Pronunciamento de Valmir Amaral em 18/02/2004
Discurso durante a 3ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem ao Dr. Manoel Francisco do Nascimento Brito, ex-Diretor-Presidente do Jornal do Brasil, falecido em 8 de fevereiro de 2003.
- Autor
- Valmir Amaral (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
- Nome completo: Valmir Antônio Amaral
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem ao Dr. Manoel Francisco do Nascimento Brito, ex-Diretor-Presidente do Jornal do Brasil, falecido em 8 de fevereiro de 2003.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/02/2004 - Página 4776
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, MANOEL FRANCISCO DO NASCIMENTO BRITO, EX-DIRETOR, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, ATUAÇÃO, IMPRENSA.
O SR. VALMIR AMARAL (PMDB - DF. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, certas pessoas deixam, de sua passagem pelo mundo, um legado tão importante e profundo que suas conquistas passam a fazer parte da rotina, como se integrassem o mundo natural. Quem vê a atual feição gráfica e conhece o perfil profissional dos grandes jornais brasileiros, por exemplo, não imagina como era a imprensa diária nacional até a década de cinqüenta do século passado, quando Manuel Francisco do Nascimento Brito, na condição de diretor-presidente do grupo Jornal do Brasil, empreendeu a modernização do matutino carioca, mudança que seria seguida, posteriormente, por todos os outros grandes órgãos impressos diários.
Essa realização, embora marcante e definitiva, e embora de importância bastante para inscrever o nome de jornalista e empresário na História dos meios de comunicação do País, é ainda insuficiente para dar a medida da grandeza do homem cujo falecimento transcorreu a doze meses. A leitura dos artigos publicados um ano atrás, nos mais diversos órgãos de nosso jornalismo, ajuda a fazermos um perfil mais humano, que se sobrepõe ao simples mito de inovador.
Nesse sentido, dois aspectos foram destacados por todos os que o conheceram ou acompanharam a trajetória do Jornal do Brasil durante o meio século em que teve Nascimento Brito a sua frente. Esses traços de caráter, em minha opinião, devem ser mencionados nesta sessão de homenagem à memória do homem público que ele foi. Em primeiro lugar, sua luta incansável pela liberdade de opinião; em segundo, sua personalidade cavalheiresca de homem do mundo, que não abre mão da elegância nos trajes e no trato com as pessoas, sejam as autoridades nacionais, sejam seus subordinados nas empresas que dirigiu.
A defesa intransigente da liberdade de opinião levou-o a entrar em conflito com os órgãos de censura durante a ditadura militar. Ninguém esquece, por exemplo, como o JB noticiou o clima político da Nação, no dia seguinte ao da promulgação do Ato Institucional de número 5, sob o disfarce de boletim meteorológico, uma idéia que partiu do jornalista Alberto Dines e foi aprovada pelo Dr. Brito. De outra feita, chegou a ser detido na Polícia Federal pelo fato de seu jornal haver publicado a lista de prisioneiros políticos a serem permutados pela liberdade do embaixador alemão, seqüestrado por uma facção da guerrilha urbana. Diante da ameaça ilegal, feita pelo policial, de ser obrigado a passar a noite em uma cafua imunda dos porões da repressão -- logo ele, um verdadeiro gentleman --, Nascimento Brito, corajosamente, recusou-se a fornecer a seu interrogador o nome da fonte da informação dentro do Governo.
O episódio termina quando o oficial, rendido pela fibra do jornalista e pela inconveniência, para o regime, de deter figura tão notável, de prestígio internacional, finalmente anunciou sua libertação, lá pelas onze da noite. Nascimento Brito disse-lhe: “Agora posso dizer quem me passou a informação, para que o Sr. veja como são as coisas: foi o próprio Ministro da Justiça.”
O empresário e administrador comprometido com a qualidade jornalística e o homem de imprensa destemido era, ainda, um autêntico, cavalheiro, coisa que se vai tornando rara nestes tempos de grosseria e vulgaridade generalizada. Vários dos maiores jornalistas do País, que trabalharam com o Dr. Brito, como Augusto Nunes, Alberto Dines, Villas-Boas Corrêa, Fritz Utzeri, para citar alguns nomes, foram unânimes em mencionar esse traço de sua personalidade, tanto no trato pessoal quanto no profissional, sempre respeitando a opinião dos seus editorialistas. O apreço das mais importantes figuras da política nacional, expresso à ocasião de seu falecimento, constitui uma medida da marca que Manuel Francisco do Nascimento Brito deixou na vida brasileira.
Com essas palavras breves, desejo associar-me a esta homenagem que presta o Congresso Nacional ao inesquecível Dr. Brito, desejando que seu exemplo continue a frutificar no progresso de nosso jornalismo.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado.