Discurso durante a 154ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Balanço das últimas eleições municipais.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Balanço das últimas eleições municipais.
Aparteantes
Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2004 - Página 35619
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELEIÇÃO MUNICIPAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).
  • CRITICA, CONDUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), SEGUNDO TURNO, CAMPANHA ELEITORAL, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).
  • DEFESA, INVESTIMENTO, GOVERNO FEDERAL, INFRAESTRUTURA, CONSTRUÇÃO, RODOVIA, REDUÇÃO, JUROS.
  • APOIO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, REFORMULAÇÃO, PROPOSTA, POLITICA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há pouco, desta tribuna, o Senador Osmar Dias dizia que todas as Senadoras e Senadores que usaram da tribuna após as eleições consideravam-se vitoriosos. Dizia também o Senador que ou tem um número superior de municípios ao que se sabe existir no Brasil, ou tem alguma coisa errada, ou seja, alguém falando que foi vitorioso sem tê-lo sido na medida em que apresentou.

Não serei tão ufanista quanto muitos, mas gostaria de ressaltar que ganhamos as eleições em Mato Grosso. Havia apenas um Prefeito do Partido dos Trabalhadores no Estado; hoje, há sete. Havia três Vice-Prefeitos; hoje, treze. Eram cinco ou seis Prefeituras com coligação; hoje, são 29. Portanto, alcançamos vitórias. O percentual máximo que já obtivemos na capital do Estado foi de 26% - e nunca havíamos chegado a um segundo turno. Nessas eleições, nosso candidato a Prefeito da capital, Alexandre César, chegou ao segundo turno com quase 48% dos votos, ficando muito próximo da vitória. Por conseguinte, obtivemos vitórias, sim, mas não a desejada e esperada. Falarei, pois, sobre este assunto.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de fazer um rápido balanço da participação do PT no segundo turno das eleições em Cuiabá e em todo o Brasil. Devo dizer que, apesar do crescimento do Partido em todo o País e da conquista das prefeituras de nove capitais brasileiras, soou o alerta para o nosso Partido com o resultado dessas eleições.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora Serys Slhessarenko, concede-me V. Exª um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Concedo um aparte ao Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Muito obrigado, Senadora Serys Slhessarenko. Quero dizer que me senti bastante feliz com o balanço das eleições demonstrado no início do seu pronunciamento. E fiquei muito feliz especialmente com os resultados do Estado de Mato Grosso e do restante da Amazônia. O nosso único prejuízo foi a não reeleição do candidato do PT à Prefeitura de Belém, onde estávamos com um segundo mandato e iríamos para o terceiro. Mas, de um modo geral, obtivemos sucesso no segundo turno: com Alexandre César, no Mato Grosso; em Porto Velho, com Roberto Sobrinho; o sucesso de Macapá, do Rio Branco e de todas as outras cidades, onde houve um crescimento considerável. Penso que, daqui para frente, o PT da Amazônia deve ter um lugar melhorado inclusive nos fóruns de decisão do nosso Partido. E para não prejudicar o pronunciamento de V. Exª, quero reafirmar que me sinto feliz, solicitando a V. Exª que transmita as minhas congratulações ao companheiro Alexandre César e a todos os companheiros de Mato Grosso.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Agradeço a V. Exª, Senador Sibá Machado.

Realmente, o PT, na Amazônia, saiu-se significativamente vitorioso. Todavia, precisamos mais. O povo brasileiro e o País como um todo precisa mais. O Governo do Presidente Lula vem fazendo um esforço gigantesco - e isso ninguém discute - no sentido de melhorar a qualidade de vida da população, principalmente daqueles mais pobres, daqueles que, ao longo dos tempos, sempre viveram uma situação de opressão, de dificuldade de vida, de desemprego, de falta de moradia, de falta de condições de saúde, de educação, enfim, a velha cantilena histórica de dificuldades do povo brasileiro, de homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras do nosso País.

Mas, infelizmente, a herança que recebemos, ao longo dos tempos, das oligarquias malfadadas deste País ainda nos traz dificuldades muitos grandes, as quais precisamos superar para impedir que as oligarquias retrógradas e atrasadas retomem o poder no País. Esse é um dos compromissos que o nosso Governo tem realmente de fazer valer para não deixar confuso o povo brasileiro e para impedir a volta do atraso na política brasileira.

Sr. Presidente, lá, em Cuiabá, brigamos pela candidatura de Alexandre César. Tínhamos, com certeza, o melhor candidato, pessoa física, pois Alexandre César é realmente um camarada exemplar. Vejam que ele é Procurador do Estado, concursado; professor pós-graduado da Universidade Federal do Mato Grosso, também concursado pela universidade; uma liderança do movimento dos docentes e servidores públicos; uma liderança que se afirma no cenário político do nosso Estado, sem nenhum tipo de mácula em sua carreira exemplar como profissional e militante.

