Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Aplausos à iniciativa de reedição do Projeto Rondon.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PPS - CIDADANIA/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Aplausos à iniciativa de reedição do Projeto Rondon.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2004 - Página 14376
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, RECRIAÇÃO, PROJETO RONDON, MOBILIZAÇÃO, ESTUDANTE, ENSINO SUPERIOR, PROFESSOR UNIVERSITARIO, VISITA, REGIÃO SUBDESENVOLVIDA, ATENDIMENTO, COMUNIDADE, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • IMPORTANCIA, INTEGRAÇÃO, ESTUDANTE, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO CARENTE.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PPS - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna comentar a reedição do Projeto Rondon. Esse projeto teve seu começo em 1967 e funcionou durante 22 anos, vindo a ser extinto em 1989.

Durante sua vigência, o projeto envolveu um número expressivo de jovens universitários: cerca de 350 mil estudantes deixaram a comodidade de seus lares, para viajar pelo Brasil, especialmente para as regiões mais carentes, e ficaram face a face com realidades diversas. Além disso, cerca de treze mil docentes do ensino superior brasileiro investiram seu precioso intelecto na busca de soluções práticas para os problemas sociais do País.

Frente à atual realidade social, em que as relações interpessoais estão cada vez mais frias e mercantis, fico pensando se o que necessitamos neste País não é justamente um pouco do que o antigo Projeto Rondon conseguia: tirar as pessoas, especialmente a minoria privilegiada que tem acesso ao ensino superior, de seu comodismo e incentivá-las a demonstrar o interesse e a preocupação com o semelhante menos favorecido.

Nobres Colegas, às vezes vejo nos noticiários televisivos a entrada de novos alunos, os calouros, nas universidades. Muitas vezes esse momento é marcado pelo famoso trote: uma brincadeira sem sentido, e que geralmente só traz o ensinamento vil da humilhação. O trote nada mais é do que o retrato da alienação em que vivem esses adolescentes de classes favorecidas.

Depois do ingresso no ensino superior, durante os anos subseqüentes, eles recebem apenas uma enxurrada de conhecimento teórico. Quando existe alguma prática, é pouca, ou é em um ambiente artificial demais: laboratórios das faculdades, hospitais universitários, fazendas-modelo etc. O estudante nunca sai de seu mundinho protegido para conhecer a realidade nua e crua da maior parte da população brasileira e ter a chance de utilizar, de maneira realmente útil e produtiva, tudo aquilo que aprendeu.

Infelizmente, nossa sociedade tem, entranhado em suas veias, esse conceito errôneo e destrutivo: o de tratar o adolescente de maneira especial, superprotegendo-o. Pois é exatamente esse “pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescência num grande vazio. Vão eles, então, buscar, em seu banco de dados cultural desprovido de conteúdo, formas de participação social que julgam ser de algum valor, tal como o idiota trote universitário.

Demos a esses jovens “um choque de realidade”, como disse o Presidente Lula. Ajudemo-los a encontrar um sentido para as inúmeras noites que gastaram debruçados sobre livros e mais livros. Eles, um dia, nos agradecerão por isso.

Uma pesquisa feita na Internet, com o tópico “Projeto Rondon”, me trouxe o currículo de um renomado médico e pesquisador: Dr. Paulo Câmara Marques Pereira. No currículo dele, orgulhosamente registradas duas participações no Projeto Rondon: equipes 136 e 144, na cidade de Humaitá, no Amazonas. Vejam os Senhores e Senhoras: esse médico, atualmente um pós-doutor com formação no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts - EUA), fez questão de registrar em seu currículo profissional essas duas passagens pelo Projeto Rondon. Por quê? Simplesmente porque isso o marcou. Marcou sua vida para sempre. Ali, pela primeira vez, ele deve ter tido a sensação de que sua profissão seria realmente útil para alguém. Quando chegou a Humaitá, com toda a certeza, não foi recebido como um estudantezinho inexperiente, mas como um herói, como uma dádiva. E isso certamente o marcou para o resto de sua vida, como atesta o fato de ele ter sido voluntário por duas vezes e de ter registrado isso no seu currículo profissional, colocando essa experiência com a mesma importância de seus 86 artigos, 14 livros, 161 trabalhos apresentados, e muitos outros grandes feitos acadêmicos.

Esse é apenas um exemplo. Que dizer dos outros 363 mil estudantes que também participaram do projeto e que, por onde passaram, deixaram um pouco de calor humano, de sentimento e de preocupação com o próximo, e levaram dali uma lição que os marcaria para o resto de suas vidas?

Sim, devemos aplaudir essa iniciativa de reedição do Projeto Rondon. Devemos dar aos nossos jovens essa chance de humanizar-se. Para os lugares mais carentes deste nosso Brasil, esses jovens levarão um pouco do conhecimento que têm aprendido; e tenho a impressão de que, ao saírem dali, eles poderão fazer um balanço da experiência vivida e chegarão à conclusão de que os maiores beneficiados foram eles mesmos.

Espero sinceramente que essa nova edição do Projeto Rondon seja levada a sério, com todo empenho e competência administrativa por parte de nossas autoridades e órgãos governamentais, a fim de que, em breve, possamos colher os frutos desse semear de solidariedade na sociedade brasileira.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2004 - Página 14376