Discurso durante a 156ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise da evolução política do PMDB. Defesa de candidatura própria do PMDB à sucessão presidencial.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Análise da evolução política do PMDB. Defesa de candidatura própria do PMDB à sucessão presidencial.
Aparteantes
Edison Lobão.
Publicação
Publicação no DSF de 17/11/2001 - Página 28693
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, DISCURSO, GILVAM BORGES, SENADOR, APOIO, CANDIDATURA, ROSEANA SARNEY, GOVERNADOR, ESTADO DO MARANHÃO (MA), PRESIDENCIA DA REPUBLICA, MOTIVO, INFLUENCIA, JOSE SARNEY.
  • CRITICA, JOSE SARNEY, SENADOR, DESRESPEITO, DECISÃO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, HISTORIA, POLITICO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMBATE, DITADURA, CENSURA, REALIZAÇÃO, ABERTURA, DEMOCRACIA.
  • ANALISE, ERRO, ANTERIORIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APOIO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ULYSSES GUIMARÃES, EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, ORESTES QUERCIA, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • DEFESA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DEFINIÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, RESPEITO, HISTORIA, POLITICA PARTIDARIA, CONFIANÇA, OPINIÃO PUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não estava na minha perspectiva fazer um pronunciamento na manhã de hoje. Vim ao Senado, claro, e a este plenário, embora achasse que não haveria quorum para abrir a sessão, devido ao feriado intenso.

            Tendo havido quorum, aqui estou e ouvi o pronunciamento de meu prezado amigo, ilustre Senador pelo Amapá. Sinto em S. Exª, com muito carinho, uma certa influência do seu colega de Bancada e de Estado, o Senador José Sarney. Muito logicamente, o Senador José Sarney já disse à Nação que o seu Partido é o de sua filha. Acho correto.

            É muito difícil imaginar que, fora o Brasil um país com partidos tradicionais, como os Estados Unidos, um Senador dissesse que o seu candidato seria o de outro partido. Duvido que um Senador do Partido Democrata, nos Estados Unidos, dissesse que seu candidato à Presidência da República seria o do Partido Republicano. Duvido que, em qualquer outro país com partidos consolidados, alguém fizesse uma afirmativa como essa. Mas, no Brasil, os Partidos são os existentes, e as candidaturas, as que aí estão. S. Exª, que tem uma filha brilhante, grande Governadora, inteligente, competente, candidata, logo disse: “Meu Partido é o de minha filha”. E está trabalhando por ela. Acho correto.

            Não sei se é a melhor forma de trabalhar na Bancada do PMDB. Penso que há nisso um pouco de exagero. S. Exª deveria respeitar as decisões da Bancada do PMDB e não fazer isso. Um colega seu, de Estado e Partido, já veio à tribuna propor, com muita elegância e capacidade, outra candidatura. O que o meu querido amigo não analisou é que há várias questões a serem postas neste momento. A candidatura do PMDB não é só uma questão de vaidade, pretensão ou exibicionismo, mas de sobrevivência. O PMDB, que vem de longas jornadas e se deu mal por incompetência, ainda não se apresentou, perante o público do seu País, com uma candidatura que correspondesse à expectativa do que é o Partido.

            Tenho dito e repetido várias vezes que só há um partido com biografia política registrada na história do Brasil: o PMDB. Lamentavelmente, os partidos políticos têm tão pouca influência nos fatos que acontecem, que, se olharmos a República, as leis trabalhistas, a criação da Petrobras, os fatos importantes da vida brasileira, verificaremos que, em nenhum momento, há outro partido político com qualquer significado. Isso só aconteceu na luta contra o regime militar, quando todas as forças políticas do Brasil que não estavam identificadas na Arena, apoiando o Governo, que não estavam na luta armada, nas guerrilhas, no voto em branco ou na defesa da renúncia coletiva, quando todos os que queriam derrubar a ditadura pela via democrática estavam no MDB.

            O MDB, em determinado momento, depois de 70, quando o voto em branco ganhou, ficou atrás, com meia dúzia de Senadores, porque, até então, o Partido era um conjunto amorfo, sem princípios, e cada um dizia o que queria.

            Foi feito, então, em Porto Alegre, o primeiro congresso de um partido político na História do Brasil, para debater a conjuntura nacional e os propósitos do MDB. Foi uma grande reunião, onde estavam presentes Ulysses, Tancredo. Todas as lideranças lá estavam. E chegou-se à conclusão de que o MDB, junto com o povo brasileiro, iria iniciar uma caminhada pela convocação da Assembléia Nacional Constituinte, pela anistia, pelas eleições diretas; contra a tortura; pelo término da censura à imprensa.

