Discurso durante a 102ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários à reportagem do jornal O Globo, de hoje, intitulado "Planalto demite indicados por petistas infiéis", que faz referências à demissão do diretor-executivo da Fundação Nacional de Saúde - Funasa, Sr. Antonio Carlos Andrade, marido da deputada federal Maninha.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários à reportagem do jornal O Globo, de hoje, intitulado "Planalto demite indicados por petistas infiéis", que faz referências à demissão do diretor-executivo da Fundação Nacional de Saúde - Funasa, Sr. Antonio Carlos Andrade, marido da deputada federal Maninha.
Aparteantes
Almeida Lima, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 22/08/2003 - Página 24594
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REFERENCIA, DEMISSÃO, ANTONIO CARLOS ANDRADE, DIRETOR, FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAUDE, CONJUGE, DEPUTADO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OPOSIÇÃO, PROPOSTA, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, GOVERNO.
  • CRITICA, MANIPULAÇÃO, NATUREZA POLITICA, FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAUDE, ATENDIMENTO, INTERESSE, GOVERNO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o jornal O Globo de hoje publica notícia que me chama a atenção e que, de certa forma, choca a nação brasileira: “Planalto demite indicados por petistas infiéis”. Segundo o jornal, o esposo da Deputada Federal Maninha teria sido demitido da direção executiva da Funasa em função do voto proferido pela Deputada contra a reforma previdenciária do governo.

É difícil aceitar que, porventura, tenham indicado alguém sem competência para a direção executiva da Funasa, politizando, amesquinhando e rebaixando o papel desse órgão. E fica difícil aceitar que indicaram um grande executivo da Funasa que, por acaso, era marido da Deputada Maninha, e o demitiram, apesar da sua competência, porque a Deputada votou, seguindo os ditames da sua consciência, contra o dictati do bunker do Palácio do Planalto.

Faço um alerta para esse conluio entre a fisiologia e a falta de convicção. Volto a repetir, porque repetir é absolutamente necessário. O Sr. Antonio Carlos Andrade ou foi nomeado de maneira politiqueira e, portanto, de maneira pouco legítima para a direção executiva da Funasa, nomeado para se cooptar voto da Deputada Maninha e não para servir à saúde pública do País, não para fazer saneamento básico, não para cuidar da coisa pública, mas para transformar em aparelho partidário algo que é essencial ao desenvolvimento social do povo brasileiro - e aí se cobra com a moeda da retaliação o compromisso estabelecido a partir da fisiologia -, ou o Sr. Antonio Carlos Andrade, por acaso esposo da Deputada Maninha, foi nomeado por ser um grande técnico...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me concede um aparte? Gostaria de, rapidamente, acrescentar um fato ao seu discurso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, posso conceder um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos) - É regimental.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concedo um aparte ao Senador José Jorge, com muita honra.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Parece que isso está ocorrendo no Brasil inteiro. Em Pernambuco, por coincidência, a diretora da Funasa é esposa de um vereador do PT. Candidata a Deputada Federal, não se elegeu, e foi também nomeada representante da Funasa. Inclusive, para fazer essa nomeação tiveram que mudar a legislação, porque ela não era nem funcionária do órgão.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com relação à questão da derrota eleitoral, o povo do Rio Grande do Sul já está avisado: se derrotar os políticos do PT, já sabe que terá que aturá-los no Ministério. O povo do Rio Grande do Sul fica meio sem opção para se manifestar livremente sobre os homens do Partido dos Trabalhadores.

O Sr. Almeida Lima (PDT - SE) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª concede-me um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concedo um breve aparte a V. Exª.

O Sr. Almeida Lima (PDT - SE) - Desejo apenas colaborar, dizendo que em Sergipe aconteceu o mesmo que ocorreu no Estado de Pernambuco, tendo em vista que a direção da Fundação se encontra exatamente com uma candidata derrotada, irmã de um candidato também derrotado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Vê-se que a Funasa virou comitê eleitoral, que foi politizada. Volto a repetir, porque este é o discurso mais tautológico, mais repetitivo que talvez eu tenha proferido no Senado Federal: ou o Sr. Antônio Carlos de Andrade foi nomeado pela via da politiquice, pela via da fisiologia, para um cargo para o qual não estava preparado e apenas por ser marido de uma Deputada do PT - portanto de alguém que votaria com o Governo com fidelidade canina - ou S. Exª é um grande técnico. Se é um grande técnico, porque, ao votar a Deputada contra a diretriz do Palácio do Planalto, o Sr. Antônio Carlos de Andrade foi demitido, apesar de, porventura, ser um grande técnico? Por que a sua relação matrimonial seria responsável pelo ceifamento da sua carreira pública?

Alerto para esse desvão. Isso é um desvão. Talvez fosse mais lícito não terem dado para trás, politizando a Funasa. Talvez fosse mais lícito não terem cedido a um eventual pedido da Deputada e não terem nomeado o marido dela para cargo algum no Governo, se ele é tão descartável, tão dispensável assim. Se ele não é descartável, não é dispensável, a Deputada pode votar pelo estabelecimento da monarquia, contra ou a favor de qualquer reforma, por estabelecimento de relações do Brasil com Marte, pode votar, enfim, do jeito mais esdrúxulo que lhe cabe fazer que o cargo do seu marido deveria ser mantido intocado, em função da sua competência, do seu preparo, do seu espírito público. Ou seja, que o Governo não enverede e não se desvie pelos desvãos que costumam ser escabrosos da despolitização, em relação ao macro, e da politização, em relação ao micro, aparelhando aquilo que é do povo no saneamento, no bem-estar social, demonstrando explicitamente, de novo, esse caráter entre autoritário e fisiológico de alguém que pensa: se não rezou pela cartilha, eu demito; mas nomeio qualquer um, ainda que descartável, ainda que imprestável, ainda que incompetente. Nomeio qualquer um desde que isso sirva aos interesses políticos e politiqueiros do bunker do Palácio do Planalto.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/08/2003 - Página 24594