Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise das consequências para o Partido dos Trabalhadores dos seus desacertos.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Análise das consequências para o Partido dos Trabalhadores dos seus desacertos.
Publicação
Publicação no DSF de 23/07/2003 - Página 19452
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, ANALISE, AUTORIA, PROFESSOR UNIVERSITARIO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PUBLICAÇÃO, PERIODO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DISPARIDADE, IDEOLOGIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), INCOERENCIA, EXERCICIO, PODER, APREENSÃO, ATUAÇÃO, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, RISCOS, PREJUIZO, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, CRITICA, PROGRAMA, COMBATE, FOME.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DECLARAÇÃO, AUTORIA, PRESIDENTE, FEDERAÇÃO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP), DENUNCIA, RECESSÃO, INDUSTRIA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIVERGENCIA, GOVERNO FEDERAL, INCENTIVO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, DADOS, CRISE, DESEMPREGO, FERIAS COLETIVAS, SETOR, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), REFERENCIA, CRESCIMENTO ECONOMICO.

O PT SOFRE AS CONSEQÜÊNCIAS DE SEUS DESACERTOS

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a análise de uma determinada época ou de um país pode ser exposta mais facilmente pela Filosofia. Por isso, com aspas, cedo espaço a um filósofo, que já votou no PT, o ilustre pensador gaúcho Denis Rosenfield, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Para ele, com as contradições entre teoria e prática do partido do Presidente Lula, o PT passou a viver de demagogia desde que chegou ao governo. E agora sofre as conseqüências desses desacertos que afetam o Brasil e também o entorno petista, aí incluído o chamado Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra.

Teme o professor que, se os Sem-Terra mantiverem sua postura “revolucionária” - e ele acredita que sim - isso vai gerar uma séria desorganização potencial do segmento que o Brasil tem de mais relevante em sua pauta de exportações: o agronegócio.

De fato - faço parênteses - o País se vem garantindo graças ao bom desempenho da agricultura. As demais atividades estão em fase muito difícil, diria mesmo recessiva, como sustenta o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Horacio Lafer Piva, conforme notícia publicada na edição de hoje de O Estado de S.Paulo, que leio para que passe a constar dos anais do Senado Federal:

São Paulo - Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, a situação dos industriais é de "desespero total" em relação à situação econômica de suas empresas. Entrevistado no programa “Passando a Limpo”, da Rede Record, ele acentuou que nos últimos dois meses houve uma queda muito acentuada na atividade econômica. "Não há crédito irrigando o mercado, as taxas de juros são altíssimas, os pátios das montadoras estão cheíssimos - e essa é uma cadeia importante de fornecedores; os estoques das empresas estão altos, as prateleiras do comércio estão muito cheias e, agora, temos ainda o dólar chegando a um patamar perigoso, que pode comprometer o saldo da nossa balança". Segundo Lafer Piva, os únicos setores que ainda estão apresentando uma taxa de crescimento são os ligados à exportação e ao agronegócio. "Todos os demais, ligados ao mercado interno, pela falta de massa salarial e de uma renda que não cresce, estão absolutamente estagnados”.

Além dessa preocupante notícia, estou anexando uma outra, publicada na edição de hoje de O Globo. É uma nota tipo ducha de água fria e, ao mesmo tempo, comprovando ainda que a bateção de cabeças continua no governo do PT:

SÃO PAULO - O Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, jogou um balde de água fria na possibilidade de o governo anunciar um novo programa para incentivar a venda de carros de passeio. Discursando para cerca de 350 metalúrgicos no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Palocci disse que "não existem mágicas" e que o reaquecimento do setor automotivo no país depende, em última instância, da recomposição de renda dos consumidores: “Não se pode imaginar que existam mágicas possíveis em setores como a indústria automotiva. Todo mundo fica esperando a fórmula do governo e não faz o principal, que é trabalhar, fazer as suas atividades para a economia voltar ao normal”.

O Ministro do Trabalho, Jaques Wagner, dissera na noite de quinta-feira que o governo incluiu num pacote de estímulo ao setor automobilístico, ainda em estudo, uma nova versão do apoio ao carro popular, com o nome provisório de "carro do trabalhador". O governo poderia oferecer financiamento para pessoas de renda até dez salários-mínimos ou que tenham veículos com muitos anos de uso. “O carro dito popular já não é tão popular assim” - disse Wagner.

Como em todo o setor industrial, no automobilístico a crise é uma triste realidade. A Volswagen está demitindo 4 mil funcionários e a FIAT colocou mais empregados em férias. Eis as notícias:

Volkswagen vai demitir 4 mil nas fábricas de Taubaté e Anchieta

Segunda, 21 de Julho de 2003, 7h19 

Fonte: Reuters Investor

A unidade brasileira da fabricante alemã de automóveis Volkswagen AG irá cortar cerca de 4 mil empregos, em uma tentativa de contrabalançar o fraco mercado no Brasil e de seus mercados de exportação, afirmou a empresa na noite de domingo.

Os postos de trabalho serão cortados nas fábricas Taubaté e Anchieta, num total de 16% da força de trabalho brasileira de 25 mil funcionários, acrescentou a empresa em comunicado.

"A difícil situação do mercado brasileiro nos força a realizar cortes significativos", afirmou Peter Hartz, membro do conselho da VW e supervisor das operações brasileiras.

