Discurso durante a 112ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as denúncias de corrupção envolvendo o PT e o governo. Comentários a respeito da entrevista concedida pelo Presidente Lula, em Paris, referindo-se à crise política no país. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Considerações sobre as denúncias de corrupção envolvendo o PT e o governo. Comentários a respeito da entrevista concedida pelo Presidente Lula, em Paris, referindo-se à crise política no país. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 19/07/2005 - Página 24750
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • REGISTRO, SUPERIORIDADE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, PAIS, QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, CONFIRMAÇÃO, AUSENCIA, ETICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • LEITURA, PROPOSTA, AUTORIA, ORADOR, EXPECTATIVA, ANALISE, CONGRESSO NACIONAL, SOLICITAÇÃO, SUSPENSÃO, INVESTIGAÇÃO, ORIGEM, DINHEIRO, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APRESENTAÇÃO, CONTRATO, PUBLICIDADE, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), GARANTIA, REPASSE, EMPRESTIMO, REPRESENTAÇÃO POLITICA.
  • ACUSAÇÃO, VERDADE, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), COMENTARIO, NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, FINANCIAMENTO, REPRESENTAÇÃO POLITICA, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE).
  • CRITICA, DESCONHECIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CORRUPÇÃO, PAIS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Existe um site na Internet chamado Carta O Berro, junto com outras imoralidades ainda escondidas nessa invenção fantástica da tecnologia moderníssima que é a própria Internet. E lá eu tenho percebido, minha assessoria tem notado diversas publicações que tentam denegrir a minha imagem de homem público e, portanto, fazer mal a minha própria carreira.

É estranho, porque uma pessoa tão frontal como eu sou, tão previsível. Tão previsível! As pessoas sabem exatamente o que eu vou fazer depois de terem... Todo aquele que me der um beijo dificilmente não levará outro e todo aquele que me der um soco, dificilmente não vai levar quatro socos, duas cotoveladas e três pontapés. Eu sou previsível. Não tem o que discutir comigo. É tão simples!

Mas o que me causa espécie, Sr. Presidente - e estou encaminhando e-mails para a Mesa pedindo providências e, quem sabe, da própria Polícia Federal -, é esse travestimento, que são terroristas que fazem tão indecentes os seus gestos quanto aqueles que colocam relações sexuais na Internet. A gente tem visto tudo isso. Eu não sei enfrentar adversário assim. Eu não seria nunca um terrorista; eu seria membro de um exército regular, aquele que alinha francês de um lado, alemão do outro e depois vê quem fica em pé no final.

            Eu tenho dificuldade em lidar com terrorista, com a covardia, com essas coisas todas. Mas, de qualquer maneira, sem me apoquentar um só segundo com isso, estou encaminhando o requerimento à Mesa, porque alguma providência jurídica deve ser tomada, até para começarmos a mostrar que a Internet é uma invenção para o bem e não deve ser abrigo de covardes. E estou procurando erros de português, pois se houver muitos erros de português, vou dizer que é gente do Governo. Mas ainda não encontrei. De qualquer maneira, é a cara de certos setores do Governo; é a cara de mensalão. O que escrevem ali é a cara, o espírito de mesada, de mensalões, de empréstimos com os Correios avalizando. É a cara da imoralidade pública; é a cara da corrupção deslavada.

Eu não quero fazer ilação nem acusação. Apenas encaminharei à Mesa o que tenho visto e recebido desse tal site e de outros. A Internet tem de começar a ser olhada por nós com toda a atenção, até porque acredito que temos de proteger os cidadãos de bem da investida de cidadãos que são tão de mal e tão do mal que não conseguem assinar seus próprios nomes. Mas eu volto à carga, Sr. Presidente.

Quando V. Exª quiser me dar a palavra, quando for a minha vez, estou pronto para arrazoar, para falar.

 

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Perfeitamente. Registramos a nossa solidariedade a V. Exª. Aguardamos o requerimento para tomarmos as providências. Se V. Exª deseja falar como Líder, esteja à vontade.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Há oradores inscritos na minha frente?

