força de trabalho para os problemas deste País. Estou louco para voltar ao trabalho normal, ao trabalho que compete a esta Casa e ao Congresso. Estou louco para encontrar soluções que resolvam problemas que afligem o nosso tecido social, que são muitos: saúde, educação e segurança. São problemas internos e externos, endógenos e exógenos, Sr. Presidente, para os quais temos de encontrar alternativas, como as questões sobre Mercosul, Alca, exportação. Temos de exportar 10% ao ano e aumentar esse percentual cada vez mais. E esse patamar não é brincadeira! Quem exporta gera emprego, promove divisas! No entanto, percebo uma desconexão completa, um braço importante como a Petrobras desvinculada do resto do País, comprando de broker, que, por sua vez, compra do País e que, ao contrário de nós, faz contrapartida. Já citei, nesta casa, três vezes este exemplo: compramos da Argélia US$1 bilhão de petróleo, e vendemos US$40 milhões, por quê? Porque, na verdade, não estamos importando da Argélia, mas do intermediário que compra do referido País ao qual vende o produto e ganha suas comissões. Será que isso é certo? Será que um braço importante como a indústria do petróleo pode ser desvinculado do resto do País e não ter coordenação? Quer dizer, esse braço cresce, e o corpo continua do mesmo tamanho ou até diminui e nós não estamos cuidando disso. Nós não estamos olhando o nosso balanço de pagamento frente a frente a cada País, estamos descuidando do comércio externo, estamos descuidando das nossas estradas que é só buraco de mundo afora, estamos descuidando da saúde de muitas áreas do País, da eletrificação, nós não cuidamos da nossa matriz energética e da reforma tributária, enfim, nós só falamos aqui em briga, em fuxico em coisas miúdas, e eu estou cansado, Sr. Presidente, eu estou cansado do caminho que estamos palmilhando. Eu queria estar discutindo os problemas do nosso País, eu queria estar me sentindo útil. Eu que sempre fui empresário e acostumado a terminar o dia e fazer o balanço me perguntando: o que eu produzi hoje? Eu sento aqui, fico olhando, e quando termina o dia, eu me pergunto novamente: o que é que eu produzi? Nada. Ouvi fuxico o tempo todo, bate-boca, personalidades vaidosas discutindo e tentando cada uma ocupar mais espaço e derrotar o outro, mas não vejo esta Casa fazendo o trabalho que deveria estar fazendo.

Às vezes, eu penso até que estamos em Bizâncio, onde problemas menores chegavam a provocar centenas de milhares de mortes. Lembro até de um caso em que Bizâncio transformou-se em uma cidade católica e começaram a discutir a virgindade de Nossa Senhora. Era natural, era virgem e teve o Messias, mas um grupo dizia: Não, mas ela continua virgem mesmo depois de ter o Messias. E essa coisa foi crescendo e crescendo e virou uma guerra. Morreram centenas de milhares de pessoas nessa discussão, se a virgindade era anterior e posterior, era posterior e anterior, e nós estamos aqui assim. Estou vendo num crescendo.

Hoje vi pela primeira vez nesta Casa as pessoas tocarem no assunto de outras quebras de sigilo, quando, em uma ou outra eleição, vários Senadores passavam e mostravam a sua cédula para a televisão, porque era um pacto entre os oito Senadores que assim o fizeram. Pergunto: é quebra anterior, é quebra posterior, é a mesma coisa, porque deixaram de cumprir o princípio constitucional, ou isso não tem importância para nós? Claro que tem importância, mas vale para paralisar um Senado?

Eu não estou feliz e ocupo esta tribuna exatamente para dizer que é a hora de quem errou ser punido, mas rapidamente. Saindo daqui, vou para o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, de que faço parte. Espero que, nas três reuniões desta semana, possamos aclarar tudo e tomar as decisões para voltar ao trabalho. Estou cansado dessa lengalenga. Então, faço esse desabafo. Eu queria poder estar aqui discutindo transposição do rio São Francisco, que vai resolver problemas para doze milhões de conterrâneos meus. Eu queria estar aqui falando dos modelos da Sudam e da Sudene, de qual é o nosso projeto industrial, de qual é a nossa matriz energética. Eu queria estar discutindo, nesta Casa, assuntos sobre os quais, quando eu terminasse de falar, eu dissesse que avançamos na busca de soluções. E o que vejo? A imprensa célere, apressada e interessada em aumentar o fuxico, porque isso vende jornal; nós, cada vez mais, sendo empurrados para tomar partido de “A” ou de “B”. Não é isso que se espera do Senado da República, não é isso que se espera da tradição que temos.

Ao encerrar esse meu desabafo, eu queria dizer que não podemos continuar gastando tempo e energia da forma como estamos fazendo. Há outras pessoas infelizes nesta Casa, há outras pessoas que não estão satisfeitas, eu penso que a grande maioria não está satisfeita. Mas estamos sendo levados por uma minoria que quer a ferro e a fogo transformar essas pequenas querelas em guerras pessoais que estão aviltando o nosso Senado da República.

Eu queria lembrar aos Senadores que com essa imagem que estamos tendo será difícil a recondução de muita gente. Dois terços deste Senado, em menos de dois anos - em um ano e poucos meses - estará nos palanques discutindo a sua reeleição. Quero saber como vão voltar! O que vão dizer aos seus eleitores? Não é o meu caso, tenho seis anos ainda. Mas eu, que tenho seis anos já estou preocupado, imagine então a preocupação para quem tem menos de dois anos. É hora de encontrarmos a solução para esses problemas internos que são pequenos frente aos problemas da República, e é hora de começarmos a trabalhar de verdade nos assuntos que competem a um Senado da República brasileira. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/04/2001 - Página 7124