No entanto, Alexandre César não ganhou a eleição. Qualquer avaliação de campanha eleitoral, principalmente de campanha derrotada, leva-nos a analisar os erros cometidos por nós mesmos e as pretensas estratégias vitoriosas dos nossos adversários. Erros tivemos muitos. Como membro do PT, assumo como meus os erros do nosso Partido. Mas, como militante Serys, aponto também erros outros cometidos pelo núcleo da campanha em Cuiabá, que não se abriu para incorporar a experiência de militantes e parlamentares, atores de campanhas vitoriosas no passado, vividas em momentos de grandes dificuldades, quando ser candidato do Partido dos Trabalhadores era lutar contra todas as forças políticas e econômicas de Mato Grosso e de todo o País.

Em Cuiabá, fomos vítimas de uma campanha sórdida, orquestrada por nossos adversários do PSDB. Não soubemos responder à altura, Srªs e Srs. Senadores, e, aqui, dirijo-me especialmente a este Senador por quem tenho o maior respeito, que é o Senador Pedro Simon. Não respondemos à altura, com certeza, pelo menos não com a mesma sordidez, mas expusemos a verdadeira face do adversário.

O Senador tucano de Mato Grosso, Antero Paes de Barros, que compõe este plenário do Senado, comandou a sordidez da campanha do PSDB em Mato Grosso, com um nível de agressividade ímpar na história das campanhas mato-grossenses. Antero formou o comando e liderou um “comitê da maldade”, assim apelidado por eles mesmos, que se encarregou de atacar, de maneira vil, a candidatura do PT. Basta dizer que, em Cuiabá, a campanha do PSDB tentou transformar posições libertárias, tolerantes - marcas do PT -, relacionadas à liberdade de opção sexual, em uma ameaça à tradicional família de Mato Grosso, em especial à de Cuiabá. No seu destempero, a propaganda tucana exortava, inclusive, o extermínio físico dessas pessoas. Isso tem um nome: fascismo.

Produziram dezenas de fitas e vídeos, vergonhosamente editados, pinçando falas de Alexandre César em um debate no qual se discutiam questões comportamentais, relacionadas às liberdades da pessoa humana, para montar uma farsa e distribuí-la a todas as igrejas evangélicas da cidade. Por sorte, os evangélicos realizaram um movimento em defesa da candidatura de Alexandre César, tamanha a sordidez com que agiram contra o nosso candidato.

Basta esse episódio para que todos percebam o nível da campanha em Cuiabá. Para nós, petistas, o resultado teve um sabor mais amargo porque tivemos o desprazer de ver o nosso povo envolvido em uma campanha infame, negando o voto ao Partido dos Trabalhadores, indo mergulhar no colo do inimigo, abraçando o PSDB, Partido hoje sob grave suspeição em Mato Grosso de manter vínculos com o crime organizado.

Também é muito triste constatar que os apoios que tivemos no segundo turno, em Cuiabá, costurados pelo núcleo principal da campanha, revelaram-se no mínimo equivocados. O caso mais evidente foi o apoio do Governador Blairo Maggi, que, ao mesmo tempo em que anunciava sua parceria com o PT, colocava sua esposa, Secretária de Estado, a Srª Terezinha Maggi, para pedir votos para o candidato tucano, abertamente, em programas jornalísticos de televisão, desafiando, inclusive, a legislação eleitoral. Blairo Maggi, Governador de Mato Grosso, que disse apoiar a candidatura de Alexandre César, do Partido dos Trabalhadores, acendia uma vela para Deus e outra para o diabo. Esse é o tipo de apoio que temos que aprender a rejeitar.

Mas, voltando às questões macro, fico cada vez mais convencida de que precisamos, com urgência, rediscutir as prioridades do nosso Governo e do nosso Partido.

No PT, já faz alguns meses, temos reivindicado rumos diferentes para a política econômica do nosso Governo. Não basta crescer a economia só em setores como o do agronegócio. É preciso que o agronegócio avance em Mato Grosso sobremaneira, mas é preciso também voltar os olhos para as grandes massas de despossuídos, de excluídos, que continuam reclamando por participação na riqueza nacional. É essa parcela do nosso povo, sempre relegada, sempre esquecida, que acaba virando massa de manobra dos políticos oportunistas.