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Sim, estão inscritos os Senadores Marcelo Crivella, José Jorge, Valdir Raupp, Luiz Otávio, Alvaro Dias, César Borges, Arthur Virgílio e, em seguida, Paulo Paim.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Peço a palavra como Líder, então.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - A palavra está franqueada a V. Exª.

V. Exª dispõe de dez minutos, mais cinco de tolerância. Em seguida, o Senador Paulo Paim.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a pilhagem que certos setores petistas do Governo Lula praticaram contra a Nação é como o furto praticado pelas tropas que ocupavam cidades conquistadas em combate em eras passadas; é o próprio saque.

A diferença é que já não há nem combates nem conquistas de cidades ou de impérios. A versão moderna, aceitem ou não, foi institucionalizada pelo Governo eleito em 2002.

Se não há combates, não há canhões nem setas inflamadas. E nada é feito no corpo-a-corpo. O que houve no Brasil da Era Lula? Corrupção, desvio, empréstimos fajutas e o mensalão. Tudo foi feito, embora na surdina, em sala vizinha à do Presidente, muito próxima à do então Ministro-Chefe do Gabinete Civil.

Primeiro, apareceu um personagem, o Waldomiro, dos bingos.

E logo viria a incontida voragem de dirigentes de empresas públicas e estatais, não ficando a salvo nem mesmo o Banco do Brasil e a mais tradicional e prestigiada instituição prestadora de serviços deste País, os Correios.

Agora, as denúncias não são apenas diárias, acontecem a cada hora, explodem, infelicitam o Brasil e entristecem sua população. O povo já não tem outro tipo de notícia a não ser esse vendaval de corrupção, nos jornais, na TV, nas revistas semanais. Lula bateu recordes em capas de revistas.

Na quinta-feira, aqui deste plenário, sustentei que, se o Presidente Lula sabia de tudo e não tomou providências, Sua Excelência prevaricou. Se de nada sabia, isso é muito grave. Afinal, não se compreende que o País seja governado por um Presidente que não sabia o que maquinavam no campo da corrupção nem ao lado de seu gabinete nem na sala ao lado.

Usei, naquela manhã, palavras um pouco mais duras. Porém, duras como a realidade que assusta, a cada momento, o povo brasileiro, tão intensos são os relâmpagos. De repente, um raio e logo vem outro e outro e mais outro.

Milhões de brasileiros arrependem-se do voto de 2002, no mínimo, desesperançados. Outros entendem que, ao menos, é preciso investigar tudo à exaustão. Por isso, vou enumerar, no final deste pronunciamento, o que posso interpretar do pensamento dos brasileiros.

O que não é possível é tolerar que todos esses desvios continuem marcando a vida pública e política do Brasil.

Não aceito nenhuma interpretação, mesma vinda do Presidente da República, de que o que ocorreu faz parte do chamado trivial doméstico da Nação.

Não. Não faz. Não é. Não aceito isso.

Não aceito nem mesmo a fala do Presidente, na placidez do cenário parisiense, cercado do verde de gramados e jardins, com miosótis e jasmins.

Dita por um Presidente, é de fazer corar a mais verde vegetação em tempo de chuva a frase que Lula usou na recente entrevista, sentado diante de um antigo castelo: “A direção do PT fez o que é feito no Brasil sistematicamente”.

Em primeiro lugar, alto lá, Presidente Lula! Isso, no mínimo, é uma ofensa que atinge a todos os brasileiros. E, mais do que nunca, a nenhum brasileiro agrada ser colocado no mesmo nível dos petistas desviados dos rumos da decência.

Ressalvo os verdadeiros militantes do Partido do Presidente. Eles devem estar muito incomodados em ver que o adjetivo petista corre o risco de confundir-se ou até de virar sinônimo desses tantos outros adjetivos ou substantivos que cheiram ao ilícito.

Em segundo lugar, o Presidente passa a idéia do cidadão que, prevaricador, supõe que esse seria o comportamento normal ou que é feito sistematicamente no Brasil.

O próprio Presidente revela que o PT foi longe demais ao dizer: “Já faz tempo que eu deixei de ser presidente do PT”. Agora, o que ele mais quer é distância do PT para se salvar, sem legitimidade. Os brasileiros também, com todo santo direito à repulsa e a uma santa indignação.

