Discurso durante a 139ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Votos de louvor à Rede Globo de Televisão pelo retorno do programa infantil Sítio do Pica-Pau Amarelo. Elogios às reportagens da Rede Globo sobre a fome, reapresentadas no programa fome zero, do PT. Comentários ao pronunciamento do Sr. Ciro Gomes, durante palestra em Fortaleza/CE, que fez referências ao voto de S.Exa., no ex-Senador Jader Barbalho, para ocupar a presidência do Senado Federal.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. CONGRESSO NACIONAL.:
  • Votos de louvor à Rede Globo de Televisão pelo retorno do programa infantil Sítio do Pica-Pau Amarelo. Elogios às reportagens da Rede Globo sobre a fome, reapresentadas no programa fome zero, do PT. Comentários ao pronunciamento do Sr. Ciro Gomes, durante palestra em Fortaleza/CE, que fez referências ao voto de S.Exa., no ex-Senador Jader Barbalho, para ocupar a presidência do Senado Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 23/10/2001 - Página 25748
Assunto
Outros > HOMENAGEM. CONGRESSO NACIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), RECRIAÇÃO, ADAPTAÇÃO, LITERATURA INFANTIL, EDUCAÇÃO, LAZER, CRIANÇA, CONGRATULAÇÕES, LANÇAMENTO, PROGRAMA, COMBATE, FOME, UNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, CIRO GOMES, POLITICO, VOTAÇÃO, ORADOR, JADER BARBALHO, EX PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, ESCLARECIMENTOS, NECESSIDADE, APROVAÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CRITICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APOIO, CANDIDATURA, EX SENADOR, POSTERIORIDADE, UNIÃO, ARMINIO FRAGA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), ACUSAÇÃO, IRREGULARIDADE, CASSAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, penso que isto seja inédito. Eu gostaria até que a televisão focasse uma fila tão importante, em uma segunda-feira, para proceder à inscrição dos que desejam falar. É que no Senado é assim: para que se possa falar, é preciso que a inscrição seja feita com 48 horas de antecedência. Então, os nossos queridos Senadores ali formam uma fila, pois pretendem assinar a inscrição para falarem na sessão de quarta-feira.

            É importante salientar que estamos vivendo um momento tão importante que, em uma segunda-feira, há tantos Parlamentares presentes e dispostos a participar dos debates.

            Eu trago dois assuntos a esta Casa, Sr. Presidente. O primeiro é um voto de louvor à Rede Globo, porque hoje o Sítio do Pica-Pau-Amarelo reapareceu. Eu acho que hoje é um marco muito importante na televisão brasileira. É um dia muito importante para todos aqueles que vêem a televisão como a grande responsável pela formação e conscientização da sociedade brasileira, de modo especial as crianças.

            Participamos de várias reuniões na Comissão de Educação e na Comissão Especial que foi criada para estudar a questão da televisão, exatamente sobre a programação infantil. Uma das mágoas que tínhamos era o desaparecimento do Programa Sítio do Pica-Pau Amarelo, que à época movimentava toda a mocidade que ficava de olhos arregalados para a televisão, a esperar o programa.

            O seu produtor, que veio depor perante nós, deu as causas pelas quais a Globo havia retirado esse programa do ar. É que a emissora detinha audiência total naquele horário. Mas a sua concorrente - se não me engano, o Sílvio Santos - colocou no ar um programa de desenhos animados apresentado por uma loira muito bonita, o qual não gastava um centavo, não saía por absolutamente nada e passou a competir com a programação da Rede Globo, roubando-lhe a audiência; passou a ter mais audiência que a Rede Globo.

            O Programa Sítio do Pica-Pau-Amarelo, segundo nos informava o Avancini, à época, era muito caro, tanto quanto um capítulo de novela da Globo, porque era produzido com efeitos especiais, crianças, uma parte em desenho animado etc. Por isso, retiraram-no, trouxeram a Xuxa, que era mais bonita que a loira da outra emissora, e passou a transmitir desenhos que eram melhores e de maior aceitação que os da concorrente, e desapareceu o Sítio do Pica-Pau Amarelo.

            Houve vasto debate e grande pressão por parte de toda a sociedade, e, atualmente, a Rede Globo dá uma demonstração de apreço e preocupação com o pensamento social, reinaugurando um programa destinado à mocidade infantil, que volta a conferir à Globo um padrão especial.

