Discurso durante a 76ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a transformação da CPI dos Correios em palco político.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Preocupação com a transformação da CPI dos Correios em palco político.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2005 - Página 17959
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • DEFESA, REPUTAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), CHEFE, CASA CIVIL, ELOGIO, EFICACIA, TESOUREIRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ORGANIZAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • REGISTRO, APREENSÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), UTILIZAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), MANIPULAÇÃO, NATUREZA POLITICA, BANCADA, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, REUNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OBJETIVO, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, DEPUTADO FEDERAL, VINCULAÇÃO, IMPRENSA.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tendo em vista que a tônica de hoje é essa, eu também queria tecer alguns comentários sobre o que penso em relação a essa situação toda.

Acabo de ser informado de que já está disposta na Internet, nas páginas dos principais jornais, a posição dos Ministros que foram citados pelo Deputado Roberto Jefferson. Todos dizem que orientaram o Deputado a falar com o Presidente e que sentiram, nas palavras do Deputado Roberto Jefferson, muita insinuação e pouca veracidade. É mais uma razão para que reforcemos o pedido no sentido de que a Câmara ouça melhor o Deputado Roberto Jefferson e que S. Exª explicite no órgão competente a situação que diz conhecer muito bem.

Gostaria de fazer uma pequena retrospectiva do que conheço de alguns dirigentes do meu Partido. Sou do PT desde o seu berço, filiado formalmente em 1986. Digo a V. Exª, com toda a segurança, que o papel do Ministro José Dirceu à frente do nosso Partido, o PT, deve ter causado muita inveja no Brasil. Em virtude do papel de um militante oriundo das origens como as de S. Exª, da história que carrega, da capacidade que tem, muitas pessoas devem ter olhado para o nosso Ministro com muitos dissabores, Sr. Presidente. O Ministro José Dirceu conduziu o PT para chegar aonde chegou, à Presidência da República, para ser expectativa de Governo mesmo nos Estados, nos Municípios.

Nosso Partido cresceu. É só olhar para o número das eleições. É o Partido mais bem votado ao longo de sua história e tem obtido uma votação crescente. Querer destruir a imagem de uma pessoa que poderia estar aqui cumprindo um papel muito especial no tabuleiro da política nacional pode ser do interesse de muitos, assim como querer vincular a imagem do Presidente Lula... Quem o conhece pessoalmente sabe perfeitamente bem que jamais alguém pega no pulso do Presidente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Vou já conceder, nobre Senador. Jamais o Presidente Lula vai ser levado por qualquer pessoa, nem mesmo pelo Ministro José Dirceu, com o arcabouço de conhecimento e capacidade que tem.

O nosso Ministro Palocci, todos o conhecem muito bem. Agora vai ficar o Ministro Palocci, no meu entendimento, impedido do seu exercício profissional. O ano fiscal tem que ser executado, Sr. Presidente. V. Exª que atua muito bem nesta Casa, vem cumprindo um brilhante mandato de Senador, é Vice-Presidente da Casa, conhece muito bem das dificuldades em todos os Governos, pois está completando oito anos de mandato, sabe a diferença que foi para o exercício fiscal. Agora, no entanto, o Ministro está proibido de se reunir com quem quer que seja para liberar recursos, porque, se fizer qualquer liberação de recursos agora, é imediatamente ligado a uma pseudocompra de parlamentares. Essa é uma situação complicadíssima.

E há outra, e não gosto de fazer comparações nem para números bons imaginem para números ruins, mas sou obrigado a dizer aqui, para V. Exª, com toda a segurança, que, há pouco tempo, a gaveta do Ministério Público Federal era motivo de chacota, não só nesta Casa - e eu não estava aqui, sou recém-chegado -, mas no País inteiro.

Também ando pelo Brasil, também converso com motoristas de táxi, com ambulantes, com trabalhadores rurais, conheço também a situação, e sei exatamente que quando uma notícia se torna crescente no País é claro que as pessoas têm opinião sobre ela e a tendência é seguir a ordem natural dos fatos. É natural!

