Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios à atitude do governo brasileiro de cassar o visto de permanência no Brasil do jornalista do The New York Times, Larry Rohter.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Elogios à atitude do governo brasileiro de cassar o visto de permanência no Brasil do jornalista do The New York Times, Larry Rohter.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2004 - Página 13981
Assunto
Outros > IMPRENSA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, DECISÃO, GOVERNO BRASILEIRO, CANCELAMENTO, VISTO PERMANENTE, JORNALISTA, JORNAL, THE NEW YORK TIMES, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), AUTOR, ARTIGO DE IMPRENSA, OFENSA, DIGNIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto à tribuna para tratar desse lamentável assunto. Esperava não ter de fazê-lo mais. Julgava que o tínhamos tratado de forma adequada na segunda-feira, inclusive com a confluência de todos os Líderes para a assinatura de um voto de repúdio à matéria publicada, conforme acertado no gabinete do Presidente.

Não dá para ouvir determinadas questões sem que tenhamos a possibilidade de fazer reflexões sobre o seu significado. Em primeiro lugar, houve uma publicação ontem:

“NYT” defende sua matéria polêmica sobre Lula.

O jornal “The New York Times” defendeu como “correta” nesta terça-feira a matéria publicada no domingo (...).

“Achamos que a matéria é correta”, disse sem mais comentários, Catherine Mathis, porta-voz do jornal.

Portanto, não se trata da reportagem de um jornalista, mas da posição do jornal. Tal posição, volto a afirmar, não é gratuita, fortuita, não existe por acaso. A matéria tenta desqualificar, desmontar - não vou usar a palavra “denegrir” pelo caráter preconceituoso que traz, mas é exatamente esse o conteúdo - uma figura pública, uma liderança política que, neste momento, está ocupando internacionalmente a liderança de todos os embates que se estão dando nos organismos internacionais, seja na Organização Mundial de Comércio, seja na rearticulação do bloco dos países emergentes ou nas negociações com a União Européia, com os Estados Unidos, sobre a Alca, ou na aglutinação do Brasil e do Mercosul com a China, a Índia, a Rússia, os países árabes, a África do Sul.

Não é uma reportagem qualquer, num momento qualquer, para tratar de um presidente qualquer. Não. Trata-se do Presidente que, há poucos dias, foi citado pela própria revista Time como uma das cem mais influentes personalidades políticas da atualidade - o único representante dos países emergentes -, exatamente por essa posição política de enfrentamento e aglutinação que vem tomando.

Então, não é qualquer coisa, não é uma simples reportagem. E só sob essa ótica consigo entender - depois de ler a afirmação do The New York Times de que não é a posição do jornalista, mas do jornal - a decisão do Presidente da República. O que está em jogo nessa questão não é a liberdade de imprensa, mas a soberania de um país que ousa contrapor-se às decisões e interesses dos grandes grupos econômicos, das nações que determinam toda a concentração de renda e riqueza e fazem com que milhões de habitantes do planeta estejam na miséria.

A decisão da OMC sobre o subsídio ao algodão está, indiscutivelmente, nesse contexto. Essa decisão vai permitir que inúmeros países paupérrimos da África tenham uma perspectiva para a sua população, que sobrevive exclusivamente da agricultura. É isso que está em jogo, é esse o contraponto.

Ainda gostaria de completar, porque houve “republiqueta de banana”, “bananeiro” e tal, mas este País não se conformará, como não o fez outras vezes - esse é o sentimento do povo brasileiro -, de ver alguém dando “bananas” para nós. Quero saber se alguém aqui fez a defesa, nesta tribuna, daquela pessoa que foi presa e expulsa por fazer um gesto obsceno na hora de tirar a impressão digital, como os Estados Unidos obrigam os brasileiros a fazer para entrar lá.

A soberania do nosso País está por trás dessa discussão. Essa é a discussão de fundo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Quero ainda, Sr. Presidente, se V. Exª me permitir, citar outros fatos, pois não é a primeira vez que o jornalista Larry Rohter faz algo assim. Em fevereiro de 1999, ele atacou o Sr. Itamar Franco, que, na época, era Governador de Minas Gerais, com uma matéria ridícula a respeito da peruca de S. Exª; em dezembro de 2000, publicou no site do jornal The New York Times denúncias contra o Exército brasileiro, que as repudiou e desmentiu; caluniou autoridades brasileiras no episódio do antraz, fazendo acusações contra o Presidente da Fiocruz, Paulo Buss, e o Ministro da Saúde José Serra.

Então, Sr. Presidente, quero deixar registrado o contexto dessa reportagem, e dizer que o contexto da atitude tomada pelo Presidente é, sim, de defesa do papel fundamental que o nosso País vem desempenhando nos embates internacionais; do que está em jogo no comércio, nas relações entre os países - entre aqueles que têm o poder e o controle e os que estão buscando espaço para sobreviver.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2004 - Página 13981