Fiel aos hábitos implantados pelo falso petismo no Palácio do Planalto, a imaginação dos marqueteiros oficiais deve ter raciocinado: “Olha, Sr. Presidente, já que o senhor vai à França, a gente ajeita uma longa entrevista sua, no melhor estilo da grã-finagem, com um castelo ao fundo, num belo jardim, sentado confortavelmente numa espaçosa poltrona. E aí o senhor diz que tudo isso faz parte dos hábitos dos brasileiros”.

É o raciocínio de quem supõe de que todos nós, brasileiros, somos tolinhos.

E, por ser uma entrevista do Presidente do Brasil, estou anexando a sua íntegra a este pronunciamento. Assim, o historiador do amanhã disporá de elementos riquíssimos para avaliar o comportamento de um grupo que um dia teve sonhos de noites de verão.

Passo a enumerar as providências que considero importantes, Senador José Agripino, e merecem ser analisadas pelo Congresso Nacional, sem perda de tempo:

1ª - requerermos ao Tribunal Superior Eleitoral a imediata suspensão do Fundo Partidário do PT. Fundo Partidário, dinheiro público, não casa com caixa 2, imoral, confessado por delúbios e valérios; 

2ª - colocar sub judice o mandato dos que se elegeram pelo PT à base de caixa dois de delúbios e valérios;

3ª - investigar o verdadeiro financiamento público de que se valeu o PT e revelados pelas denúncias diárias da imprensa.

Em meio a esse cenário pouco primoroso para o Brasil, chega a ser incompreensível e inconcebível que o Presidente Lula mantenha o mesmo tom de seu monocórdio fraseado.

Aqui ou na França, nada do que ele fala rima com a realidade que aparece diante dos brasileiros. Ou é aquela cena, repetida mil e tantas e vezes, do homem dos Correios embolsando aqueles R$3 mil, ou é as manchetes de primeira página, como a de hoje da Folha de S.Paulo, que peço seja inscrita nos Anais, para todos ficarmos pasmos.

Acredite quem quiser, salve-se quem puder. A verdade é que Marcos Valério teve o desplante e a ousadia de oferecer como garantia de um empréstimo repassado para o PT nada mais, nada menos do que um contrato de publicidade que fechara com os Correios. O empréstimo foi contraído com o BMG e, pela garantia dos contratos da ECT, justifica e embasa o pedido de suspensão do fundo partidário na direção do Partido dos Trabalhadores.

Aqui, como lembrei no começo deste discurso, o raciocínio é o velho chavão dos falsos petistas: tudo em família e tudo bem. E aqui vão matérias que peço que sejam incluídas nos Anais, Sr. Presidente: Marta Salomon*, Folha de S.Paulo; essa outra da Folha. E estamos aqui percorrendo as páginas para prosseguir o discurso a seguir.

Sr. Presidente, afora o mar de lama que aí está, é fundamental comentarmos algumas coisas bem simbólicas, bem claras. A operação Uruguai do Governo Collor foi menor do que esta operação Paraguai do Governo Lula. Naquele momento, era um PC com mil facetas; agora, são vários PCs e mil casos, com mil facetas cada um. Para onde nos viramos encontramos uma figura purulenta, encontramos o opróbrio, a humilhação aos foros de dignidade da nossa gente. Para onde nos viramos, encontramos um beco sem saída, porque as denúncias não param e a podridão é arrebatadora, é avassaladora.

Sr. Presidente, o Sr. Delúbio Soares foi a Belo Horizonte, encontrou-se com Marcos Valério e acertaram uma posição em comum. E o mais estarrecedor de tudo é que Marcos Valério falou primeiro, Delúbio Soares falou depois - e aí vem a minha tristeza -, o terceiro a falar, no mesmo tom, na mesma coerência, depois dos outros dois, para se certificar “da fidelidade de ambos”, foi o Presidente Lula, ele próprio, dizendo as mesmas coisas, falando como se fosse habitante de uma cratera lunar e não o Presidente de um País conflagrado pela corrupção, patrocinada pelo seu Governo, por relações promíscuas com o Congresso Nacional, a partir de invenções do Governo dele.

