Discurso durante a 131ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de artigo intitulado "Escolinha do Professor Samuel", de autoria do jornalista Alexandre Oltramari, publicado na revista Veja, em 15 do corrente.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Registro de artigo intitulado "Escolinha do Professor Samuel", de autoria do jornalista Alexandre Oltramari, publicado na revista Veja, em 15 do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 22/09/2004 - Página 30041
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, DETERMINAÇÃO, SECRETARIO GERAL, ITAMARATI (MRE), OBRIGATORIEDADE, LEITURA, LIVRO, TENTATIVA, IMPOSIÇÃO, DOUTRINA, CURSOS, DIPLOMATA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna neste momento para fazer o registro do artigo intitulado “Escolinha do professor Samuel”, de autoria do jornalista Alexandre Oltramari, publicado na edição 1871 da revista Veja, de 15 de setembro do corrente.

No seu artigo, o jornalista mostra que o Secretário-Geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, obriga os diplomatas que estão sendo transferidos de Posto a ler três livros, todos afinados com a doutrina nacional-terceiro-mundista do atual governo, para que possam “enfrentar”, em seguida, uma sabatina. Esse procedimento está causando grandes constrangimentos a todos aqueles que precisam passar por essa situação, uma vez que não há um estímulo ao espírito crítico, mas sim uma tentativa de doutrinação, afinada com o pensamento do Secretário-Geral.

Concluindo, Sr. Presidente, requeiro que o artigo publicado na revista Veja, em anexo, seja considerado como parte integrante deste pronunciamento, para que passe a constar dos Anais do Senado Federal.

Era o que tinha a dizer.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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            Matéria referida:

            “Revista Veja, 15 de setembro de 2004”

Escolinha do professor Samuel

Alexandre Oltramar

Samuel Pinheiro Guimarães, 65 anos, está no auge de sua carreira diplomática. Desde o início do governo, ele ocupa o cargo de secretário-geral do Itamaraty. Nesse posto, cuida de promoções, transferências e, principalmente, da formulação da política externa do governo petista. Juntamente com o chanceler Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula para assuntos externos, Pinheiro Guimarães forma a santíssima trindade da atual diplomacia. Professor universitário por mais de duas décadas, autor de treze livros, ele decidiu no início do ano submeter todos os diplomatas que estão sendo transferidos de posto a um cursinho de duas semanas em seu gabinete. Nas aulas, Pinheiro Guimarães obriga os diplomatas a ler três livros, todos afinados com a doutrina nacional-terceiro-mundista do chefe Amorim. Uma das obras exigidas, Rio-Branco, de Álvaro Lins, é uma biografia do patrono da diplomacia brasileira, um dos maiores nacionalistas do país. A segunda é Brasil, Argentina e Estados Unidos, de Moniz Bandeira, que traz um prefácio no qual Pinheiro Guimarães espicaça a Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, e os Estados Unidos. A terceira, Brasil: de 1945 a 1964, de Rogério Forastieri da Silva, trata da política desenvolvimentista de incentivo à industrialização. Depois de ler os calhamaços, os alunos são submetidos a uma sabatina.

As aulas da escolinha do professor Samuel, que reúnem grupos de até doze diplomatas, ocorrem numa sala de 40 metros quadrados, contígua ao gabinete do secretário. Ninguém pode realizar as leituras obrigatórias em casa. Também não é permitido ler um livro em menos de três dias. Terminado o cursinho, o professor acomoda a turma em dois sofás, serve água e café - e toma a lição. Não tem essa de pedagogia moderna com o professor Samuel. Tudo o que ele não quer é estimular o espírito crítico entre os alunos. Em outras palavras, aluno bom é aluno que reza integralmente pelo seu catecismo antiamericano e esquerdista. Dá para imaginar o quanto esse tipo de sabatina pode ser constrangedor. "Me senti doutrinado e infantilizado. Tenho apenas 35 anos, mas havia senhores de idade enfrentando a mesma situação", disse a Veja um diplomata que passou recentemente pelo teste. Apesar da revolta generalizada no Itamaraty, as reações, diplomáticas, estão restritas a rezingas de corredor.

Pinheiro Guimarães gosta de se comportar também como o príncipe Metternich da burocracia itamaratiana. No início do ano, ele determinou que todo oficial de chancelaria deveria fazer um teste de inglês antes de assumir um cargo fora do país, mesmo que fosse no Irã. A reação, dessa vez, não foi nada diplomática. Os oficiais de chancelaria, uma tropa de 1 100 funcionários, 400 deles servindo no exterior, não admitiram ver sua dignidade bilíngüe tratada pelo pequeno Metternich como se fosse assim, digamos, uma mera expressão geográfica. A briga foi parar nos tribunais. A Justiça considerou a exigência ilegal, porque entendeu que os servidores já haviam se submetido a um exame de línguas quando ingressaram no Itamaraty por meio de concurso público. Desde então, todos os processos de remoção de oficiais de chancelaria para o exterior foram paralisados. Na escolinha do professor Samuel, pelo jeito, instalou-se a Alba, a área de livres bobagens das Américas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/09/2004 - Página 30041