Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do Sr. Paulo Affonso Martins de Oliveira, ex-Secretário Geral da Câmara dos Deputados.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do Sr. Paulo Affonso Martins de Oliveira, ex-Secretário Geral da Câmara dos Deputados.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2005 - Página 20474
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EX SERVIDOR, SECRETARIO GERAL, CAMARA DOS DEPUTADOS, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, não há como fugir do lugar comum, porque, de fato, é uma grande perda o falecimento de Paulo Afonso Martins de Oliveira.

Foi um servidor público dedicado, homem de talento invulgar, correção a toda prova. Em uma hora em que alguns se acomodam com o saco de gatos, com a vala comum de que ninguém prestaria, de que a vida pública seria o endereço de pessoas eticamente deturpadas, nós temos exemplos em sentido contrário presentes e vivos neste Senado e na Câmara dos Deputados, temos o exemplo da figura que acabamos de perder, que é Paulo Afonso Martins de Oliveira.

Ministro do Tribunal de Contas da União, figura que abrilhantou todos os cargos por onde passou, Paulo Afonso era para meu pai - falecido há muito mais tempo - um amigo muito querido. Para mim, era uma espécie de conselheiro, uma figura que o tempo inteiro passava a idéia da pureza de sentimentos, da lealdade, da correção, do espírito público, da fraternidade, do amor pelos seus semelhantes.

Quando cheguei à Câmara dos Deputados pela primeira vez, jovem, disposto a muita luta, reinava no Brasil o império de um regime de exceção. Eu observava a figura de Paulo Afonso com olhos sectários; eu dizia: “Esse homem serve aos meus inimigos”. Era engano típico da minha imaturidade, porque Paulo Afonso servia com dedicação e corretamente à Mesa da Câmara dos Deputados, não servia aos meus inimigos da ditadura, que fazia tanto mal ao País. O tempo foi desmentindo o meu primeiro conceito, e o último conceito, esse que o leva para o túmulo, é precisamente o de um homem admirável, notável na cultura e correto no procedimento.

Posso dizer que aprendi muito na Câmara dos Deputados, já no meu primeiro mandato, percebendo aquilo que o meu pai me dizia, me ensinava: era um platô privilegiado de onde se podia observar todos os problemas do País. Se tivesse que dizer que ascendi a esse platô pelo voto soberano do povo do Estado do Amazonas, acrescentaria dizendo igualmente que o voto do povo do Amazonas me possibilitou conhecer Paulo Afonso Martins de Oliveira. Ele se vai, temos de compreender essas verdades da vida, esse mistério do nascimento, esse mistério da morte, esse mistério da travessia que fazemos entre um momento e outro, ao mesmo tempo em que nos esforçamos - e devemos fazê-lo - para honrar esses exemplos. Uma civilização é feita de exemplos, uma civilização é feita de cultura acumulada, uma civilização é feita de atitudes, de gestos, e vi pouca gente neste País oferecer tantos gestos positivos para que o Brasil pudesse ir formando a sua cultura de civilização democrática, de Estado que cada vez oprima menos o povo brasileiro.

Tenho, Sr. Presidente, a mais absoluta convicção de que o Brasil perdeu um grande homem, o Congresso perdeu um mestre. Algumas pessoas passam pela vida sem que as percebamos, mesmo estando na vida pública; outras pessoas, percebemos que elas não morrem precisamente quando falecem, tornam-se imortais.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2005 - Página 20474