Discurso durante a 21ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Inquietação dos movimentos sociais. Defesa de celeridade na implantação da reforma agrária. Homenagem ao Senador Maguito Vilela pelas ações sociais desenvolvidas no Estado de Goiás.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Inquietação dos movimentos sociais. Defesa de celeridade na implantação da reforma agrária. Homenagem ao Senador Maguito Vilela pelas ações sociais desenvolvidas no Estado de Goiás.
Publicação
Publicação no DSF de 31/07/2003 - Página 20715
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, MANIFESTAÇÃO, SOCIEDADE, CONTESTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PROPOSTA, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, ESPECIFICAÇÃO, GREVE, SERVIDOR PUBLICO CIVIL, AMEAÇA, PARALISAÇÃO, JUDICIARIO, AUMENTO, INVASÃO, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, CONFLITO, PRODUTOR RURAL, EXPECTATIVA, REALIZAÇÃO, REFORMA AGRARIA.
  • ESCLARECIMENTOS, EFEITO, CRISE, NATUREZA SOCIAL, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL, OCORRENCIA, VALORIZAÇÃO, DOLAR, AUMENTO, RISCOS, BRASIL, REDUÇÃO, INVESTIMENTO, RECURSOS EXTERNOS, NECESSIDADE, CONTENÇÃO, PERTURBAÇÃO, SOCIEDADE, DEFESA, ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL, ESTADO DEMOCRATICO.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como avaliar os desafios, as perspectivas e as dificuldades do nosso Brasil?

Sem dúvida, o fator mais significativo neste início de Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a inquietação provocada por uma crescente pressão dos movimentos sociais.

A ação dos trabalhadores sem-terra e sem-teto, a formação de milícias armadas no campo a partir da determinação dos produtores rurais de proteger suas glebas, o início da mobilização das centrais sindicais operárias em face do crescente desemprego, a greve no serviço público, que se mobiliza contra a reforma da Previdência e, finalmente, a ameaça de paralisação dos juízes são ingredientes que literalmente colocam o País numa panela de pressão prestes a explodir a qualquer momento.

O resultado dessa rede de inquietações já tem reflexos danosos e preocupantes. As invasões do MST pressionam a cotação do dólar, que fechou, ontem, em alta de 1,31%. O risco país disparou, com crescimento de 4,41%. A tensão social já entrou na tela do radar dos investidores e analistas internacionais. No primeiro semestre deste ano, o investimento estrangeiro direto despencou 63,68%. A General Motors, instalada no Brasil há 80 anos, teve, em 2003, o pior desempenho da sua história e já fala em abandonar o País. 

Vejam bem, Sr. Presidente, Senadora Fátima Cleide, Srªs e Srs. Senadores, que essa inquietação envolve os agentes mais importantes e significativos do processo produtivo, com o agravante de as tensões terem também alcançado, Senador Marco Maciel, a superestrutura institucional, o que nos coloca a todos numa posição de alerta extremo para que o edifício democrático não seja abalado.

O que explica essa angústia repentina é, sem dúvida - e isso temos que levar em consideração -, a presença de um ex-operário na Presidência da República, de um líder cujo berço foi justamente um desses movimentos que agora batem à sua porta exigindo providências que não podem ser tomadas da noite para o dia, que não podem ser aplicadas a toque de caixa.

Como muito bem disse o Presidente do PT, José Genoíno, em reportagem do Jornal do Brasil, “o movimento social não pode querer fazer em seis meses o que não fez em 60 anos.” E o Brasil, definitivamente, não pode ficar refém desse turbilhão cujas reivindicações podem ser legítimas e justas, mas que, de maneira equivocada, acaba inviabilizando o encadeamento das providências na medida em que utiliza uma estratégia que fere o curso normal dos acontecimentos, percorrendo a perigosa rota da ilegalidade, inadmissível sob todos os aspetos.

Pode se traduzir em verdadeiro desastre para o futuro do País, Sr. Presidente, a continuidade dessa rede de pressões que atropela a paz social e traz profunda inquietação ao centro do processo econômico, com conseqüências dramáticas em se tratando da imperiosa necessidade de retomar o ciclo do crescimento, tão imprescindível numa Nação cujas taxas globais de desemprego já alcançam terrivelmente a casa dos 20%.

Alguns agentes sociais do País, portanto, optaram por um caminho tortuoso, na medida em que suas causas específicas podem ser agravadas e não solucionadas! E, o que é pior, ao agirem fora do sistema legal, ao perturbarem a ordem, acabam arrastando para um cenário de incertezas os outros pilares da estrutura básica brasileira que até então avançavam sem maiores atropelos e inquietações.

Ou seja, Srªs e Srs. Senadores, podemos estar diante da gestação de uma crise social, econômica e institucional sem precedentes na história da República. É nesta hora que os agentes públicos precisam ter a devida responsabilidade e, sobretudo, cabeça fria para contornar o clima quente provocado por essa onda de invasões, greves, violência e prenúncio de graves conflitos.

Como se resolvem as questões? Com a guerra ou com a paz? Em determinadas circunstâncias, a confrontação pode ser o único caminho. Por exemplo, quando estiverem em jogo a democracia e as liberdades. Mas o momento que vivemos no Brasil é de plenitude dos direitos fundamentais assegurados pela Constituição. Então, neste momento, as questões podem e devem ser resolvidas na concórdia e na paz.