O que acrescentaram Valério e Delúbio ao acervo de verdades que já tínhamos jurisprudenciadas no coração e na cabeça da Nação foi por meio de mais mentiras...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu disponho de quanto tempo, Sr. Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Vou conceder mais cinco minutos para V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado a V. Exª.

Acrescentaram mais mentiras, que se somaram ao acervo de verdades já jurisprudenciadas no coração da Nação brasileira. Afinal de contas, primeiro não era empréstimo nenhum; depois, eram dois; depois, oito. Estou em dúvida se eram oito mesmo, se não é uma nova Operação Uruguai. Mas, de qualquer jeito, quando a Folha de S.Paulo mostra que o lastro para o empréstimo ir para o PT vinha dos Correios e Telégrafos, fica bem claro que não era dinheiro privado coisa nenhuma, Sr. Marcos Valério, que não era dinheiro privado coisa nenhuma, Sr. Delúbio. O Sr. Delúbio foi escolhido para se imolar, para salvar outros, para boi de piranha. Não era dinheiro privado coisa nenhuma, até porque o acúmulo dos débitos do PT para com Marcos Valério e suas empresas se deu precisamente porque os empréstimos não eram para ser pagos pelo PT a Marcos Valério. Marcos Valério certamente pagaria pelo PT empréstimos em compensação pelos gordos contratos que auferiu ao longo da sua relação de mancebia, da sua relação de comborço com o Governo que aí está.

Outro dia estive aqui indignado, muito mais do que hoje, havia questões pessoais no meio. Recebi muitos e-mails e na imprensa saíram artigos dizendo “tem razão, mas exagerou”, mas ninguém disse que eu não tinha razão ou então “tem toda razão”. Nas ruas, as pessoas dizem que finalmente alguém falou o que elas queriam ouvir. Mas eu posso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tranqüilamente, dizer a mesma coisa que havia dito na semana passada em linguagem escorreita para alguns ou linguagem de Rolando Lero, para outros. Posso dizer: se Sua Excelência o Senhor Presidente da República de nada sabia, Sua Excelência é um terrível desavisado, é um notável alienado, um impossível distraído. Olhem que estou sendo educado agora. Ninguém vai mais reclamar de mim. Sua Excelência é um notável distraído. Esqueçam as palavras ditas como grosseira. Sua Excelência é um notável distraído ou, então, é alguém que sabendo, que tomando conhecimento dos malfeitos, teria praticado - e não vou repetir a palavra corrupção porque alguns a consideram grosseira -, teria sido conivente com a prática de delitos contra o Erário. Não vou ser grosseiro e dizer contra a bolsa popular. É dinheiro não escriturado, sopra-me um companheiro.

Posso dizer a mesma coisa com outras palavras. Se eu me dedicasse a pesquisar o dicionário, falaria como o Presidente Tasso Genro, que fala, fala, fala, e ninguém entende o que ele diz. Ganha um “mensalão” quem souber traduzir para o Português um texto dos teóricos do Presidente do PT, Tasso Genro.

Estou aqui para dizer, em qualquer linguagem, que o Brasil está - aliás, linguagem que usei a semana passada - afundado em um mar de lama. Mas Arthur Virgílio não pode se destemperar. Então, o Brasil está mergulhado em terreno movediço de odor não muito agradável. O Brasil está mergulhado em terreno pantanoso em terreno pantanoso do ponto de vista ético. O Brasil está vivendo momentos - não posso dizer em que tem faltado vergonha na cara de tanta gente que tem mentido, se não vão dizer que eu me destemperei -, em que tem faltado demonstração mais firme de caráter e de convicção patriótica àqueles encarregados de tocar para frente os sagrados destinos da Nação brasileira.

Deixemos de eufemismos. Estou pensando o que a imprensa está pensando. Estou pensando o que o povo está pensando. Estou dizendo o que o povo quer ouvir. Estou dizendo, com clareza, que essa situação não pode perdurar. Estou dizendo, com nitidez, que temos, sim, que reagir para salvar as instituições brasileiras. E não é o Presidente Lula acrescentando - Arthur disse, quinta-feira, mentiras; Arthur, calmo de segunda-feira, diz inveracidades, Sr. Presidente - inverdades, ou melhor ainda, inexatidões - para ficar bem delicado. Não vou dizer que Sua Excelência mentiu, mas foi inexato, inverídico, inverossímil. O Senhor Presidente Lula, para que eu prove que não me destempero, tenho que virar um dicionário ambulante. Mas vamos lá.

