Pronunciamento de José Jorge em 06/02/2006
Discurso durante a 17ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Análise de pesquisa realizada pelo Datafolha para a próxima eleição presidencial.
- Autor
- José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
- Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ELEIÇÕES.
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
- Análise de pesquisa realizada pelo Datafolha para a próxima eleição presidencial.
- Publicação
- Publicação no DSF de 07/02/2006 - Página 3216
- Assunto
- Outros > ELEIÇÕES. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, PREVISÃO, ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CONCLUSÃO, INICIO, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FAIXA, POPULAÇÃO CARENTE, REFORÇO, LIDERANÇA, JOSE SERRA, PREFEITO DE CAPITAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CLASSE MEDIA.
- ANALISE, INFERIORIDADE, RESULTADO, PROPAGANDA, SETOR PUBLICO, DIVULGAÇÃO, AUMENTO, SALARIO MINIMO, OPERAÇÃO, EMERGENCIA, RODOVIA, QUITAÇÃO, DIVIDA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), AUTO SUFICIENCIA, PETROLEO, CRITICA, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
- AVALIAÇÃO, INSUCESSO, POLITICA SOCIO ECONOMICA, GOVERNO FEDERAL, CONTINUAÇÃO, CORRUPÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, DENUNCIA, MINISTERIO DOS TRANSPORTES (MTR).
O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste final de semana, saiu mais um resultado da pesquisa de opinião pública realizada pelo Datafolha, que sinaliza para a vitória de um candidato oposicionista nas eleições presidenciais de outubro próximo.
A avaliação dos números divulgados foram sintetizados pelo instituto de pesquisa do seguinte modo: “A pesquisa do Datafolha mostra que, enquanto Lula obteve ligeira recuperação entre os brasileiros mais pobres e de menor escolaridade, os tucanos, especialmente o Prefeito José Serra, ampliaram sua liderança entre os de maior renda e mais escolarizados.”
O levantamento de campo foi feito no período de 1º a 2 de fevereiro e envolveu 2.590 pessoas distribuídas em 153 Municípios.
Mas o que eu gostaria de destacar dessa pesquisa é que, mesmo com a “megaoperação” palaciana para melhorar a percepção da população sobre o Governo Lula, a base de apoio do Presidente está-se resumindo aos segmentos mais dependentes da ajuda oficial e aos menos esclarecidos.
O Governo esperava que tivessem grande efeito na população alguns factóides, como o pequeno aumento do salário mínimo. Na verdade, o Presidente Lula, na sua campanha, comprometeu-se a dobrar o valor real do salário mínimo. Já deu o último aumento que corresponde a 25%. Dobrar significa 100%. Vinte e cinco por cento é um quarto daquilo que prometeu. No Governo Fernando Henrique, foram dados 20% no primeiro ano e 20% no segundo. Portanto, ocorre praticamente aquilo mesmo que já vinha acontecendo. Com a operação tapa-buracos nas estradas, também R$500 milhões estão sendo jogados fora para uma medida eleitoreira que vai fazer com que esses buracos, seis meses depois, voltem. Houve também a quitação da dívida com o FMI. No mesmo momento em que atingimos R$1 trilhão de dívida pública, quita-se uma dívida de US$15 bilhões do FMI, trocando um juro de 4% ao ano por um juro de 18% ao ano, que foi o da dívida interna que se tomou para pagar a dívida do FMI. E até a preparação para o anúncio da auto-suficiência do petróleo teve um efeito restrito aos segmentos sociais mais susceptíveis às manipulações de marqueteiros.
O virtual monopólio das comunicações pelo Governo no final de dezembro e principalmente em janeiro, inclusive com entrevistas exclusivas para televisão e convocação obrigatória da mídia eletrônica para pronunciamentos oficiais, travestidos de propaganda eleitoral, não foram suficientes para colocar o candidato Lula na dianteira.
Nesses meses, a propaganda oficial tem sido massiva nas rádios, nas TVs e até em outdoors espalhados por todos os Estados. Mas, como mostrou a pesquisa, com todo o esforço da mídia, à custa do dinheiro público, o retorno foi pífio.
No mês de janeiro, o mercado publicitário está em baixa. Podemos verificar somente o caso das revistas semanais, como ficam muito mais finas nesse mês. Elas mantêm o número de páginas do editorial normalmente e variam a sua quantidade de páginas com o número de anúncios. As revistas de novembro e dezembro são sempre muito grossas porque têm muita propaganda. Já a de janeiro é bem fininha porque as agências publicitárias e as próprias empresas não começaram ainda a sua divulgação. Foi esse espaço vazio que o Governo ocupou, principalmente na mídia televisiva, a maior propaganda já vista no mês de janeiro de todos os tempos.
Imaginem um produto lançado sem concorrência - o Presidente Lula já está em campanha para o cargo de Presidente -, com um brutal esforço de mídia, e que, ao serem apuradas as vendas, obtivesse como resultado um crescimento irrisório. Qual seria a atitude do empreendedor? Demitiria o marqueteiro ou procuraria outro produto para vender. Algo semelhante é o que estamos observando hoje.
