Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Desempenho alvissareiro do Partido dos Trabalhadores no primeiro turno das eleições municipais. Empenho do PT para a votação das reformas política e do Judiciário.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Desempenho alvissareiro do Partido dos Trabalhadores no primeiro turno das eleições municipais. Empenho do PT para a votação das reformas política e do Judiciário.
Aparteantes
Eduardo Azeredo, Efraim Morais.
Publicação
Publicação no DSF de 06/10/2004 - Página 31282
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PROCESSO ELEITORAL, APRESENTAÇÃO, DADOS, SUPERIORIDADE, QUANTIDADE, VOTO, COMPARAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL).
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, AUMENTO, QUANTIDADE, PREFEITURA, ADMINISTRAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMPARAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO LIBERAL (PL), PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB), PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT).
  • DEFESA, NECESSIDADE, CONCLUSÃO, REFORMA JUDICIARIA, REFORMA POLITICA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois do primeiro turno do processo eleitoral realizado em nosso País, estamos retomando os nossos trabalhos. Foi um processo eleitoral que contou com a participação de mais de 100 milhões de brasileiros, que foram às urnas eleger prefeitos e vereadores em mais de 5.600 municípios do nosso País. 

Durante a votação, houve problemas localizados, alguns registrados, inclusive, nesta tribuna, na tarde de hoje. Eu não diria que de forma absoluta, mas em sua ampla maioria o pleito transcorreu na normalidade. A democracia custa, dá trabalho, necessita do aporte de recursos, de empenho, de dedicação, mas, indiscutivelmente, é o melhor sistema de condução dos destinos de qualquer nação, de qualquer estado, de qualquer município. Portanto, os que, ao longo de muitas décadas, lutaram para que a democracia voltasse ao nosso País, para que se aperfeiçoasse com o exercício do direito democrático de eleger os representantes para governar, para legislar em nosso nome, para fiscalizar os atos do Executivo, devem ser saudados. E também o processo ocorrido em todo o nosso País, que consolida a democracia, aperfeiçoa-a e também os partidos que se dedicaram a participar, a trabalhar, a representar bem o povo brasileiro.

Sendo assim, não posso deixar de fazer este registro, da tribuna, ao término do processo eleitoral do primeiro turno, e de deixar consignado o ocorrido na tarde de ontem na sede nacional do Partido dos Trabalhadores. Lá, reunidos com a Presidência, diversos membros da Executiva, as lideranças do Governo no Senado e na Câmara, as lideranças do PT no Senado e na Câmara, fizemos o balanço e, em coletiva, anunciamos o resultado das eleições para o PT.

Desta tribuna, registro o resultado eleitoral para o Partido dos Trabalhadores. Antes, contudo, devo dizer que, a cada eleição, o PT se transforma, cada vez mais, em um partido nacional, em um partido enraizado em todos os Estados brasileiros. Para nós, isso é algo muito importante.

Nessas eleições, também havia a insinuação de que o PT perderia nos grandes centros e avançaria nos médios e pequenos municípios, de que o PT perderia a sua característica de partido reconhecido, bem votado nos grandes centros, para se deslocar para os rincões, os grotões do País. Havia inúmeras insinuações e colocações nesse sentido.

O resultado das eleições efetivamente foi positivo para o PT nos grandes centros, ampliando-se para as médias e pequenas localidades do nosso País. Portanto, não saímos de uma posição para outra, mas nos consolidamos, crescemos nas duas posições, tanto nos grandes centros quanto nas médias e pequenas localidades do País. Para nós, esse é um resultado extremamente positivo.

O editorial do JB de segunda-feira registra que o crescimento do PT nos médios e pequenos municípios está diretamente ligado às ações de inclusão social desenvolvidas pelo Governo Lula e ao reconhecimento da população, que deu ao PT o primeiro lugar em votos em todo o País. Foram 16,3 milhões de votos. Em segundo lugar, está o PSDB, com 15,710 milhões de votos; em terceiro, o PMDB, com 14,225 milhões, e, em quarto, o PFL, com 11,206 milhões de votos.