Já não é possível não contarem a mais absoluta verdade sobre tudo e sobre todos para o País. Não é mais possível, não é mais aceitável, não é mais crível, não é mais justo, não é humano com este País.

Portanto, Sr. Presidente, a leitura das revistas semanais demonstra uma crise que chega...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - …que chega ao lar do Presidente - e esse assunto é o mais doloroso para mim. Uma crise que passa por todos os setores deste Governo, alguns ainda por vir, outros já em pleno processo de putrefação, sem que haja formol suficiente para impedir - vou ser elegante de novo - a generalização do odor desagradável.

Encerro, dizendo que, por ora, o importante mesmo é registrarmos a última mentira - não, Arthur, não diga mentira -, a última inveracidade dessa dupla escolhida para boi de piranha, Valério e Delúbio, essa dupla...E como é triste ver o PT e os petistas indo depor nas comissões, munidos de hábeas corpus para poderem mentir!

James Bond, “Direito para Matar”, “Licença para Matar”, my name is Bond, James Bond; my name is Delúbio Soares, direito para mentir! Nunca imaginei que fossem ao Supremo Tribunal Federal requererem o direito de poder mentir sem serem presos!

Aqui estamos para exigir que o País seja passado a limpo mesmo. Tenho dado todas as chances para que novas inverdades não se somem a inverdades tão gritantes que aí estão. Fora disso, cairíamos nós na prevaricação, cairíamos nós na conivência, cairíamos nós na idéia de que este País pode continuar desse jeito, escolhendo-se meia dúzia de bois de piranha para, ao final, ao fim e ao cabo, salvarmos algo que estaria apodrecido na raiz das práticas políticas brasileiras.

Portanto, é hora mesmo de tomarmos, inicialmente, esta medida, o PSDB e o PFL:

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Recurso ao Tribunal Superior Eleitoral, pedindo, em face da confissão do Sr. Delúbio Soares e do Sr. Marcos Valério de Caixa 2 financiando candidatos do PT, a imediata suspensão do fundo partidário a que faz jus esse Partido.

Pelo dinheirão que tem entrado ali, já vi que não vai fazer grande falta, mas, ainda assim, é o que nos cabe, legitimamente e de direito, tomar como providência nesta hora tão grave, uma hora percebida como grave por todos os brasileiros, menos pelo Senhor Presidente da República, que não quer ver além das lentes panglossianas que seus áulicos lhe impingem, porque não é momento para Dr. Pangloss, é momento para real politique, é momento para realismo profundo, é momento de ver a crise na sua profundeza e buscar saídas reais. Nada de cortina de fumaça, e, sim, saídas reais!

Acho que ainda é tempo. Mas sinto que cada vez temos menos tempo pela frente para encontrar uma saída que seja a menos dolorosa para o povo brasileiro, a menos indigna para este Partido e a mais digna possível para o Senhor Presidente da República.

Era o que eu tinha a dizer.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO.

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O SR. ARTHUR VIRGILIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a pilhagem que certos setores petistas do Governo Lula praticam contra a Nação é como o furto praticado pelas tropas que ocupam cidades conquistadas em combates em eras passadas; é o próprio saque.

A diferença é que já não há nem combates nem conquistas de cidades ou de impérios. A versão moderna, aceitem ou não, foi institucionalizada pelo Governo eleito em 2002.

Se não há combates, não há canhões nem setas inflamadas e nada é feito no corpo-a-corpo, o que houve no Brasil da era Lula? Corrupção, desvio, empréstimos fajutas e o mensalão. Tudo foi feito, embora na surdina, em sala vizinha à do Presidente e muito próxima à do então Ministro-Chefe do Gabinete Civil.

Primeiro, apareceu um personagem, o Waldomiro, dos bingos.

E logo viria a incontida voragem de dirigentes de empresas públicas e estatais, não ficando a salvo nem mesmo o Banco do Brasil e a mais tradicional e prestigiada instituição prestadora de serviços deste País, os Correios.

