Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

PRONUNCIAMENTO DE POSSE NO SENADO FEDERAL.

Autor
Nivaldo Krüger (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Nivaldo Passos Krüger
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • PRONUNCIAMENTO DE POSSE NO SENADO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2002 - Página 26660
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • DISCURSO, POSSE, ORADOR, SENADO, SUPLENCIA, ROBERTO REQUIÃO, CANDIDATO ELEITO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), COMENTARIO, ATUAÇÃO, POLITICA, REGISTRO, IMPORTANCIA, CONGRESSO NACIONAL, DEFESA, SOBERANIA NACIONAL, DEMOCRACIA.

O SR. NIVALDO KRUGER (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como Senador suplente, venho ocupar os últimos momentos da vaga deixada pelo ilustre Senador Roberto Requião, que agora assume o Governo do Paraná.

Aqui como lá S. Exª honrou o nosso Estado.

A exigüidade do tempo que resta e a amplitude da função divergem, colocam-me numa perspectiva paradoxal: tempo mínimo, responsabilidade máxima. Estranha sensação de ser sem, contudo, poder. Assim mesmo, não me escuso diante desta evidência de tão escasso tempo.

Desejo, ao menos, deixar por aqui um registro de passagem, um modesto aviso, como o condor, que, ao posar no pico da cordilheira, solta seu estrídulo piar e avisa que logo se vai, mas que ali está, que dali sonda horizontes, vales sombrios, planícies vastas, encostas escarpadas e vislumbra o seu conjunto em busca do rumo ante as tempestades que se anunciam.

Assim, da cúpula da mais elevada instituição política nacional, perante as Srªs Senadoras e os Srs. Senadores da República, também eu anuncio minha chegada e minha breve permanência, de onde lanço meu aviso.

Sem pretensão de vôo tão alto, trago, de forma obscura mas sincera, um modesto alerta na esperança de confirmar que, embora tangido pelos ventos da casualidade, pousei com respeito histórico, por momentos, neste cume luminoso da cordilheira democrática da Nação brasileira, o Senado.

Ah, quantas reminiscências me despertam paredes e pilares desta histórica instituição, desde os primórdios do Império até os nossos dias, por onde passaram e ainda se encontram luminares das idéias, do saber e do patriotismo.

Vivo, neste instante, profunda emoção cívica, acolhido por esta Casa, e por encontrar-me no seio do Senado, neste símbolo brasileiro da democracia.

Deixo aqui, embalado pelo sentimento maior de Pátria, alguns vislumbres dos vôos que empreendi através de minha vida pública. Fiquem eles consignados em forma de breves tracejados, como os que descreve o condor antes de pousar no pico da cordilheira.

Novo Governo, novas esperanças, novos desafios.

Quero iniciar meus registros referindo-me ao fenômeno da revolução branca, pacífica, imposta pelo voto universal. O povo conduziu à Presidência da República, pela primeira vez, um Presidente oriundo das classes obreiras, nascido das refregas sindicais, oposto às elites dominantes que há séculos comandam a política nacional.

Venceu o anseio de “mudar”.

Coroa-se o esperançoso acontecimento político na tranqüilidade da transição. Confirma-se a maturidade política. É a consolidação de nossa democracia, a credenciar-nos entre as mais sólidas das Américas.

Etapa vencida, precisamos, agora, nos alertar para as tendências da contemporaneidade universal, que pelos imperativos da globalização estão a influir e ameaçar a estabilidade dos Estados-Nação, economicamente mais frágeis, ante os grandes riscos de submissão, de perda da identidade cultural e da personalidade típica de nação. É a ordem global das superpotências financeiras e tecnológicas a sobrepor-se à soberania nacional dos povos dependentes ou mais fracos.

Considero esse um grave desafio ao Governo que se estabelece, o qual deverá concentrar sua atenção nas novas e sofisticadas formas de colonialismo moderno. Na verdade, estamos diante da contingência moderna da hipertrofia dos conglomerados econômicos globalizantes sobrepondo-se, atrofiando e subordinando o indefeso Estado-Nação da modernidade.

Na atualidade, os perigos, ameaças e desafios à soberania nacional não vêm mais dos exércitos invasores, mas pelos constrangimentos financeiros, pelo domínio das nações tecnologicamente mais potentes, pelos condicionamentos influentes dos meios de comunicação, que mudam costumes e impõem ideologias forâneas. Altera-se a fisionomia cultural da Nação e abala-se a soberania.

Assim, a globalização comandada pelos Estados mais fortes e, sobretudo, pelos possantes conglomerados econômicos supranacionais submete os mais fracos a regras e condições opostas às estruturas tradicionais da economia, dos costumes e dos valores culturais históricos, formadores das características distintas da sua personalidade nacional típica. Tudo em nome do “moderno”, do atual. Quem não se enquadra é “retrógrado”. Desse modo, vai-se amaciando o leito para acomodar-se a idéia da governança global, na qual a soberania das nações ficará em segundo plano.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago a chama viva da esperança em nosso povo, filho de tantas raças que se caldeiam em harmonia e forjam uma nova civilização, sobre os alicerces da nossa origem lusitana e dos princípios cristãos daqueles construtores da nacionalidade que nos legaram a intuição da liberdade.

Aqui chego, Srªs e Srs. Senadores, de uma longa jornada de quarenta e cinco anos pelos ásperos caminhos políticos da representação popular. Venho de estreito convívio com o povo.

Foram sucessivos mandatos eletivos: dirigente partidário, Vereador, Prefeito (três mandatos) do histórico Município de Guarapuava, no Paraná, Deputado Estadual, Deputado Federal, gestor de empresa pública (Sanepar), pesquisador histórico e das refregas municipalistas, fundador da Associação Paranaense dos Municípios e dirigente da Associação Brasileira de Municípios, ABM. Venho, sim, de muitas batalhas.

Muito cedo fiz a minha profissão de fé, no culto do Direito, da Justiça e da Liberdade.

Combati na Frente de Redemocratização Nacional (MDB) e pela descentralização do poder, pela autonomia municipal e pelo fortalecimento federativo.

Venho de longe, sim, mas não estou cansado. Os desafios políticos e sociais não me assustam. Ao contrário, induzem-me à luta.

Ainda creio no ideal de liberdade com justiça social e na causa do respeito à dignidade da pessoa humana.

Minha inspiração e meu entusiasmo nascem da crença na justiça das causas.

Sonho com um sistema universal justo e solidário, em que todos possam realizar seu destino com dignidade.

Vislumbro nos amplos espaços desta Casa aqueles vultos e, na memorização histórica, a visão de seus sonhos, legados exemplares às sucessivas gerações da Pátria.

Respeito e reverencio a simbologia desta Casa.

Creio em nossa vitória sobre as dificuldades nacionais.

Creio na democracia, mas não acredito nela forte e saudável sobre partidos frágeis.

Creio no desenvolvimento, mas não o creio pelos caminhos da exclusão social.

Creio na liberdade, mas não creio que ela se compatibilize com a injustiça.

Creio na grandeza de alma do povo brasileiro.

Creio na liberdade, na democracia.

Creio em nossa Pátria!

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2002 - Página 26660