Quero, portanto, Sr. Presidente, me colocar inteiramente na contramão desse estado de coisas que se vai forjando desde que Lula ascendeu à Presidência. Para os que insistem em exercitar a pressão, digo, sem nenhum temor, que ela em nada colabora neste momento. Ao invés do confronto, o Brasil necessita mais do que nunca da cooperação, da busca de soluções conjuntas, e como acabou de nos dizer o orador que me antecedeu, Senador Paulo Paim, de um grande mutirão de construção.

A reforma agrária é uma necessidade. Há consciência no País de que não podemos mais conviver com essa situação de desigualdade com a qual nos deparamos a cada esquina, a cada rua. Não podemos mais aceitar pacificamente irmãos nossos a mendigar nos sinaleiros. E a reforma agrária, feita de maneira pacífica e com instrumentos capazes de implementar o trabalho no campo, passa a ser a grande solução. Mas que ela seja feita e implementada nos limites da lei e em paz.

E temos que, como agentes públicos, quer seja neste plenário, quer seja alertando, denunciando ou propondo, trabalhar para que isso aconteça. É hora de diálogo e de somar esforços.

Sim, em meio à guerra, é preciso pregar a solidariedade como o único caminho capaz de forjar as transformações almejadas por todos. Não há, Srªs e Srs. Senadores, nenhum motivo para essa loucura e essa pressa, como se não fôssemos uma Nação civilizada. O nosso Governo é democrático, inteiramente disposto ao diálogo. É por essa trilha que devemos caminhar, para que o Brasil não se perca.

É preciso solidariedade e compreensão, para que o País possa aplicar projetos bem-sucedidos que garantam a terra a quem não a possui, por intermédio de uma reforma agrária pacífica, ordeira, técnica e, principalmente, planejada.

É preciso solidariedade e cooperação, para que as famílias brasileiras possam ter acesso ao seu lar, plantando mutirões em todos os 5,561 mil Municípios brasileiros, tendo em vista zerar o déficit habitacional de sete milhões de moradias.

É preciso solidariedade e patriotismo, para que as reformas sejam implantadas dentro da imprescindível necessidade de evitar um rombo ainda maior que pode consumir a nossa Previdência e levar os Estados e os Municípios à catástrofe financeira.

É preciso solidariedade e trabalho, para que o Brasil possa finalmente retomar a via do crescimento econômico, gerando emprego e renda, fomentando o mercado interno, devolvendo a paz e a felicidade às nossas famílias.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, por fim, abordar a imprescindível força da solidariedade para resolver o maior de nossos males: a fome e a miséria, que vitimam 45% da população brasileira.

É preciso avançar com vontade política, com determinação e com passos gigantescos em direção à eliminação, em médio prazo, de nossos seculares e vergonhosos indicadores sociais. Continua terrível a realidade da distribuição da riqueza nacional. Basta relembrar que os 10% mais ricos ficam com 46% da renda total no Brasil. Essa disparidade social é tão chocante e absurda, que um rico recebe mais do que 50 pobres.

Não é mais possível conviver com a indigência que vitima 55 milhões de brasileiros e com a pobreza de mais de 25 milhões de pessoas que sobrevivem precariamente. Ao todo, são 75 milhões de miseráveis e pobres em uma população de 170 milhões de habitantes! Não podemos mais conviver com tamanha injustiça!

O momento é mais do que oportuno, portanto, para lembrar que a semente da solidariedade no setor social foi justamente plantada em Goiás há oito anos e sete meses, quando Maguito Vilela assumiu o Governo do Estado, implantando uma experiência inédita até então: o programa de amparo às famílias carentes, que, de maneira definitiva, inspirou toda a Nação a adotar a prática da solidariedade humana como o caminho justo e fraterno para solucionar os graves problemas sociais.

Houve um consistente projeto de combate à fome, projeto esse que, de início, foi muito criticado. Lembro-me de que, quando o Senador Maguito Vilela, do qual sou suplente, lançou o programa de combate à fome em Goiás, houve quem dissesse que ele estava dando o peixe, enquanto é preciso ensinar a pescar. Também concordo com essa afirmativa, mas sabemos que a situação em que vivemos no País não dá condições a determinados cidadãos sequer de pensarem em como aprender a pescar. E, por meio desse consistente projeto de combate à fome, naquele período, 90 mil crianças eram atendidas diariamente com leite e pão. No total, 150 mil famílias eram assistidas por um cuidadoso programa de segurança alimentar. Essas iniciativas associavam os benefícios a exigências nos setores educacional e de saúde. Dessa forma, 19 mil crianças voltaram às salas de aula, e todas as 90 mil atingidas pelo projeto tinham que apresentar cartão de vacina. Por fim, a implementação do programa movimentou a economia local, mediante a geração de quatro mil empregos diretos, com a industrialização do leite.

Dessa forma, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao pregar a solidariedade como o caminho para a construção do Brasil que sonhamos, faço também, neste momento, neste plenário, para todos que estiverem assistindo à TV Senado, uma homenagem ao brilhante Senador Maguito Vilela, o ex-Governador de Goiás que plantou a semente da justiça social, que, graças a Deus, hoje floresce nos quatro cantos desta Nação.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/07/2003 - Página 20715