Agora, as denúncias não apenas diárias, mas por hora. Explodem, infelicitam o Brasil e entristecem sua população. O povo já não tem outro tipo de notícia a não ser esse vendaval de corrupção. Nos jornais, na TV e nas revistas semanais. Lula bateu recorde em capas das revistas.

Na sexta-feira, aqui deste plenário, sustentei que, se o Presidente Lula sabia de tudo e não tomou providências, ele prevaricou. Se de nada sabia, isso é muito grave. Afinal, não se compreende que o País seja governado por um Presidente que não sabia o que maquinavam no campo da corrupção, às vezes ao lado de seu gabinete ou na sala ao lado.

Usei naquela manhã palavras um pouco mais duras. Duras como a realidade que se assusta a cada momento o povo brasileiro, tão intensos são os relâmpagos. De repente, um raio. E logo vem outro. E outro. E mais outro.

Milhões de brasileiros arrependem-se do voto de 2002, no mínimo desesperançados. Outros entendem que, ao menos, é preciso investigar tudo à exaustão. Por isso, vou enumerar, no final deste pronunciamento, o que posso interpretar do pensamento dos brasileiros.

O que não é possível é tolerar que todos esses desvios continuem marcando a vida pública e política do Brasil.

Não aceito nenhuma interpretação, mesmo vinda do Presidente da República, de que o que ocorreu faz parte do chamado trivial doméstico da Nação.

Não. Não faz. Não é. Não aceito isso.

Não aceito nem mesmo a fala do Presidente, na placidez do cenário parisiense, cercado do verde de gramados e jardins.

Dita por um Presidente, é de fazer corar a mais verde vegetação em tempo de chuva a frase que Lula usou na recente entrevista em Paris, sentado diante de um antigo castelo:

            "A direção do PT fez o que é feito no Brasil sistematicamente."

Em primeiro lugar, alto lá, Presidente Lula! Isso, no mínimo, é uma ofensa que atinge a todos os brasileiros. E mais do que nunca a nenhum brasileiro agrada ser colocado no mesmo nível de petistas desviados dos rumos da decência.

Ressalvo os verdadeiros militantes do Partido do Presidente, que devem estar muito incomodados em ver que o adjetivo petista corre o risco de confundir-se ou até de virar sinônimo desses tantos outros adjetivos ou substantivos que cheiram ao ilícito.

Em segundo lugar, o Presidente passa a idéia do cidadão que, prevaricador, supõe que esse seria o comportamento normal ou “o que é feito sistematicamente no Brasil.”

O próprio Presidente revela que o PT foi longe demais ao dizer: "Já faz tempo que eu deixei de ser presidente do PT”. Agora, o que ele mais quer é distância do PT. Sem legitimidade! Os brasileiros também, com todo um santo direito à repulsa e com uma santa indignação.

Fiel aos hábitos implantados pelo falso petismo no Palácio do Planalto, a imaginação dos marqueteiros oficiais deve ter raciocinado:

“Olha, Presidente, já que o Senhor vai à França, a gente ajeita uma longa entrevista sua, no melhor estilo da granfinagem, com um castelo ao fundo, num belo jardim, sentado confortavelmente numa espaçosa poltrona. E, aí, o Senhor diz que tudo isso faz parte dos hábitos dos brasileiros.”

É o raciocínio de quem supõe que todos nós, brasileiros, somos tolinhos.

E por ser uma entrevista do Presidente do Brasil, estou anexando sua íntegra a este pronunciamento. Assim, o historiador do amanhã disporá de elementos riquíssimos para avaliar o comportamento de um grupo que um dia teve sonhos de noites de verão.

Passo a enumerar as providências que considero importantes e merecem ser analisadas pelo Congresso Nacional, sem perda de tempo:

1.- suspender o Fundo Partidário para o PT;

2.- colocar sub judice o mandato dos que se elegeram pelo PT;

3.- investigar o verdadeiro financiamento público de que se valeu o PT e revelados pelas denúncias diárias da imprensa;

Em meio a esse cenário pouco primoroso para o Brasil, chega a ser incompreensível e inconcebível que o Presidente Lula mantenha o mesmo tom de seu monocórdio fraseado.

