Discurso durante a 16ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupações com as mudanças climáticas no mundo. Debate sobre o uso de ciência e tecnologia para região amazônica.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Preocupações com as mudanças climáticas no mundo. Debate sobre o uso de ciência e tecnologia para região amazônica.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2004 - Página 7020
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • COMENTARIO, RELATORIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PREVISÃO, CALAMIDADE PUBLICA, ALTERAÇÃO, CLIMA, MUNDO, FOME, GUERRA, MOTIVO, SUBSISTENCIA, MORTE, REDUÇÃO, POPULAÇÃO, RISCOS, CONFLITO, LUTA, RECURSOS HIDRICOS, ESPECIFICAÇÃO, RIO AMAZONAS.
  • APREENSÃO, AUSENCIA, IMPLEMENTAÇÃO, PROGRAMA, GOVERNO FEDERAL, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO AMAZONICA, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, CRITICA, AUMENTO, AREA, CULTIVO, SOJA, DESMATAMENTO.

O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há quatro semanas que o tema de debate nesta Casa gira em torno do mesmo assunto. Queria, nesta oportunidade, abordar uma preocupação que é do meu Partido e que diz respeito ao destino dos seres humanos no Planeta.

Tenho aqui uma matéria publicada na Carta Capital, do dia 03 de março, que trata a respeito de um relatório encomendado pelo Pentágono sobre mudanças climáticas. O título da matéria é “O Apocalipse está aí”. E gostaria de compartilhar essas preocupações com as Srªs e os Srs. Senadores e com os telespectadores da TV Senado e da Rádio Senado.

Esse relatório é um relatório secreto, suprimido pelos chefes da Defesa norte-americana e obtido pelo jornal The Observer. O relatório adverte que grandes cidades européias ficarão submergidas pelos mares, enquanto a Grã-Bretanha terá um clima “siberiano” até o ano de 2020 - e o ano de 2020 já está ali na curva. Conflitos nucleares, grandes secas, fome e tumultos generalizados acontecerão ao redor do mundo.

Esse relatório foi encomendado por Andrew Marshall, influente conselheiro de Defesa do Pentágono, e produzido por cientistas e pesquisadores do Pentágono, ou seja, não foi elaborado por nenhuma organização não-governamental.

As conclusões desse relatório são dramáticas para a humanidade. Vou citar apenas algumas das conclusões:

- As guerras futuras serão gravadas por sobrevivência, e não por religião, ideologia ou honra nacional;

Aqui se fala em até 2007, ou seja, nos próximos anos. No ano passado, já tivemos uma forte onda de calor na Europa, que matou 13 mil idosos na França, e inundações se espalham pelo mundo todo.

O relatório prossegue:

- Até 2007, chuvas torrenciais destruirão barreiras costeiras e tornarão grande parte da Holanda inabitável. Cidades como Haia serão abandonadas. Na Califórnia, barreiras no rio Sacramento serão rompidas, interrompendo o sistema de aquedutos que leva a água do norte ao sul.

- Mortes por guerra e fome chegarão aos milhões até a população do planeta ser reduzida a um nível sustentável.

- Rebeliões e conflitos internos esfacelarão a Índia, a África do Sul e a Indonésia.

- O acesso à água se tornará um campo de batalha. O Nilo, o Danúbio e o Amazonas são mencionados como sendo de alto risco.

Eu queria chegar exatamente ao Amazonas e à Amazônia. Na semana passada, estivemos reunidos com os reitores das universidades amazônicas para debater investimentos em Ciência e Tecnologia para a região. Indaguei: para que Ciência e Tecnologia para a Amazônia, para seguirmos destruindo, convertendo floresta tropical diversificada em commodity para exportação, em cultivo de soja para engordar as vacas leiteiras européias, subsidiadas em US$960 por ano? Será que reproduziremos o mesmo modelo destruidor que está nos levando a uma direção perigosa? A nave Terra está indo numa direção perigosa, e o relatório do Pentágono mostra, com clareza, que as mudanças climáticas podem provocar catástrofes inimagináveis. E nós, que possuímos uma região ainda preservada, que concentra grande biodiversidade e com possibilidades de construir um novo modelo de desenvolvimento, não atentamos para a questão.

O programa anunciado pelo Presidente Lula, em maio do ano passado, em Rio Branco, capital do Acre, ainda não saiu do papel. Trata-se de um programa que combina atividade econômica com preservação ambiental e cuja racionalidade está à toda prova. Por que esse programa não avança? Por que o Banco do Brasil continua esticando a fronteira agrícola e financiando soja na Amazônia? Para nos colocar em situação de vulnerabilidade na hora em que o INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Especiais - anunciar, para breve, o avanço do desmatamento na Região? Em 2002, o desmatamento foi da ordem de 25 mil quilômetros quadrados e, em 2003, haverá um avanço.

Tomamos conhecimento de um relatório que mostra o Presidente George Bush como um homem que resiste à qualquer tentativa de racionalidade na mudança do modelo de produção e de consumo do seu país. É hora de nos preocuparmos e de exigirmos que seja implantado esse programa para a Amazônia. Entre transformar a Amazônia em um santuário ou destruí-la para plantar soja há espaço para uma discussão e para a construção de um modelo racional, que reconheça as comunidades locais, preserve a biodiversidade da Amazônia, e mostre, definitivamente, que não é incompatível o desenvolvimento econômico com preservação e respeito cultural ao povo que lá vive. 

Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2004 - Página 7020