            Antes, na minha opinião, o grande programa infantil era o Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura, programa espetacular e de altíssimo gabarito! A partir de agora, passamos a ter dois programas dessa envergadura.

            Eu e meu filhinho, o Pedrinho, tivemos a felicidade de assistir ao primeiro capítulo do programa, que lhe despertou interesse. Ele estava muito ligado aos desenhos oriundos do Japão. De fato, ficou o tempo todo assistindo ao programa e aprendeu, já no primeiro capítulo, algumas coisas realmente importantes e significativas.

            Que bom que a Rede Globo tenha feito isso! Aliás, falando em Rede Globo, fui convidado, juntamente com várias pessoas, a assistir ao lançamento do programa Fome Zero, do PT. Lá compareceram Parlamentares de todos os Partidos, entidades representativas de classe, empresários, igreja e outros. Muitos me perguntaram por que fui ao evento. Compareci porque julguei ser o programa interessante e feito para a sociedade brasileira. Tive a oportunidade de rever a série dos três programas que a Rede Globo fez sobre a fome no Brasil. Não me lembrava mais. Realmente, foi algo espetacular, completo: a viagem, os trabalhos e os esforços que eram feitos pelo Brasil, indo aos lugares mais humildes, de maior miséria, de maior fome; indo aos lugares onde algo já está sendo feito, mas demonstrando, deixando a nu o programa, fazendo com que ele atingisse a sua preocupação nacional.

            Reparem que é o próprio PT - um Partido que, em tese, não deve ter muitas afinidades com a Rede Globo - que reconheceu e lá disse publicamente que ele não faria um programa tão bem, tão completo, tão imparcial e tão real como aquele que foi feito pela Rede Globo. Por isso, eles tinham pedido licença à Globo para utilizar os filmes e ela os havia liberado. Meus cumprimentos.

            O terceiro assunto é que estive em Pernambuco, onde fiz uma palestra na Câmara Brasileira de Construção Civil, que tem como Presidente esse extraordinário brasileiro que é o Deputado Luiz Roberto Pontes. Depois que eu falei, também proferiu uma palestra o ilustre brasileiro e ex-Ministro Ciro Gomes. Não a acompanhei, mas sei que a imprensa debateu e discutiu que o Sr. Ciro Gomes teria se referido de uma maneira grotesca à classe política. Isso fez com que houvesse uma resposta do Deputado Pontes, quando falou que havia sido Deputado e tinha um conceito muito alto dos Deputados, e que na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, como na vida pública e particular, nós temos os altos e baixos, os bons e os ruins. Até aí, nada de mais. Se foi uma tocada infeliz do Dr. Ciro Gomes, é algo que se entende. Penso que ele pediu desculpas e disse-que-disse e que não disse. Quanto a isso, não há problema.

            Entretanto, ele fez uma referência, de modo especial, ao Pedro Simon, dizendo que Pedro Simon votou no Senador Jader Barbalho para Presidente do Senado. Faço questão de esclarecer este assunto, porque penso que é muito importante esclarecermos, neste momento, toda essa situação.

            O PMDB não tinha candidato à Presidência do Senado. Falavam na candidatura do Senador Jader Barbalho, que era o menos provável candidato, porque já era o Presidente do PMDB e o Líder da Bancada, tendo já duas posições. O PMDB tem vários nomes, grandes lideranças. Por exemplo, está aqui o Senador Iris Rezende, de grande prestígio; está lá o Senador José Sarney. Tínhamos vários nomes e o menos indicado era o Senador Jader Barbalho, por já ser Presidente do Partido e Líder da Bancada. Aí, o Senador Antonio Carlos Magalhães vem e veta o nome do Senador Jader Barbalho, dizendo: “Esse não pode ser”, e indica o nosso candidato, dizendo: “Tem de ser o Senador José Sarney”. Agora, é muito fácil olharmos e até ironizarmos, mas o Senador Antonio Carlos Magalhães tomou essa posição numa época em que era quase um vice-rei do Brasil. O Senador Antonio Carlos Magalhães era dono do Senado, dono do Congresso Nacional. O Presidente da República tremia diante das palavras dele. O Senador Antonio Carlos Magalhães era realmente a pessoa que estava colocando em confronto o Presidente da República.