Portanto, Sr. Presidente, quero dizer que conheço muito bem o Ministro José Dirceu. S. Exª, fiel escudeiro do meu Partido, é a pessoa mais segura com a qual o Governo pode contar. Também conheço muito bem Delúbio Soares, desde 1988, mais precisamente, quando ele trabalhava no PT. Sei que ele tem um lado organizativo que, desde o primeiro ano do Governo Lula, já foi motivo de muitas preocupações, inclusive do PFL.

O PFL andou pedindo que se fizesse investigação por conta da organização financeira do meu Partido, o PT. Tenho orgulho de dizer que o meu Partido, o PT, trabalha uma organização partidária inimaginável por outros partidos. Dos 5.561 municípios do Brasil, estamos em 5.135. E em todas as reuniões que vou digo que foi graças à organização partidária do Delúbio que, em um Município do Acre, Santa Rosa do Purus - que V. Exª conhece muito bem, pois foi a base de estudo de sua tese de doutorado -, onde só dá para se chegar de avião monomotor, em 1h30, ou de barco, em seis dias, existe um computador com capacidade de colocar cada um de nossos filiados em reuniões cotidianas, para avaliar o Município, o Estado, a União, a conjuntura internacional e tudo mais.

Sempre vivemos isso no nosso sangue. Agora, senti que a organização do nosso Partido tem mexido, fortemente, nos demais partidos, principalmente nos de Oposição e não sei por quê.

Antes de passar o aparte ao nobre Senador Heráclito Fortes, gostaria de dizer que tenho absoluta certeza de que a Oposição quer a investigação. Sei que ela pede isso com sinceridade. Mas a preocupação de meu Partido - por isso a orientação de não assinar a CPI - é que ela não termine como terminou a CPI do Banestado, não vire pizza, mas também não se transforme em trampolim de antecipação eleitoral. Isso é impossível, e não podemos admitir.

Portanto, no momento em que uma CPI, seja ela qual for, tenha um foco, um fato consumado, com certeza todos nós a apoiaremos. Eu até me ofereço ao meu Líder, Senador Delcídio Amaral: se quiser me indicar, estarei à disposição.

Não acredito nem um pouco que, por conta dessa versão, o Deputado Roberto Jefferson não tenha feito isso com mais tempo e com mais rigor.

Não posso imaginar que o Governador Marconi Perillo queira apenas pegar carona num fato. Por que não fez a denúncia há um ano e meio?

Não posso acreditar, Sr. Presidente, que essas pessoas queiram o caos, o circo pegando fogo, ou que pensem que, quanto pior ficar, melhor será. Quero entender que as pessoas estão querendo um Brasil bom e digno para todos.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Ouço, com atenção, o Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Em primeiro lugar, gostaria de fazer um registro: é comovente a sinceridade que sai da sua alma e a veemência com que V. Exª defende o seu companheiro e amigo Delúbio. Mas exatamente para fazer jus a essa confiança que V. Exª está depositando nele, é que ele deveria ter pressa para prestar os esclarecimentos. Se V. Exª bem acompanhou a imprensa - e é um homem atento -, esse fato começou quando o próprio Ministro José Dirceu disse - e a imprensa divulgou - que qualquer CPI que fosse feita com mais cuidado e mais apuro atingiria Delúbio e Sílvio Pereira. V. Exª fez agora uma apologia ao Ministro José Dirceu. E é em nome dessa amizade, dessa defesa que V. Exª fez do Ministro, que deve ser o primeiro a defender essa CPI. Mas não queira, pelo amor de Deus, colocar o Presidente Lula nessa história. A Oposição está tendo todo o cuidado para preservar o Presidente Lula, que está sendo vítima dos maus colegas, das más alianças, das más companhias. O Brasil inteiro respeita o Presidente Lula. Estamos pisando em ovos, exatamente para, com uma frase infeliz, não atingirmos essa figura de trabalhador brasileiro, que é o Presidente Lula. E é em respeito a esse trabalhador que queremos que a CPI dos Correios seja criada, para respeitar os duzentos mil trabalhadores dos Correios que andaram pelo Brasil afora cantando “Lula lá”. É por isso, Senador, que não estamos fazendo dessa questão um trampolim político. V. Exª sabe muito bem que quem viabilizou o funcionamento e o término da CPI do Banestado foi o Partido de V. Exª, quando se encontraram, em determinado momento da sua apuração, fatos envolvendo uma companhia aérea com ligações com o Palácio do Planalto. V. Exª era membro da Comissão e sabe disso. A CPI transcorria serenamente, mas, no dia em que o assunto Transbrasil entrou em tela, nunca mais funcionou. Então, V. Exª não acuse a Oposição de alguns fatos. Quando o caso Santo André também entrou na CPI, houve um terremoto, mas de pequena escala.