            Por essas cinco bandeiras, o MDB percorreu o Brasil inteiro, com a presença do Dr. Ulysses, de Teotônio e Tancredo. Eu, por exemplo, percorri todo o País. Todos unidos em uma só voz, à qual se juntaram a OAB, a CNBB, a ABI, os intelectuais e os artistas. Enfim, toda a sociedade se agrupou em torno do programa do MDB: acabar com o regime militar.

            Por isso é que digo que o PMDB tem história. E se notarmos os livros modernos, que fazem análise histórica dos últimos tempos no Brasil, verificaremos que havia um partido que apoiava o Governo, que era Arena, considerado, pelo Presidente da República, o maior do Ocidente; e um outro partido, que era o MDB, que lutou com dificuldades enormes, mas que conseguiu a democracia. Não só conseguimos a democracia como fomos além.

            Se houvessem passado as eleições diretas para Presidente da República, Ulysses Guimarães estava eleito Presidente. Mas vieram as eleições indiretas, e votamos a candidatura de Tancredo, que ganhou tranqüilamente no Colégio Eleitoral.

            E Tancredo dizia: vou para o Colégio para destrui-lo. Éramos contra as eleições indiretas permanentemente, mas, nessa ocasião, com a violência que houve na votação da emenda Dante de Oliveira, quando os militares cercaram o Congresso Nacional para não permitir que ela fosse aprovada - e não foi, se não me engano, por nove votos -, partimos para o Colégio Eleitoral. E se fez a aliança. Dissidentes do PDS, partido sucessor da Arena - Senador Jorge Bornhausen, Senador José Sarney, Senador Marco Maciel e outros ilustres companheiros -, ajudaram a consolidar a vitória de Tancredo.

            O Brasil estava preparado para que Tancredo fosse Presidente. Tancredo tinha um programa e uma proposta emocionantes para o Brasil. Mas adoeceu no dia da posse e não voltou. Assumiu Sarney, um homem que tinha sido o último Presidente do PDS, que renunciou à Presidência daquele Partido para se juntar a nós. A História mostra hoje, inclusive, as circunstâncias que determinaram a sua posse.

            Naquela ocasião, defendíamos a posse do Dr. Ulysses, que era o Presidente da Câmara e, como tal, era o sucessor direto. E por que não Sarney? Porque Sarney era o Vice de Tancredo, sucedia Tancredo na Presidência. Mas Tancredo não tinha tomado posse! Se Tancredo não tinha tomado posse, como o Vice assumiria no seu lugar? Defendíamos a posse de Ulysses Guimarães, que, na Presidência da República, convocaria uma nova eleição. Essa nova eleição elegeria o novo Presidente.

            Eu estava no Hospital de Base, em um quarto ao lado do quarto em que estava o Dr. Tancredo, cheio de pessoas, e vi quando foram chegaram um e mais um e mais outro. Vi quando chegou, ao lado de Sarney, o General Leônidas, com a Constituição na mão, dizendo que quem deveria tomar posse era o Sarney.

            Lembro-me de quando o Dr. Ulysses concordou e todos, meio quietos, não disseram nada. Perguntei, então, ao Dr. Ulysses: “O senhor vai concordar?” Ao que ele respondeu: “Meu filho, você não está vendo o argumento que ele traz?” Perguntei então: “Qual é o argumento?” E Ulysses respondeu: “É o Ministro do Exército. Ele está com o Ministro do Exército do lado, já garantido”.

            Realmente, pouco tempo depois, a TV Globo já apresentava pronunciamentos de ilustres juristas dizendo que o Sr. Sarney é que tomaria posse.

            Creio que Sarney é um homem respeitável e fez o máximo na Presidência da República, mas, na verdade, o Dr. Sarney não era o Tancredo. O povo tinha votado em Tancredo, mas quem governou foi Sarney.

            As relações de Sarney com o PMDB nunca foram muito amistosas. O PMDB tinha um pé no Governo e um pé na Oposição, o que foi um erro histórico. Ministros como Iris Rezende, então Ministro da Agricultura, e Jader Barbalho, então Ministro da Previdência ou da Reforma Agrária - não sei, pois ele esteve nos dois Ministérios -, não admitiram deixar o Governo, embora o PMDB defendesse a sua saída. Isso, somado ao fato de o Governo Sarney ter tido uma inflação de 80% ao mês - querendo ou não o povo cobrava a responsabilidade do PMDB nessa inflação -, gerou um profundo desgaste. O PMDB fez a campanha do Plano Cruzado, ganhou e colheu as vantagens. Quando veio a inflação galopante, quis cair fora, alegando que nada tinha a ver com o fato, mas o povo afirmava que sim e cobrava a responsabilidade do Partido.