Esse registro, que mostra o PT como o partido mais votado, está indiscutivelmente associado ao crescimento do reconhecimento das administrações petistas e também das ações do Governo Lula. Aliás, no tocante ao crescimento do reconhecimento das administrações eu gostaria de deixar registrado que, em 1996, 16% das administrações petistas foram reeleitas, percentual que, em 2000, cresceu para 37%. Em 2004, 50% das prefeituras administradas pelo PT foram reeleitas no primeiro turno, podendo esse percentual, obviamente, dado o número significativo de localidades em que o PT vai disputar o segundo turno, ser ainda maior. Portanto, o reconhecimento do modo petista de governar os municípios é extremamente positivo para nós.

Gostaríamos ainda de dizer que os partidos que ampliaram o número de prefeituras, em sua maioria, integram a Base do Governo Federal, a base do Governo Lula. O maior crescimento se dá exatamente na base do PT: de 187 para 400 prefeituras até agora, sem contabilizar o resultado que obteremos ao final do segundo turno. Em seguida, vem o PL, com um aumento de 233 para 381 prefeituras. Depois, seguem o PTB, registrando um crescimento de 397 para 420 prefeituras; o PSB, com crescimento de 131 para 171 prefeituras; o PPS, com aumento de 164 para 298 prefeituras; e o PDT, com crescimento de 287 para 297 prefeituras. Esses cinco Partidos - PT, PTB, PL, PDT e PSB - obtiveram um crescimento no número de prefeituras conquistadas no primeiro turno das eleições.

Em termos de nacionalização, o PT não tinha prefeituras em cinco Estados: Alagoas, Amazonas, Amapá, Espírito Santo e Roraima. E, agora, passamos a ter prefeituras em todos os Estados brasileiros. Repito: obtivemos um crescimento de 187 para 400 prefeituras. Rondônia é o único Estado brasileiro em que não houve crescimento, houve manutenção; seis prefeituras tínhamos, seis prefeituras temos. Crescemos em alguns Estados de forma digna de registro: em Tocantins, de duas prefeituras, passamos para 16; no Piauí, passamos de uma para sete prefeituras; e em Goiás, de uma para nove prefeituras.

O PT foi o Partido mais votado em cinco Estados brasileiros: Acre, Amapá, Minas Gerais, Sergipe e Tocantins. E é o segundo mais votado em outros seis Estados: Bahia, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Ganhamos em seis Capitais já no primeiro turno, como é o caso de Aracaju, onde o nosso querido Prefeito Marcelo Déda, numa votação extremamente representativa, com uma aceitação extremamente poderosa, teve o reconhecimento da sua administração. Em Belo Horizonte, da mesma forma, o Pimentel teve uma votação expressiva. São os nossos dois campeões de voto, o Déda e o Pimentel. Ganhamos ainda em Macapá, Palmas, Recife, com o nosso Prefeito João Paulo, extremamente bem reconhecido pela sua administração, e na Capital do Acre, Rio Branco.

Estamos na disputa do segundo turno em nove Capitais: São Paulo, Cuiabá, Curitiba, Vitória, Goiânia, Porto Alegre, Porto Velho, Fortaleza e Belém. Por muito pouco, não alcançamos o segundo turno em outras Capitais, como é o caso de Salvador. Dos 44 Municípios com mais de duzentos mil eleitores, em que haverá segundo turno no final de outubro, o PT estará disputando a prefeitura de 24.

Portanto, o resultado é extremamente positivo, e nos consideramos satisfeitos. Teremos todo o trabalho do segundo turno e aguardamos que desse resultado tenhamos a capacidade política de promover duas reformas.

Poderemos concluir a reforma do Judiciário, até para que não haja mais situações como a relatada pelo Senador Heráclito Fortes no plenário, de abuso de autoridade promovido por parte determinados representantes do Judiciário, e para que o Conselho Nacional de Justiça possa ser um elemento fiscalizador da ação do Judiciário, a que a sociedade civil possa recorrer quando houver abuso de autoridade e quando efetivamente se extrapolarem as prerrogativas do poder.

Poderemos finalizar a reforma do Judiciário, tão importante. Já há a votação do texto básico. Faltam as votações dos destaques, para que possa ser implementada essa reforma de imediato.

