Discurso durante a 133ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem póstuma ao ex-Senador Roberto Campos.

Autor
Jonas Pinheiro (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Jonas Pinheiro da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem póstuma ao ex-Senador Roberto Campos.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2001 - Página 24625
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ROBERTO CAMPOS, INTELECTUAL, EX SENADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), EX-DEPUTADO, EX MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), MINISTERIO EXTRAORDINARIO PARA O PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO ECONOMICA (MEPLAN), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, DEFESA, BRASIL.

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            O SR. JONAS PINHEIRO (PFL - MT. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inscrevi-me ontem para fazer um pronunciamento a respeito da morte do Senador Roberto Campos, o que não foi possível em função da lista de oradores. Quero fazê-lo hoje para fazer justiça a esse grande mato-grossense brasileiro.

            Roberto Campos, mato-grossense por destino, nasceu em Nossa Senhora do Livramento, no Estado de Mato Grosso; portanto, tenho o prazer e a honra e ser seu conterrâneo. Nasceu em 1917, no dia 17 de abril. Morre agora, vítima de um enfarte, aos 84 anos de idade, depois de viver uma vida profícua e sábia. Exerceu vários cargos públicos, escreveu sobre tudo o que a sua inteligência e a sua enorme erudição lhe permitiram. Muito menino ainda, foi seminarista em Guaxupé, no sul de Minas, de onde saiu pouco antes de ordenar-se padre. Essa passagem de dez anos pelo seminário moldou-lhe o caráter, tornando-o extremamente disciplinado, com uma lógica de pensamento invejável.

            Decidido a não ser sacerdote, presta concurso para o Itamaraty, em 1939, então com 22 de idade; aprovado, é designado para servir na Embaixada do Brasil em Washington. Começa aí a sua vida pública.

            Em 1944, integra, nos Estados Unidos, a Conferência de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Em 1951, como assessor econômico de Getúlio Vargas, participou da elaboração do anteprojeto que criou a Petrobras e o BNDES, onde exerceu cargo de Diretor Econômico e, depois, de Presidente. Demitiu-se do Banco e voltou ao Itamaraty, na condição de Ministro de Primeira Classe, cargo de carreira do Ministério das Relações Exteriores. Em 1961, juntamente com o Embaixador Válter Moreira Sales, foi designado pelo Governo para negociar a dívida brasileira com os Estados Unidos e a Europa. Em seguida, foi nomeado Embaixador nos Estados Unidos e foi para Washington, onde ficou até 1963, quando se demitiu, por discordar da política de nacionalização do Presidente João Goulart. Em 1964, assume o Ministério do Planejamento do Governo Castello Branco. Participou do Governo durante toda aquela década e, já em 1972, foi nomeado Embaixador em Londres, cargo que exerceu de janeiro de 1975 a 1981.

            Em 1982, já de volta ao Brasil, candidata-se a Senador por Mato Grosso, seu Estado natal, pelo Partido Democrático Social - PDS.

            Abro um parêntese neste ponto, para dizer que a minha vida política também começou aí. Naquele tempo, como os Senadores se lembram, o voto era vinculado, e o Embaixador Roberto Campos, voltando ao Brasil, sem ter muita penetração ou ação na área rural do Estado de Mato Grosso, fez uma parceria comigo, escolhido que fui candidato a Deputado Federal, ajudando, assim, a elegê-lo Senador da República. A eleição de 1982 levou-me para a Câmara dos Deputados e trouxe Roberto Campos para o Senado Federal. Em conseqüência disso, também se elegeu Júlio Campos Governador do Estado de Mato Grosso.

            Em 1990, Roberto Campos candidata-se a Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, Estado muito amado por ele, onde viveu a maior parte de sua profícua vida. Venceu as eleições e foi reeleito em 1994, mas já por outro Partido - o PPR.

            Em 1999, colhe, mais uma vez, os louros da vitória: é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada pelo dramaturgo Dias Gomes. Toma posse naquele mesmo ano e torna-se um imortal.

            Porém, Roberto Campos já nasceu para ser um imortal. Inteligente, estudioso, curioso, investigador, irônico e mordaz, Roberto Campos acreditava nas posições políticas que adotava, mesmo que várias vezes fosse mal interpretado e criticado por muitos brasileiros, os quais, da mesma forma, ele combatia e censurava com seu humor preciso e ferino.

            Deixou uma obra fecunda, tanto em trabalhos prestados quanto em livros que escreveu, nos quais dá lições de economia com todos os seus meandros e implicações; com todas as suas facetas e aplicações. Foi um professor. Trabalhou pelo Brasil seriamente; defendeu suas crenças e seus pontos de vista com firmeza e destemor, e permaneceu incólume mesmo diante das pedras que lhe quiseram atirar.

            Foi um brasileiro notável. Ao seu trabalho, à sua obra, à sua vida esta Casa deve prestar suas homenagens.

            Na hora de sua morte, devemos inclinar nossa fronte diante de sua grandeza de cidadão, e, num preito de reconhecimento e já de saudade, apresentar a Deus as nossas preces em sufrágio da alma desse grande brasileiro.

            Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a exemplo da iniciativa de ontem do Senador Waldeck Ornelas, além do registro que já foi feito nesta Casa, solicito que as condolências sejam encaminhadas aos seus familiares, à população do Município de Nossa Senhora do Livramento, no Estado do Mato Grosso, sua terra natal, e às Casas Legislativas dos Estados do Rio de Janeiro e do Mato Grosso.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo17/18/246:23



Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2001 - Página 24625