            Lembro-me daquela célebre reunião que fizemos aqui, na Fundação, com todos os Governadores - eu era Governador do Rio Grande do Sul -, Deputados Federais, Deputados Estaduais, Senadores e lideranças, para debater quem seria o candidato do PMDB. O Dr. Ulysses, um dos maiores homens públicos da história deste País, que teve uma atuação fantástica, como Moisés, conduzindo o povo brasileiro rumo à terra prometida, achava-se o candidato natural - e era. Mas por diversas circunstâncias, o Dr. Ulysses, Presidente do PMDB, sofria uma série de desgastes - até por ser Presidente do PMDB. Ao lado disso, ele tinha tido uma doença - depressão - e a imprensa foi cruel e injusta com ele. Por duas vezes o Dr. Ulysses saiu-se bem da crise de depressão e estava na plenitude de suas faculdades mentais, mas a imprensa dizia que ele dependia de lítio e coisas que o valham, e batia no Dr. Ulysses.

            Os Governadores, então, reuniram-se e discutiram o lançamento de uma candidatura que não a do Dr. Ulysses. E não podia ser um candidato contra ele, mas sim um que se somasse ao Dr. Ulysses, para ganhar. Àquela época se falava no Quércia, que era apoiado pela TV Globo. O Quércia não havia tido o desgaste que sofreu com denúncias feitas a ele depois de ter saído do governo. Ele estava fazendo um excepcional governo e contava com grande prestígio. Falava-se na candidatura do Álvaro Dias. Diziam que tinha de ser um jovem bem apessoado. E Álvaro Dias era um jovem bem apessoado e estava fazendo um bom governo no Paraná. Mas houve confusão e foi aprovada a candidatura de Ulysses. Ela não colou! Eu, na época Governador do Rio Grande do Sul, andei com o Dr. Ulysses por todo o Estado e fui com ele a algumas capitais. Mas, na verdade, a sua candidatura não colou! O Quércia teria ganhado aquelas eleições. O Álvaro Dias teria ganhado aquelas eleições. Erramos!

            Veio o Governo Collor e o impeachment. Eu, Senador da República, coordenei aquela CPI em meu gabinete. Todos eram contra, inclusive o Dr. Ulysses. Temerosos, vieram me procurar para dizer: “Mas logo você, do Rio Grande do Sul, falar em impeachment? Não se lembra de que foi assim que começou a deposição e, depois, ocorreu o suicídio de Getúlio? Não se lembra de que foi assim que começou a deposição de Jango? Sabe-se como começa uma CPI, mas não se sabe como termina!” Levamos a CPI adiante. Cassado Collor, Itamar assume.

            Não aceitei ser Ministro do Governo Itamar por uma razão muito simples: eu tinha marcado, na minha consciência, que todos os que participaram do impeachment de Getúlio entraram no Governo de Café Filho; assim como todos os que participaram do impeachment de Jango entraram no Governo de Castelo Branco. Eu disse: “Eu não vou fazer isso!” E não fiz! Não aceitei!

            Mas Itamar, desde o início, queria governar com a presença do PMDB. Queria ter ministros do PMDB. Queria a ação do PMDB. O Quércia não queria.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concederei, com o maior prazer, o aparte a V. Exª, após concluir este raciocínio.

            O Quércia não queria, porque, já na Presidência do Partido, ele era candidato à Presidência da República e não apostava muito no Governo Itamar. Ele achava que ia ser um desgaste desnecessário para o PMDB e que o melhor que o Partido tinha a fazer era ir para a Oposição. O Partido não aceitou a proposta de Quércia e foi para o Governo.

            Ao final do Governo Itamar, não era para ser o Sr. Fernando Henrique Cardoso o candidato. Nem o PSDB pensava na candidatura de Fernando Henrique. Tínhamos candidato. Eu próprio fui indicado e não aceitei. Houve um momento em que eu, Fernando Henrique e Itamar Franco achávamos que Antônio Britto podia ser o candidato. Ele não aceitou, não quis enfrentar Quércia na convenção. Que sério equívoco ele cometeu, porque ganharíamos a convenção. Quércia foi candidato porque não houve nenhum outro candidato contra ele. Quércia, que, cinco anos antes, teria sido eleito Presidente da República se fosse candidato, estava sofrendo desgaste porque era o momento do auge das denúncias.