            A Bancada do PMDB estava diante dessa situação de aceitar ou não o veto do Senador Antonio Carlos Magalhães. Na reunião da Bancada, o Senador Jader Barbalho fez um longo pronunciamento, quando entregou duas cartas de dois Presidentes diferentes - se não me engano, Mailson da Nóbrega e o atual Presidente do BNDES -, em que o inocentavam de absolutamente tudo.

            Na hora de votar, a análise que vários companheiros nossos faziam era a seguinte: “Vamos dar-lhe um voto de confiança, para não aceitar o veto do Antônio Carlos Magalhães. Mas o nome dele não seria aceito porque o PSDB já tinha dito que não votaria nele. Se o PSDB não votaria nele, problema do PSDB. O PMDB se sairia bem porque não aceitaria o veto e veríamos depois o que fazer. Foi isso que aconteceu.

            Surpreendentemente o PSDB recebeu voz de comando do Palácio. O Palácio mandou votar no Jader Barbalho. Fez um acordo com o PSDB na Câmara dos Deputados. Foi determinação do Palácio. E os Parlamentares que já haviam se manifestado contra a candidatura do Sr. Jader Barbalho abriram o voto e disseram com todas as letras que o Palácio tinha determinado; que era um acordo feito com o Palácio. E ganhou o Sr. Jader Barbalho a Presidência do Senado.

            Interessante que ganhou o Sr. Jader Barbalho a Presidência do Senado, mas o Presidente Fernando Henrique Cardoso foi além. O que mais ele fez? Orientou a Bancada do PSDB e a Bancada do PFL para, na Comissão de Ética, votarem pela cassação do Antônio Carlos Magalhães. Foi surpreendente: só sobraram os dois Parlamentares da Bahia, porque os outros três do PFL que estavam na Comissão e todo o PSDB votaram pela cassação do Antônio Carlos Magalhães. E as tentativas de prorrogar, de transferir, etc, eram cortadas porque as informações eram de que eram ordens do Palácio: ”Deve ser votado hoje”!

            E votaram a cassação do Antônio Carlos Magalhães.

            Jader Barbalho ficou como herói: eleito Presidente do Senado e foi cassado o mandato do seu inimigo. Surgiu, então, um terceiro parecer do Presidente do Banco Central, depois de passado não sei quanto tempo.

            O interessante, fato que eu nunca tinha visto, foi o Banco Central, um banco normalmente omisso, que não se mete em muitos assuntos, não cobra, não faz o que deve - no caso dos escândalos do Banco Nacional e do Banco Econômico, quando não fez absolutamente nada -, apresentar um relatório duro e enérgico em relação ao Sr. Jader Barbalho. O Presidente bateu boca com o Sr. Jader pelo jornal fazendo cobranças.

            Foi o fato novo.

            Houve, então, a decisão da Comissão e a renúncia do Sr. Jader Barbalho. Foi um ato maquiavélico do Presidente Fernando Henrique; por amor de Deus, foi. Ninguém imaginava que o Presidente do Banco Central, de repente, sem mais nem menos, fosse distribuir à imprensa novo relatório a respeito do assunto, pois não o tinha feito durante todo o debate. Na hora oportuna houve essa jogada metódica.

            Talvez não haja outra jogada tão maquiavélica - não digo diabólica - do Senhor Fernando Henrique. O Sr. Jader Barbalho parecia o tal; foi eleito Presidente do Senado Federal. O Sr. Antonio Carlos Magalhães parecia estar sendo de alguma forma compensado, mas foi cassado com os votos do PFL e do PSDB na Comissão. Renunciou para não ser cassado pelo Plenário.

            No dia seguinte, quando o Sr. Jader parecia o herói vencedor, divulgaram relatório do Banco Central, que levou à conclusão que conhecemos.

            Era importante esclarecer e analisar o assunto numa hora como esta, pois foi um dos pontos tocados pelo Sr. Ciro Gomes de uma maneira que desconheço. Faço questão de respondê-lo, como passarei a responder daqui por diante a vários assuntos relacionados ao Ciro Gomes, figura pela qual tenho respeito e amizade especial - pelo menos, tinha - pois se trata de pessoa ilustre, importante e que merece respeito.

            Fica, portanto, esclarecida a situação da votação do Sr. Jader Barbalho, de como ela foi feita, das primícias que determinaram aquele acontecimento e das circunstâncias posteriores.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo15/8/247:09



Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/10/2001 - Página 25748