A VW acrescentou que pretende recolocar a maioria dos funcionários afetados em outras fábricas da própria empresa ou em outros empregos.

Sobre a FIAT brasileira, leio notícia da mesma fonte, a Reuters-Invertia:

Setor Automotivo

Fiat anuncia férias coletivas para mil funcionários

Segunda, 21 de Julho de 2003, 11h16

Fonte: INVERTIA

Atualizada às 11h45

A Fiat Automóveis anunciou nesta segunda-feira um novo período de férias coletivas para mil funcionários de sua fábrica de Betim, Minas Gerais. A paralisação começa hoje e vai até o próximo dia 30. A montadora deixará de produzir 3.200 carros até o fim do mês com a paralisação. A média diária de produção da montadora é de 1.600 a 1.700 carros. Com a paralisação, cerca de 400 carros deixarão de sair das linhas de montagem.

Em junho e no começo de julho, a empresa já havia dado férias coletivas para uma parte dos trabalhadores. O objetivo é adaptar o volume de carros produzidos com a baixa procura.

Enquanto isso, Sr. Presidente, na China, a situação na indústria automobilística é bem diversa da que o Brasil amarga, neste governo do PT,como mostra essa notícia da Reuters:

Indústria Automobilística

Volkswagen irá quase dobrar produção na China

Fonte: Reuters Investor

A montadora alemã Volkswagen AG e suas parceiras chinesas informaram na segunda-feira que irão praticamente dobrar sua capacidade de produção na China, mercado de carros que cresce mais rápido no mundo, para 1,36 milhão de veículos até 2007.

A Volkswagen informou que as vendas na China saltaram 62% nos primeiros cinco meses do ano, em relação ao mesmo período do ano passado. A gigante automobilística alemã, que controla cerca de 40% do mercado, vendeu 270.495 carros de janeiro a maio em suas duas empresas chinesas.

Volto ao filósofo gaúcho.

A análise de Rosenfield é muito oportuna diante do que as lideranças do PT insistem em sustentar, aqui neste plenário inclusive. Ao contrário das pregações petistas, o MST, pelos estudos do professor gaúcho, não visa nem à reforma agrária nem à justiça social . O que esse movimento anarquista pretende é o poder.

Talvez se explique porque o Ministro Furlan chegou a sugerir que o MST se transforme em partido político.

Autor de recente livro sobre os desencontros do PT, o professor Rosenfield mostra que, ao pretender alcançar o poder, o MST quer para o Brasil uma sociedade socialista e, assemelhando-se a um partido, volta-se à formação de quadros superados, meros repetidores de velhos refrões comunistas, sem perceber que o muro de Berlim caiu em quase todo o mundo.

Diz mais o professor da UFRG: “o MST, no fundo, é produto de um jogo complexo que emana do próprio PT”. E define esse jogo como o jogo eleitoral que levou o PT a escamotear suas divergências.

A análise do filósofo do Rio Grande do Sul detém-se também no fracasso da política social anunciada mas não realizada pelo PT. Além da razão ideológica, ele aponta como causa desse malogro a incompetência administrativa, que, a seu ver, leva ministros a acumular funções parecidas e ficar batendo cabeça.

Por falar em bateção de cabeças e desencontros, incluo neste pronunciamento uma outra notícia, também de O Estado de S.Paulo, em que o Ministro da Fazenda, Antonio Palocci opõe reparos a uma das muitas afirmativas desarrazoadas do Presidente Lula:

Brasília - O Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse hoje que o "espetáculo do crescimento", prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não tem data marcada para acontecer. "Crescimento não tem ato inaugural, data marcada. Ele é marcado por um início de processo em que as condições fundamentais para impedir a explosão inflacionária podem se colocar de maneira mais amena, hoje. O Copom no mês passado começou a reduzir juros. Se a inflação continuar caindo esse movimento pode continuar", disse o ministro, em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo.

Não crê o professor que seja cedo para se cobrar as juras de Lula, que, como acrescenta, prometeu mundos e fundos. E esses primeiros seis meses mostram que dificilmente conseguirá cumprir o prometido. 

Rosenfield classifica o chamado Programa Fome Zero de assistencialista e muito inferior ao que existia no governo anterior, isto é, no governo Fernando Henrique Cardoso. Naquela época, os programas - analisa o professor - pelo menos estabeleciam contrapartida de quem recebia os benefícios, como mandar os filhos à escola.

E aí mais definição do filósofo gaúcho: em vez de melhorar o que existia - que, como ele reconhece, era bom - o PT resolveu reinventar a roda. Deu nisso.

Sr. Presidente, reiteradamente venho fazendo advertências ao governo petista, diante de seus sucessivos malogros. A resposta que recebo, de seus líderes, vem sempre com aquela frase surrada e completamente disparatada, falando de uma pretensa “herança maldita.”

Por isso, hoje, em vez de trazer mais uma advertência, preferi as aspas e cedi lugar a um filósofo gaúcho, profundo estudioso das questões petistas, ele que foi eleitor do PT, portanto insuspeito. As análises do professor Denis Rosenfield estão na edição desta semana, em páginas amarelas, da Revista Veja.

Fecho as aspas.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/07/2003 - Página 19452