            Confesso que vim a esta tribuna discursar, debater, criticar duramente o Presidente do Partido, o Quércia, mas hoje me pergunto: lá se vão tantos anos e nada foi adiante? Não houve denúncia de um promotor, não houve um ato com relação a tudo o que ele fez?

            Vejo o Lula declarando que o seu maior sonho é que o PT receba o apoio do Quércia, em São Paulo. Também vejo o Fernando Henrique convidar o Quércia para almoçar, para jantar, e apresentar propostas mirabolantes, para conseguir um entendimento com ele. Percebo, então, que eu não estava muito certo naquela oportunidade. Mas o Quércia sofreu um desgaste tão intenso, que a sua candidatura, como a do Dr. Ulysses, obteve uma votação insignificante.

            Aí ganhou o Fernando Henrique, que cometeu o erro mortal de jogar todo o seu prestígio, todo o respeito que tinha - que eram enormes! - para aprovar a emenda da reeleição, em vez de fazer as reformas política, social, tributária e partidária. E hoje estão aí as gravações de Deputados confessando que receberam 100, 200 mil, rádios, e não sei mais o quê! Foi ali que o seu Governo ficou maculado. Daí para diante ele não teve condições de se recuperar.

            Reunimo-nos e apresentamos a candidatura de Itamar ao PMDB, mas um grupo de partidários apaixonados e integrados no Governo defendiam que o PMDB continuasse no Governo. Itamar perdeu aquela convenção e nós continuamos no Governo.

            Meu querido Senador, fazendo uma análise das eleições de que participaram o Dr. Ulysses e o Quércia, observamos que, apesar do quociente insignificante que eles obtiveram, o PMDB fez muito mais Deputados e Senadores do que na última eleição, na qual, não tendo candidato, apenas apoiamos o Sr. Fernando Henrique.

            Hoje o PMDB está nessa situação. Reparem que as pesquisas mostram como estão os dois partidos de embasamento popular: o PT, em primeiro lugar, acima do PMDB, e o PMDB, apesar de tudo, em seguida. Em terceiro lugar, o PFL, com 5% da intenção de votos; o PMDB, na faixa dos 30%, e o PT quase na faixa dos 40%. Apesar de tudo.

            Tenho dito que o PMDB se encontra em um momento histórico. A eleição do ano que vem não pode ser considerada igual àquela da campanha do Dr. Ulysses, ou àquela da campanha do Quércia, ou ainda àquela em que apoiamos o Fernando Henrique Cardoso. Ela será diferente. Ou o PMDB diz o que ele é, o que ele significa, de que ele precisa, ou fica no limbo da história. Ele não terá um mínimo de credibilidade popular se não apresentar um programa, uma idéia, uma filosofia, assim como fizemos em 1970. Naquela ocasião, apresentamos uma proposta ao País no campo institucional. Agora temos de apresentar uma proposta ao País no campo econômico, no campo social, no campo ético.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Nobre Senador, V. Exª vai me honrar com o aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agora sim.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Pedro Simon, há uma tradição nesta Casa pela qual sempre que um Senador se dirige a outro, pronuncia palavras de elogio, encômios. Quero fazer o mesmo em relação a V. Exª, mas com sinceridade - o que não quer dizer que os outros não sejam sinceros. Quero apenas reafirmar minha sinceridade em relação ao que vou dizer sobre V. Exª. Tenho por V. Exª muita admiração, por tudo quanto V. Exª tem significado ao longo de sua carreira política. E pelo que significa aqui no plenário do Senado, onde convivemos. V. Exª seguramente nem sabe, mas, com freqüência, pronuncio o seu nome, dando-o como autor de iniciativas extraordinárias nesta Casa. Já o fiz na televisão. Em tudo quanto digo a respeito de V. Exª eu sou sincero. Mas V. Exª está fazendo hoje história política, com a qual eu concordo em parte. V. Exª diz verdades que não são as minhas verdades, fatalmente, o que não quer dizer que esteja mentindo. Desde que Pilatos perguntou, no julgamento de Cristo, o que é a verdade, a verdade tem sido questionada - ao longo dos séculos e dos milênios. Senador Pedro Simon, não vejo nenhuma atitude equivocada ou errada do Senador José Sarney quando apóia a filha.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Perdão, eu também não falei em atitude errada, não o critiquei; disse que ele está fazendo o que faz e o respeito, porque se trata da filha dele. Afirmei apenas que se deve respeitar o direito do PMDB ter candidato.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Ouvi perfeitamente que V. Exª disse que ele está muito certo ao apoiar a filha. E, num passo seguinte, pronuncia palavras que significam quase que críticas.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, não foi a intenção.

