Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios à Senadora Heloísa Helena. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Elogios à Senadora Heloísa Helena. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/2003 - Página 41955
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, HELOISA HELENA, SENADOR, VITIMA, EXPULSÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, minha querida Senadora Heloisa Helena, em minha primeira manifestação da tribuna, eu não poderia deixar de falar de V. Ex.ª, sem que isto implique ingerência em assuntos de outro partido. Uma pessoa como V. Exª não pode sofrer seu calvário político sem receber a solidariedade pública daqueles que, como eu, aprenderam a admirá-la. E note que falo não apenas em respeito, mas em admiração. Respeito se deve a todas as pessoas, indiscriminadamente, pelo fato de terem uma consciência e serem de nossa espécie, mas admiração se devota apenas a seres especiais, como V. Exª, que nos fazem sentir orgulho de pertencer ao gênero humano.

Sr. Presidente, há um comício em plenário.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos. Fazendo soar a campainha.) - Srªs e Srs. Senadores, a Presidência reforça a solicitação do orador, que está na tribuna pedindo que o Plenário lhe dê condição de proferir o seu discurso.

Senador Jefferson Péres, a Presidência assegura a V. Ex.ª o uso da palavra.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Mas admiração se devota apenas a seres especiais, como V. Exª, que nos fazem sentir orgulho de pertencer ao gênero humano.

Mas o preço a pagar é muito alto. Dizia Hemingway, em Adeus às Armas, que o mundo quebra a todos indistintamente, mas quebra com especial predileção, e implacavelmente, os muito bons e os muito fortes.

E começa a nos quebrar quando parece nos condenar à solidão. Solidão que é expiação e castigo, mas é também promessa de redenção, na qual precisamos acreditar, sob pena de fazermos o “melancólico enterro da nossa última quimera”. Sob pena de nos sentirmos exilados em nossa própria terra. Um sentimento que, sobre V. Ex.ª agora, se torna ainda mais pungente. Ao sermos expatriados de nossa tribo, a mesma se torna um grupo estranho, perdido o sistema de crenças e valores que a ela nos unia.

É doloroso, mas se trata de uma expiação, incontornável para aqueles que, ao subordinarem sua vida a princípios, não devem esperar dos outros sequer compreensão. Porque para muitos é difícil compreender que alguém não se deixe imantar pela sedução do poder, do dinheiro, dos projetos pessoais, ou mesmo pelas pressões de toda sorte, inclusive as do afeto.

Jamais compreenderão os pragmáticos que ceder em princípios, para nós, não é algo episódico, circunstancial, mas substantivo, que implica uma renúncia dilacerante, à qual não conseguiríamos sobreviver, porque nos destruiríamos por dentro, transformados em mortos-vivos, sombras de nós mesmos ou, na imagem pessoana, “cadáveres odiados que procriam”.

Não há como ser diferente com aqueles que nasceram para ser gauches na vida. E gauche, para mim, é se distinguir da mediania cinzenta dos seres convencionais, pela crença de que a vida não vale a pena ser vivida se não for também sonhada.

Creio que nascemos com a vocação inata de cavaleiros andantes, sempre com a utopia por meta. Haveremos de perseverar até o fim na busca de um Santo Graal mítico, que não alcançaremos nunca. É certo que, no mundo de hoje, seremos vistos menos como paladinos da távola arturiana e mais como patéticos cavaleiros manchegos a investir, ensandecidos, contra monstros imaginários.

Minha cara Heloísa Helena, ouço, com espanto, que V. Exª seria portadora de graves defeitos, uma acusação que me espanta já que deveria, ao contrário, servir para exaltá-la, porque denunciadora da sua pureza e do seu idealismo.

Radicalismo, indisciplina, imaturidade, indignação, só não as demonstram os que perderam irremediavelmente a inocência. Esses jamais compreenderão, nem perdoarão aqueles que vivem permanentemente emocionados porque permanentemente inconformados.

Tivessem sensibilidade poética e saberiam que “a palavra da boca é inútil se não emana de um sopro do coração”. E saberiam que, “entre lágrima e riso, a rosa nasce” e que a lágrima, às vezes, tem o poder de lavar o mundo.

Talvez alguns estranhem a minha emocionada solidariedade a V. Exª, tão diferente somos pela origem, pelo temperamento, pela ideologia. Mas nada há de estranhável. A superar nossas diferenças, a nos identificar com um elo comum, há um profundo e inarredável compromisso com valores que sabemos fundamentais.

Senadora Heloísa Helena, a melhor homenagem que eu poderia prestar a V. Exª vem da palavra de um crítico do passado, Franklin de Oliveira, que dizia que uma das mais belas passagens da Literatura universal era aquela do romance Crime e Castigo, de Dostoievski, cujo personagem principal, Raskolnikov, prosterna-se aos pés de uma mulher do povo chamada Sônia. E diz Franklin de Oliveira que, com aquele gesto, Dostoievski queria homenagear toda a humanidade sofredora.

Neste momento, simbolicamente, ajoelho-me a seus pés, Heloísa, para homenagear todos aqueles que não se dobram, não se curvam e afirmam a dignidade como o apanágio maior da condição humana.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/12/2003 - Página 41955