Pronunciamento de Heráclito Fortes em 06/06/2005
Discurso durante a 76ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Posicionamento favorável à instalação de CPI para apurar denúncias de corrupção no governo.
- Autor
- Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
- Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.:
- Posicionamento favorável à instalação de CPI para apurar denúncias de corrupção no governo.
- Aparteantes
- José Jorge.
- Publicação
- Publicação no DSF de 07/06/2005 - Página 17931
- Assunto
- Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.
- Indexação
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- COMENTARIO, IMPORTANCIA, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, POPULAÇÃO, DEFESA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ENTIDADE, CRITICA, POLITICA SOCIAL, GOVERNO FEDERAL.
- CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PIAUI (PI), DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, EXPLORAÇÃO, NIQUEL, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para quem governa o Brasil pior não poderia ter sido esse começo de semana.
Esta é uma segunda-feira ingrata não apenas para o Presidente da República como também para os seus companheiros de Partido. Agora começa-se a entender o porquê daquela insistência em não se apurar denúncias e não se querer CPIs.
A história tem mostrado, e lamentavelmente ninguém se preocupa em guardar uma cartilha que anda por aí vagando pelo mundo, que se mostram os erros do passado que nós não devemos repetir.
Sr. Presidente, desde o primeiro momento se sabia que era inevitável uma apuração mais acurada dessa questão envolvendo essa tradicional e secular instituição brasileira que são os Correios e Telégrafos.
Diferentemente de qualquer órgão público no Brasil, os Correios penetram na casa de cada um de nós, trazendo correspondências, cobranças. O carteiro, funcionário símbolo daquela instituição, é presença marcante não apenas nas grandes capitais, com seu fardamento amarelo e, muitas vezes, enfrentando cachorro valente...
O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Em seguida, Senador.
Como também nas pequenas cidades do interior. Então, a capilaridade dessa denúncia não foi bem avaliada pelos pensadores de plantão e os que decidem o que se pode e o que se deve fazer no Palácio do Planalto.
Concedo o aparte a V. Exª, Senador José Jorge.
O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Gostaria, Sr. Senador Heráclito Fortes, de trazer para V. Exª uma cópia da cartilha que a Liderança do PT na Câmara elaborou no sentido de evitar a CPI dos Correios. Ela diz o seguinte na capa: “CPI dos Correios é Palanque Eleitoral da Oposição”. Essa cartilha, na realidade, não desmente as denúncias feitas em relação aos Correios, mesmo porque é uma acusação gravada, em que o próprio Maurício Marinho recebe dinheiro na frente das câmeras, mas simplesmente faz uma série de acusações ao governo anterior, e a outros governos, e muitas dessas acusações são erradas, com informações erradas, etc. Imprimi da página do PT na Internet, porém, agora, estou temeroso de que eles a retirem de lá, para que outras pessoas não possam ter acesso à cartilha, como fizeram com aquela outra cartilha que o Governo publicou. Então, eu tirei um exemplar para mim e outro para V. Exª e quero oferecê-lo logo que V. Exª acabar o seu discurso.
O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eu gostaria de receber, inclusive, com a dedicatória de V. Exª. Aliás, nós estamos colecionando uma série de publicações impossíveis desse Governo, como a politicamente correta, que mandaram tirar de circulação e tivemos que gastar nossos recursos para mandar reproduzir e distribuir entre pessoas interessadas no Febeapá que assola o Governo no momento.
E aquela das atividades profissionais, em que se faz apologia sobre a atividade da prostituta, chegando aos detalhes de se ensinar inclusive comportamento, voz, como se deve portar em uma esquina e daí por diante.
Sr. Presidente, essa questão dos Correios é simbólica. Ouvi aqui companheiros nossos dizerem: “Não, foram apenas R$3 mil”, como se o valor alterasse o gesto! Digo isso baseado no que representa a própria Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Pagam-se R$0,10, R$0,30 ou até R$1 por uma correspondência que atravessa o mundo e chega as suas mãos - uma correspondência que, às vezes, muda a sua vida.
De forma que o que se está discutindo não é o valor, mas a necessidade de aprovação. Até porque é necessário e é preciso, de uma vez por todas, tirar da zona de suspeição as pessoas que não estão envolvidas.
Penso que o próprio Presidente Lula merece um crédito de confiança da Nação brasileira. Contudo, é preciso que S. Exª urgentemente tome providências e dedetize as suas cercanias, livrando-se dos maus companheiros.
Amigos bons e amigos maus nós temos, mas governar só se deve fazer com os bons, porque senão vai ocorrer exatamente o que está ocorrendo no atual Governo.
E o que me deixa mais estarrecido é que esses fatos estão se repetindo na mesma cadência de uma crise que o Brasil viveu anos atrás - e que se esperava ficar livre dela para sempre: o episódio do Governo Collor. Subestimou-se a CPI: “Não estou nem preocupado com ela, olhe para a minha cara, eu tenho aquilo roxo”! Cada um, a seu modo, está demonstrando o mesmo tipo de comportamento, e os fatos estão acontecendo!
Desdenha-se, e o fogo em volta começa a abrasar o ambiente. Aceiro, quando não é bem cuidado, Senador José Jorge, sabe bem V. Exª no que dá: uma fogueira de proporções incontroláveis! É lamentável que isso aconteça num País que depositou toda a sua confiança, toda a sua perspectiva em um Presidente que saiu da camada mais baixa da sociedade e que prometeu, ao final de quatro anos de mandato, dar a todos os brasileiros três refeições por dia. Passado o tempo relativo a dois terços de governo, ele não conseguiu sequer ainda justificar aquilo que foi símbolo inicial da sua gestão, que é o Fome Zero.