            O Sr. Edison Lobão (PFL- MA) - Sim, começa a falar no espírito partidário, etc. Só faltava Sarney deixar de apoiar a filha. A única coisa que faltava neste País, na vida pública, seria o Sarney deixar de apoiar a sua própria filha.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concordo plenamente com V. Exª.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Bem, em seguida diz V. Exª que o PMDB é o único Partido com tradição neste País. Não! O PMDB, no começo, foi um caleidoscópio ideológico - e V. Exª mesmo disse isso, em outras palavras. Todas as correntes estavam ali presentes. No instante em que o PMDB passou a ser apenas PMDB, e não mais MDB, surgiram outros partidos de igual compostura e de igual tradição. Surgiu o PT. Temos que respeitar o PT.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Veja, meu querido colega, como é cruel e injusto o julgamento que fazem Do nosso PMDB.

            O SR. Edison Lobão (PFL - MA) - Não falo mal do PMDB; ao contrário, exalto o PMDB.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Imagina se falasse!

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - O que não desejo é que V. Exª, a pretexto de defender o seu Partido, no que faz muito bem, desmereça os demais. O PT é um Partido que surgiu à época do PMDB e tem a sua história. Lembro-me de Brizola chegando ao Brasil e lutando pela restauração do PTB, este sim com grande história, história passada, antiga, e que poderia ser retomada naquele momento. Mas surgiu o PDT no seu lugar. E aí diz V. Exª: o PMDB foi o responsável pela quebra do sistema revolucionário. Não! O PMDB pode ter sido o carro-chefe.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E que outro Partido foi?

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Explico a V. Exª, se V. Exª me permitir.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É que V. Exª está sendo muito longo. É quase um pronunciamento. Seria ótimo em uma segunda-feira. Em uma sexta-feira como esta seria ótimo que V. Exª me sucedesse na tribuna.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Garanto a V. Exª que estou sendo longo, porém não tão longo como geralmente V. Exª é em seus apartes.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Também é verdade. Mas é que... 

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Ou será que V. Exª tem o direito de ser longo e eu não?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É que V. Exª está fazendo um pronunciamento tão importante ...

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Não estou, estou apenas fazendo algumas observações.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... que não deveria esconder o seu discurso em um aparte a mim, mas ir à tribuna e fazer um pronunciamento.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - V. Exª agora me deu um motivo, Senador Pedro Simon, para, toda vez em que apartear, lembrar do que foi a intolerância de V. Exª em relação ao meu aparte.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não é intolerância, Senador, apenas apelo a V. Exª para fazer como eu fiz. Assim que percebi que, se fosse apartear o nosso querido Senador Gilvam Borges, iria apenas me meter no seu discurso, decidi vir à tribuna para fazer um pronunciamento e responder a S. Exª.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - V. Exª se mete no discurso de todos os Senadores, e o faz muito bem, com beleza. A diferença entre nós, agora, é que o aparte de V. Exª tem sempre beleza e o meu é pálido. Mas V. Exª é um dos que mais se demoram nos apartes aqui nesta Casa.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Vá à tribuna, Senador!

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Farei isso ...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ótimo! Agora está bem.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - ... e pedirei a V. Exª, nos seus apartes futuros, que proceda do mesmo modo.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não! Estou concedendo o aparte a V. Exª à vontade. Agora, V. Exª disse que vai à tribuna ....

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Não está, V. Exª está quebrando o meu aparte e vou desistir dele.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª disse que iria à tribuna... continue com o aparte.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Não posso mais ir à tribuna, porque já falei uma vez. Respeito o Regimento. V. Exª não respeita, mas eu respeito.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Nem como Líder?

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Não posso mais falar, porque já falei uma vez.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Perdão, eu não sabia. Então, fale à vontade.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Desisto do aparte, em razão da intolerância de V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pelo amor de Deus! Continue o aparte.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Apenas me reservo o direito, daqui para frente, de continuar admirando V. Exª, mas chamando sua atenção para os seus quilométricos apartes todos os dias.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O que é verdade!

            Faço um apelo para que V. Exª continue com a palavra. V. Exª disse que não pode mais ir à tribuna. E eu pensei que podia. Se pudesse, seria importante que V. Exª viesse à tribuna para debater e, assim, poderíamos conhecer os dois lados. Mas como V. Exª diz que não pode mais ir, faço questão que V. Exª continue o seu aparte. É o meu apelo.

