Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Garantia de que oposição não é golpista conforme anuncia o governo.

Autor
Leonel Pavan (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Leonel Arcangelo Pavan
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Garantia de que oposição não é golpista conforme anuncia o governo.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2005 - Página 20573
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DENUNCIA, CORRUPÇÃO.
  • DEFESA, ATUAÇÃO, BANCADA, SENADO, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PRESERVAÇÃO, DEMOCRACIA.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, temos que nos movimentar mais do que atletas de maratona, porque temos que controlar a vez de falar, controlar as comissões, compromissos, audiências, atendimentos nos gabinetes, e principalmente para dar conta do recado, das nossas obrigações e dos nossos compromissos. Estou há cerca de três dias tentando usar da palavra - certamente outros Senadores também - e não tenho conseguido.

O meu objetivo aqui hoje era justamente falar sobre alguns assuntos que estão sendo esquecidos, como a questão das rodovias novamente. Digo que estão sendo esquecidos porque essa confusão toda criada nos últimos dias está segurando os trabalhos no Congresso. Todos estão voltados para a questão dos depoimentos de pessoas que estariam envolvidas em denúncias que surgem todos os dias neste atual Governo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, felizmente, até o presente momento, o Senado está isento, está imune às questões do mensalão e tenho a certeza de que nós, aqui, no Senado Federal, vamos continuar imunes até o final dos nossos mandatos. Mas quero deixar registrado que, como diz o Boris Casoy, é uma vergonha o que este Governo está proporcionando para o nosso País todas as horas, todos os dias, em relação a desmandos e corrupção. Por mais que o Governo, por mais que a Base do Governo tente dividir a responsabilidade, tente afastar os compromissos do Governo, está difícil, muito difícil convencer a população do não-envolvimento deste Governo com as falcatruas. Raramente se encontra alguém do PT - perdoe-me o Senador Paulo Paim, que tem sido um lutador, um guerreiro, nesta tribuna, na busca de projetos que possam sanar os problemas mais graves do nosso País, principalmente na área social -, mas é muito raro se encontrar alguém do PT que venha defender o Lula e o seu Partido da forma como defendia no passado. É muito raro.

De vez em quando, deparamo-nos com o fechamento de rodovias por movimentos de toda ordem. E lá não se encontra uma bandeira do PSDB, uma bandeira do PFL, como se encontravam, antigamente, as bandeiras do PT. A cada denúncia que surgia, a cada reivindicação que faziam, lá estavam as bandeiras do PT tremulando, buscando justiça social, buscando transparência. Hoje há vários movimentos, mas as do PT não estão mais presentes, porque esses movimentos são contra o PT, são contra aquela bandeira que, até há algum tempo, organizava, patrocinava os movimentos.

O PSDB e o PFL não estão no meio desses movimentos, meu amigo Presidente Tião Viana. Por que não estamos lá? Porque queremos ordem - não que estejam fazendo desordem -, mas nós não queremos o “quanto pior, melhor”. Somos, sim, contra o golpe, golpe que o PT tentou, por diversas vezes, dar no passado. Não somos pelo “fora Lula”, como fazia o PT no passado, com o “fora FHC”. Queremos o bem do País, mantendo a estabilidade econômica e social da nossa Nação.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Leonel Pavan, V. Exª aborda um tema e consegue penetrar exatamente no fulcro da questão. A Oposição que hoje o Brasil conhece é responsável, equilibrada, que não quer ver, como se diz na gíria popular, “o circo pegar fogo”. Sabe-se que alguns setores do PT - nem todos os petistas agem assim - estão tentando colocar os seus militantes na rua.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Patrocinados.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Sabe-se quanto custa cada mobilização dessa. Aquele movimento dos sem-terra que veio de Goiânia para cá...

