Discurso durante a 65ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Referências ao pronunciamento do Senador Cristovam Buarque.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Referências ao pronunciamento do Senador Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2005 - Página 15936
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • REITERAÇÃO, SUSPEIÇÃO, ORADOR, MANIPULAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, TAXAS, JUROS, FAVORECIMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • QUESTIONAMENTO, POLITICA MONETARIA, GOVERNO, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, PAIS, PERDA, OPORTUNIDADE, CONJUNTURA ECONOMICA, AMBITO INTERNACIONAL, PREJUIZO, SETOR, PRODUÇÃO, REDUÇÃO, EMPREGO.
  • CRITICA, DECISÃO, COMITE, POLITICA MONETARIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), AUMENTO, TAXAS, JUROS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, comungo em grande parte com o arrazoado do Senador Cristovam Buarque. Tanto quanto S. Exª, também entendo que rebaixar os juros não é um gesto de vontade.

Percebemos muito voluntarismo em pessoas tanto próximas a V. Exª quanto próximas a mim próprio. Percebemos, inclusive nos empresários, quase que uma reação pavloviana. Aumentaram os juros e eles não querem saber se precisava ou não. Sempre dizem que não foi bom ter havido o aumento. Depois, se deu certo a política do Governo, dizem que o Governo está de parabéns. Se não deu, eles então estão com a razão. É aquela história da profecia auto-realizável, enfim, se ela tem duas vertentes.

Portanto, estou convencido de que o Brasil tem um drama que faz a taxa de juros básica ir caindo, caindo e, quando chega à altura de 13% - que foi o mínimo que vi nesses últimos dez anos, no mês de junho de 1997, se não me engano -, sobe.

Temos visto outro patamar: 16%, 17%. Vai descendo, descendo e chega a esse patamar; depois os governos não encontram mais condição técnica de continuar o rebaixamento. Isso se deve ao passado de moratória ou, quem sabe, à desconfiança que pesa sobre os títulos brasileiros, em função de uma porção de indicadores da nossa economia, mas também - V. Exª talvez concorde comigo - ao fato de que uma economia que, por qualquer razão e num certo círculo vicioso, precisa praticar juros altos necessariamente termina criando desconfiança sobre a capacidade de pagamento dos títulos - no caso, brasileiros - para quem está vendo de fora para dentro. Na medida em que sou obrigado a praticar juros altos, meu credor diz: cobro juros altos, porque ele tem dificuldade em pagar. Ao mesmo tempo, cobro juros altos desse pessoal e não sei se, cobrando juros altos e mais altos, um dia não vão chegar ao default, a não me pagar.

Preocupo-me, portanto, com o fato de que, na parca análise que posso fazer e na acurada análise que faz a minha assessoria, estamos, há alguns meses, registrando que o mais sensato não seria sequer o rebaixamento, mas a parada técnica, para se dar uma olhada no quadro; para se observar o comportamento da inflação, já que o grosso de seu incremento tem sido com base em preços administrados; para se olhar a inflação no atacado e no varejo. Trata-se de uma parada técnica, para vermos se a inflação explode. Se explodir, quem sabe virá o remédio de os juros se elevarem outra vez. Se com a parada técnica a inflação se comportar do mesmo jeito, ficará provada a desnecessidade do aumento da taxa Selic. E o Copom, mês após mês, tem aumentado os juros - mês após mês!

Metade do mercado diz que o Governo não vai aumentar os juros; a outra, que vai aumentá-los. Mas estou convencido de que 100% dessas forças do chamado mercado não estão pedindo ao Governo para aumentar os juros; ao contrário, estão até preocupadas com o fato de ele os estar aumentando e criando essa situação que, in extremis, será de desconfiança sobre a capacidade do Brasil de pagar títulos, até porque quem trabalha com juros altos demais se expõe a uma condição de devedor, de dúvida cada vez maior.

