Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem às professoras Maria Auxiliadora de Oliveira e Isabel Cristina Ribeiro, laureadas com o prêmio Qualidade na Educação Infantil 2001, instituído pelo Ministério da Educação.

Autor
Carlos Bezerra (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MT)
Nome completo: Carlos Gomes Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Homenagem às professoras Maria Auxiliadora de Oliveira e Isabel Cristina Ribeiro, laureadas com o prêmio Qualidade na Educação Infantil 2001, instituído pelo Ministério da Educação.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2001 - Página 28494
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, MARIA AUXILIADORA DE OLIVEIRA, ISABEL CRISTINA RIBEIRO, PROFESSOR, ESCOLA PUBLICA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), RECEBIMENTO, PREMIO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), QUALIDADE, EDUCAÇÃO, CRIANÇA, REALIZAÇÃO, TRABALHO, CRIAÇÃO, LIVRO, BIOGRAFIA, ALUNO.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), AUMENTO, SALARIO, PROFESSOR, INCENTIVO, EDUCAÇÃO, CRITICA, ATUALIDADE, TENTATIVA, ALTERAÇÃO, HORA AULA, DESVALORIZAÇÃO, PROFISSÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB - MT) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há esperança em dias melhores para a educação brasileira! O registro que ora faço é a prova indesmentível de que, enquanto a educação puder contar com pessoas movidas pela paixão, que acreditam no que fazem e que estejam convencidas do insuperável valor social de seu trabalho, haverá espaço para o contínuo aprimoramento da ação pedagógica.

            Faço uso dessas palavras para cumprimentar minhas coestaduanas, as jovens professoras Maria Auxiliadora de Oliveira e Isabel Cristina Ribeiro, laureadas com o prêmio Qualidade na Educação Infantil 2001, instituído pelo Ministério da Educação. O que essas brilhantes profissionais da educação fizeram é algo que nos enche de orgulho, a todos emociona e confere dignidade ao ofício que abraçaram. Ofício que, com maestria e profunda sensibilidade, exercem na Escola Municipal Marechal Rondon, em Cuiabá.

            Em que consistiu, afinal, o trabalho premiado? Escolhido entre as vinte e sete melhores experiências brasileiras na área da educação infantil, o projeto desenvolvido pelas professoras Maria Auxiliadora e Isabel Cristina - denominado “Estou Aqui” - é um primor de iniciativa, justamente por englobar, a um só tempo, tudo aquilo que de mais significativo envolve a ação pedagógica: respeito à individualidade e ao outro, estímulo à auto-estima e incentivo à socialização. Por tudo isso, vale a pena sintetizá-lo aqui.

            O ponto de partida do projeto das professoras foi a utilização do próprio tema gerador escolhido pela comunidade escolar - “Eu tenho valor” - para ser o eixo norteador de todas as atividades da Escola ao longo do ano 2000. A partir dele, elas mergulharam fundo na história de vida de seus pequenos alunos, meninos e meninas na faixa dos quatro aos seis anos de idade. Aí estava o cerne do belíssimo trabalho que iriam realizar.

            A primeira decisão foi partir para o conhecimento mais aprofundado das crianças com as quais trabalhariam. Com isso, no fundo, trabalhavam o objetivo mais significativo do projeto: levar as crianças a conhecerem mais e melhor sua própria história, ainda que tão curta. Questionários foram encaminhados às famílias dos pequenos estudantes, nos quais nada ficou de fora; perguntava-se desde a data de nascimento da criança até a razão da escolha do nome que lhe fora dado.

            Desnecessário dizer, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, do extraordinário grau de participação familiar - vale dizer, da comunidade escolar - na construção coletiva do trabalho. Reuniões periódicas aproximavam pais, avós, tios, primos e vizinhos, numa espécie de mutirão de sociabilidade, tendo por finalidade obter-se um perfil das quarenta e oito crianças envolvidas nas atividades.

            Reproduzo, aqui, editorial do Diário de Cuiabá, edição de 10 de outubro último, pela fidelidade com que retrata alguns aspectos definidores do vitorioso projeto. Diz o jornal: “No decorrer das aulas, as crianças contavam para os colegas as histórias de como seus pais haviam se conhecido, como foram seu nascimento, batizado e tudo o mais que lhes acontecera até ali. O resultado de todo esse trabalho foi a feitura, no final do ano, de um livro biográfico de cada criança. O livro ‘Estou Aqui’ é dividido em onze capítulos e conta as etapas de desenvolvimento dos alunos. Ilustrando as páginas, estão as fotos do álbum e desenhos feitos pelas próprias crianças. Interessante notar que o livro foi produzido com recursos da própria escola, sendo que cada criança recebeu seu exemplar”.

            Eis uma experiência que, para muito além de nosso aplauso, merece uma reflexão. Em primeiro lugar, o fato inquestionável de que boas soluções para a educação não requerem, necessariamente, muitos recursos. No caso que acabamos de focalizar, basta que haja boa vontade, sensibilidade e disposição para se chegar a resultados fabulosos.

            O projeto colocado em prática pelas professoras Maria Auxiliadora de Oliveira e Isabel Cristina Ribeiro, justamente premiado pelo Ministério da Educação, em sua aparente simplicidade, logrou atingir aquilo que todo e qualquer sistema educacional bem organizado tem por aspiração máxima: melhorar a auto-estima de seus alunos - mormente quando se trata de crianças não acostumadas com luxos e farturas materiais -, atiçar-lhes a curiosidade por aprender e fortalecer-lhes os laços familiares e comunitários.