            Peço até perdão a V. Exª e peço que continue o seu aparte. Tenha um gesto de grandeza, aceite as minhas desculpas e continue com o aparte.

            O SR. PRESIDENTE (Lauro Campos) - Faço um apelo aos Srs. Senadores, e o faço contrariamente a uma postura que gostaria de ter se não estivesse ocupando a Presidência, porque acho que falta a este Senado o que estamos tendo agora: este calor, este debate sincero e franco. Mas, infelizmente, como Presidente, devo chamar a atenção para o fato de que o Regimento está sendo ofendido, pois a intervenção de cada um deve ser precedida da aquiescência do Senador que está com a palavra.

            É com pesar que faço esse apelo, porque estou encantado com o que acontece hoje nesta Casa: esta efervescência, este calor, esta juventude que envolve a todos.

            Muito obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.

            Senador Edison Lobão, V. Exª está com o aparte.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Desisto.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não fala porque não quer.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Não falo porque V. Exª, ao contrário da educação parlamentar, me retirou o aparte, fazendo aquilo que não faz quando aparteia os outros oradores.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Retirei porque achei que V. Exª deveria ir à tribuna. Se não tem o direito de voltar à tribuna, concedo-lhe o aparte. Por favor, fale, Senador. É o apelo que faço a V. Exª.

            Peço desculpas, inclusive. Mas volto a afirmar que achei que V. Exª poderia ir à tribuna. Pelo amor de Deus!

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Retomo, então, o meu aparte...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - ... dizendo a V. Exª que o PMDB é um Partido que merece respeito - e eu o respeito e admiro. Mas devo dizer que o meu Partido também merece. E o meu Partido foi fundamental para o ocaso da Revolução. E, nesse ponto, V. Exª foi injusto. Não fosse a dissidência do PDS, formando o PFL, não teria havido eleição do Presidente Tancredo Neves, por quem tinha também a mais profunda admiração. Dizer que o PMDB foi responsável sozinho é não fazer homenagem à história política. Logo depois, V. Exª se queixa dos 80% de inflação do Governo Sarney. Isso é correto, porém, V. Exª se esqueceu de dizer que houve o Plano Cruzado, graças ao qual foram eleitos quase todos os Governadores do PMDB e os Senadores da República.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Como V. Exª é injusto!

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Eu é que sou injusto?!

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Afirmei que os 80% de inflação influiu na queda do Dr. Ulysses Guimarães, mas éramos responsáveis por ela. O povo disse que, se o PMDB, na ocasião do Plano Cruzado, somou para as suas eleições, na hora dos 80% deveria somar para sua diminuição.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Mais do que somou, elegeu quase todos os Governadores e Senadores da República.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu disse isso, Sr. Senador.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - V. Exª foi um dos Ministros do Governo Sarney, foi nomeado pelo Presidente Sarney.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Fui nomeado pelo Dr. Tancredo Neves. A Portaria, que eu guardo até hoje, é aquela que o Dr. Tancredo assinou, mas que, na época, não pôde ser cumprida. Tanto que, quando o Dr. Sarney solicitou a participação em seu Governo, fui o primeiro a pedir demissão.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - O Dr. Tancredo Neves, seguramente, escolheu V. Exª, mas quem o nomeou foi o Sarney, que não era obrigado a nomeá-lo, o fez de boa vontade.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Nomeou todos.

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. Fazendo soar a campainha.) - Senador Pedro Simon, por gentileza, a Mesa faz um apelo para que V. Exª conclua seu pronunciamento, pois seu tempo já se esgotou. Faço também um apelo ao aparteante, Senador Edison Lobão.