Aqui ou na França, nada do que ele fala rima com a realidade que aparece diante dos brasileiros. Ou é aquela cena, repetida mil e tantas vezes, do homem dos Correios embolsando aqueles R$3 mil, ou é a manchete de primeira página de hoje da Folha de S.Paulo, que passo a ler:

Lula lava as mãos e diz que está fora do PT há 3 anos

Em entrevista gravada na França, presidente alega que a direção do PT fez ‘o que é feito sistematicamente’ no Brasil

Em sua primeira entrevista desde que viajou para a França, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou que não tem mais responsabilidade pelas decisões da legenda. ‘Já faz tempo que eu deixei de ser presidente do PT. Fui presidente do PT durante três anos, mas, depois que virei presidente da Republica, não pude mais participar da direção do PT, não pude mais participar da reunião do diretório do PT. O PT tem muita autonomia em relação ao governo e o governo tem mais autonomia ainda em relação ao PT.’

As declarações do presidente Lula foram dadas na sexta-feira, em Paris, a uma repórter brasileira que trabalha numa emissora francesa. A entrevista foi exibida ontem na íntegra pelo Fantástico, da TV Globo.

Lula ponderou que, do ponto de vista eleitoral, ‘o partido errou e a direção do PT fez o que é feito no Brasil sistematicamente’. Não deixou, porém, de condenar a atitude dos dirigentes que, segundo os últimos depoimentos do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do publicitário Marcos Valério de Souza, montaram um caixa 2 para financiar as campanhas eleitorais do partido. "Eu acho que as pessoas não pensaram direito no que estavam fazendo", avaliou.

Lula ressaltou que o partido, ‘se errou’, terá de explicar ‘onde e por que errou’, e acrescentou que o PT não pode pagar pelo erro ‘de um dirigente ou outro’. Segundo o presidente, o PT teve um problema na direção, que ficou ‘fragilizada e enfraquecida’, e cometeu erros que ‘outrora’ não cometeria.

            Eleições

De acordo com Lula, o partido ficou fragilizado porque muitos quadros foram afastados da direção para participar do governo, com as eleições de petistas para as prefeituras e governos estaduais e com a sua própria chegada à Presidência. Além disso, o presidente acha que o PT também foi vítima do próprio crescimento: ‘Tenho o PT como filho. Porque sou um dos fundadores. Em 20 anos, o PT chegou à Presidência, coisa que muitos partidos demoram 100 anos para conseguir.’

‘Gostaria que fosse tudo diferente, mas não é’, ressaltou o presidente, enfatizando que ‘os adversários devem ter ficado indignados porque todas as denúncias não chegaram ao governo’. Lula acrescentou: ‘O povo está sabendo distinguir bem as denúncias. Toda vez que se faz ilações sobre corrupção sem nome concreto fica difícil de apurar.’ Para ele, a população sabe identificar o que é verdade nas denúncias e prova disso é a última pesquisa sobre sua popularidade. E reafirmou: ‘O Brasil não merece isso.’

O presidente defendeu a verdade como melhor alternativa para os problemas. ‘Trabalhar com a verdade é muito melhor. A desgraça da mentira é que você, ao contar a primeira, passa a vida inteira contando mentiras para justificar.’ Questionado sobre as eleições, disse que "não está pensando nisso ‘e ainda tem um ano e meio de mandato.’”

É para ficar pasmo. Acredite quem quiser. Salve-se quem puder. A verdade é que Marcos Valério teve o desplante e a ousadia de oferecer como garantia de um empréstimo (repassado para o PT), nada mais, nada menos que um contrato de publicidade que fechara com os Correios. O empréstimo foi contraído no BMG e, pela garantia dos contratos da ECT, justifica e embasa a suspensão do Fundo Partidário do PT.

Aqui, como lembrei no começo deste discurso, o raciocínio é o velho chavão dos falsos petistas: tudo em família e tudo bem!

Sr. Presidente, afora o mar de lama, a voracidade da corrupção que vai marcando indelevelmente o Governo Lula, uma outra face dessa triste fase vivida pelo Brasil precisa ser mostrada à sociedade.