Tenho cobrado desta tribuna exaustivamente a urgente necessidade de fortes investimentos na infra-estrutura do País, principalmente na recuperação da malha viária federal e na construção de estradas vitais para o nosso desenvolvimento, possibilitando o barateamento da produção e a competitividade dos nossos produtos. Como em outros pontos do País, Mato Grosso sofre com a situação das estradas, e tenho lutado com todas as minhas forças para resolver os problemas de lá. Muita coisa já foi feita, mas precisamos fazer muito mais. A recuperação da BR-163 é urgente. As chuvas estão chegando e não esperam.

As taxas de juros precisam cair com maior rapidez. A retomada do crescimento a que já estamos assistindo precisa ser acelerada. Nosso povo precisa de emprego, de salário digno, que possa fazê-lo prescindir de bolsas disso ou daquilo, que só contemporizam.

Na demora para imprimir rumos mais conseqüentes ao nosso País, o Partido dos Trabalhadores acaba permitindo que o nosso povo fique preso nesse sofrido jogo de gato e rato, correndo de um partido para outro, na vã expectativa de encontrar, por mágica, algum que melhor o represente. E isso não pode acontecer.

O Partido dos Trabalhadores é o que realmente representa o povo brasileiro. Entendemos que o PT é o Partido vocacionado para expressar os interesses dos setores subalternizados da população. Para isso, basta não mais continuar diluindo seu programa e adiando seus propósitos, como se já não tivesse nenhum projeto estratégico, porque temos projetos sim.

Aqui mesmo, nesta tribuna, temos ouvido Lideranças como os Senadores Paulo Paim, Cristovam Buarque e Flávio Arns, como a nossa Bancada e como representantes de outros Partidos, como está escrito no meu discurso. E não é por que V. Exª está presente, Senador Pedro Simon, que o cito como a figura representante de outros partidos que vêm alertando sobre a necessidade de acertar alguns rumos do nosso Governo.

Parece-me fundamental, diante dos números que as urnas nos revelam, que o PT procure recuperar o vínculo mais estreito que sempre teve com a população pobre, com os lutadores do povo, com a sociedade organizada, com os sindicatos, com o movimento de massa, para que não haja uma definitiva virada à direita em nosso País.

O nosso desafio é nos recompor agora para conseguir efetivamente reeleger Lula, ou o seu sucessor, nas eleições de 2006.

Não podemos permitir que o destino do nosso povo e do nosso País volte às mãos dos setores retrógrados que, por muito tempo, nos governaram. Não vamos permitir. Mas, para isso, urge que o Partido dos Trabalhadores como um todo e os partidos que realmente acreditam e defendem o Governo, juntos, busquem ajudá-lo a avançar nas propostas e nos programas sociais em benefício da maioria da nossa população. Precisamos aprofundar o vínculo entre os vários partidos que buscam uma alternativa governamental e acreditam, como nós, no Governo de Lula; precisamos construir saídas para que esse insatisfatório resultado eleitoral que nos acometeu não prejudique o futuro da Nação brasileira.

Devemos reconhecer que perder a eleição em São Paulo, em Porto Alegre e eleger prefeitos sustentados por um arco de alianças tão amplo que, por vezes, merece o repúdio popular, são faces do mesmo desgaste. Agora, o PT precisa se recuperar. Essa é uma questão que, certamente, voltaremos a debater desta tribuna.

Quando o Senador Osmar Dias afirmou que todos, aqui, cantaram glórias e loas de vitória, eu disse, Sr. Presidente, que não o faria. Afirmei, também, que, com certeza, o Partido dos Trabalhadores foi vitorioso em vários aspectos, em vários setores, inclusive eleitoralmente, no meu Estado de Mato Grosso, mas precisamos de muito mais.

Por isso, em vez de cantar loas a uma vitória do meu Partido, digo que o PT precisa se organizar mais, fortalecer-se e, junto com aqueles partidos que acreditam e apóiam o Governo Lula, buscar realmente aprofundar, recuperar e fazer políticas que engrandeçam e melhorem a qualidade de vida da maioria do povo brasileiro, para que consigamos inviabilizar e não permitir o retorno das forças retrógradas e atrasadas ao poder no País. Não podemos permitir isso.

Queremos que a reorganização, o fortalecimento do nosso Governo chegue em tempo de reelegermos Lula Presidente da República, para podermos dizer que conseguimos fazer avançar a esperança do povo cada vez mais, construindo um poder que realmente atende aos interesses da maioria da população brasileira.

Como eu disse, o agro-negócio vai muito bem no Brasil, e queremos que vá melhor. Mas queremos que as forças, o povo trabalhador, as camadas despossuídas tenham condições dignas de vida de vez por todas conquistadas e a esperança resgatada, construída e aprofundada cada vez mais no País.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2004 - Página 35619