A outra reforma que se faz absolutamente necessária no nosso País é a política. Já a aprovamos no Senado; a matéria está tramitando na Câmara. Temos que efetivar essa reforma política, para que se dê o fortalecimento dos partidos. E aqui temos que registrar que os partidos consolidados, que têm programa, saíram fortalecidos dessa eleição. Portanto, nada mais importante em seguida a esse pleito que possa haver, efetivamente, a reforma política.

Ouço, com muito prazer, o Senador Eduardo Azeredo e, logo em seguida, o Senador Efraim Morais.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senadora Ideli Salvatti, quero me solidarizar com V. Exª com relação às reformas. É fundamental que sejam concluídas. Essas eleições demonstram realmente uma vitória da democracia brasileira. Não caminhamos para um partido único; caminhamos para partidos fortes. Para o fortalecimento correto dos partidos, é fundamental que acabemos com a figura dos partidos de aluguel, que são partidos que só existem nos momentos de eleição e que atrapalham a campanha, o esclarecimento da população. Nós, da Oposição, também consideramos que esse é um ponto fundamental e estamos prontos para discutir e apoiar as medidas nesse sentido. Além disso, há a reforma tributária, já aprovada por nós, que está na Câmara dos Deputados, para a qual esperamos também a ação do Governo. Estamos de pleno acordo, V. Exª em nome do Governo e nós pela Oposição, de que essa eleição representa a vitória da democracia brasileira na consolidação das liberdades.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Senador Eduardo Azeredo, não sei se V. Exª teve a oportunidade de assistir ao debate de ontem na TV Cultura com a participação de quatro representantes do PT e de quatro representantes do PSDB. Debatemos sobre vários temas polarizados em cima do pleito de São Paulo, que é o foco da disputa do segundo turno. Mas, com referência à reforma política, indiscutivelmente há unanimidade, e tanto o PT quanto o PSDB podem caminhar para que a reforma política tenha a sua votação concluída, uma vez que se arrasta há tanto tempo no Congresso Nacional.

Ouço o Senador Efraim Morais.

            O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Senadora Ideli Salvatti, V. Exª realmente retrata com muita autoridade a vitória da democracia nessas eleições. Nós, que temos uma vida pública, nos sentimos orgulhosos em saber que o País caminha, cada vez mais, a passos largos para consolidar a democracia. V. Exª traz dados que a própria imprensa tem reproduzido sobre crescimento e queda de legendas. Tive o cuidado de levantar alguns dados sobre a questão da confiabilidade dos candidatos. Meu Partido, o PFL, apresentou um total de 1.759 candidatos e elegeu 786, atingindo o percentual de 44,68%. Foi o Partido que elegeu o maior número de Prefeitos, relativamente ao número de candidatos propostos. O PSDB apresentou 1.930 candidatos a Prefeito e elegeu 860, atingindo 44,56%. O PMDB foi o Partido que mais candidatos a Prefeito apresentou no País: foram 2.482 candidatos, sendo eleitos 1.046, numa proporção de 42%. O PT, na realidade, foi o segundo Partido que mais candidatos apresentou - 1.947 candidatos - e elegeu, até o presente momento, 400, atingindo 20,54%. Também esses dados estatísticos devem ser analisados. É evidente que o meu Partido ficou com uma votação positiva, porque chegamos a 11,198 milhões de votos, mesmo considerando que não participamos do pleito da maior cidade brasileira como titular - temos o candidato a Vice-Prefeito na chapa de José Serra. Houve a contribuição do PFL. Se tivéssemos tido a candidatura do Senador Romeu Tuma, que preside esta sessão, com certeza, teríamos chegado a 13 milhões ou 14 milhões de votos, como da outra vez, com a expressiva votação que S. Exª teve como prefeito. Então, trata-se de uma questão de confiabilidade nos candidatos. Quero aqui registrar que, quanto à confiabilidade dos candidatos, em termos proporcionais, a maior foi a do PFL, porque apresentou determinado número de candidatos e elegeu o maior percentual deles: 44,68%. Como disse a V. Exª, esses são dados estatísticos que farão parte de uma grande análise dessa eleição. Com certeza, há boa distribuição no número de prefeitos, em nível nacional. Isso é bom para a democracia. Não há concentração, o que significa dizer que a classe política terá de trabalhar cada vez mais pensando no fortalecimento da democracia. Parabéns pela análise que V. Exª faz. Quero deixar esse registro sobre a confiabilidade. Em termos proporcionais, se considerarmos o número de candidatos lançados por um Partido e por outro, veremos que o meu Partido foi o que mais elegeu prefeitos, já que teve eleitos 44,68% de seus candidatos. O PT, por exemplo, apresentou 1.947 candidatos e elegeu 400, ou seja, em termos percentuais, atingiu 20,54%. Não sei se V. Exª tinha esses números; depois, terei o prazer de passá-los a V. Exª.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço a V. Exª, Senador Efraim Morais. Todos esses números servem para a nossa análise, para a nossa conscientização de onde acertamos e onde erramos. Todos nós, depois de um processo eleitoral dessa magnitude, estamos com a nossa reflexão aguçada, para aferir o que os brasileiros e brasileiras quiseram nos passar como resposta, como avaliação de nossas ações administrativas, legislativas e partidária. Também estamos observando o que está sendo estabelecido para os destinos do nosso País e dos nossos Municípios, tendo em vista que foi uma eleição municipal. Por isso, todos nós vamos nos debruçar sobre esses números e fazer muitas avaliações.