É a truculência com que agem os intermediários deste Governo, como ocorreu esta semana em São Paulo com a chamada Operação Daslu, ou Narciso, como pretende a Polícia Federal.

Em São Paulo, já há reações contra esses exageros, inclusive por parte da Fiesp. Os empresários protestam contra o “show de pirotecnia”, como foi intitulada pelo jornal O Estado de S. Paulo a invasão da Daslu.

Para o importante jornal e para a população brasileira, essa demonstração irracional do Governo Lula representa “um estardalhaço planejado, uma truculência despropositada.”

Segundo ainda o Estadão, essa Operação Narciso foi motivada por razões basicamente políticas, com o objetivo de desviar os holofotes dos escândalos nos quais o PT está envolvido.”

O Governo petista do Presidente Lula é um governo de cartilhas. Pena que nada se aproveite de nenhuma delas. São todas cartilhas do mais tolo tropicalismo.

A Cartilha do Lá Fora é o manual em que Lula se orienta para suas inúteis excursões pelo mundo afora, como agora em Paris. Daqui a pouco, ele inventa de sair dançando com o Sting e o Raoni, num show de tudo, menos de compostura presidencial.

Nem tudo pareceria perdido e alguma ou outra coisa se salva, como a Portaria n° 1.287, assinada há duas semanas pelo Ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos.

Essa seria, para usar um termo bem ao gosto de Lula, uma cartilha do bem. São instruções para a execução de diligências da Polícia Federal no cumprimento de diligências para o cumprimento de mandatos judiciais de busca e apreensão.

Logo no início (art. 2°), diz a portaria:

“- O cumprimento do mandado de busca e apreensão será realizado:

III - de maneira discreta, apenas com o emprego dos meios proporcionais, adequados e necessários ao cumprimento da diligência.”

Indago se foi isso que houve no recente episódio Daslu.

Pego a resposta no noticioso eletrônico do jornalista Ricardo Noblat. Diz ele:

“A operação Daslu não foi realizada de maneira discreta nem

sem a presença de pessoas alheias ao cumprimento à diligência.”

E mais:

“Como de resto não tem sido a maioria das operações deflagradas pela Polícia Federal. Há um claro propósito de se dar publicidade a elas.”

O mesmo jornalista Noblat transcreve a frase de “um petista eufórico a propósito da Operação Daslu”:

“Finalmente, o Governo começou.”

Ninguém pode ficar contra a fiscalização nem fechar os olhos aos atos de corrupção, de contrabando ou de sonegação fiscal.

Tudo isso pode e deve ser feito. Mas civilizadamente. Jamais como para servir de cortina de fumaça que possa encobrir a ineficiência do Governo Lula.

O que houve em São Paulo foi uma estrepitosa demonstração de arbitrariedade do Governo. E, mais ainda, revela que esse é o governo do descontrole.

Até então, sabia-se que o Presidente Lula não manda nada. Agora, se sabe que o Ministro da Justiça é outro que também não manda.

Se mandassem, e a obedecer a Cartilha do Bem do Ministro Thomaz, aquela demonstração de força não teria ocorrido, até por ser desnecessária. Afinal, a Daslu não é nenhum bunker. Ao contrário, é uma loja aberta ao público.

Como empresa, sujeita-se, sem dúvida, à fiscalização do fisco, tanto que as investigações que culminaram no espetáculo da terça-feira tiveram início há quase um ano, depois que a Receita Federal apreendeu em Guarulhos e em Curitiba mercadorias com notas fiscais falsas e verdadeiras, segundo o noticiário.

Que se faça a fiscalização. Mas sem a “presepada” tão presente no Governo Lula, dos bonés que variam de cor e formato de acordo com as conveniências pessoais de Sua Excelência, aos passos folclóricos, carnavalescos ou ruidosos, como os da Operação Daslu.

O que está havendo no País, com exibicionismos e fanfarronices, é uma demonstração do arbítrio de um Governo que pensa que pode tudo.

Não pretendia comentar a violência contra a loja de São Paulo. Mas de tanto ver a repetição de coisas assim, entendo que não posso silenciar. O silêncio é cúmplice do arbítrio.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Conta dos Correios serve de garantia a empréstimo ao PT - Marta Salomon”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/07/2005 - Página 24750