Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à irmã Dorothy Stang e à TV-Senado.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à irmã Dorothy Stang e à TV-Senado.
Publicação
Publicação no DSF de 10/02/2006 - Página 3824
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, SENADO, IMPORTANCIA, DIVULGAÇÃO, LEGISLATIVO, EXPECTATIVA, ACESSO, TELEVISÃO ABERTA.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, IRMÃ DE CARIDADE, VITIMA, HOMICIDIO, CONFLITO, TERRAS, ESTADO DO PARA (PA), ELOGIO, LUTA, JUSTIÇA SOCIAL, TRABALHADOR RURAL, ANALISE, GRAVIDADE, VIOLENCIA, EXPLORAÇÃO, CAMPO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, ENCONTRO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), COMUNIDADE INDIGENA.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, a sessão desta tarde tornou-se, em grande parte, muito importante. Primeiramente, pela homenagem que a Casa faz à TV Senado.

Falei, na última sexta-feira, da homenagem que o Brasil fez à TV Senado. Não vou repetir meu discurso hoje. Só citarei duas frases. Uma delas: “A TV Senado é um processo revolucionário no rompimento da forma como a comunicação acontece neste País em relação ao Congresso Nacional”. Foi bom poder dizê-lo.

A segunda frase, Sr. Presidente, que mencionei naquela sexta-feira homenageando a TV Senado, foi no sentido de que o conjunto da população brasileira, principalmente da classe média aos mais pobres, tenha o privilégio de também assistir à TV Senado. Que se torne, Senador Mão Santa, uma tevê de canal aberto.

É bom, Sr. Presidente, muito bom, que os olhos da população estejam aqui dentro acompanhando a atuação de cada Deputado, de cada Senador, nas Comissões, no plenário, percebendo o compromisso efetivo de cada um com o povo brasileiro.

Sr. Presidente, a segunda parte da sessão de hoje se desenvolveu numa homenagem à Irmã Dorothy Stang.

Sr. Presidente, há séculos a América Latina vem sendo regada pelo sangue de muitos mártires. Impérios, ditaduras, oligarquias, elites econômicas e políticas, desprovidas de qualquer sentimento de humanismo ou compromisso com a evolução da raça humana, elevam a morte como símbolo máximo de suas ações e domínios.

O martírio tem marcado nossos povos e nossa gente. Mulheres e homens, jovens e crianças, indígenas, negros, camponeses e operários, religiosos, advogados, estudantes, jornalistas, lutadores da terra, do trabalho, da cidadania, militantes dos direitos humanos. Quantos, enfim, já foram torturados? Quantos tombaram? Quantos foram assassinados? Quantos, até hoje, continuam desaparecidos? Quantos morreram simplesmente por serem amantes da justiça, da liberdade e da paz?

A impunidade é a grande parceira, Sr. Presidente, dos descaminhos da sociedade. Ela corre solta por todos os cantos, pelas ruas, pelas avenidas, pelas ladeiras; nos campos, nas montanhas, nas florestas, nos desertos, nos rios e nos mares.

Assim mesmo - não quero fazer um discurso do apocalipse -, há, sim, esperança! Essa esperança são os exemplos de vida e de fé desses mártires que se foram. O legado que nos deixam é o caminho a seguir pelos homens de bem todos os dias, todas as noites, é dar tudo de si pelas grandes causas, como a Irmã Dorothy.

Sr. Presidente, há uma frase: mártir é a testemunha radicalmente fiel, até as últimas conseqüências, aos seus princípios.

A Irmã Dorothy Stang, norte-americana naturalizada brasileira, que está sendo homenageada hoje, nesta sessão especial, por requerimento da Senadora Ana Júlia Carepa e do Senador Sibá Machado, é uma das testemunhas.

Irmã Dorothy era uma mulher incansável na promoção dos direitos humanos; defendia a causa dos trabalhadores rurais, dos pobres, dos oprimidos, procurando sempre assegurar a implantação de projetos de desenvolvimento sustentável. Ela não aceitava a violência e muito menos a exploração do homem.

Sr. Presidente, tive a felicidade e o privilégio de contemplar essa áurea de bondade que foi a Irmã Dorothy. Lembro-me de que, em 2004, ela esteve aqui no Congresso e deu depoimento sobre os assassinatos de agricultores lá no Estado do Pará.

Naquela época, já vinha sendo ameaçada de morte. E cercada por um grupo de jornalistas aqui na Casa, ela respondia a todas as perguntas com firmeza. Percebi, então, que, à frente daqueles microfones, gravadores e câmeras, não havia apenas uma mulher de estatura baixa, mas sim uma grande mulher, desprovida de qualquer sentimento de ódio; uma mulher do bem, uma mulher da paz.

Simplesmente pelo seu olhar, pelas suas rugas, pelos calos das mãos, por sua voz, pelos seus cabelos curtos, entendi que só teremos, como disse o índio Sepé, uma “terra sem males” com justiça e fraternidade quando tivermos amor.

Irmã Dorothy Stang, uma gigante que estava muito além da pequenez de seus algozes. Por isso, foi assassinada.

Quando ela foi morta com seis tiros, aos 73 anos, no dia 12 de fevereiro de 2005, no Município de Anapú, Estado do Pará, e a notícia nos chegou, ficamos tomados de grande tristeza e indignação. Não estávamos acreditando que ela - ela que é uma referência para todos nós - tinha sido assassinada.

Aí vem a pergunta que não quer calar: Por que calar a voz de quem buscava soluções duradouras para os conflitos discutindo, negociando e buscando o direito a terra para quem quer trabalhar? Por que calar a voz de quem lutava por uma consciência nacional? Por que calar a voz da Irmã Dorothy e de tantos outros que deram a vida pela justiça? Por que calar alguém que amava a vida, a natureza, a igualdade e a liberdade? Essa é a pergunta que se deve fazer, toda vez que uma sessão como esta se realiza.

Sr. Presidente, na terça-feira, dia sete, encerrou-se lá no meu Rio Grande do Sul um encontro continental dos povos indígenas. Lembraram-se os 250 anos do assassinato de Sepé Tiaraju em defesa do solo pátrio no enfrentamento com os invasores espanhóis e portugueses, e ela, Irmã Dorothy, foi homenageada. Nesse encontro, Sr. Presidente, foi elaborado um documento que peço seja inscrito nos Anais do Senado.

            Para concluir, Sr. Presidente, não quero que V. Exª tenha a tolerância que teve com aqueles que me antecederam - e foram inúmeros - e que falaram 20, 30 minutos. Peço a V. Exª que me conceda, no máximo, o tempo que em tese teria por direito, que seriam 12 minutos. Concluo, Sr. Presidente, lendo a última folha do meu discurso.

A Irmã Dorothy é para o mundo uma figura emblemática, assim como Chico Mendes, Sepé Tiaraju, Zumbi dos Palmares, e tantos outros que deram suas vidas apostando que é possível construir um mundo melhor para todos. Como seria bom, muito bom se tivéssemos milhões de Irmãs Dorothy!

Irmã Dorothy, você morreu fisicamente, mas o seu legado está vivo junto de nós.

Vida longa às idéias que nortearam a história e a vida dessa guerreira chamada simplesmente Irmã Dorothy. Vida longa!

Obrigado, Sr. Presidente.

 

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SEGUE DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PAULO PAIM EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art.210, inciso I e § 2º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Assembléia Continental Guarani”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/02/2006 - Página 3824