A megalomania dos projetos é uma marca do Governo. No meu Estado, o Piauí, o Governador não foge da mesma linha: anunciou, há dois anos e meio, que um projeto da Vale do Rio Doce de exploração de níquel, na cidade de Capitão Gervásio Oliveira, seria a redenção do Estado. E espalhou pelo Estado afora outdoors e propagandas caras dizendo: “O Piauí agora vale” e que, no ano de 2005, 20 mil empregos estariam assegurados. O ano 2005 já passou da metade, e a mina continua sendo uma reserva técnica da Vale do Rio Doce. No Estado do Pará, há minério igual sendo explorado a preço mais baixo. Portanto, infelizmente, aquela mina do Estado do Piauí é apenas uma reserva de mercado de uma empresa privada que o Governo quis usar por meio de uma mídia falsa, vendendo um clube de falsa felicidade aos piauienses, sempre crentes e carentes de boas notícias.
Sr. Presidente, o mais certo que o Governo faria em um momento como este era determinar imediatamente a instalação dessa CPI. Seria o melhor, até porque, já que a CPI possui um fato específico, determinado, ela chegaria ao seu término sem muita delonga. Mas o Governo está parecendo canoa de pobre atravessando o rio cheio, Senador Tião Viana. Aparece um furo aqui; o canoeiro tira a camisa, arranca um pedaço, tapa ali, vem com uma latinha e começa a tirar água do seu bojo. Só que o volume, em determinado momento, começa a ser maior do que a capacidade de retirada de água. Aí o que se vê? Ele tem de começar a se desfazer de pertences, como os mantimentos. É evidente que está assegurado que ele vai chegar do outro lado do rio, mas todo despedaçado, quebrado, pela metade, cabisbaixo, cansado; e o objetivo, a esperança da travessia não se concretiza. Ele apenas escapa. Não é isso o que desejamos ao atual Governo.
Sr. Presidente, uma coisa me impressionou muito na sexta-feira e, por dever de justiça, quero terminar a história que comecei. Eu estava nesta tribuna e falei que o Governo a que V. Exª pertence - e sei que V. Exª é um homem que não concorda com os fatos que estão acontecendo, que é um crítico desse tipo de comportamento e, por isso, eu me sinto muito à vontade para dizer isso - mais parecia uma bicicleta de cigano! Comecei a contar a essa história. Hoje, os ciganos evoluíram, já devem usar motocicleta, mas falo da bicicleta da minha infância, que anteriormente era a burra; a burra dos ciganos, muito famosa.
Fui aparteado aqui e não concluí o meu raciocínio. Ao sair da tribuna, recebi um telefonema de uma senhora aposentada, moradora de Taubaté, que liga constantemente para cá criticando pronunciamentos. É uma figura simpática - eu não a conheço pessoalmente - e sempre faz críticas do que acontece aqui. Ela me disse: “Senador, V. Exª não terminou de contar a história”. E repetiu exatamente aquilo que não concluí. Vou repetir agora, até em respeito a essa senhora, o que mostra o grande alcance da TV Senado.
O que é a bicicleta do cigano, Senador Paulo Octávio, com o que está parecendo o atual Governo? É uma bicicleta enfeitada. Tem um patinho na frente, é toda cheia de renda no aro e tem dois retrovisores. O cigano, por sua característica, é um narcisista. Gosta de olhar o dourado do dente, de apreciar a beleza, geralmente com óculos de grande porte, o ray-ban. Ele começa a se olhar e se esquece do que está na frente. Quando menos espera, se espedaça num obstáculo e sai todo quebrado.
A bicicleta de cigano, no momento, é o que melhor representa o atual Governo, olhando para o retrovisor, fazendo do ex-Presidente da República, segundo a Senadora Heloísa Helena, o seu objeto de desejo. Ainda não vi um dia aqui nesta tribuna em que o ex-Presidente Fernando Henrique não tenha sido citado quatro, cinco ou seis vezes. Para frente, o prometido, os objetivos do Governo não interessam. O que mais interessa aqui é olhar pelo retrovisor e esquecer-se das perspectivas do futuro. E aí está: a CPI dos Correios é o obstáculo diante do qual o Governo tropeçou e bateu. Sairão desse episódio o Presidente da República e todo o Governo com galo na cabeça, feridos - felizmente, ainda não de morte -, mas a primeira providência a ser tomada é pegar o “diabo” desse espelho retrovisor e jogá-lo fora, porque não serve para nada.
O Governo deve ter visão do futuro, Senador José Jorge, deve-se preocupar com a palavra empenhada, para seguir Eclesiástico, que diz que o homem é senhor da palavra empenhada e escravo da palavra anunciada. Chegou o momento de o Governo cumprir aquilo que anunciou ao povo brasileiro e também aos seus aliados.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - A grande queixa dos aliados é a falta do cumprimento das promessas. Essa é uma conta que deve ser acertada entre eles e não conosco, os que fazemos oposição.
Senador Tião Viana, pelo rumo em que as coisas estão caminhando, depois da entrevista do Deputado Roberto Jefferson, se o Governo estiver pensando que vai levá-lo sozinho para o cadafalso está muito enganado. O Deputado Roberto Jefferson teve, pelo menos, a coragem de assumir seus erros, mas também mostrou que não está sozinho. Essa canoa, se virar no meio da correnteza ou se afundar, com certeza, levará muita gente.
Muito obrigado.