Portanto, essa é a preocupação que trago. Sou a favor do Banco Central independente, tenho defendido isso na minha Bancada. E, na minha Bancada, não há grandes problemas. Quanto à outra parte que V. Exª trabalhou com muita inteligência - e, de fato, isso poderia acontecer -, o Senador Arthur Virgílio está, digamos, prevenindo, colocando uma vacina, deixando registrada sua palavra de que o Governo, se e quando começar a rebaixar a taxa básica de juros, terá trabalhado com leviandade os aumentos, para desqualificar os rebaixamentos da taxa de juros.

Tenho a impressão de que, se isso acontecesse, a minha importância seria nenhuma, a minha voz seria engolida pelo clima de otimismo. E, até se ficasse caracterizado que eu tivesse agido de má-fé nesse momento, isso não teria a menor importância no rol das coisas. O que importaria mesmo seria sabermos, primeiro, se o Governo estava obrando com justeza, ao aumentar as taxas de juros; segundo, se estava sendo demasiadamente rigoroso, mesmo sem a presença do FMI aqui, querendo ser o primeiro aluno da classe, aquele que fica na primeira carteira e ainda dedura os que estão fazendo alarido lá atrás. Isso é grave, porque é uma ortodoxia excessiva, que custa ao setor produtivo empregos e oportunidades e faz o Brasil jogar fora a janela de oportunidades aberta com essa conjuntura internacional, que há 30 anos não se revelava tão favorável, ou seja, com excesso de liquidez e, inclusive, com muito dinheiro drenado para as economias emergentes; com a economia da América do Norte crescendo, puxada pelos Estados Unidos; com a economia da Ásia crescendo, puxada pela China; com a economia da União Européia crescendo menos, mas crescendo; com a América Latina crescendo, e o Brasil também, embora menos.

Essa janela de oportunidades pode ter sido jogada fora, até por atitudes como essa. Não sou do tipo que fala para não aumentar juros de jeito nenhum. Penso que, se precisar, aumenta-se, joga-se com o instrumento da austeridade monetária. Mas aumentar desnecessariamente, apenas para o Governo fazer crescer sua taxa de credibilidade perante os mercados, para dizer que é bambambã, que paga preços de impopularidade, mas faz o que tem de fazer? Essa imagem de xerife até já foi passada, no começo, pelo Ministro Antônio Palocci. Isso já deu a S. Exª credibilidade bastante, para ser recebido em todos os salões do sistema financeiro mundial.

Pergunto-me se não está havendo excesso de ortodoxia. Fui alertado para isso por uma figura de proa do sistema financeiro, que me disse que, como eu, não aumentaria os juros; que não faria isso neste momento, porque entende desnecessário; que teria dado uma parada técnica. Será que não há aí um certo populismo embutido? Será que não estão querendo, depois, baixar a taxa de juros aos pouquinhos, até para voltar ao patamar do qual não deveriam ter partido? Será que não é isso que está em jogo? Será que não é uma manobra eleitoreira?

Nos dois casos, a heterodoxia custa muito, social e economicamente, para o País, se excessiva. Por outro lado, o grave, Presidente Mão Santa e Senador Cristovam Buarque, é que, se é uma jogada eleitoreira, é algo de uma gravidade brutal, porque nos faz voltar ao patamar onde talvez tivéssemos de ter ficado, quem sabe, pelo apego ao realismo, mas dando a impressão de que esse conta-gotas sugeriria que, de dezembro deste ano a setembro do ano que vem, a taxa de juros seria reduzida todos os meses, e depois as pessoas votariam, dizendo que, em outubro, novembro, dezembro e janeiro, em todo o período de funcionamento do eventual segundo mandato, haveria rebaixamento da taxa de juros. E lá vem a desilusão, porque, ao chegar janeiro, havendo um problema qualquer, o Presidente aumentará a taxa de novo, mas não terá um terceiro mandato, para acenar para as pessoas sob a forma da renovação da esperança.

Então, tudo de que tenho medo é a excessiva ortodoxia do Copom e uma certa intromissão do marketing na feitura, na composição dessa política, que, ao meu ver, deve ser técnica, baseada em um Banco Central, tanto quanto percebe o Senador Cristovam Buarque, independente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2005 - Página 15936