(Interrupção do som.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - A gente viu hoje na sua chegada a indignação diante dos fatos. V. Exª estava atônito. No fundo, V. Exª sabe que, para o Partido que V. Exª ajudou a fundar e que percorreu o Brasil com a sua bandeira, o melhor caminho é essa apuração. Louvo, mais uma vez, a apologia que V. Exª faz do Sr. Delúbio, mas fique certo de que ele não vai de monomotor para os mais longínquos lugares do Acre. Ele tem meios de transporte mais confortáveis. A vida lhe ensinou e lhe deu essa oportunidade. Tampouco vai de barco, porque as muriçocas e os maruins vão picá-lo na pele, e ele não é mais homem para essas coisas. Ele está em outro estágio, e V. Exª sabe disso. Terá aviões mais confortáveis e melhores e, como é um homem solidário, poderá levá-lo em sua companhia, quando tiver de levar os computadorezinhos, como V. Exª disse, aos mais distantes recantos acreanos. Para que ele continue fazendo isso de cabeça erguida, mais do que ninguém, e com o apoio de V. Exª, ele deve prestar os esclarecimentos. Se foi caluniado, deve processar os caluniadores, mas, se esse esclarecimento não for feito,...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Será feito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - ...tudo isso ficará atravessado na garganta e vai macular de morte a história do seu Partido.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Será feito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O Partido, é a grande verdade, está desvirginado. Para a corrupção, meu caro amigo, não há hímen complacente.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Senador Heráclito Fortes, insisto com V. Exª que, primeiro, não é mais preciso o Delúbio ir a Santa Rosa, porque para lá já estamos indo freqüentemente, seja de barco, de avião ou de outros meios.

O que estamos discutindo é um fato político, direto e objetivo. Nosso País, enquanto estiver sob o regime do Presidente Lula, vai varrer aquilo que o olhar fiscalizador enxergar. Não tem sido moleza para ninguém, mesmo para filiados do PT.

O que quero dizer a V. Exª é que, além do pedido que o Deputado Zarattini já fez na Câmara, o nosso Partido vai se reunir e tratar dessa questão. Vamos sugerir que seja feita uma clarificação dos fatos. Não pode haver dúvida entre nós. Absolutamente não pode haver dúvida, muito menos dessa grandeza.

Também faço parte daqueles que acham que não interessa o valor da propina - se foi de R$1 mil, de R$2 mil ou de R$3 mil -, quanto foi que o Sr. Marinho pegou. Não interessa quanto é que foi. Minha velha mãe sempre dizia: “Meu filho, entre roubar o boi e a corda do boi, a diferença é de preço, mas o princípio é o mesmo. Então, nunca pegue nem o boi e muito menos a corda”.

Nesse caso, nosso Partido vai tratar dessa questão com rigor, e espero que esse seja o tratamento da Casa, porque o Deputado Roberto Jefferson coloca dúvida sobre uma série de Deputados, e todos devem também se explicar.

Mas, devido ao tempo, Sr. Presidente, encerro agradecendo pela tolerância de V. Exª.

Estamos muito tranqüilos com tudo isso. Quero de novo parabenizar as ações do Governo, da Polícia e de todos que estão fazendo esforços para, sem nenhum constrangimento, sem ficar falando ao telefone, chamando no particular para relaxar e para deixar passar, resolver o problema da corrupção. Estão querendo dizer que, neste momento, somos um País da corrupção, mas o que estamos dizendo todos os dias é que, neste momento, temos um Governo que decidiu varrer a corrupção naquilo que for do seu alcance.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2005 - Página 17959