Lula já está em campanha declarada! Já foi até punido pela Justiça Eleitoral por isso. E apesar de dizer que não é candidato, vive sendo traído pelos atos falhos, falando sobre planos de governo para o período depois de 31 de dezembro ou até citando os eventuais candidatos a Vice-Presidente.
Para facilitar o trabalho dos marqueteiros oficiais, o Congresso Nacional praticamente não funcionou, durante o final de dezembro e até o dia 15 de janeiro, por causa da equivocada convocação extraordinária do Legislativo, o que submeteu os Parlamentares a uma agressiva campanha de críticas da mídia, deixando de lado a crise que toma conta do Executivo desde o semestre passado.
Nesse período, as Comissões Parlamentares de Inquérito quase não funcionaram e, para a população mais desinformada, podem ter passado a idéia de que o Governo Lula teria entrado nos eixos.
Vou até citar aqui uma entrevista que vi ontem, no jornal de Pernambuco, de um dos dirigentes do PT, que dizia assim: o PT deu a volta por cima. Não sabemos por cima de que, porque, na verdade, não houve nada que modificasse aquela imagem que o PT construiu durante os seus primeiros anos de Governo. Deu a volta por cima de quê? É o que se pergunta.
Na economia, de que o Governo Lula mais se vangloria, vai ficar patente que, apesar do aparente avanço nas contas externas, no âmbito interno os indicadores contábeis pioraram muito.
As contas públicas fecharam o ano de 2005 com um déficit de R$63,6 bilhões, que equivalem a 3,3% do PIB. Este resultado superou em R$16,5 bilhões o de 2004, ou seja, este ano o déficit foi maior e em dois anos de Governo Lula a dívida interna federal deu um salto assustador em decorrência dos juros altos praticados pelo Banco Central, chegando a R$1 trilhão, como todos sabem aqui.
O resultado prático foi um pequeno crescimento do País no ano passado, uns míseros 2,4%. A inflação caiu menos do que era esperado para tanto esforço fiscal e, ao final das contas, o déficit público ainda aumentou, mesmo com um câmbio sobrevalorizado por condições extremamente favoráveis no mercado internacional.
Mas é muito difícil o cidadão médio compreender que, mesmo com a aparente melhoria da economia, o resultado final é desfavorável ao País, em especial porque as conseqüências não virão no período presidencial de Lula, mas atingirão em cheio a economia dos próximos mandatários.
Enquanto isso, a corrupção no Governo continua a pleno vapor. A última denúncia, publicada neste final de semana, envolve o Ministério do Trabalho com uma empresa sobre a qual já falei desta tribuna muitas vezes, que tem notórias ligações com o Governo Lula - a Cobra Computadores.
Segundo o que foi publicado, funcionário do Ministério, inclusive o segundo homem da hierarquia, o secretário executivo, teria cobrado propina para fornecer informações necessárias ao desenvolvimento do Programa Primeiro Emprego, que foi outro grande fracasso do Governo, diga-se de passagem.
No entanto, casos de corrupção neste Governo não são novidade. Esse, por exemplo, foi descoberto no mês de agosto. O que causou estranheza foi que o Sr. Alencar Ferreira, secretário-executivo do Ministério do Trabalho, só foi demito pelo Ministro Luiz Marinho na semana passada, quando as informações sobre corrupção chegaram às mãos dos jornalistas.
Senador Alberto Silva, a denúncia de que o secretário-executivo estava recebendo propinas foi feita em agosto do ano passado, mas ele não foi demitido. Só o foi agora porque a denúncia saiu no jornal.
Há um dado da pesquisa Datafolha que talvez ajude a explicar por que, mesmo com casos declarados de corrupção no Governo, ainda há quem vote no Presidente Lula. Pelos levantamentos recentemente concluídos, 27% dos eleitores preferem um presidente mais realizador - que, diga-se de passagem, não é o caso do Presidente Lula -, ainda que não seja extremamente honesto. Talvez encontremos aí mais uma explicação para o resto dos votos que Sua Excelência ainda tem.
O que nos conforta é que 68% dos eleitores afirmam preferir aquele candidato que prime pela honestidade.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nós da Oposição vimos o Congresso sem funcionar de 15 de dezembro a 15 de janeiro, período em que houve propaganda massiva do Governo de uma série de programas que, na verdade, não vão acontecer, como não aconteceram o Programa Primeiro Emprego e outros da área social. Temos de esperar o mês de junho, porque acreditamos que, a partir desta data, quando houver um equilíbrio pela legislação nas notícias da mídia e quando houver os programas eleitorais nos quais possamos informar melhor a população - certamente a parte da população que ainda acredita no Governo -, poderemos obter aquele equilíbrio necessário para ganharmos a eleição.
Para todas aquelas pessoas que telefonaram, que mandaram e-mails, que me disseram nas ruas estarem preocupadas com o resultado dessa pesquisa, digo que a pesquisa mostra uma realidade vitoriosa para a Oposição. Vamos comprovar isso na próxima eleição.
Muito obrigado.