Todos têm vitórias a comemorar e derrotas a amargar. Em relação ao Estado de Santa Catarina, estamos profundamente entristecidos por termos perdido a eleição em alguns Municípios, mas profundamente felizes por termos sido eleitos em outros. Nossa maior vitória deu-se no Município de Itajaí, berço das chamadas oligarquias catarinenses, haja vista que no Município se consolidaram as famílias Ramos e Konder Bornhausen. Comemoramos, com o nosso querido Deputado Volnei Morastoni, atualmente Presidente da Assembléia Legislativa, a vitória do PT em Itajaí, que foi extremamente importante e significativa. No entanto, estamos amargando as derrotas, por exemplo, nos Municípios de Blumenau e Chapecó, que governávamos há oito anos.

Contudo, não podemos deixar de comemorar, porque, apesar de termos perdido em alguns Municípios, o Partido venceu em outros. O crescimento do PT continua significativo: em 1996, elegemos 7 prefeitos; em 2000, 13; neste ano, 24. Saímos deste pleito com uma votação que significa a segunda, em termos partidários, em Santa Catarina, ou seja, somos o segundo Partido que recebeu mais votos no pleito municipal: enquanto o PMDB, que elegeu 115 prefeituras, fez 855 mil votos, o PT, que elegeu 24, fez 670 mil votos. Portanto, foi uma votação extremamente expressiva. Mesmo não ganhando algumas prefeituras, onde tínhamos chances efetivas, ficamos muito próximos - em segundo lugar -, por pouquíssimos votos, para alcançar a eleição em outras prefeituras. Chegamos à situação de, no Município de Grão-Pará, termos empatado a votação. E, para nossa infelicidade, nosso candidato era mais novo. Então, perdemos. Caso contrário, estaríamos com 25 prefeituras neste pleito eleitoral.

Não poderíamos deixar de registrar este fator: o PT, mesmo em Santa Catarina, com algumas derrotas localizadas - está muito claro por que perdemos, estamos fazendo essa avaliação -, teve vitórias significativas. Reelegemos, com grande aceitação de sua administração, os prefeitos de Concórdia e de Criciúma, cidades que são pólos do Estado. Também elegemos o prefeito de Itajaí, vitória que tem toda essa simbologia em função das oligarquias catarinenses, e obtivemos a segunda maior votação. Só perdemos para o PMDB pelo número de prefeituras obtidas (115) e pelo número de votos (855 mil). O PT, por sua vez, com 24 prefeituras, fez 670 mil votos. Esse é um resultado extremamente significativo.

Mais uma vez, gostaria de reiterar que o resultado destas eleições nos fará meditar para que possamos aprofundar o debate, aprofundar as avaliações, para, cada vez mais, aprimorar nossos Partidos, nossas administrações. Efetivamente, vamos empenhar-nos para terminar a votação da reforma do Judiciário, que está na pauta desta Casa, e para que a Câmara conclua a reforma política já votada pelo Senado.

Muito obrigada, Sr. Presidente!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/10/2004 - Página 31282