Discurso durante a 79ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Obstáculos ocorridos na instalação da CPI dos Correios para a escolha de seu presidente e do relator.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). REFORMA POLITICA.:
  • Obstáculos ocorridos na instalação da CPI dos Correios para a escolha de seu presidente e do relator.
Publicação
Publicação no DSF de 10/06/2005 - Página 19323
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). REFORMA POLITICA.
Indexação
  • COMENTARIO, TENTATIVA, GOVERNO FEDERAL, OBSTACULO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), GRAVIDADE, DESVIO, RECURSOS, EMPRESA ESTATAL, PAGAMENTO, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA, BANCADA, GOVERNO, CRITICA, ESCOLHA, MEMBROS, AUSENCIA, ASSINATURA, REQUERIMENTO, PROTESTO, ATUAÇÃO, LIDER, INDICAÇÃO, PRESIDENTE, RELATOR, DESRESPEITO, TRADIÇÃO, REVEZAMENTO, PARTIDO POLITICO.
  • ACUSAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, TESOUREIRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), SISTEMA, CORRUPÇÃO, INEFICACIA, TENTATIVA, DEFESA, ENTREVISTA.
  • QUESTIONAMENTO, INTERESSE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFORMA POLITICA, DEFESA, ORADOR, APROVAÇÃO, MATERIA, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, PUNIÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª, Senador Mão Santa. Devo dizer que, infelizmente, falarei do mesmo tema que acabou de falar o Senador Heráclito Fortes, porque é o tema do dia.

            Nós tentamos, Sr. Presidente, agora, instalar a já famosa CPI dos Correios. Faz três semanas que a Oposição luta para instalar essa CPI. Na realidade, o Governo vem lutando de todas as formas para que essa CPI não seja instalada, porque não quer que sejam investigadas as denúncias nos Correios. São revelações gravíssimas, mais graves até do que uma confissão, porque uma confissão não é gravada, não é filmada. Nesse caso, existia um amplo esquema de corrupção nos Correios e em outras empresas estatais, cujos recursos serviriam para pagar o chamado ‘mensalão’, que era uma mesada de R$30 mil paga a Deputados, principalmente do PP e do PL, de acordo com as palavras do Deputado Roberto Jefferson.

Estamos passando por uma verdadeira corrida de obstáculos. Em primeiro lugar, tentaram retirar as assinaturas da CPI. Não conseguiram. Conseguimos muito mais assinaturas que o necessário. Depois tentaram não marcar a reunião do Congresso. Marcamos e foi lida. Apresentaram uma solicitação de inconstitucionalidade em relação as nossas assinaturas e a Comissão de Constituição e Justiça, ontem, julgou que a CPI é constitucional e pode, efetivamente, ser instalada.

Depois, Senador Mão Santa, eles tentaram não indicar os membros da CPI. Esperaram quinze dias. Foi preciso que o Presidente Renan dissesse que, se não indicassem até ontem à noite, às 18h, ele próprio indicaria. Então, eles indicaram. E se formos examinar o nome dos indicados, verificaremos que são aqueles que eram contra a CPI. Enquanto a Oposição indicou Senadores e Deputados que tinham assinado a CPI, eles agora indicaram Senadores que não assinaram a CPI.

Por exemplo, o Senador Pedro Simon, que assinou a CPI, não foi indicado nem para ser titular nem para ser suplente. V. Exª, Senador Mão Santa, também assinou a CPI e não foi indicado para ser titular nem suplente.

Então, imaginem como pensará um cidadão normal: se há uma CPI, e o Governo anuncia que quer ir a fundo nas investigações e indica aqueles que são contra. A lógica diz que deveriam ser aqueles que são favoráveis.

O Senador Pedro Simon é um dos Senadores mais importantes, mais competentes, que têm mais tempo na Casa, assinou o requerimento de criação da CPI e não foi indicado. O mesmo aconteceu com V. Exª, Senador Mão Santa. Isso significa que eles não querem que a CPI funcione e investigue, porque estão com medo que as irregularidades atinjam não apenas os bagrinhos, como também os peixes grandes.

Hoje, aconteceu de tudo e o mais grave. Na hora de instalar a CPI, de se escolher o Presidente e o Relator, o Líder do Governo, Senador Aloizio Mercadante, quis indicar o representante deles - que concordamos poderia ser o Relator ou o Presidente - mas ele também quis indicar o nosso. Ele quer escolher o Senador da Oposição que deve ser Relator ou Presidente.

Ora, então, poderíamos dizer que essa CPI não vai terminar em pizza, ela vai começar em pizza, já que o Governo, que não indicou os Parlamentares que assinaram e fez de tudo para que a CPI não se instalasse, agora quer indicar os representantes da Oposição.

Sr Presidente, na realidade, estamos vendo que a situação está se degringolando; o Governo não está enfrentando de frente. Ontem mesmo, houve dois fatos que considerei relevantes. O primeiro foi aquela entrevista ridícula - o termo é esse -, do Sr. Delúbio Soares. Ele pode ser muito bom para pagar ‘mensalão’, pode ser bom para recolher dinheiro de estatal, mas, para se defender, ele é péssimo. Foi montado uma espécie de circo, comandado pelo Deputado José Genoíno, Presidente do PT. O Sr. Delúbio não falava coisa com coisa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Delúvio.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - É Delúvio ou Delúbio, Sr. Presidente?

Então, o Sr. Delúbio tinha um bocado de frases escritas e, de vez em quando, lia uma delas. Foi ridículo. Ficou mais engraçado do que Casseta e Planeta e outros programas humorísticos. Foi ridículo, ele não se defendeu. Até me preocupo com o que ele vai dizer no dia em que vier ao Congresso.

Em segundo lugar, considerei grave o fato de o Presidente Lula falar em reforma política. O Presidente Lula nunca demonstrou até agora, com dois anos e meio de Governo, nenhum interesse na reforma política. Toda a reforma política já foi aprovada no Senado, está na Câmara, e não aprovaram porque não quiseram. Não quiseram nem discuti-la. Agora, diante dessa crise, estão dizendo que o problema é da reforma política. A reforma política tem que ser aprovada independentemente disso.

Acho que a reforma política está para a crise do Delúbio...

(Interrupção do som)

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - ...assim como o fechamento dos bingos esteve para a crise do Waldomiro.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha)

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Fechamento de bingo não tinha nada a ver com o roubo do Waldomiro, assim como reforma política não tem nada a ver com essa questão do Delúbio. A questão do ‘mensalão’ não está apenas do lado da despesa, do pagamento das mensalidades aos Deputados, o que é gravíssimo, está também do lado da receita: de onde veio esse dinheiro que o Sr. Delúbio Soares usou para pagar essas mensalidades? Veio das estatais, veio do Executivo, veio do Governo.

Então, Sr. Presidente, o Governo não está sendo sincero com o povo brasileiro. O Governo está mentindo. O Governo não quer CPI; o Governo não quer punir Delúbio; o Governo não quer punir ninguém. Ele demitiu quatro ou cinco burocratas do IRB e quatro ou cinco burocratas dos Correios, mas não quer pegar nenhum peixe grande; não quer pegar um Ministro; não quer pegar esse pessoal do PT.

E, hoje em dia, a população está descrente. E do jeito que vai, a descrença será maior ainda.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/06/2005 - Página 19323