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Agora a CUT.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - ... deu para termos uma idéia. O Senador Tião Viana, um homem de bom senso e lógico, há de concordar comigo. Seria a primeira vez na história do País - e no Brasil já houve mobilizações populares em diversos momentos da sua história -, se isso vier mesmo às ruas, será a primeira vez que veremos bandeiras vermelhas, da CUT e de outros movimentos sociais defendendo a corrupção. Estamos querendo esclarecer a questão, o que só ocorre mediante fatos. Ora, estamos no primeiro dia de depoimento. Está aí o Sr. Maurício Marinho, que, segundo alguns do Partido e do Governo, é um desqualificado, pertencente ao terceiro, quarto ou quinto escalão. Isso não importa, pois é um cidadão que viveu a história tenebrosa que se passou nos Correios e que, de repente, resolveu falar. Inicialmente, falou pouco; hoje, após a garantia da Comissão de que terá segurança para si e para sua família, porque estava sendo ameaçado - é o segundo caso de pessoa ameaçada, porque a secretária de Belo Horizonte disse a mesma coisa -, ele começou a falar, começou a dar nomes e, acima de tudo, começou a mostrar a geografia do crime, mostrando aonde a Comissão poderá apurar outros fatos. Temos cerca de trinta ou quarenta depoimentos. É preciso um pouco de paciência para, depois, os “donos” dos movimentos sociais colocarem nas ruas os seus companheiros, que, antes, empunhavam a bandeira de cabeça erguida. Hoje, infelizmente, o quadro é outro.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Agradeço o aparte de V. Exª e tenho mais dois apartes, que concederei com muita honra, mas faltam apenas três minutos e o Presidente me chamou a atenção.

Não é possível, não é possível que alguém que é acusado, que alguém que tem que dar explicações para a Comissão de Ética ou para a CPI saia do Governo e venha dizer que a Oposição quer dar o golpe. Quem está denunciando, quem denunciou não fomos nós, mas a própria Base do Governo. Estão chutando seus próprios calcanhares, estão batendo cabeça. São eles que estão se denunciando. Quem quer dar o golpe? Não sei se a briga é por projetos, por recursos, por mensalão, mas quem quer dar o golpe são justamente aqueles que estão aliados ao Governo.

Não podemos nos calar quando alguém tenta justificar o injustificável, tenta justificar o que está ocorrendo no Governo jogando a culpa na Oposição. A Oposição esta fazendo o seu papel, denunciando, fiscalizando, cobrando, como o processo democrático permite, sem baderna, sem injustiça e sem aquele pensamento do “quanto pior, melhor”.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Leonel Pavan, V. Exª me concede um aparte?

O SR.LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Concedo um aparte, com muita honra, ao Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Leonel Pavan, falarei de forma muito rápida, pois sei que o tempo está esgotado e o nosso Líder Tião Viana está sempre, implacável, corretamente, cumprindo o Regimento. Eu só gostaria de dizer, Senador Pavan, que, em relação aos movimentos sociais - e fui convidado a participar de algumas atividades deles -, o eixo é, em primeiro lugar, o combate à corrupção, em segundo, a ética na política e, em terceiro lugar, em nome da governabilidade, que é em nome da própria democracia. Por isso, desejo, neste aparte a V. Exª, dizer que respeito muito suas posições, como sei que V. Exª respeita as minhas. Entendo que a CPI vai cumprir o seu papel.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador Leonel Pavan, V. Exª terá mais dois minutos antes de o som ser cortado.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Serei rápido, Senador. A CPI é um instrumento do processo democrático. Eu dizia, há pouco tempo, da tribuna, que umas “terminaram em pizza” e outras foram fundamentais. O País jamais vai esquecer o resultado de duas CPIs que acompanhamos, pelo menos eu, que estou nesta Casa há mais ou menos 20 anos. Desejo, mais uma vez, afirmar que entendo que V. Exª faz um discurso forte, contundente, mas respeitoso, demonstrando que V. Exª não está entre aqueles que podem supor que alguém, neste Congresso, gostaria de dar um golpe no Presidente da República. Faço o aparte muito mais para deixar claro a V. Exª que, no meu entendimento, os movimentos sociais, legitimamente, deverão se basear em três eixos: combate à corrupção, ética na política, em nome da democracia e da governabilidade.

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - Vou conceder o aparte ao nobre Senador João Capiberibe, se eu conseguir. Um minutinho, Senador Capiberibe.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC) - No entanto, Sr. Senador, o Presidente está nos provocando, está provocando a Oposição. Como dizer que quer a transparência, como dizer que quer resolver a questão da corrupção e dar força à CPMI se tentou, de todas as formas, que ela não fosse instalada? Não se pode jogar a culpa na Oposição.

Nos telegramas, nas mensagens, é colocado um “PT” no final. Agora estamos entendendo por que PT. Os Correios devem dar uma explicação sobre isso. É preciso tirar o PT dali.

Há três coisas que, diz o Senador Mão Santa, só se faz uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT - pelo menos ninguém mais do nosso Partido.

Concedo o aparte ao Senador Capiberibe, com muita honra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2005 - Página 20573