Discurso durante a 76ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA AO HISTORIADOR CAIO PRADO JUNIOR.

Autor
Luiz Otavio (S/PARTIDO - Sem Partido/PA)
Nome completo: Luiz Otavio Oliveira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA AO HISTORIADOR CAIO PRADO JUNIOR.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2001 - Página 13796
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CAIO PRADO JUNIOR, HISTORIADOR, INTELECTUAL, POLITICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. LUIZ OTÁVIO (Sem Partido - PA) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, "Caio Prado Júnior (1907-1990) foi muito mais do que um historiador. Pensador, ensaísta, editor e político, rompeu com o oficialismo que imperava na historiografia brasileira e destacou o papel das massas nos rumos da história, resgatando acontecimentos esquecidos como a Balaiada e a Praieira. Fundou também a Editora Brasiliense e a gráfica Urupês, editando, de 1955 a 1964, a Revista Brasiliense, que marcou uma geração de intelectuais nacionais. De sua vasta obra, destacam-se o inovador Evolução política do Brasil (1933); Formação do Brasil contemporâneo (1942), um ensaio clássico sobre a história brasileira; e A revolução brasileira (1966), que discute uma questão de grande repercussão no Brasil contemporâneo: a reforma agrária."

Este verbete sobre Caio Prado Júnior, colhido numa página da Internet, fornece, de maneira breve, uma idéia do que representa o nosso homenageado para a historiografia brasileira. Mais do que para a historiografia, para a História do Brasil ela mesma. Pois não é apenas o intelectual que exercita sua inteligência ao escrever. É, sobretudo, o homem de convicções fortes, o homem de esquerda, na mais pura acepção do termo, que escreve e interpreta seu tempo e projeta-se no futuro que vislumbra e que pretende ajudar a delinear para seu País.

Nascido na mais alta burguesia paulistana, educado em sua infância por preceptores e não em escolas, como soía acontecer nas grandes famílias do início do século, Caio Prado fará das benesses que seu berço lhe proporcionou o trampolim para se lançar nas lutas por um desenvolvimento social mais justo dentro de uma nova sociedade brasileira.

Intelectual refinado, tendo vivido fora do Brasil, Caio Prado soube muito bem tirar de sua vasta cultura e de suas contínuas viagens pelo interior de nosso País a sabedoria dos que, com espírito crítico, buscam soluções para o progresso da sociedade em que estão inseridos.

Nem o dogmatismo que imperava na esquerda de seu tempo foi capaz de aprisioná-lo numa visão maniqueísta do mundo. Nem a burguesia da qual saíra o moldou conformista ou oportunista.

Autor renomado, no nível de nossos maiores intérpretes da brasilidade, ele foi também alguém que propugnou por difundir o pensamento contemporâneo. Criou a Livraria, posteriormente, Editora Brasiliense. Fundou a Revista Brasiliense, editada por sua gráfica Urupês, na qual se ventilavam as idéias que iriam ajudar o Brasil a debater seus destinos e a transformar-se.

Décadas atrás, Caio Prado já apontava a reforma agrária como ponto crucial para a solução das questões do desenvolvimento brasileiro e a consecução da justiça social pretendida no País. Hoje, contudo, alguns críticos de sua obra vêem nela uma avaliação simplista da questão agrária e de sua importância num Brasil que se industrializava. Entretanto, ninguém pode lhe negar a visão profética da primazia que a luta agrária teria no País, mantida até nossos conturbados dias atuais.

Mas Caio Prado não ficou restrito ao engajamento no plano das idéias. Lutou com as armas dos que escolhem a ação concreta, para além dos debates teóricos. Filiou-se ao Partido Comunista e, fiel ao seu ideário, nele lutaria como parlamentar e ativista. Homem de idéias, foi também um homem de ação.

Cassado junto com o PCB, não desistiria de suas opções políticas até sua morte, cercado da reverência que se deve aos grandes lutadores das causas nobres. Não se abateu com as perseguições que sofreu. Ao contrário, reafirmou pela coerência e firmeza os princípios que nortearam sua vida.

Tudo em Caio Prado Júnior o destaca dentre os de seu tempo. Mais ainda, o coloca no panteão dos que escreveram com vigor, dinamismo, inteligência e discernimento uma parte significativa da História do Brasil.

Num Brasil tão pobre de respeito por seus vultos ilustres, homenagear Caio Prado é resgatar um pouco o que de melhor a alma brasileira já produziu. E, nesses tempos nebulosos em que vivemos, é, também, resgatar um pouco nosso orgulho de sermos brasileiros.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2001 - Página 13796