Discurso durante a 139ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Regozijo com a comemoração dos 100 anos da publicação da obra de Euclides da Cunha "Os Sertões". Apelo por recursos destinados aos hospitais universitários, em especial ao Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE.:
  • Regozijo com a comemoração dos 100 anos da publicação da obra de Euclides da Cunha "Os Sertões". Apelo por recursos destinados aos hospitais universitários, em especial ao Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2002 - Página 23273
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, PUBLICAÇÃO, OBRA LITERARIA, AUTORIA, EUCLIDES DA CUNHA (BA), DESCRIÇÃO, GUERRA, MUNICIPIO, CANUDOS (BA), ESTADO DA BAHIA (BA).
  • APREENSÃO, ORADOR, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, HOSPITAL ESCOLA, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, HOSPITAL DAS CLINICAS, MUNICIPIO, BELO HORIZONTE (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).
  • SOLICITAÇÃO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, GARANTIA, REPASSE, VERBA, PROMOÇÃO, REALIZAÇÃO, CONCURSO PUBLICO, ADMISSÃO, SERVIDOR, HOSPITAL ESCOLA.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr. Líder do Governo, Senador Romero Jucá, Srªs. e Srs. Senadores, tratarei, rapidamente, de dois temas significativos para o Brasil e para Minas Gerais.

Sr. Presidente, o Brasil comemora, hoje, os cem anos de um famoso livro que continua presente na história e na literatura do País. Falo de Os Sertões, de Euclides da Cunha, repórter e autor do mais perfeito relato da Guerra de Canudos, publicado em 1902, cinco anos após o fim da terrível tragédia ocorrida no sertão nordestino, de que Antonio Conselheiro foi o principal personagem.

De lá para cá, Os Sertões vem sendo objeto de estudos, análises, críticas às vezes contundentes, peças de teatro, além de filmes, entre os quais o aplaudido Deus e o Diabo na Terra do Sol, do nosso premiado cineasta Glauber Rocha.

Nenhuma das críticas em torno desse grande clássico da literatura brasileira deixa de apontar Os Sertões como um dos documentos de maior significado para a própria História do Brasil, inclusive nos dias de hoje.

Euclides da Cunha escreveu essa que foi sua maior obra, ampliando as reportagens que publicou em 1897, em O Estado de S.Paulo, jornal do qual era correspondente de guerra na região conflagrada no interior da Bahia. Além dos relatos periódicos de sua autoria, publicou, ao regressar, no ano seguinte, uma série intitulada Diário de uma Expedição.

Para essas reportagens, que depois culminaram com Os Sertões, o grande escritor brasileiro deslocou-se para o semi-árido da Bahia como repórter, com a missão de acompanhar e procurar os porquês da resistência dos sertanejos no episódio da Guerra de Canudos.

Os Sertões foram escritos ao longo dos três anos em que Euclides da Cunha morou na cidade de São José do Rio Pardo, no interior paulista. Ali, a primeira edição ganhou forma e foi publicada num dia 02 de dezembro de cem anos atrás.

            Muitas outras edições se seguiram, numa evidência de que essa é uma obra razão apontada como um dos marcos da nossa literatura. Tanto que, um ano após o aparecimento da edição inicial, Euclides da Cunha foi feito imortal, com sua eleição para a Academia Brasileira de Letras.

Sobre a qualidade do texto e do conteúdo de Os Sertões, a crítica literária Walnice Nogueira Galvão sustenta que ainda hoje perdura e não foi superada a visão histórica dessa notável obra. Para ela, que é autora de uma edição comentada do livro, “ninguém narrou o conflito de Canudos melhor que Euclides”. E, mais: dá o veredicto para justificar essa opinião, afirmando que o livro Os Sertões alcançara e continua alcançando êxito “porque é boa literatura e bem escrito”.

Essas qualidades da obra de Euclides acabaram por influenciar outros renomados escritores, como o próprio Guimarães Rosa, de Grande Sertão, veredas, e Vargas Llosa, de A Guerra do Fim do Mundo. Além disso, o estilo de Euclides da Cunha é sempre aplaudido, chegando o poeta Robert Lowell a compará-lo com Guerra e Paz, de Leon Tolstoi.

Ao saudar o centenário da obra de Euclides da Cunha, encerro com palavras do professor de literatura da Universidade de S. Paulo, Valentim Facioli. Autor de tese de doutorado na USP sobre Euclides, diz o mestre, em entrevista de ontem a O Estado de S.Paulo, que “A importância atribuída a Os Sertões decorre da purgação da culpa pelo bárbaro massacre dos sertanejos - de Canudos - a qual culpa se articula com a culpa presente pelos cerca de 50 milhões de miseráveis - os brasileiros excluídos - que estão inutilmente no País e sem solução. Os Sertões, com seu tom apocalíptico e ruinoso, parecem permanecer como emblema de uma questão não resolvida.”

Essa manifestação, Sr. Presidente, de um professor de literatura da USP, traduz, com um toque mais avançado, uma situação que é efetivamente terrível para uma sociedade como a do Brasil, que vive a brutalidade da distribuição de renda, a pobreza constituída de miseráveis e indigentes. O livro Os Sertões, nesta hora, serve como alerta para a melhoria da sociedade brasileira.

Sr. Presidente, desejo, em segundo lugar, manifestar, em socorro aos hospitais universitários do País e particularmente de Minas, a minha palavra desta tribuna.

Os hospitais universitários vivem uma situação dramática. E quero destacar, nesta hora, o Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, centro de referência no atendimento médico no Estado. O hospital mineiro atravessa uma crise de dimensões crescentes, com riscos para a amplitude e a qualidade dos serviços nele prestados. De vasta atuação municipal e regional, essa instituição proporciona atendimento generalizado à população e, de forma muito especial, aos doentes necessitados de atenção de alta complexidade. Somando sua vocação pública com o melhor desempenho acadêmico, o Hospital das Clínicas ocupa um lugar singular entre as instituições voltadas para a saúde no Estado de Minas Gerais. A atual crise, decorrente de incertezas no repasse das verbas absolutamente necessárias para a manutenção das suas atividades, ameaça, de forma severa, a continuidade de seu trabalho.

A situação do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais foi objeto de reunião, hoje pela manhã, na sede da Faculdade de Medicina, na Avenida Alfredo Balena, em Belo Horizonte, com a participação da Universidade Federal de Minas Gerais, representada pela Reitora, Professora Ana Lúcia Almeida Gazzola, e pelo Vice-Reitor, Marcos Borato Viana, com a presença do Diretor do Hospital, Ricardo Castanheira Figueiredo, e também contou com a presença de parlamentares, políticos, empresários, sindicalistas e agentes comunitários.

Sr. Presidente, nesta hora, quero manifestar minha preocupação com o momento que estamos vivendo em relação aos hospitais universitários em Minas Gerais, de forma específica com o Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, e apelar para o Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, para que promova a realização de concursos públicos para admissão de funcionários que estão sendo pagos com recursos do SUS, que são insuficientes. Evidentemente, essa medida poderá aliviar a situação desses hospitais, que merecem uma atenção de quem efetivamente deseja um lugar ao sol para os doentes do meu Estado de Minas Gerais e das outras unidades da Federação.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2002 - Página 23273