            São atitudes dessa natureza, Sr. Presidente, assumidas por jovens professoras da rede pública, que nos permitem sonhar com melhores dias para a educação brasileira. Gestos como o dessas professoras cuiabanas é que nos fortalecem na esperança de que, malgrado toda sorte de dificuldades, às quais se pode adicionar a terrível insensibilidade de alguns governantes, profissionais verdadeiramente vocacionados para o magistério deixam-se guiar pela criatividade e pelo anseio de fazer melhor o trabalho a que se dedicam. Esse o grande mérito do projeto das professoras Maria Auxiliadora e Isabel Cristina: ele dá fôlego novo à esperança que carregamos conosco de ver o Brasil inteiro dotado de uma educação de qualidade, que a ninguém exclua.

            Sinto-me muito à vontade para fazer esse tipo de observação, até porque prezo por demais a coerência entre atos e palavras. Convencido de que a educação é a via indispensável ao exercício da cidadania, tive a oportunidade de, na condição de Governador de Mato Grosso, tomar atitudes das quais muito me orgulho. Lembro-me, a propósito, de que era voz geral, quando de minha posse, ser a educação um "problema" de difícil solução para qualquer governante: sorvedouro de recursos e núcleo de contestadores!

            Que fiz, então? Na escolha dos diretores das escolas, em vez da nomeação, implantação da eleição direta. Na administração das unidades escolares, a ação ditatorial e impositiva da Secretaria Estadual de Educação cedeu espaço para a atuação dos Conselhos Deliberativos Escolares, formados por pais, professores e alunos.

            Para pôr fim a salários achatados e atrasos, pagamos o maior piso salarial do Brasil. Nesse caso, reporto-me a trabalho recentemente divulgado pela subsede de Rondonópolis do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público -SINTEP, o qual menciona que, à época, um professor em início de carreira chegava a ganhar o equivalente a 11,5 salários mínimos mensais.

            Quando comparo decisões como essas com o que costumo ouvir, hoje, de certos governantes percebo a quilométrica distância que separa um governo comprometido com as grandes causas sociais daquele que sobrevive à custa de puro marketing. Quando vejo um trabalho como o das professoras Maria Auxiliadora de Oliveira e Isabel Cristina Ribeiro, que ultrapassa os muros da escola e se estende para muito além do espaço de tempo de um período de aula, confirma-se o acerto da decisão que tomei, como Governador, fixando a hora-atividade, garantindo que o docente passasse a dispor de 50% de sua carga horária de trabalho disponível para melhor preparar suas aulas e se qualificar.

            Além de termos lançado as bases da Universidade Estadual de Mato Grosso - a Unemat, construímos perto de mil salas de aula em todo o Estado, sem falar na extensão do Ensino Médio - o Segundo Grau, como se dizia naquele tempo - para mais de quatro dezenas de municípios. Tudo isso tendo por pano de fundo a mais cristalina convicção de que não há como pensar em educação de qualidade sem que se garantam as condições indispensáveis ao trabalho dos profissionais da área.

            Tenho, pois, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, todas as credenciais para me insurgir contra propostas orçamentárias visivelmente defasadas em relação às necessidades de nosso sistema educacional. Aliás, que estranho País é este em que banqueiro pode lucrar 232 mil reais por hora, entre janeiro e setembro de 2001, conforme anunciam os jornais de 30 de outubro, e a educação continua a lutar por minguados recursos?

            Bem mais do que apoio retórico, a educação carece do suporte financeiro à altura de sua importância. Não é crível que alguém dotado de mediana capacidade de pensamento imagine ser possível consolidar-se a democracia e promover-se o desenvolvimento nacional sem que se priorizem recursos para a educação, sobretudo aquela referente ao nível de responsabilidade municipal.

            Tenho, sim, todo o respaldo moral para me insurgir contra a absurda pretensão de se alterar a hora-atividade, atingindo frontalmente a dignidade profissional dos professores mato-grossenses. Afinal, os motivos que presidiram sua instituição, em meu Governo, são os mesmos que continuam a existir e que existirão para sempre: o trabalho do professor não se resume à sala de aula!

            Encerro este pronunciamento, Sr. Presidente, reiterando meus efusivos cumprimentos às professoras Maria Auxiliadora de Oliveira e Isabel Cristina Ribeiro, bem como à comunidade da Escola Municipal Marechal Rondon. O belíssimo trabalho que realizaram, cuja importância o Ministério da Educação soube reconhecer, é exemplo a ser seguido e lição para todos nós.

            Por fim, transmito aos profissionais da educação em meu Estado a certeza de que estarei vigilante, na mesma trincheira de luta em que se encontram, comprometidos que somos com a grandeza de Mato Grosso, com uma educação de qualidade, pluralista e democrática, com a afirmação da mais plena cidadania. No Senado da República, como em qualquer ambiente, minha voz não se calará ante o desvario de quem pensa poder retroceder o tempo, apagar conquistas e tripudiar sobre o trabalho de quem consagra a vida à educação!

            Muito obrigado.


            Modelo17/27/245:24



Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2001 - Página 28494