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Vou concluir, Sr. Presidente, até porque, sendo eu membro da Mesa, devo zelar pelos dispositivos e regras regimentais. Estou sendo longo pela primeira vez na minha vida no Senado. Sempre respeito os dois minutos a que tem direito o aparteante. Desta vez, reconheço que estou indo além, até pelas interferências do orador que me permitiu o aparte, depois deixou de permiti-lo e, agora, voltou a permitir. Peço desculpas a V. Exª, Senador Gilvam Borges, que exerce a Presidência da Casa neste momento, por estar infringindo as regras, o que não gosto e não devo fazer, inclusive por ser Vice-Presidente da Casa. Concluo, Senador Pedro Simon, dizendo que eu não teria nenhum constrangimento - e eu o disse aqui antes da chegada de V. Exª ao plenário - em votar em um candidato do PMDB, em votar em V. Exª. Eu não teria nenhum constrangimento, até porque reconheço em V. Exª, e em diversos outros peemedebistas, valor para dirigir este País. Mas o que eu dizia no começo, aparteando o Senador Gilvam Borges, é que precisamos ter um candidato que possa aliar, a um só tempo, as duas condições: a de ganhar eleição e a de governar bem. O meu Partido, hoje, tem um candidato com essas duas condições. V. Exª mencionou seguidamente o ex-Presidente Ulysses Guimarães. Ele foi um dos melhores valores da vida pública da República Federativa do Brasil, um dos melhores valores que o Brasil já conheceu na política e que tinha todas as condições para governar bem o Brasil, mas não teve as condições necessárias para ganhar a eleição. De que valeu, então, o sacrifício do PMDB e do ex-Deputado Ulysses Guimarães? Portanto, no instante em que surgir um nome em condições de ganhar a eleição - que seja o de V. Exª - acima daquele que temos no PFL, estaremos inteiramente de acordo. Senão, não.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª o aparte e volto a repetir que a abertura democrática foi feita pelo MDB. E, naquele tempo, havia Arena e MDB. Quem fez a abertura democrática foi o MDB. Quem percorreu...

            O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Não fosse o PFL, não teria havido a abertura democrática.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Em primeiro lugar, não existia PFL. O PFL foi uma dissidência do PDS e foi criado depois da abertura. Uma dissidência é que participou. Não chame essa dissidência de Partido. Essa dissidência, depois, se transformou em Partido.

            O MDB foi o Partido que fez a transição democrática. E desde a transição democrática, desde a morte de Dr. Tancredo Neves, que o MDB vem caminhando à margem da história: na candidatura do Dr. Ulysses Guimarães, na candidatura do Orestes Quércia e na candidatura do Fernando Henrique. O que eu digo é que nós não podemos, hoje, deixar de apresentar à Nação o nosso Partido com a sua cara, com a sua história e com suas pretensões para o futuro.

            Eu, por exemplo, não compartilho da tese defendida pelo meu amigo Itamar Franco de fazer críticas e abrir guerra ao Governo Fernando Henrique. Não é por aí. Até porque entendo que, se nós fizemos parte do Governo, não é por aí...

            Entendo que o Fernando Henrique, hoje, já é passado e nós temos que olhar para o futuro. E seria muito bom que o PMDB tivesse o seu candidato com sua proposta. Uma proposta que, com todo respeito, desde da morte do Dr. Tancredo Neves até hoje, não foi apresentada. A Social Democracia não o fez e o PT, em três oportunidade, tentou e não conseguiu chegar lá. O PMDB deve reunir os seus sábios, a sua gente, a sociedade, o povo para estabelecer um plano de ação política, no aspecto institucional, ético, econômico, social e nas reformas que devem ser feitas. Creio que é isso o que temos que fazer para o Partido continuar. Pode até não ganhar, mas se consolida como Partido.

            Porém, Sr. Presidente, se desta vez, mais uma vez, o PMDB não mostrar a sua cara como deve, não se apresentar com uma proposta de Governo, o Partido ficará à margem da História, não terá outra oportunidade, não haverá de ter outra oportunidade.

            Já agora é difícil tentarmos eliminar todas as divergências em torno de uma meta comum; fazermos com que o nosso querido Governador Jarbas Vasconcelos entenda que é importante termos uma candidatura própria; fazermos com que divergências do grupo a, b ou c sejam respeitadas e que um objetivo comum seja aceito.

            O PMDB nacional marcou a prévia para 20 de janeiro, quando haveremos de nos reunir e escolher o candidato. Escolhido o Itamar Franco, estarei como ele; se houver um terceiro candidato - pode haver -, estarei com esse candidato e se eu for o escolhido, espero que os companheiros do Partido estejam comigo.

            Isso não nos impede de levar até o fim o desejo de que o Governo Fernando Henrique seja um bom Governo ou que encontre menos dificuldades do que as que tem tido até aqui.

            Porém, creio que, a essa altura, marcharmos para uma frente eclética é mais difícil do que nos unirmos em torno das nossas idéias. Creio que o PMDB tem que ter o seu candidato.

            A meu ver, a Governadora Roseana Sarney está tendo um desempenho importante na televisão, assim como o Sr. Nizan Guanaes, como orientador do seu marketing político - e poderá crescer. É uma candidatura importante, mas creio que podemos ter um candidato para o PMDB; podemos ter um candidato para o PFL e podemos ter um candidato para o PSDB.

