O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem está num Partido de Oposição foi colocado na Oposição pela vontade popular. Disputamos o Governo, e a nossa intenção era dirigir a Nação, emprestando os nossos quadros, as nossas idéias, os nossos posicionamentos. Mas a população colocou-nos do outro lado, e temos de exercer a nossa função com muita galhardia, sem revanchismo, sem conotação pejorativa, mas contribuindo para que o Brasil melhore, mostrando o nosso posicionamento que a população muitas vezes não acolheu, não quis acolher, mas atuando sempre com muita lealdade.

Muitos não entendem como chegamos aqui, muitas vezes, depois de uma crítica dura, abraçados a adversários. Mas isso ocorre pelo simples motivo de não sermos inimigos.

Quantas vezes subi a esta tribuna para combater, como quando da PEC paralela do Senador Tião Viana. Eu acreditava que a PEC paralela era um engodo, que ela não iria caminhar; mas sempre tive pelo Senador, independente de minha posição, o maior respeito e até amizade. Somos vizinhos e nos encontramos várias vezes. Admiro S. Exª.

Assim também acontece em relação ao Senador Aloizio Mercadante. S. Exª é um Senador tão elétrico que, ao encostar, levamos um choque; mas é um homem que, efetivamente, tem uma posição respeitável nesta Casa.

A política não pode percorrer caminhos escuros. Não podemos trilhar a senda do imponderável. Temos que exercer, sim, o nosso dever de situação e oposição sem utilizar meios escusos para chegar ao nosso objetivo.

Não conheço o Ministro José Dirceu. Para dizer a verdade, vi uma vez o Ministro sentado neste plenário. Pessoalmente, não tenho nada contra S. Exª. Não tenho ódio, não detesto S. Exª; ao contrário. Mas entendo que as atitudes de S. Exª como Ministro mereceram e merecem críticas contundentes.

            Não entendo por que não podemos investigar esse episódio! Para dizer a verdade, com o nosso grande coração lusitano, se não fizermos imediatamente a crítica, nosso coração se arrepende. Como diziam Ruy Guerra e Chico Buarque:

E se a sentença se anuncia bruta

Mais que depressa a mão cega executa

Pois que senão o coração perdoa.

Hoje, vivemos uma situação que há muito vem sendo denunciada. O Senador Antero Paes de Barros, as lideranças vêm informando que há perseguição, que a família vem sendo ameaçada, e agora temos esse episódio.

Podemos estabelecer alguma ligação de imediato? Claro que não, qualquer um que estabeleça seria leviano. E mais, quem, como eu, já foi Secretário de Segurança Pública sabe que o crime, muitas vezes, tem resultados imponderáveis. Uma agressão, a queima de alguém pode acontecer até por motivo banal, mas não dessa forma. Para que a reação seja tão grande é quase sempre necessário que no meio haja paixão, ódio ou um recado.

Estamos vivendo um momento de dúvida e precisamos, inclusive, emprestar solidariedade a um Senador aguerrido, forte e que é o capitão de uma denúncia que abalou o País, uma denúncia responsável pelo maior desmonte acontecido desde a era Collor de um sistema de corrupção instalado dentro do Palácio do Planalto.

Neste momento, precisamos do apoio do Ministro da Justiça, que tantas vezes aqui critiquei, mas acredito firmemente na sua posição jurídica de um homem ponderado e que sabe muito bem como resolver essas situações. Precisamos do apoio da Presidência da República e também do Senado.

Por isso, penso que não temos como dar continuidade à sessão de hoje. Devemos suspendê-la, Sr. Presidente, para que a Comissão que irá ao Ministro da Justiça e também ao Diretor-Geral da Polícia Federal possa ser acompanhada por todos nós, como solidariedade a um homem que hoje vive, como nós, a dúvida de valer à pena fazer oposição, seguindo a vontade do povo que nos elegeu, e correr riscos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.