Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas a ações do Ministro José Dirceu, Chefe da Casa Civil, de tentativa de cooptação de parlamentares do PSDB. (Como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Críticas a ações do Ministro José Dirceu, Chefe da Casa Civil, de tentativa de cooptação de parlamentares do PSDB. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2003 - Página 9605
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • DENUNCIA, ATUAÇÃO, JOSE DIRCEU, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), VOTAÇÃO, APOIO, GOVERNO, TROCA, NOMEAÇÃO, CARGO PUBLICO.
  • REITERAÇÃO, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), OPOSIÇÃO, GOVERNO, IDEOLOGIA, ETICA, BENEFICIO, BRASIL, ABERTURA, POSSIBILIDADE, NEGOCIAÇÃO, LIDERANÇA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho, desde os tempos de Câmara dos Deputados, um relacionamento que reputo perfeito do ponto de vista pessoal, correto do ponto de vista parlamentar e eu diria que promissor do ponto de vista do diálogo democrático com o atual Líder do Governo, Senador Aloizio Mercadante. Confio em S. Exª e acredito que S. Exª sempre encontrou razões para confiar na minha idoneidade e na minha capacidade de cumprir compromissos, de cumprir a palavra.

E por isso que, isentando o Senador Aloizio Mercadante do que aqui vou denunciar, chamo a atenção para o fato de que pode estar começando a ficar perigosa a ação do Ministro José Dirceu como Chefe da Casa Civil do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Aqui desta tribuna, tive ocasião de dizer que deplorava a política de cooptação; que sobretudo em relação ao PSDB seria injustificável que houvesse qualquer tentativa de cooptação de quem quer que fosse dos nossos quadros. Indiquei, para interlocutores do Governo -- e, às vezes, esses interlocutores haveriam de ter êxito na negociação conosco, outras tantas nem tanto e algumas vezes nenhuma possibilidade de êxito -, o Presidente do Partido, o ex-Deputado José Aníbal; o Líder na Câmara, Deputado Jutathy Magalhães; e me auto-indiquei por ser, neste momento e enquanto for, Líder do Partido no Senado Federal.

Pedi encarecidamente que não houvesse nenhuma manobra tipo balcão, tipo cooptação de quem quer que fosse do meu Partido e agora eu tenho a prova de que está havendo tentativa de cooptação, inclusive de tucanos, envolvendo a distribuição de cargos públicos.

Hoje, um jornal denunciou -- e exagerou -- que haveria um grupo de 19 tucanos dispostos a votar com o Governo em qualquer circunstância. Conversei com o Líder Jutahy Magalhães e localizei que haveria vacilação de três membros e haveria já uma decisão - digo isso com dor, até porque se trata de duas pessoas que tenho como amigos pessoais e como companheiros de Partido, um deles foi meu Vice-Líder, quando eu era Líder do Governo no Congresso Nacional - dos Deputados Salvador Zimbaldi e Osmânio Pereira. Eles teriam negociado com o Governo -- portanto com o Ministro José Dirceu -- a nomeação de um cidadão chamado José Roberto Cury, que foi Diretor da Companhia Paulista de Força e Luz no Governo Mário Covas, para Furnas e, em troca, eles virariam cabeça de ponte para dividir o PSDB e, a partir daí, enfraquecer o meu Partido como unidade que haverá de ser unitária.

Não cito o nome dos outros três, até porque tenho esperança de recuperá-los. Cito o dos dois primeiros porque imagino que estejam mais próximos do Deputado José Dirceu do que de mim.

A nossa idéia é dizer, tranqüilamente, aos companheiros que a Oposição não é lugar para gordura, é lugar para músculo; é lugar para quem tem efetiva convicção; para quem tem a capacidade de sofrer; é uma necessária etapa para que nós nos reciclemos, nos repurifiquemos, nos preparemos para enfrentar momentos difíceis, mas a favor da democracia brasileira.

Portanto, quem, no PSDB, não quiser fazer oposição pode perfeitamente entrar para o Partido do Governo ou para qualquer Partido satélite do Governo que não exija essa convicção em torno da necessidade de ser oposição, de se manter coerente, que é uma exigência do meu Partido, um Partido que se leva a sério. Alguém pode argumentar que o meu Partido já teve mais de 100 Deputados e atualmente só tem sessenta e poucos. Eu preferiria um Partido com 30 Deputados, desde que fossem 30 guerreiros, espartanos, capazes de serem generosos na vitória, mas valentes e bravos o tempo inteiro na luta da oposição, que é a única que cabe para quem perdeu a eleição, como nós.

Digo sempre isto na minha terra, quando me chamam de intransigente: vamos cultivar, para valer os nossos valores éticos. Absurdo seria se eu estivesse procurando me aproximar do poder que me derrotou. Normal é ir para a oposição, até para respeitar o que o eleitor me disse ao derrotar o meu candidato, a minha proposta, as minhas crenças. Curvo-me ao pronunciamento do eleitor e como não sou um adesista - o meu Partido não é um Partido de adesistas --, jamais negaremos apoio às teses que sejam boas para o País.

O meu Partido avisa: a prosseguir essa ação do Ministro José Dirceu, de maneira muito clara vamos dizer-lhe: “V. Exª acabará ficando com a meia dúzia que conseguiu cooptar e acabará recebendo um voto ‘contra’ em todas as matérias”.

O PSDB é orgulhoso, o PSDB é altivo, o PSDB não se verga, o PSDB não se quebra, o PSDB não cede, o PSDB será Oposição enquanto o povo não lhe der o direito de, pelo voto, chegar à vitória; enquanto não lhe der o direito de, pelo voto, conquistar para valer o poder, que já foi seu, porque o poder, sobretudo, é eternamente do povo.

Portanto, fica cada vez maior o fosso a me separar do Ministro José Dirceu. Eu disse, outro dia, que, para mim, S. Exª está se portando como se fosse o diretor da KGB. Uma homenagem a ele, que se diz de Esquerda até hoje - eu não disse da PID, do Salazar, e, sim, da KGB.

Por causa disso, uma revista disse que estou descendo - há pessoas subindo, e estou descendo. O meu lado medroso - e todos o temos - disse-me assim: “Arthur, para você não ser mais criticado, pede perdão ao José Dirceu”. Mas tenho um outro lado, indomável, indômito, valente, que me diz apenas para dizer ao Ministro José Dirceu que S. Exª não imporá, por maneira espúria, nada que contrarie a visão do meu Partido sobre a realidade brasileira.

Portanto, Líder Mercadante, repito aqui o meu pleito de ternura e respeito que tenho em relação a V. Exª, mas aviso a alguém que começa a enveredar pelo caminho tortuoso do totalitarismo, que ele não passará pelo PSDB. Seria bom se isso se confirmasse, até por que o PSDB exige a demissão do Sr. Cury. O Partido não quer participar, de forma alguma, de um Governo do qual ele não tem o direito de participar por ter sido por ele derrotado legitimamente em uma das eleições mais bonitas que este País já viu. O nosso Partido saberá muito bem o que fazer com quem não se comportar de acordo com a necessária fidelidade à causa da Oposição.

Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto a propor, e de maneira muito serena, que o Governo não converse sobre política, sobre voto e sobre apoio a não ser com as instâncias legitimamente autorizadas a discutir essas matérias no Partido, que são, repito, o Presidente do Partido, o Deputado José Aníbal; o Líder na Câmara, Deputado Jutahy Magalhães; e o Líder no Senado, neste momento, eu próprio.

Se o Governo não abrir mão de uma política que só vai lhe render desgastes, que vai acabar lhe rendendo escândalos e que vai acabar lhe rendendo problemas enormes - e já aviso que um deles é com o próprio PSDB -, a continuar essa história de tentarem cooptar tucanos - eu denunciaria a cooptação de quem quer que fosse -, digo que o PSDB vai acabar não votando nada, nada, porque vai se colocar em posição de absoluto antagonismo com esses métodos.

Uma vez - e quero dar um aviso ao Presidente Lula, a quem tenho poupado e a quem estimo pessoalmente -, entrei no gabinete do Presidente Fernando Henrique e disse-lhe: “Senhor Presidente, o senhor sabe por que estou carregando esse montão de coisas neste braço e, nesse outro, há apenas um montinho? Esse montinho são os pedidos para a nomeação de todo o resto, e esse montão são os pedidos para a nomeação das diretorias administrativa e financeira”. Isso é um perigo, porque ou somos um País de financistas, onde as pessoas só têm jeito para lidar com licitação, para lidar com pagamento e com ordenação de despesas, ou temos que redobrar a nossa vigilância, para evitarmos que o nosso Governo entre em percalços.

A continuar desse modo, a continuar loteando cargos, a continuar fazendo algo que cheira mais do que a mera fisiologia, cheira a uma ameaça que poderá tisnar a biografia limpa do Presidente Lula, de um homem honrado a quem combato com garra, mas a quem respeito e a quem estimo profundamente, até pelos laços pessoais que a ele me ligam desde 1979, digo, com toda clareza: tirem as mãos do PSDB! Não invistam contra a consciência de um Partido que é limpo, que se afirma na luta de Oposição e que só é poder quando vence a eleição. Quando perde a eleição, é Oposição. Tirem as mãos do PSDB! Esse maquiavelismo de província, esse maquiavelismo de beira de igarapé do Ministro José Dirceu haverá de ter, não só na minha indignação, não só na minha voz, mas no conjunto do meu Partido, o repúdio de todos aqueles que acreditam que não se aperfeiçoa a democracia com a utilização de métodos que, amanhã, reverterão como um tiro no pé contra um Governo que sei honrado, até porque dirigido por um homem honrado.

O Governo haverá de aprovar as matérias do seu interesse se tiver a capacidade de dialogar com as pessoas legítimas, e não a capacidade espúria e escusa de dialogar com quem não tem, na verdade, como oferecer o voto, a não ser o seu próprio. E, a continuar assim, será o voto de ex-tucanos, porque o nosso Partido é de Oposição e será de Oposição. Ele é convicto, tem convencimento e, sobretudo, tem uma biografia geral, a sua biografia partidária; tem a sua história e deve zelar por ela.

Algo tem que ficar bem claro: vamos mesclar a nossa combatividade, que é imorredoura, com a nossa capacidade de compreender o Brasil. Querem aprovar uma matéria. A matéria é boa para o País? Falem conosco. Não falem mais com o Deputado Osmânio Pereira, nem com o Deputado Salvador Zimbaldi. Falem conosco, porque respondemos pelo PSDB. Quando dissermos “não”, a resposta virá de um Partido que sabe o seu lugar e sabe o respeito que tem de ter pela sua própria história.

Portanto, Sr. Presidente, aguardamos um pronunciamento.

Em relação ao Ministro José Dirceu: acautele-se, Ministro! Essa carreira de Rasputin não cabe mais no mundo moderno, não cabe mais na democracia de hoje. Estou aqui vigilante em relação a qualquer fato e a qualquer deslize.

Mais do que nunca e mais do que ninguém, estou vigilante em relação ao Ministro da Casa Civil, Sr. José Dirceu.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2003 - Página 9605