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges) - Sr. Senador Pedro Simon, não quero interferir no pronunciamento de V. Exª, mas já se passaram mais de 15 minutos do seu tempo e, por isso, peço a V. Exª que conclua, porque há outro orador inscrito, na expectativa de fazer um pronunciamento.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Fique tranqüilo, Sr. Presidente. Há apenas mais um orador que pode pronunciar-se - os outros três, não - e a sessão vai até as 13h. Portanto, creio que tempo não faltará. Se tivesse eu a preocupação de lhe roubar o tempo, tudo bem, mas como o término da sessão é às 13h, não haverá problema. São 10h43, e só há o Senador Lauro Campos para falar.

            Mas, continuando, o PSDB pode ter o seu candidato. Não acho o Ministro José Serra tão antipático como diz V. Exª. Talvez S. Exª não tenha o magnetismo que tinha o Covas, por exemplo, de empolgar a sociedade, a fórmula do Senhor Fernando Henrique, de agradar a gregos e troianos. Sua Excelência é muito positivo, muito enfático, mas consegue, por exemplo, grandes vitórias. Essa vitória que S. Exª conseguiu na ONU, com relação aos medicamentos, é algo de primeira grandeza. O Ministro da Saúde, faço justiça, tem sido um dos mais competentes que tivemos até hoje.

            Não tenho dúvida de que um destes três candidatos - o do PMDB, o do PSDB ou o do PFL - chegará ao segundo turno. Por isso, existe o segundo turno.

            Vamos firmar o nosso Partido, dar o seu conteúdo, dar a linha do nosso Partido no primeiro turno. Depois, no segundo, vamos seguir com aquela candidatura que representa os nossos propósitos. É isso o que penso que devemos fazer, Sr. Presidente.

            Reparem que, na convenção do PMDB, 98% dos convencionais disseram que queriam candidatura própria; noventa e oito por cento dos convencionais defenderam a candidatura própria.

            Soubemos dessa estatística por uma votação secreta. Todos votaram nas urnas, depositaram o seu voto, mas não houve nenhum debate, nenhuma discussão em termos de haver candidatura própria ou não. O que estávamos ali discutindo - e V. Exª sabe disso - era quem seria o futuro presidente do PMDB. Era isso o que estávamos votando. E, mesmo assim, essas pessoas sempre defenderam a candidatura própria.

            Creio que o PMDB deve ter o seu candidato.

            A Drª Roseana está crescendo? Ótimo! O PFL pode ter o seu candidato. O PSDB não pode abrir mão da candidatura a Presidente da República? Ótimo! Pode ter o seu candidato, pode ser o Serra, o Tasso ou qualquer outro.

            Tenho dito algo que considero muito importante, o PMDB é um partido sobre o qual os pais falam para os filhos, para as novas gerações que estão aí: “Meu filho, o PMDB é o Partido do Ulysses, do Tancredo, do Teotônio; o PMDB foi o Partido que lutou contra o arbítrio, contra a ditadura. É um grande Partido”. Sentimos isso, mas, na verdade, não estamos acrescentando um fato novo a essa renda enorme que temos depositada no banco, que foi até a morte do Dr. Tancredo. De lá para cá, só fomos gastando, diminuindo a nossa credibilidade, de tal maneira que, hoje, não temos nenhum rendimento na poupança. Temos o nosso nome e a nossa biografia.

            Ou consolidamos e reiniciamos uma etapa de fé, de confiança, de respeito à opinião pública, e a sociedade se identifica conosco, ou o PMDB desaparecerá como um grande Partido. Ficará como um desses partidos nanicos e, daqui a quatro anos, V. Exª e eu estaremos brigando para permitir que os partidos nanicos tenham o direito de tempo na televisão, etc., por quê? Porque não nos sustentaremos como um grande Partido.

            Essa é a minha proposta, Sr. Presidente. É por isso que estou nessa caminhada. Eu já poderia ter sido candidato em outras oportunidades. Não tenho vaidade, não tenho pretensão, sou uma pessoa simples, que reconhece a sua posição, mas sigo esse caminho mais pelo PMDB do que pelo resultado, porque creio que o PMDB tem a obrigação de não se deixar levar pelas correntezas e desaparecer da História. Por isso, estou nesta história e, por isso, creio que devemos ter candidatura própria.

            Então, apesar do carinho que V. Exª tem pelo Dr. Sarney, que respeito; apesar do carinho que V. Exª tem pela Drª Roseana, e eu a respeito, mas como V. Exª disse desta tribuna, se o PMDB tiver candidato, votará no candidato do PMDB.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

            


            Modelo15/9/243:59



Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/11/2001 - Página 28693